domingo, 26 de agosto de 2012

[HOL] Judeus Romenos e Turcos lembram vítimas da guerra

Bucareste, 26/02/2012

 
Judeus romenos e turcos pretaram homenagem na sexta-feira a 768 judeus que morreram 70 anos atrás quando o navio em que se encontravam fugindo do regime pró-nazista do Marechal Ion Antonescu foi torpedeado por um submarino soviético.

Muitos países compartilham a vergonha pelas mortes, mas "responsabilidade primária está com o regime de Antonescu," disse o historiador Liviu Rotman durante um seminário sobre a tragédia 70 anos depois que o navio foi afundado.

Em 12 de dezembro de 1941, 769 judeus embarcaram no Struma, um navio "casco de cavalo": navios débeis e inadequados carregando mais do que o seu limite de segurança. O Struma foi construído para levar não mais do que 100 pessoas.

O Struma estava destinado à Palestina, alcançou Istambul três dias depois e foi colocado imediatamente sob quarentena.

Os oficiais turcos, após consultarem as autoridades britânicas na Palestina, forçaram os passageiros a permanecer à bordo, mesmo estando sem água e comida.

Após 70 dias de negociações em vão e pedidos de ajuda, o navio, cujo motor havia quebrado, foi rebocado da costa turca e deixado à deriva.

No dia seguinte, em 24 de fevereiro de 1942, o Struma foi torpedeado por um submarino soviético, matando todos exceto um dos passageiros, em circunstâncias que permanecem obscuras.

"Este drama é parte da história romena e judia," disse o escritor Stelin Tanase. "As vítimas foram apanhadas no meio do regime antisemita de Antonescu, das perseguições contra judeus na Europa e especuladores desprezíveis" cujo único objetivo era ganhar dinheiro nesta viagem, ele acrescentou.

O Marechal Antonescu ainda tem apoiadores na Romênia.

Mas o historiador Lya Benjamin resumiu sua política antisemita, que incluiu pogroms e deportação de milhares de judeus e ciganos.

"Tudo o que estou interessado é livrar o país dos judeus," teria dito ele ao chefe do serviço secreto em 1941, disse Benjamin.

"A coisa importante é que eles deixem (o país) sem dinheiro ou jóias," ele acrescentou.

Em Istambul, durante o evento comemorativo, membros da comunidade judaica turca disseram que a Turquia deve mostrar a coragem de pedir desculpas por seu papel na tragédia do Struma. "Como a Chanceler Angela Merkel desculpou-se pelos turcos que foram mortos por neonazistas, Ankara deve ter a mesma coragem," disse Izhak Alaton, um líder da comunidade.

Alaton disse ao jornal Hurriyet que ele tinha apenas 15 anos de idade quando ele levava pão ao Struma toda manhã enquanto ele estava ancorado na baía de Istambul.

"Eu percebi que eles estavam sendo enviados para a morte quando pela manhã não encontramos o barco onde ele deveria estar. Somente a comunidade judaica ajudou aquelas pessoas que estavam vivendo naquele velho navio com doenças e fome," ele acrescentou.

http://www.ejpress.org/article/56421

 
N. do. T.:

(1) Será que Israel exigirá da Rússia indenização pela morte desses judeus? Ou será que a conta vai mais uma vez para os alemães?

(2) Algumas centenas de judeus estavam se dirigindo à Palestina. Elie Wiesel contou em seu livro “A Noite” que até bem tarde na guerra (1944) era possível aos judeus emigrarem para lá. Quantos judeus realmente conseguiram fugir para a Palestina? Será que não existe estatística ou ela não é disponibilizada?

[HOL] Judeu foi diplomado Advogado na Alemanha Nazista

Haaretz, 18/04/2012

 
Uma nova exibição sobre advogados judeus praticando na Alemanha Nazista levou a uma descoberta surpreendente - de um advogado da Palestina que foi agraciado com grau em Leipzig apenas três dias após a Kristallnacht, em 1938.

A estória de Saul Lande foi incluída em uma exibição em Leipzig chamada "Advogados sem Direitos".

Em 12 de novembro de 1938, Lande foi agraciado com seu diploma de doutor em Direito. Os nazistas já estavam no poder há cinco anos na época, mas a Universidade de Leipzig não tentou tirar o grau de Lande, como aconteceu com dezenas de outros judeus. Pelo contrário. Em um ato que é quase impossível de compreender em perspectiva, a universidade inclusive convidou Lande a vir da palestina para a cerimônia de graduação na Alemanha.

O convitepara a cerimônia percorreu o seu caminho da Alemanha Nazista até a Rua Ahad Ha´am em Tel Aviv. "Lande, numa mostra de chutzpah, baravura ou estupidez, pegou um navio para a Europa e então pegou um trm diretamente para Leipzig," disse Joel Levi, um advogado que está a cargo das relações entre Israel e a Alemanha para a Associação dos Advogados de Israel.

Estórias contadas pela família de lande dizem que ele alcançou Leipzig e encontrou um amigo de estudos na Universidade, que o repreendeu por arriscar sua vida apenas para receber seu diploma. Para protegê-lo, seu amigo rapidamente arrumou para sua esposa alemã acompanhar Lande ao redor, esperando que o judeu da Palestina não levantasse nenhuma suspeita no coração da Alemanha Nazista. "Ele chegou à cerimônia, recebeu seu diploma, deixou a cidade e retornou a Israel de forma segura," disse Levi.

Por décadas, o diploma de Lande permaneceu no ático na casa em Tel Aviv da filha de lande, Rina Gross, que também é advogada e casou com o juíz aposentado Yehoshua Gross. "Tínhamos uma caixa com documentos da família, mas nunca nos incomodamos de abri-la," disse Rina Gross quando ela abriu a caixa. Nove meses atrás, após receber um pedido da Alemanha, ela olhou no ático e encontrou a caixa após anos.

"Ficamos chocados. Meu pai nunca falou sobre isso," disse Gross. Ela estava particularmente chocada pela suástica adornando o diploma do seu pai. Entre outros documentos que ela encontrou no arquivo da família estavam sua dissertação para doutorado, em alemão; correspondência entre seu pai e seu orientador na preparação para receber seu diploma; e preços de impressoras na Alemanha com quem ele estava negociando para imprimir sua dissertação. Uma das cartas, que também foi enviada da Alemanha Nazista para Tel Aviv terminava com a saudação "Heil Hitler."

Hubert Lang, um advogado alemão de Leipzig é um dos que trouxeram a estória de volta a vida. Lang queria incluir a estória de Lande na exibição "Avogados sem Direitos". A exibição viajou pelo mundo nos últimos anos e recentemente alcançou Leipzig. Levi iniciou a exibição, que apresenta as estórias de advogados judeus na Alemanha durante os anos nazistas.

Graças ao trabalho de Levi, a Universidade de Leipzig recuperou os diplomas de Direito de 72 judeus que haviam sido revogados pelo regime nazista.

Como um judeu da Palestina recebeu seu diploma na Alemanha Nazista, ainda não tem uma resposta clara. Levi acha que tratou-se simplesmente de um erro burocrático. "A mão direita não sabia o que a mão esquerda estava fazendo," ele disse.

Lande, que nasceu em Varsóvia em 1907, veio de uma família rica do ramo têxtil. No começo da Primeira Guerra Mundial, sua família mudou-se para Moscou e em 1920 para a Alemanha. Lande estudou em Berlim e Leipzig e em 1933 concluiu seus estudos de Direito. Ainda muito jovem, ele trabalhou como conselheiro legal de uma grande companhia, gerenciou um escritório de advocacia, e serviu como diretor de um banco.

Sua família diz que ele falava sete línguas fluentemente, incluindo latim e grego, e amava viajar. Em 1935, Lande se mudou para Israel, passou nos testes para advogados estrangeiros em 1940 e foi aceito na Associação. Ele praticou direito civil e comercial por anos e estava envolvido na compensação paga pela Alemanha para sobreviventes do Holocausto. Lande morreu em 1971, com a idade de 63 anos.

Mês passado, Rina e Yehoshua Gross viajaram à Alemanha com seus filhos para uma cerimônia de abertura da exibição em Leipzig.

http://www.haaretz.com/jewish-world/a-jew-from-palestine-was-awarded-law-degree-from-nazi-germany-exhibition-reveals-1.424956

Nova biografia mostra lado 'escuro' de Einstein

Terra, 26 de agosto de 2012

 
Albert Einstein já teve seu nome como título de obras biográficas, porém poucas focaram em sua personalidade paradoxal e polêmica. Desprezo pelo sexo feminino, comportamento injusto com seus colegas de trabalho, erros de cálculo, falta de empatia pelos próprios filhos. Estes são alguns dos fatos revelados pelo físico e biológo alemão Jürgen Neffe em Einstein - uma biografia, pela Novo Século. Segredos e paixões antes desconhecidos pelo público aparecem nas 528 páginas da obra lançada em 2005 e traduzida recentemente para o português.

Na biografia inédita no Brasil até este ano, Neffe procura apresentar o Einstein que existiu por trás dos números e das teorias físicas. O pai da Teoria Geral da Relatividade é apresentado como um ser humano em meio a tantos outros e não como um alguém acima de todos. Em entrevista exclusiva para o Terra, o autor fala sobre o processo de produção da biografia e sobre a personalidade fascinante que o levou à máquina de escrever.

 
Terra - No início do livro, o senhor descreve Einstein como um personagem paradoxal, alguém que personifica muitas contradições. Como essa personalidade aparece em seu relacionamento com as pessoas e nos seus estudos sobre Física?

Jürgen Neffe - Não são todas as pessoas cheias de contradições? Para mim, era uma questão de "relativizar" Einstein, de representá-lo como um homem entre os homens, não como um semideus. No livro, eu mostro também o seu lado escuro: o seu comportamento normalmente pouco correto e justo para com os colegas, os seus pensamentos que tomaram caminhos errados. Mas, principalmente, suas fraquezas pessoais na maneira de lidar com sua mulher e, até mesmo, com seus dois filhos.

Terra - Como o senhor chegou às informações publicadas no livro?

Neffe - Principalmente através de arquivos, como a Coleção de Artigos de Albert Einstein (original de Jerusalém, com cópia completa em Pasadena, Califórnia), mas também por meio de coleção de jornais da época, documentos de universidades e institutos científicos, como a Sociedade Max-Planck e o Instituto de Estudos Avançados em Princeton. Também usei livros sobre Einstein, em particular, obras antigas e biografias esquecidas sobre ele. Foi preciso, é claro, fazer muitas entrevistas e visitas a lugares de sua vida para montar parte da narrativa do livro.

Terra - Qual foi a descoberta que o senhor considerou mais interessante sobre a vida de Einstein?

Neffe - Ver o que sua vida e seu trabalho significam para o nosso tempo. O porquê de ele ter se sobressaído como pesquisador na área das ciências exatas. Enfim, como o mito surgiu e se modificou.

Terra - Alguma informação descoberta pelo senhor mudou sua ideia sobre ele?

Neffe - Eu diria que mudou minha visão em duas direções. O meu conceito sobre ele como cientista melhorou durante o meu trabalho, enquanto o sobre a sua personalidade se tornou pior.

Terra - Como a personalidade de Einstein influenciou na formulação de seus estudos mais importantes, como na Teoria Geral da Relatividade e nos estudos sobre Física Quântica?

Neffe - Sua integridade intelectual, sua capacidade de fazer perguntas, que ninguém havia feito antes, e sua intrepidez contribuíram muito para que ele pudesse superar horizontes do seu tempo e pisar em novos territórios.

Terra - Em 1933, Adolf Hittler tomou o poder, e Einstein teve que se mudar para Princeton, nos Estados Unidos. Como foi a sua adaptação ao país? Ele chegou a se sentir um verdadeiro cidadão americano?

Neffe - Neste momento, Einstein já era um cidadão do mundo - com passaporte suíço. Sua naturalização aos Estados Unidos foi mais uma questão mais prática do que de natureza patriótica. A língua foi um fator decisivo que impediu que Einstein se sentisse realmente em casa nos Estados Unidos. Se ele tinha um lar, esse era na comunidade internacional de cientistas e no seu idioma. Todos os seus assistentes no país deviam falar alemão. Depois da Segunda Guerra Mundial, ele se encontrou na Era McCarthy e foi tido como suspeito de espionagem e - falsamente - acusado de ser o responsável pela bomba atômica. Por causa do que trouxe para o país, os americanos nem sempre facilitaram as coisas para ele.

Terra - Como foi sua aceitação de que não poderia mais voltar à Alemanha por causa do regime nazista?

Neffe - Einstein odiava os nazistas e por motivos compreensíveis. Não só pela perseguição aos judeus, mas também aos intelectuais livres da ciência e da arte. Depois de 1945, ele transmitiu sua aversão à Alemanha e aos que contribuíam para o sistema. Por causa disso, ele não queria ter nada a ver com sua terra natal - mas ficou feliz quando estudantes pediram para nomear uma escola com o nome de Albert Einstein.

Terra - Há uma grande variedade de biografias de Albert Einstein. Algumas extensas e detalhadas, como "Subtle is the Lord", de Abraham Pais. Outras visam explicar de maneira simples as teorias do físico alemão, como "Einstein's Cosmos", de Michio Kaku. Como você descreveria seu texto? Uma obra mais detalhada do Cientista? Para todo o tipo de público ou para aqueles mais apaixonados pela história do físico?

Neffe - No meu livro eu tento combinar muitas coisas: em concentrar em Einstein, o ser humano com todos os seus lados e falhas, crenças religiosas, preferências culturais e culinárias, sua configuração psicológica. Eu criei um novo quadro para mostrar o gênio atrás das teorias. Seu pensamento é definido em relação à história da ciência, da Antiguidade aos tempos modernos, mostrando sua forma de pensar em uma linhagem com estes homens, nos ombros dos quais ele se suporta, até os nossos dias quando suas previsões teóricas estão sendo examinadas e verificadas. Meu texto, como a mídia americana disse, "é lido como um romance". Eu pego meus leitores pela mão e caminho com eles através desse mundo, e também introduzo lugares e pessoas que trabalham e tratam de seu legado hoje. E, como um jornalista científico e autor - assim como outros físicos, como Pais e Kaku -, eu tento fazer o pensamento de Einstein compreensível para pessoas leigas sem usar fórmulas.

Terra - Einstein já foi eleito o maior físico da história e a personalidade mais importante do século XX. Por que um cientista alcançou tamanha notoriedade? O que fez o cientista ser tão popular, inclusive em vida?

Neffe - Não existe outra pessoa como ele; o gênio que descobriu o fim do universo e explicou o funcionamento do menor dos mundos - o que veio a ser a física quântica -; a voz política; o cientista que tomou responsabilidade mais o profeta que nos deu a fórmula para o futuro do mundo nos fundamentos da cosmologia que ele colocou na relatividade geral. Ele era como Muhammed Ali, que foi convidado por reis e presidentes para ficar cada vez mais mítico, como sabemos, na segunda metade de sua vida.

Terra - Existem muitos mitos sobre Albert Einstein. Um deles diz que ele era um mau aluno, que rodava em provas de matemática e brigava com professores. Outro que era muito religioso. Quais dessas afirmações eram verdadeiras e quais são apenas lendas?

Neffe - Existem tantos que eu temo que você precisará ler meu livro. Aqui estão alguns:

Ele era um estudante ruim apenas em esportes. Ele era brilhante em física e muito bom em matemática. Como esperado.

Oh, sim, ele discutiu com seu professor e finalmente se sentiu forçado a deixar a escola em Munique e terminar os estudos na Suíça.

Ele não era religioso no completo sentido de pertencer ao judaísmo. Ele não seguia nenhum rito e ritual e era criticamente engajado no que chamou de tribo judaica - fora da comunidade religiosa.

Ele não usava meias.

Ele não inventou a bomba atômica.

Ele era um ser humano com um cérebro como o de muitos outros.

Sua mulher não inventou a relatividade - mas como física, ela ajudou um pouco.

Ele não era vegetariano, ele amava carne - e morangos.

Ele tinha noção de seu engraçado corte de cabelo, até o preparava antes de ser fotografado e usava a imagem para ajudar seu mito a se propagar.

Terra - Muitos físicos criticam que as últimas décadas de vida do pesquisador foram desperdiçadas em uma busca inútil de uma "teoria do tudo". Qual é sua opinião?

Na verdade, ele começou pensando em combinar o mundo do gigante - universo - e do minúsculo - as partículas elementares -, ou seja, a relatividade geral com a física quântica a partir de aproximadamente 1920, o que significa que ele teria perdido 35 anos. Ele não teve sucesso, mas, levando em conta que essa fórmula não foi descoberta até hoje, ele não perdeu seu tempo e nos deu muitas contribuições úteis - a mais conhecida é o paradoxo Einstein-Podolski (o nome completo é paradoxo Einstein-Podolsky-Rosen, o qual questionava pontos da mecânica quântica). Eu não conheço nenhum físico que o critique por tentar, mas por confiar apenas na matemática para encontrar uma "bela fórmula" ao invés de usar a física e o mundo (real) físico.

http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI6101147-EI238,00-Nova+biografia+mostra+lado+escuro+de+Einstein.html


Como Einstein arruinou a Física

Mark Green

Albert Einstein foi o homem mais esperto e o maior cientista que já viveu? Milhões acreditam que sim.

Mas Roger Schlafly vê de forma diferente, abaixando o posto do cientista mais reverenciado do século XX. Por quê? Schlafly apresenta evidência constrangedora que outros físicos e matemáticos importantes antes e simultâneamente a Einstein fizeram avanços igualmente importantes na teoria da relatividade e campos correlatos. Além disso, Schlafly sugere que Einstein pode ter roubado algumas de suas mais famosas idéias.

O que tornou Einstein tão famoso? A estória oficial segue deste modo: Albert Einstein, um jovem funcionário no escritório de patentes suíço, transformou sozinho a Física de uma ciência estática, tridimensional para um universo espaço-tempo quadridimensional, para além da compreensão, por meio de solitários e brilhantes "experimentos do pensamento" envolvendo gravidade, movimento, espaço e tempo. Einstein também fez incursões sem precedentes na natureza da luz e energia e foi o primeiro a compreender a equivalência entre massa e energia. As descobertas de Einstein não somente transformaram a física moderna, mas o modo como vemos o Universo.

Schlafly não concorda: "É tudo mito. Einstein não inventou a Relatividade ou a maioria das outras coisas pela qual ele é reconhecido." Schlafly leva o caso de forma atrevida e convincente.

Roger Schlafly tem uma compreensão impressionante do assunto, tendo conseguido seu título em Engenharia Elétrica em Princeton e seu Ph.D. em matemática na Universidade da Califórnia em Berkeley. Ele é professor na Universidade de Chicago e na Universidade da Califórnia, Santa Cruz, onde vive hoje.

Schlafly pode conversar sobre física das partículas, relatividade especial e teoria quântica com os melhores do ramo, analisando vetores, bósons, teoria das cordas (a qual ele detesta), simetria (pela qual é atraído) e paradigmas de Kuhn (os quais não suporta) e uma infinidade de outros enigmas científicos. Schlafly tem um pouco de Einstein, apesar de que ele provavelmente se oporia ao termo como sendo uma comparação de inteligência.

Schlafly examina as contribuições impressionantes (apesar de quase esquecidas) de físicos e matemáticos importantes durante aquela era antiga. Uma pequena lista de grandes figuras inclui o matemático e laureado Nobel francês Henri Poincaré (que foi chamado pelo filósofo-matemático inglês Bertrand Russell como o maior homem que a França produziu), o físico holandês pioneiro e laureado Nobel Hendrik A. Lorentz, e o físico e matemático escocês James Clerk Maxwell. De acordo com Schlafly, Maxwell foi o primeiro a usar o termo "relatividade" e criou a primeira e genuína teoria da relatividade da massa e energia. Maxwell escreveu os volumosos dois volumes "Tratado sobre Eletricidade e Eletromagnetismo" em 1873 nos quais, na opinião de Schlafly, apareceram as mais importantes equações na história da ciência.

O tratado subseqüente de Poincaré sobre relatividade forneceu os teoremas que eram "matematicamente idênticos aos de Einstein," diz Schlafly e a maioria do trabalho de Poincaré também precedeu ao de Einstein. "Lorentz e Poincaré conheciam os principais aspectos da teoria (da relatividade) e as publicaram antes de Einstein," ele diz.

Mesmo assim, estas figuras científicas gigantes são quase esquecidas enquanto a reputação de Einstein atingiu o status de semi-deus. Por quê?

E = MC2

http://www.theoccidentalobserver.net/2012/03/review-of-roger-schlaflys-how-einstein-ruined-physics/

sábado, 25 de agosto de 2012

[SGM] Hitler ordenou pessoalmente ataques a navios e cerco a portos

Estadão, 25 de agosto de 2012

 
Uma estratégia naval supervisionada pelo próprio Adolf Hitler resultou no ataque generalizado de submarinos alemães a navios mercantes brasileiros junto à costa do País nos primeiros oito meses de 1942, quando o governo Getúlio Vargas ainda era formalmente neutro na 2.ª Guerra Mundial. Documentos do Tribunal de Nuremberg guardados no Arquivo Histórico do Itamaraty mostram que o führer autorizou pessoalmente o uso da força contra embarcações do Brasil em maio daquele ano, por considerar os brasileiros em guerra contra o reich.

A papelada tem partes do diário de guerra do ex-chefe de Operações do Oberkommando der Wehrmacht (OKW), general Alfred Jodl, e depoimento do ex-ministro da marinha alemã Erich Raeder na corte que julgou chefes nazistas - Jodl foi condenado à morte e Reader, à prisão perpétua. Os afundamentos levaram o País ao conflito.

"Em 29 de maio, o Comando de Operações Navais (SKL) propôs liberar o uso de armas contra forças aéreas e navais brasileiras", anotou Jodl em 16 de junho. "(O SKL) Considera apropriado um rápido golpe contra navios mercantes e de guerra brasileiros no momento presente, no qual medidas defensivas ainda estão incompletas e a possibilidade de surpresa existe, já que o Brasil praticamente está guerreando no mar a Alemanha. (...) Sobre a proposta do chefe do Comando Operacional das Forças Armadas, o führer ordenou em 30 de maio que o Comando de Operações Navais (SKL) deveria verificar, perguntando a Roma se relatórios brasileiros sobre a guerra, como ações contra submarinos do Eixo, estão corretos. A investigação (...) mostrou que submarinos italianos foram atacados em 22 e 26 de maio no canto nordeste do Brasil por aviões que fora de dúvida decolaram de base área brasileira."

Chefe da marinha de guerra alemã (Kriegsmarine) até 1943, Raeder se defendia em Nuremberg da acusação de crime de guerra por ordenar ações bélicas contra um país neutro e atacar embarcações brasileiras. Na época, os U-boats (submarinos) alemães tentavam bloquear o envio de matérias-primas e armas aos Aliados no Reino Unido e norte da África, atacando embarcações mercantes inimigas, o que não era oficialmente o caso do Brasil. Sua defesa argumentou que os brasileiros não sinalizavam corretamente seus barcos, tornando-se impossível diferenciá-los de navios inimigos. A documentação faz parte do arquivo da Missão Militar Brasileira na Alemanha e foi encaminhada ao País pelos Aliados em 1946.

Medo. A tensão entre Brasil e Alemanha vinha de 1941. O primeiro incidente entre os dois países ocorreu em 22 de março, quando o navio mercante Taubaté foi metralhado pela Luftwaffe no Mediterrâneo, junto à costa do Egito, deixando um morto e 13 feridos. Em 13 de junho, um submarino alemão obrigou o navio Siqueira Campos a parar junto a Cabo Verde. A embarcação brasileira só foi liberada após ser revistada e ter tripulantes fotografados. O Brasil aprofundava as relações com os Estados Unidos, que, a partir de junho, passaram a usar portos de Recife e Salvador. De Natal, americanos começaram a fazer patrulhamento aéreo. O Brasil rompera com o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) em 28 de janeiro de 1942, no fim da 3.ª Conferência de Chanceleres das Américas, no Rio.

"A relação entre Brasil e Alemanha na época era assustadora", declarou Raeder, respondendo a seu advogado, Siemers, diante dos juízes em Nuremberg . "Alemães eram perseguidos lá, tratados muito mal. Os interesses econômicos da Alemanha eram prejudicados pesadamente. Brasileiros já vinham dando ouvidos aos Estados Unidos. Tinham permitido estações de rádio americanas. Transmissores sem fio tinham sido estabelecidos ao longo da costa brasileira e também estações de inteligência. (...) Eles mesmos confirmaram que tinham destruído um submarino alemão."

Depois do rompimento diplomático, recrudesceram os ataques alemães contra o País, ainda longe de águas brasileiras. A guerra chegaria mais perto em 22 de maio, quando o submersível italiano "Barbarigo" atacou (sem conseguir afundar) o vapor mercante Comandante Lira, entre Fernando de Noronha e o Atol das Rocas. O submarino foi localizado por um B-25 Mitchell da FAB, que, atacado a tiros de metralhadora, segundo a versão brasileira, reagiu com bombas. A embarcação italiana escapou, mas o incidente teve repercussão no comando alemão. É a esse caso que Jodl cita em seu diário.

A embaixada alemã temia o agravamento das relações com o Brasil, por causa da atitude da Argentina e do Chile. Após a ação contra o Barbarigo, o Comando de Operações Navais propôs que dez submarinos, que deveriam sair entre 22 de junho a 4 de julho de portos na França, bloqueassem os principais portos brasileiros de 3 a 8 de agosto. A ordem deveria ser dada aos submarinos até 15 de junho.

‘De acordo’. Segundo Jodl, depois de o comandante da marinha relatar a situação a Hitler em 15 de junho em Berghof, o führer "se declarou de acordo". "Ordenou, contudo, que antes da decisão definitiva a situação política fosse de novo examinada pelo Ministério das Relações Exteriores." A operação, porém, acabou suspensa. Veio então nova série de ataques de navios brasileiros, ainda longe das águas nacionais.

Em agosto, o Eixo iniciaria outra ofensiva, agora contra a costa brasileira. Só no dia 16 morreram 551 pessoas nos ataques aos navios Baependi (270 mortos), Araraquara (131) e Annibal Benevolo (150). Os três foram torpedeados pelo submarino alemão U-507 perto de Sergipe. Um dia depois, o mesmo submersível matou mais 56 pessoas, ao afundar os navios Itagiba e Arará na costa da Bahia. Em 19 de agosto, o U-507 afundou a barcaça Jacira, perto de Ilhéus. Três dias depois, o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália.

Telegrama "altamente secreto" da marinha alemã para o OKW admitia "risco" de a força ser responsabilizada pela entrada do Brasil na guerra. Ela sugeriu ao ministério das relações exteriores que pedisse às nações neutras para sinalizar seus navios para não serem confundidos com inimigos. Por fim, o documento da marinha diz: "O Ministério das Relações Exteriores alemão, contudo, mandou tal notificação só para Argentina e Chile. Um telegrama enviado em 10 de fevereiro de 1942. O Ministério das Relações Exteriores permaneceu no ponto de vista de que Estados sul-americanos que tinham rompido relações conosco não fossem informados."

Mortes. Ao todo, 35 navios brasileiros foram atacados de 1941 a 1944 - 33 afundaram, com 1.081 mortos documentados (mas o número pode chegar até a 1.400, pois nem toda embarcação tinha controle do número de passageiros) e 1.686 sobreviventes. Estudioso da 2.ª Guerra Mundial, o historiador Frank McCann, da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, avalia que os documentos de Nuremberg trazem detalhes importantes sobre as decisões alemãs de atacar navios brasileiros. "Publicados, poderiam finalmente aquietar um pouco do nonsense sobre quem afundou os navios brasileiros e por quê."

 
http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,hitler-ordenou-pessoalmente-ataques-a-navios-e-cerco-a-portos,921563,0.htm

As dúvidas sobre o pouso do homem na Lua

Estadão, 9/07/2009


1 – Por que não veem estrelas nas fotos tiradas na Lua?

Tanto o solo lunar quanto o traje dos astronautas são brancos e brilhantes, e estavam iluminados pelo Sol, o que forçou o astronauta que fazia fotos a usar um tempo de exposição muito curto – do contrário, as fotos ficariam borradas com o brilho excessivo. Em comparação, as estrelas têm uma luz muito fraca, abaixo da sensibilidade para a qual a câmera tenha sido ajustada.

2 – Por que os foguetes do módulo lunar não abriram uma cratera no solo? O chão abaixo do módulo Águia parece plano!

Os foguetes do módulo vinham desacelerando a descida desde a órbita lunar, e quando o Águia tocou o solo, ele já viajava bem devagar, de forma que só um pequeno empuxo foi usado imediatamente antes do contato com a superfície. Além disso, no vácuo não existe pressão do ar para constringir o jato, de forma que os gases produzidos pelo foguete dispersam-se rapidamente após deixar a tubeira (bocal).

3 – Como é possível ainda haver poeira nos arredores do módulo, depois do pouso? O foguete assoprou toda a poeira para longe!

No vácuo, não existem correntes de ar para carregar a poeira para longe. As únicas partículas levantadas pelo foguete são as que são tocadas diretamente pelos gases do jato, ou as que colidem com partículas tocadas por esses gases.

4 – Como é que pode haver sombras que não são totalmente pretas? Todas as coisas que estão fora da iluminação direta do Sol deveriam ficar num breu total!

A superfície da Lua é branca e brilhante. Mesmo sem ter luz própria, as partículas refletem a luz solar.  As sombras são atenuadas pelo brilho refletido das partículas ao redor.

5 – As sombras nas fotos não são paralelas! Isso significa que holofotes, e não o Sol, são a fonte de luz. Certo?

Errado. As sombras não parecem paralelas, embora de fato sejam, por causa da perspectiva. Lembre-se, as fotos são imagens bidimensionais de eventos tridimensionais.

6 – Em algumas imagens, aparece o mesmo cenário, com e sem o módulo lunar. Como isso é possível?

O astronauta que fez as fotos se deslocou entre uma e outra, tirando o módulo do quadro. Lembre-se, na Lua não existe ar para ajudar a avaliar distâncias visualmente.

7 – Como é possível que a bandeira americana fique estendida e tremule, se na Lua não há vento?

A bandeira fica estendida porque existe um suporte horizontal por dentro do tecido, na parte de cima, mantendo-a assim. Na Apollo 11, os astronautas não conseguiram esticar o suporte horizontal até o fim, o que deixou a bandeira um pouco amarrotada. É esse amarrotado que, na foto, dá a ilusão de que o tecido tremula ao “vento”. Nas missões seguintes, esse efeito amarrotado foi preservado de propósito... porque o pessoal da NASA gostou da simulação de movimento.

8 – Quando o módulo decola da Lua, não há chamas visíveis! Como um foguete pode disparar sem produzir labaredas de fogo?

Simples: o combustível usado não gera uma chama visível. O módulo lunar usou uma mistura de hidrazina (combustível) e tetróxido de dinitrogênio (oxidante). Essas duas substâncias explodem ao entrar em contato, mas o produto da reação é transparente.

9 – Como os astronautas sobreviveram aos cinturões de radiação de Van Allen?

Os chamados cinturões de Van Allen são uma região do espaço onde o campo magnético da Terra aprisiona partículas do vento solar. Embora a radiação presente ali realmente possa ser perigosa para um ser humano, uma pessoa, para ser afetada, precisaria estar desprotegida e ficar exposta por muito tempo. As naves do programa Apollo cruzaram o cinturão rapidamente, em cerca de uma hora, e o casco da nave bloqueou boa parte da radiação.

10 – Quais as evidências, além das fotos, de que o homem foi à Lua?

Há várias evidências materiais. Alguns exemplos são as rochas lunares, que têm características diferentes das terrestres; espelhos que os astronautas deixaram na Lua e que ainda hoje são usados por cientistas de vários países, refletindo raios laser emitidos a partir da Terra; e dados de rastreamento por radar das naves que foram e voltaram da Lua.
 
http://www.estadao.com.br/especiais/as-duvidas-sobre-o-pouso-do-homem-na-lua,64244.htm

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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O assassinato de Júlio César

Reinaldo José Lopes, 22/06/2010

Ele foi o homem mais poderoso do mundo romano e adotou medidas populistas que desagradaram a aristocracia. Para proteger a república, os senadores o mataram, sem saber que aniquilariam sua classe política


Três escravos se esgueiraram para dentro do Senado vazio e correram em direção ao corpo ensanguentado, caído perto da estátua de Pompeu. Mais tarde, os ferimentos seriam contados: 23 golpes de adaga. Os assassinos de Caio Júlio César não estavam mais ali. Planejaram transformar a morte num grande ato de propaganda política, mas não contavam com o medo e a revolta do povo comum de Roma, quase todo formado por adeptos do ditador. Os responsáveis pelo atentado, portanto, tiveram de se esconder, entrincheirados na colina do Capitólio. Matar César tinha sido ridiculamente fácil; assassinar o que ele significava para Roma era bem mais complicado. A morte do homem mais poderoso do Império Romano teve pouco a ver com as cenas criadas por poetas como William Shakespeare, mas tem todos os elementos de uma grande tragédia, com cenas de intriga, maquiavelismo, traição e, a julgar pelo que dizem os escritores da Antiguidade, até avisos proféticos que foram ignorados. O famigerado Bruto pode não ter sido filho de César, como reza a lenda, mas ele e seus comparsas tinham em comum a decisão de eliminar o homem que tinha sido seu benfeitor. E os efeitos colaterais do plano foram ainda piores: anos de guerra civil, um império que quase se esfacelou e o fim das ambições políticas para a classe representada pelos assassinos. Se a personalidade e os instintos políticos de César fossem ligeiramente diferentes, ele jamais teria tombado no Senado. Afinal, a tradição das longas guerras civis que tinham assolado Roma ao longo dos séculos 2 a.C. e 1 a.C. era clara: se quiser governar tranquilo, não deixe seus inimigos vivos. Essa foi a regra durante as décadas de conflito entre Optimates, a facção que defendia a supremacia dos aristocratas romanos, e Populares, os quais, como o nome diz, queriam fazer concessões ao povo romano (embora seus líderes fossem homens da nobreza). César era um expoente dos Populares, o que levou o aristocrático Senado a tentar eliminá-lo logo depois que ele retornou da Gália (atual França), depois de oito anos de batalhas, como general vitorioso no ano 49 a.C. Não deu muito certo, para dizer o mínimo. As forças senatoriais, lideradas por Pompeu Magno, ex-aliado de César, foram esmagadas em batalhas na Espanha e na Grécia. Com as legiões de todo o Império sob seu comando, César podia fazer o que quisesse, mas preferiu deixar de lado as guerras civis e perdoar a todos que se rendessem sem luta. "A chamada clementia [ancestral de “clemência” em português] se tornou a marca política de César, e uma grande arma de propaganda", afirma o historiador Pedro Paulo Funari, da Unicamp. Em muitos casos, a clementia de César envolvia até a promoção de antigos inimigos. Dois dos mais mimados pelo novo senhor de Roma foram os líderes da conspiração que acabaria por matá-lo: Caio Cássio Longino e Marcos Júnio Bruto, sendo que ambos haviam recebido cargos e honrarias.

Oficialmente, Roma era uma república, mas na prática o poder absoluto estava nas mãos de César. Em épocas de crise, Roma tinha sido governada pelos chamados ditadores, que ganhavam poderes amplos durante um período de no máximo seis meses; em 45 a.C., o Senado deu ao general o título de senador vitalício, um ano depois de conferir o cargo a ele por dez anos - dois fenômenos sem precedentes na história republicana. Com essas manobras, sem falar de outras honras dadas a ele pelo Senado, como o título de Pater Patriae (Pai da Pátria), parecia que César tinha amansado de vez os Optimates e trazido os antigos inimigos para o seu lado. Mas a situação real era bem mais complicada.

O ovo da serpente

A propaganda política dos conspiradores tentou pintar o atentado contra César não como homicídio, mas como tiranicídio - um ato destinado a restaurar as "antigas liberdades" da Roma republicana destronando um déspota. Outros historiadores, como o americano Michael Parenti, em seu livro O Assassinato de Júlio César, argumentam que a decisão de eliminar o general foi só mais um round na velha briga entre Optimates e Populares. Afinal, César tomou medidas que desagradaram a antiga aristocracia, como a distribuição de terras para veteranos de guerra e a concessão de cidadania romana a povos das províncias do Império. Ele ainda aumentou o número de membros do Senado de 600 para 900, incluindo até alguns moradores da Gália na conta, o que certamente ameaçava a supremacia dos nobres romanos. No entanto, para Isabelle Pafford, doutora em História Antiga e Arqueologia do Mediterrâneo pela Universidade da Califórnia em Berkeley, a motivação dos conspirados pode ter sido bem mais simples. "Creio que as razões da conspiração eram mais pessoais que políticas, porque os responsáveis nem chegaram a ter um plano sobre o que fazer depois. Eles estavam pensando na sua própria carreira, não na “república” ou na estabilidade política dela", diz Isabelle. Trocando em miúdos: Bruto, Cássio e companhia perceberam que estavam destinados a ser, no máximo, joguetes bem pagos de César - e não gostaram nem um pouco da ideia.


Júlio César, Museu do Louvre (1696)


Segundo o historiador italiano Luciano Canfora, pesquisador da Universidade de Bari e autor de Júlio César - O Ditador Democrático, a ideia de eliminar o ditador já estava circulando desde 45 a.C. - no início entre antigos oficiais do próprio César, descontentes com o fato de não terem sido promovidos como desejavam. Membro do círculo de César havia tempo, apesar do seu passado entre os Optimates, Cássio conseguiu se aproximar dessa facção descontente e começou a articular um plano que, no fim das contas, agregaria cerca de 60 senadores, todos membros da velha elite. "Uma estratégia que examinaram foi aguardar as eleições consulares, durante as quais César ficaria em pé na ponte de madeira usada pelos eleitores a caminho da votação", escreve Michael Parenti. "Alguns conspiradores o empurrariam sobre o parapeito, enquanto outros estariam esperando embaixo, com as adagas desembainhadas." O plano não foi adiante por ser considerado muito arriscado, e os conspiradores decidiram que o melhor caminho era atacar durante uma cerimônia mais reservada. Antes disso, porém, Cássio queria conseguir o apoio de uma figura considerada chave: seu cunhado, Marcos Bruto. Eles andavam brigados - numa crise de ciumeira, o primeiro tentou impedir que o segundo assumisse um cargo cobiçado pouco tempo antes -, "mas Cássio sabia exatamente como convencer Bruto a agir", diz Luciano Canfora. Acontece que um dos ancestrais do senador, Lúcio Júnio Bruto, era famoso nas lendas romanas por ter expulsado da cidade seu último rei, Tarquínio, em 509 a.C.

O significado simbólico era óbvio: o descendente do homem que acabou com a monarquia em Roma estava "destinado" a eliminar o "tirano" e "rei ilegítimo" Júlio César. Em segredo, Cássio espalhou grafites e panfletos pela cidade, com frases como "Bruto, estás dormindo?" ou "Tu não és realmente Bruto", na tentativa de mexer com os brios do cunhado e envolvê-lo nessa mística. "Dos outros pretores [cargo ocupado por Bruto] esperam-se privilégios, espetáculos, mas de ti a abolição da tirania", disse Cássio, segundo o historiador grego Plutarco. E Bruto mordeu a isca.

Embora tivesse lutado ao lado de Pompeu e contra César, Bruto foi perdoado e recebeu do vencedor o governo da Gália Cisalpina (atual norte da Itália) e uma importante posição entre os sacerdotes de Roma. A generosidade exuberante do ditador talvez se deva a uma mãozinha de Servília, mãe de Bruto, amante de César e, segundo alguns escritores antigos, grande amor da vida do general. Mas daí a propor que Bruto era, na verdade, o filho bastardo de César vai uma distância considerável. "Isso é improvável, de acordo com a maioria dos especialistas, por causa da data de nascimento de Bruto", diz Isabelle. Quando seu futuro assassino veio ao mundo, César tinha apenas 15 anos. "A relação entre os dois era próxima, mas nada anormal dentro da sociedade romana", afirma ela.

Sinais e sangue

A data marcada para o ataque dos conspiradores era a dos Idos de Março de 44 a.C. (título dado ao dia 15 desse mês). O combinado era aproveitar a presença de César no Senado para a cartada decisiva. Segundo os autores que abordaram o caso na Antiguidade, não faltaram avisos e sinais dos deuses para o ditador. Primeiro foi um jantar na casa de um amigo na noite anterior ao atentado. Após a comida, a conversa acabou se voltando para qual seria a melhor maneira de morrer ("inesperada e rápida", teria dito César). Depois foi o pesadelo de Calpúrnia, mulher do general, que sonhou que o marido era assassinado em seus braços e implorou para que ele não fosse ao Senado. César também sonhou que voava e apertava a mão do deus Júpiter. César quase cedeu a Calpúrnia, mas um dos traidores, Décimo Bruto (parente distante do outro Bruto), conseguiu convencer o ditador a ir até o Senado mesmo assim. De acordo com Plutarco, o erudito grego Artemidoro de Cnido, que frequentava a casa de Bruto, teria tentado alertar César da conspiração por meio de um bilhete, já bem perto do Senado, mas César deixou para ler a mensagem depois da audiência. Os historiadores antigos concordam a respeito dos detalhes essenciais do ataque. Os assassinos esperaram que César se aproximasse de sua cadeira e o rodearam, supostamente para apoiar uma petição feita por Tílio Cimbro, que queria trazer seu irmão de volta do exílio. César pediu que ele esperasse um pouco e Cimbro puxou a barra da toga do ditador - o sinal para o ataque. César teria dito "Ora, isso é uma violência", enquanto outro senador, Casca, dava o primeiro golpe de adaga. César reagiu pela primeira e única vez, gritando "Casca, seu canalha, o que está fazendo?" e acertando o atacante com um pedaço de metal pontudo, usado para escrever. A essa altura os golpes se multiplicavam. De acordo com o historiador romano Suetônio, "quando, porém, percebeu que de todos os lados lhe vinham em cima com punhais em riste, envolveu a cabeça com a toga e com a mão esquerda puxou a extremidade dela até os pés para tombar decorosamente [sem mostrar os genitais]".

Até tu, Brutus?

Resta ainda um enigma, que deixava até alguns historiadores antigos céticos: a suposta frase "Tu também, meu filho?", dita quando César viu Bruto entre os assassinos. Primeiro, ela teria sido pronunciada em grego, língua na qual ela é ambígua. Kai su, têknon também pode querer dizer "você também, menino/moleque". "Minha impressão é que, ao colocar a frase em grego, os escritores antigos querem dar a impressão de que César está citando alguma tragédia. Ou seja, estão colocando palavras na boca dele, num contexto literário. Ia ser muito difícil ouvi-lo no meio daquela confusão toda", afirma Isabella, que se diz cética a respeito de todos os detalhes do episódio. Reza a lenda que, depois da morte do ditador, Bruto tentou fazer um discurso para os Liberatores (como os assassinos se denominavam), mas eles e os demais senadores acabaram fugindo da cena do crime. Com a fria reação popular ao fim de César, os Liberatores se viram num dilema e acabaram se sentando à mesa de negociação com Antônio. Afinal, se César tinha mesmo sido um tirano, nenhuma de suas decisões era válida - inclusive as nomeações de vários dos assassinos para cargos importantes e rentáveis. As conversas acabaram terminando no que parecia uma monumental pizza: César não seria oficialmente declarado tirano, e portanto poderia receber funerais dignos, e os Liberatores não seriam declarados assassinos, mantendo assim o cargo e a posição social. Plano digno de outro Senado que todos conhecemos, sem dúvida, se não fosse pela malandragem e pelo poder oratório de Antônio. Nos funerais, ele exibiu uma imagem de cera, em que se viam os ferimentos sofridos por César, e fez um elogio fúnebre com tamanha paixão que o povo de Roma, revoltado, jurou vingança contra os Liberatores. Mesmo anistiados, Cássio e Bruto decidiram fugir para as províncias romanas do Oriente. Lá, a dupla de conspiradores reuniu soldados para tentar conquistar todo o Império Romano, mas era mais fácil matar César que imitá-lo. Uma aliança entre Marco Antônio, Marco Emílio Lépido (outro general de César) e o herdeiro e sobrinho-neto do ditador, Otaviano, esmagou as forças de Bruto e Cássio em Filipos, na Macedônia. A dupla cometeu suicídio (ou, para ser mais exato, Bruto se matou e Cássio mandou que um de seus ex-escravos o matasse). Ainda não era o fim das grandes guerras civis romanas - nas décadas seguintes, Otaviano derrotaria Antônio e viraria Augusto, o primeiro imperador. Mas, sem dúvida alguma, era o fim das chances de poder para sujeitos como Cássio, Bruto, Casca e os demais senadores, que se diziam Liberatores.

 O Assassinato de César - Karl Piloty (1865)


E se César tivesse escapado?

O tirano teria se tornado imperador ou morrido em batalhas

Imagine uma realidade alternativa na qual César, um pouquinho mais preocupado com a própria segurança, só faz suas poucas e imponentes aparições públicas rodeado por uma guarda de gauleses brutamontes, muito bem pagos e leais apenas ao ditador. À primeira vista, o resultado dessa política mais cautelosa parece óbvio: Roma teria seu primeiro imperador uns 20 anos antes do que realmente acabou acontecendo (com a subida ao poder de Augusto, sobrinho-neto e herdeiro de César). De resto, tudo teria caminhado mais ou menos do mesmo jeito que no nosso mundo. Ou não? "A ascensão do Principado [o governo absoluto de Augusto] certamente parece inevitável a partir da nossa perspectiva, mas deveríamos ser mais humildes ao tentar prever o que aconteceria. Para começar, se a tentativa de assassinato não tivesse acontecido, César teria partido para outra campanha militar", diz Isabelle Pafford, referindo-se ao plano do ditador de atacar o Império da Pártia, que então dominava vastas regiões na Mesopotâmia e na Pérsia. Acontece que as legiões romanas já tinham levado sovas consideráveis na Pártia, o que significa que César podia muito bem acabar morrendo em batalha. "Nesse caso, o Império Romano teria se fraturado, com a própria Roma entrando em declínio", diz ela. "Com Júlio César vivo, os rumos do Império aparentemente seriam muito diversos do que foram. Ele teria tudo para antecipar as tendências centralizadoras e para implantar um culto imperial [no qual o governante era adorado como deus] ainda mais robusto. O Senado teria menos poder simbólico do que teve com Augusto", afirma Pedro Paulo Funari. Pode até ser que Marco Antônio fosse nomeado como sucessor. Assim, diz o historiador, Roma ficaria cada vez mais voltada para o Oriente, onde esses modelos de governo eram mais conhecidos e bem aceitos. "Haveria movimentos messiânicos na Palestina, como o de Jesus? Haveria a destruição de Jerusalém em 70 d.C.? Não se sabe", diz Funari, levando em conta que a relação de César com a população judaica da Palestina e do resto do Império era bastante pacífica.

Política na faca

Assassinatos políticos já eram praxe séculos antes de César tombar no Senado

Israel, 840 a.C.

Jeú, general do exército, conspirou contra o rei Jorão, matou-o com uma flechada no coração e aproveitou para liquidar a rainha-mãe Jezebel, junto com outros 70 membros da família real. Jeú tornou-se rei.

Grécia, século 6 a.C.

Dois jovens amantes atenienses, Harmôdio e Aristogeiton, tentaram despachar os irmãos Hípias e Hiparco, que mandavam em Atenas, ocupando a posição de tiranos. Hiparco morreu, Hípias escapou e os conspiradores foram mortos.

Pérsia, século 6 a.C.

Parente distante dos reis da Pérsia e oficial do exército, Dario alegou que o soberano do momento na verdade era um impostor e, com ajuda de outros nobres do império, invadiu o palácio real e o matou com suas próprias mãos, tornando-se imperador.

Macedônia, 336 a.C.

Alexandre, o Grande, ganhou o trono graças à morte violenta de seu pai, Filipe II, atacado por um membro de sua guarda pessoal (e seu ex-amante). Acredita-se que o assassinato tenha sido orquestrado pela mãe de Alexandre.

Os suspeitos

Caio Cássio Longino

General com experiência nas guerras romanas no Oriente, estudou filosofia na Grécia e se aliou a Pompeu, líder da facção aristocrática inimiga de César, quando estourou o conflito civil em Roma. Quando Pompeu foi derrotado, Cássio recebeu o perdão oficial de César e o cargo de pretor, mas não ficou nem um pouco satisfeito.

Marcos Júnio Bruto

Descendia de um ancestral famoso e semilendário que, segundo a tradição, fora responsável por expulsar Tarquínio,o último rei de Roma. Sua mãe, Servília, era amante de César. Como Cássio, seu cunhado, ele acabou se aliando a Pompeu durante a guerra civil, sendo perdoado assim que se rendeu.

Décimo Júnio Bruto Albino

Parente distante do outro Bruto e do próprio César, era um almirante de mão cheia, que ajudou o ditador a vencer batalhas navais durante a conquista da Gália e na guerra civil. Com reputação acima de qualquer suspeita, os conspiradores trataram de recrutá-lo, junto com outros membros do círculo de César que andavam descontentes.

Públio Servílio Casca

Casca e seu irmão, Caio, eram senadores membros de uma família leal a César, mas tudo indica que a falta de perspectivas políticas para o Senado com o poder cada vez mais absoluto do ditador os levou a se juntar aos conspiradores. Públio Casca, segundo os autores antigos, foi o primeiro senador a ferir César com sua adaga.

Marco Túlio Cícero

Excelente orador, escritor e filósofo, foi o grande articulador do partido aristocrático, os Optimates, pouco antes da guerra civil e durante o conflito. Aceitou o domínio de César e fez os senadores jurarem defender a vida do ditador. Mas não deixava de queimar o filme de César. Não participou diretamente do atentado.

Saiba mais

LIVROS

Júlio César - O Ditador Democrático, Luciano Canfora, Estação Liberdade, 2002

Provavelmente a obra mais completa e erudita sobre a vida e morte de César em português, com uma análise minuciosa das fontes antigas sobre o ditador.

O Assassinato de Júlio César, Michael Parenti, Record, 2005

Parenti tenta entender o assassinato de César como um dos últimos rounds da luta entre políticos reformistas e conservadores na república romana. O livro é repleto de descrições e teorias sobre o que poderia ter sido diferente no destino do tirano mais famoso de Roma.

Rubicão, Tom Holland, Record, 2006

Introdução leve e clara à crise da república, da geração anterior a César à morte de Augusto, o sobrinho-neto herdeiro de Roma, que instaurou o império.

http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/assassinato-julio-cesar-572266.shtml

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

[PGM] Como a Alemanha perdeu a Corrida Armamentista na PGM

Saul David, 16/02/2012


A História nos diz que um general pode deslocar e alimentar um exército tão eficientemente quanto ele queira, mas o fator limitante real é o campo de batalha. Toda a energia que ele gasta reunindo seus homens na linha de frente em forma e com saúde não conta nada se eles não têm o equipamento correto. O que eles precisam, acima de tudo, é munição suficiente - mesmo assim, houve momentos durante a guerra quando uma escassez de projéteis de artilharia significou o silêncio dos canhões. Dada a escala sem precedentes do conflito, era obrigatório tomar tempo da indústria armamentista em tempos de paz para ajustar-se. Cada um dos combatentes principais, além disso, tinha seus próprios limites para produção. A Alemanha tinha falta das necessárias matérias-primas para fabricar pólvora (o propelente essencial para cartuchos e projéteis) e explosivos. A Áustria-Hungria foi prejudicada pela falta de transporte e infra-estrutura ferroviária. A Grã-Bretanha tinha escassez de recursos humanos e pobreza de acetona, o componente-chave para fabricar pólvora. E a França, nos anos iniciais, teve que se ajustar devido à perda de muito de seu coração industrial pelo avanço alemão. Nenhum destes fatores foi particularmente urgente enquanto a guerra esteve nos passos iniciais. Mas tão logo ela se estabeleceu no final de 1914 como um atoleiro, com a linha de trincheira percorrendo 800 km, de Nieuport na Bélgica até a fronteira suíça, os projéteis de artilharia eram necessários em maior quantidade para forçar um progresso.




Em março de 1915, na Batalha de Neuve Chapelle, os britânicos dispararam mais projéteis em um bombardeio de 35 minutos do que eles fizeram durante toda Guerra Boer. A Grã-Bretanha tinha canhões suficientes, mas estava consumindo munição muito rápido e aqueles projéteis que estavam disponíveis freqüentemente falhavam em explodir ou queimavam prematuramente no cano do canhão. Por volta de maio deste anos, a "crise dos projéteis" estava tão séria que a maior parte dos canhões britânicos foi obrigada a disparar apenas quatro projéteis por dia, e parecia que a guerra seria perdida, não nas trincheiras da França, mas nas fábricas da Grã-Bretanha. O escândalo resultou na queda do governo liberal de Asquith e sua substituição por uma coalizão, apesar de Asquith ter permanecido como Primeiro-Ministro.

Lloyd George tornou-se o chefe de um novo Ministério das Munições, responsável pelo aumento da oferta de projéteis de artilharia para a Força Expedicionária Britânica. O novo ministério começou a construir fábricas de munições através do país e transformar a economia civil em uma de guerra. Ele também encarregou o químico de Manchester, Chaim Weizmann, de produzir grandes quantidades de acetona a partir das matérias-primas. Ela era obtida previamente da destilação seca da madeira; portanto, a maior parte da acetona era importante de países com grandes florestas como os Estados Unidos.

Em maio de 1915, após Weizmann ter demonstrado ao Almirantado que ele poderia usar um processo de fermentação anaeróbico para converter 100 toneladas de grão para 12 toneladas de acetona, o governo liberou a compra de equipamento de destilação e mistura, e construir fábricas para utilizar o novo processo em Holton Heath em Dorset e em King´s Lynn em Norfolk.

Juntos, eles produziram mais de 90.000 galões de acetona por ano, suficiente para alimentar a demanda insaciável da guerra por pólvora. Como resultado, a produção de projéteis cresceu de 500.000 nos primeiros cinco meses da guerra para 16,4 milhões em 1915.

Por volta de 1917, graças às novas fábricas de munições e às mulheres que trabalhavam nelas, o Império Britânico estava fornecendo mais de 50 milhões de cartuchos por ano. No final da guerra, o exército britânico havia disparado 170 milhões de projéteis.

A transformação da França de sua produção armamentista foi ainda mais bem sucedida. Ao importar carvão da Grã-Bretanha e aço dos Estados Unidos, liberando 350.000 soldados das indústrias militares, e acrescentando mais de 470.000 mulheres nelas, ela foi capaz de aumentar sua produção diária de cápsulas de 75 mm de 4.000 em outubro de 1914 para 151.000 em junho de 1916, e de cartuchos de 155 mm de 235 para 17.000. Em 1917, ela produziu mais cartuchos e peças de artilharia por dia do que a Grã-Bretanha.

A Alemanha havia iniciado com vantagem industrial em relação à Grã-Bretanha e à França – principalmente por causa de sua liderança na produção de aço e em muitos ramos da engenharia química – e sua produção de projéteis em 1914 foi de 1,36 milhões de cartuchos. Mas escassez de matérias primas vitais - particularmente o algodão, cânfora, pirita e salitre – significou que ela não poderia aumentar sua produção à mesma taxa, e somente 8,9 milhões de cartuchos foram fabricados em 1915.

O ano seguinte viu um melhoramento robusto, graças aos esforços do departamento de matérias primas da guerra, KRA, que comandava armazenamento, distribuição e, o mais importante, inspecionar a produção da indústria química de substitutos sintéticos.

Em 1916, conseqüentemente, a produção alemã de projéteis quadruplicou para 36 milhões. Mas no longo prazo, as Potências Centrais – Alemanha, Áustria-Hungria, Turquia e Bulgária – não poderiam ter esperança de competir com o poder fianceiro e industrial dos Aliados.

O orçamento das Potências Centrais de U$ 61.5 bilhões era menos da metade dos U$ 147 bilhões dos Aliados. No verão de 1916, a Alemanha instituiu o fracassado Programa Hindenburg – chamado em homenagem ao comandante do exército, o Marechal Paul Von Hindenburg – em uma tentativa de alavancar sua produção de armas. Ao invés disso, ele drenou uma força de um milhão de homens do exército, trouxe uma crise no transporte e intensificou a escassez de carvão.



No início de 1917, a Alemanha tentou proteger suas forças espalhadas e mal equipadas da Frente Ocidental abandonando a fortificada Linha Hindenburg, e lançando uma irrestrita guerra submarina.

Esta última provocou a entrada dos EUA na guerra, assim deslocando o equilíbrio da produção de munições para o lado dos Aliados. Ela foi, basicamente, uma guerra de atrito que as más abastecidas Potências Centrais não tinham esperança de vencer.

Desde a Primeira Guerra Mundial, força superior não é mais medida em termos de homens e cavalos, mas por meio de destruição executada.

Na Segunda Guerra Mundial, os Aliados despejaram 3,4 milhões de toneladas em bombas na Europa e na Ásia. No Vietnã, um número incrível de 7 milhões foi lançado sobre a Indochina.

O custo também aumentou. Na Segunda Guerra do Golfo, os EUA lançaram uma onda de choque e pavor contra o Iraque ao disparar 800 mísseis de cruzeiro Tomahawk em um período de apenas 48 horas. Cada um deles custa U$ 500 mil. Hoje, um simples Typhoon da Eurofighter custa 50 milhões de libras e o Caça Joint Strike proposto deve alcançar 100 milhões de libras a unidade. Para campanhas inteiras, a escala de custos é incrível.

É estimado que a Guerra no Afeganistão tenha já custado 18 bilhões de libras para o contribuinte britânico. E ainda que toda a sofisticação de seu equipamento militar, a vitória da OTAN sobre um inimigo armado com um pouco mais de Kalashnikovs e bombas caseiras está longe de ser certa.

Ter as melhores armas é geralmente decisivo, mas nem sempre.

http://www.bbc.co.uk/news/magazine-17011607

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Sucateado, Exército não teria como responder a guerra, dizem generais

Globo, 13/08/2012


Assinada em 2008, a Estratégia Nacional de Defesa (END) prevê o reaparelhamento das Forças Armadas do país em busca de desenvolvimento e projeção internacional, mirando a conquista de um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). No entanto, poucas medidas previstas no decreto tiveram avanços desde então.

O Exército, que possui o maior efetivo entre as três Forças (são 203,4 mil militares), está em situação de sucateamento. Segundo relato de generais, há munição disponível para cerca de uma hora de guerra.

O G1 publica, ao longo da semana, uma série de reportagens sobre a situação do Exército brasileiro quatro anos após o decreto da END, assinado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foram ouvidos oficiais e praças das mais diversas patentes - da ativa e da reserva -, além de historiadores, professores e especialistas em segurança e defesa. O balanço mostra o que está previsto e o que já foi feito em relação a fronteiras, defesa cibernética, artilharia antiaérea, proteção da Amazônia, defesa de estruturas estratégicas, ações de segurança pública, desenvolvimento de mísseis, atuação em missões de paz, ações antiterrorismo, entre outros pontos considerados fundamentais pelos militares.

O Exército usa o mesmo fuzil, o FAL, fabricado pela empresa brasileira Imbel, há mais de 45 anos. Por motivos estratégicos, os militares não divulgam o total de fuzis que possuem em seu estoque, mas mais de 120 mil unidades teriam mais de 30 anos de uso.

Carros, barcos e helicópteros são escassos nas bases militares. O índice de obsolescência dos meios de comunicações ultrapassa 92% - sendo que mais de 87% dos equipamentos nem pode mais ser usado, segundo documento do Exército ao qual o G1 teve acesso. Até o início de 2012, as fardas dos soldados recrutas eram importadas da China e desbotavam após poucas lavadas.


A Estratégia Nacional de Defesa elencou entre os pontos-chave a proteção da Amazônia, o controle das fronteiras e o reaparelhamento da tropa, com o objetivo de obter mobilidade e rapidez na resposta a qualquer risco. Defesa cibernética e recuperação da artilharia antiaérea também estão entre os fatores de preocupação.

Um centro de defesa contra ataques virtuais começou a ser instalado pelo Exército em 2010, em Brasília, mas ainda é enxuto e não conseguiu impedir ataques a uma série de páginas do governo durante a Rio+20, em junho deste ano.

O Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), iniciativa que busca vigiar mais de 17 mil quilômetros de divisas com 10 países, começará a ser implantado ainda em 2012, com um teste na fronteira do Mato Grosso do Sul com Paraguai e Bolívia.

Segundo o general Walmir Almada Schneider Filho, do Estado-Maior do Exército, a Força criou 245 projetos para tentar atingir os objetivos da Estratégia Nacional de Defesa. Ele afirma que os recursos, porém, chegam aos poucos.

Nos últimos 10 anos, a percentagem do Produto Interno Bruto (PIB) investido em defesa gira em torno de 1,5%, segundo números do Ministério da Defesa - em 2011, o valor foi de R$ 61,787 bilhões. Durante a crise econômica, entre 2003 e 2004, o índice chegou a 1,43%. O maior percentual foi registrado em 2009, quando 1,62% do PIB foram destinados para o setor.

Em 2012, o Exército receberá cerca de R$ 28,018 bilhões, mas 90% serão destinados ao pagamento de pessoal. Desde 2004, varia entre 9% e 10% o montante disponível para custos operacionais e investimentos.

A ideia do ministro da Defesa, Celso Amorim, é elevar gradativamente os gastos com defesa para a média dos demais países dos Brics (Rússia, Índia e China), que é de 2,4%. Segundo afirmou em audiência no Senado, o objetivo é fazer o Brasil ter maior peso no cenário internacional.

“Nós perdemos nossa capacidade operacional, sabemos dessa defasagem. A obsolescência é grande. Por isso, um dos nossos projetos busca a recuperação da capacidade operacional. Até 2015, devemos receber R$ 10 bilhões só para isso”, afirma o general Schneider Filho, responsável pelos estudos da END no Estado-Maior do Exército.

Falta munição

Dois generais da alta cúpula, que passaram para a reserva recentemente, afirmaram ao G1 que o Brasil não tem condições de reagir a uma guerra. “Posso lhe afirmar que possuímos munição para menos de uma hora de combate”, diz o general Maynard Marques de Santa Rosa, ex-secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa.

“A quantidade de munição que temos sempre foi a mínima. Ela quase não existe, principalmente para pistolas e fuzis. Nossa artilharia, carros de combate e grande parte do armamento foram comprados nas décadas de 70, 80. Existe uma ideia errada de que não há ameaça. Mas se ela surgir, não vai dar tempo de atingir a capacidade para reagir”, alerta o general Carlos Alberto Pinto Silva, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres (Coter), que coordena todas as tropas do país.

“Nos últimos anos, o Exército só tem conseguido adquirir o mínimo de munição para a instrução. Os sistemas de guerra eletrônica (rádio, internet e celular), a artilharia e os blindados são de geração tecnológica superada. Mais de 120 mil fuzis têm mais de 30 anos de uso. Não há recursos de custeio suficientes”, diz Santa Rosa. Ele deixou o Exército em fevereiro de 2010, demitido por Lula após chamar a Comissão da Verdade, que investiga casos de desaparecidos políticos na Ditadura, de “comissão da calúnia”.

Segundo o Livro Branco, documento que reúne dados sobre a defesa nacional, o Exército possui 71.791 veículos blindados, a maioria deles comprados há mais de 30 anos. Apenas um é do modelo novo, o Guarani, entregue em 2012 e que ainda está em avaliação. Um contrato inicial de R$ 41 milhões foi fechado para a aquisição dos primeiros 16 novos carros de combate. No último dia 7, um novo contrato foi assinado para a aquisição de outras 86 viaturas Guarani, ao custo de R$ 240 milhões.

"Nenhuma nação pode abrir mão de ter um Exército forte, que se prepara intensivamente para algo que espera que nunca ocorra. A população tem que entender que é preciso ter essa capacidade ociosa, sempre, para estar pronto para dar uma resposta se um dia for necessário", defende o general Fernando Vasconcellos Pereira, diretor do Departamento de Educação e Cultura do Exército.

Riscos e ameaças

Para saber quais equipamentos, tecnologias e armas precisam ser compradas e que outras mudanças são necessárias, o Exército criou o Grupo Lins, que reúne uma equipe para prever cenários de conflitos ou crises - internos ou externos - em que a sociedade e os políticos possam exigir a atuação dos militares até 2030.
O objetivo é antever problemas, sejam econômicos, sociais, de segurança pública ou de calamidade, e saber quais treinamentos devem ser dados aos soldados até lá.
Nesses cenários, a Amazônia e as fronteiras estão entre as maiores preocupações. O texto revisado da Estratégia Nacional de Defesa, entregue pelo governo ao Congresso Nacional em 17 de julho, destaca "a ameaça de forças militares muito superiores na região amazônica”.

Para impedir qualquer ataque, o Exército prepara o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), que, através de um conjunto de sensores, radares e câmeras, permitirá a visualização de tudo o que ocorre nas fronteiras em tempo real. Os equipamentos facilitarão a repressão ao tráfico de drogas e armas, ao contrabando e aos crimes ambientais. A previsão é de que o sistema esteja totalmente operando em 2024.

O alto valor que o governo pretende passar para o Sisfron - R$ 12 bilhões até 2030 – movimentou o mercado nacional e fez com que empresas se unissem buscando soluções para vencer a licitação em andamento. Entre as interessadas estão Odebrecht, Andrade Gutierrez e Embraer, que fizeram parcerias com grandes indústrias do setor.

Para o historiador e criador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Geraldo Cavanhari, o Exército está em transformação e precisa se adequar para os inimigos do futuro. “O inimigo, seja interno ou externo, agora está extremamente bem armado. Por enquanto, não temos ameaças explícitas, mas temos que cuidar da nossa casa e estar preparados para responder, caso seja necessário”.

O general da reserva Carlos Alberto Pinto Silva diz que o problema continua sendo o orçamento. "Um coronel argentino me disse que eles aprenderam na guerra nas Malvinas que, se não existe a capacidade mínima de responder, não dá tempo para adquirir. Não adianta chorar depois”, afirma.

Mudança de percepção

Estudioso da área, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ronaldo Fiani entende que a abertura democrática e a criação do Mercosul provocaram mudanças na forma da população conceber a proteção do país, Consequentemente, foram feitos cortes nos investimentos militares. “O fim da ditadura e a união dos países latinos fez com que houvesse enfoque em integração, com diminuição do investimento na área militar", explica.

Burocracia, crises financeiras e déficit fiscal também são entraves para maior disponibilidade de recursos. “A única forma dos militares receberem mais investimentos é se integrando à pesquisa acadêmica e às empresas, como ocorre nos países desenvolvidos", diz Fiani.


O general Walmir Almada Schneider Filho concorda com o professor. “No primeiro mundo, o povo tem a mentalidade de que defesa e desenvolvimento caminham juntos e complementam-se. Um impulsiona o outro. Nós não queremos chegar neste patamar [de país voltado para a guerra], mas criar uma mentalidade de defesa, para que o povo discuta o assunto", diz.

“Eu acho que a redução dos investimentos tem relação com o período militar e a própria mentalidade da população, que vê como melhor alternativa aplicar os recursos em outro setor fundamental, como saúde, educação, etc", acrescenta Schneider Filho.

"Não há um palmo sobre o território brasileiro que não esteja sob a responsabilidade de uma tropa do Exército. Somos a organização mais presente em todo o território e que tem meios de chegar o quanto antes em qualquer situação. Por isso, assumimos cada vez mais responsabilidades e temos que ter capacidade para atuar em situações de emergência”, diz o general José Fernando Yasbech, também do Estado-Maior do Exército.


Yasbech se refere aos múltiplos empregos do Exército em ações civis dentro do país, como as operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), como a Constituição determina o emprego militar em casos graves de segurança pública. Além disso, o militares são convocados para o apoio em caso de enchentes, abertura de estradas, construção de pontes, distribuição de ajuda humanitária, apoio em eleições, combate à dengue e à aftosa, entre outros.

Proteger

Em 2012, mais uma linha de atuação está sendo aberta: os militares serão responsáveis pela defesa e proteção de infraestruturas estratégicas do país, como hidrelétricas, usinas nucleares, indústrias essenciais e centros financeiros e de telecomunicações a partir da criação do projeto Proteger. O programa terá recursos na casa dos R$ 9,6 bilhões e reunirá órgãos públicos dos estados e informações necessárias para prevenir, conter ou reprimir ataques ou acidentes nesses locais.


São mais de seis mil infraestruturas estratégicas existentes no país, sendo que 364 estão entre as mais críticas, conforme levantamento do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República.

"O trabalho será tanto no sentido de prevenir acidentes nessas estruturas como também de identificar riscos e, eventualmente, contê-los", diz o general José Fernando Yasbech, que responde pelo projeto.

O trabalho começará no Paraná, com a implementação de um centro de ação conjunta com polícia, Bombeiros e Defesa Civil para defender a Usina de Itaipu.

“O reaparelhamento das Forças Armadas vai além de apenas dizer que um país pacifista está tomando uma atitude de se tornar mais bélico. O emprego dos militares tem sido bem diferente nos últimos anos, seja em ações de defesa civil, de segurança pública, de apoio aos órgãos estaduais. E isso demanda alterações estruturais profundas na política, na mentalidade da população e em investimentos”, diz Iberê Pinheiro Filho, mestre em Relações Internacionais e estudioso da Estratégia Nacional de Defesa.

Procurado para comentar a atual situação do Exército, o ex-ministro de Assuntos Estratégicos Roberto Mangabeira Unger, que escreveu o texto da Estratégia Nacional de Defesa, disse que se considerava "moralmente impedido de falar" devido à "relação íntima e especial com as ações e tarefas de que tratará a reportagem".


"Direi apenas o que escrevi na dedicatória de um livro que dei à biblioteca do Exército, por mãos do general que a comanda: o Exército brasileiro é a mais importante instituição do Brasil", afirmou Mangabeira Unger ao G1.

Já o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, que também assinou a END em 2008, disse que não iria comentar a situação, pois não ocupa mais o cargo.