quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

[SGM] As Razões para o Pacto de Não-Agressão Teuto-Soviético

Mahdi Darius Nazemroaya, 22/09/2009

 


O Pacto de Não-Agressão Teuto-Soviético ou Pacto Ribbentrop-Molotov provocou ondas de choque na Europa e na América do Norte quando foi assinado. Os governos alemão e soviético estavam em desacordo entre si. Isto ia além da ideologia; Alemanha e União Soviética estavam jogando um contra o outro nos eventos que conduziram à Segunda Guerra Mundial, assim como a Alemanha, o Império Russo e o Império Otomano jogaram contra si na Europa Oriental. [1]

Esta é a razão porque Grã-Bretanha e França declararam guerra a Berlim em 1939, quando URSS e Alemanha invadiram a Polônia. Se as intenções fossem proteger a Polônia, então por que somente declarar guerra contra a Alemanha, quando na realidade alemães e soviéticos a invadiram simultaneamente?      

Se Moscou e Berlim não tivessem assinado um acordo de não-agressão, não teria havido declaração de guerra contra a Alemanha. De fato, o Apaziguamento foi uma política criada na esperança de permitir a militarização da Alemanha e então dar ao governo nazista os meios, através de poder militar, de criar uma fronteira comum teuto-soviética, que seria um pré-requisito para uma guerra antecipada entre os dois países, a qual neutralizaria as duas potências continentais mais fortes da Europa e da Eurásia. [2]

A política britânica e a lógica para o pacto de não-agressão entre os soviéticos e alemães foi melhor descrita por Carroll Quigley (1910-77). Quigley, um respeitado professor americano de história, com base nos acordos diplomáticos na Europa e informação privilegiada, explicou os objetivos estratégicos da política britânica de 1920 a 1938 como:

Manter o equilíbrio de poder na Europa intensificando o confronto entre Alemanha e França e União Soviética; aumentar o peso da Grã-Bretanha naquele equilíbrio ao alinhá-la com seus domínios (e.g., Austrália e Canadá) e os Estados Unidos; recusar quaisquer compromissos (especialmente quaisquer compromissos com a Liga das Nações, e acima de tudo com a França) além daqueles existentes em 1919; manter a liberdade britânica de ação; conduzir a Alemanha para o leste contra a União Soviética se uma ou ambas destas potências se tornasse uma ameaça à paz (provavelmente significando um fortalecimento econômico) da Europa Ocidental (e muito provavelmente implicando em interesses britânicos.) [3]

Para realizar este plano de conduzir a Alemanha para leste contra a União Soviética, era necessário fazer três coisas: (1) liquidar todos os países entre a Alemanha e a URSS; (2) prevenir a França de honrar suas alianças com esses países (isto é, Tchecoslováquia e Polônia); e (3) enganar o povo britânico em aceitar isto como necessário, de fato, a única solução para o problema internacional. O grupo de Chamberlain foi tão bem sucedido em todas estas três coisas que eles tiraram vantagem disso, e só falharam por causa da teimosia dos poloneses, da pressa indecorosa de Hitler e o fato de que na décima primeira hora o Grupo Milner (N. do T.: grupo de personalidades conservadoras do Império Britânico que se reuniam secretamente; este termo foi cunhado pelo próprio Quigley) percebeu as implicações geo-estratégicas de sua política (o que, para o seu receio, acabou unindo soviéticos e alemães) e tentou revertê-lo. [4]    

Foi por causa deste objetivo de conduzir a Alemanha a uma posição de ataque contra os soviéticos que os líderes britânicos, canadenses e americanos tinham boa impressão de Adolf Hitler e do Nazismo (que parece não estar explicado nos livros de história padrão) até o início da Segunda Guerra Mundial.

Em relação ao apaziguamento sob o Primeiro Ministro Neville Chamberlain e seu início quando da remilitarização do pólo industrial da Renânia, Quigley explica:

Este evento de março de 1936, através do qual Hitler remilitarizou a Renânia, foi o mais crucial em toda história do apaziguamento. Desde que o território a oeste do Reno e uma faixa de 50 km de extensão à margem oriental do rio estavam demilitarizadas. Como exigido pelo Tratado de Versalhes e pelo Pacto de Locarno, Hitler jamais ousaria mover-se em direção da Áustria, Tchecoslováquia e Polônia. Ele não teria ousado porque, com a Alemanha ocidental sem fortificações e desprovida de tropas, a França poderia facilmente invadir a área industrial do Rhur e enfraquecer a Alemanha de modo que seria impossível ir para o leste. E por volta desta época (1936), certos membros do Grupo Milner e do governo conservador britânico tinham chegado à fantástica idéia de que eles podiam matar dois coelhos com uma cajadada só, ao jogar a Alemanha e a União Soviética contra si na Europa oriental. Neste caso, eles previram que os dois inimigos ficariam atolados, ou que a Alemanha ficaria satisfeita com o petróleo da Romênia e o trigo da Ucrânia. Nunca passou pela cabeça de ninguém em uma posição responsável que a Alemanha e a União Soviética poderiam ter uma causa comum, mesmo temporariamente, contra o Ocidente. Menos ainda passou pela cabeça deles que a União Soviética pudesse bater a Alemanha e assim abrir caminho para o Bolchevismo por toda a Europa Central. [5]    

A destruição dos países entre a Alemanha e a União Soviética poderia, assim que a Renânia fosse militarizada, sem medo da Alemanha que a França fosse capaz de atacá-la no ocidente enquanto ela se ocupava do leste. [6]

Em relação à criação eventual de uma fronteira comum teuto-soviética, a aliança militar liderada pela França deveria ser primeiro neutralizada. Os pactos de Locarno foram pensados pelos mandarins da política externa britânica para prevenir que a França fosse capaz de apoiar militarmente a Tchecoslováquia e a Polônia na Europa Oriental, e assim intimidar a Alemanha de tentar qualquer de anexar ambos os estados da Europa Oriental. Quigley escreve:

Os acordos de Locarno garantiram a fronteira da Alemanha com a França e Bélgica com as outras potências destes três Estados mais Grã-Bretanha e Itália. Na verdade, os acordos não deram nada à França, enquanto que elas deram à Grã-Bretanha um veto sobre a realização de suas alianças com a Polônia e a Pequena Entente (N. do T.: aliança entre Tchecoslováquia, Romênia e Iugoslávia para defesa comum de seu território no caso de uma ressurreição da Dinastia dos Habsburgos.) Os franceses aceitaram estes documentos enganosos por razão de política interna (...) Esta armadilha (como Quigley chama os acordos de Locarno) consistiam de muitos fatores inter-relacionados. Em primeiro lugar, os acordos não garantiam a fronteira e a condição desmilitarizada da Renânia contra ações alemãs, mas contra as ações tanto da Alemanha quanto da França. Isto, a princípio, deu à Grã-Bretanha o direito de se opor a qualquer ação francesa contra a Alemanha em apoio aos seus aliados a leste da Alemanha. Isto significava que se a Alemanha se movesse para leste contra Tchecoslováquia, Polônia e eventualmente a União Soviética, e se a França atacasse a fronteira ocidental da Alemanha em apoio da Tchecoslováquia ou Polônia, como seus aliados queriam, a Grã-Bretanha, Bélgica e Itália poderiam unir-se pelos Pactos de Locarno para sair em defesa da Alemanha. [7]

O Acordo Naval Anglo-Germânico de 1935 também foi deliberadamente assinado pela Grã-Bretanha para prevenir que os soviéticos se unissem à aliança militar entre França, Tchecoslováquia e Polônia. Quigley escreve:

... Quatro dias depois, Hitler anunciou o rearmamento e dez dias depois, a Grã-Bretanha condenou o ato enviando Sir John Simon para uma visita oficial a Berlim. Quando a França tentou se contrabalançar ao rearmamento alemão trazendo a União Soviética para seu sistema de aliança oriental em maio de 1935, a Grã-Bretanha contratacou fazendo o Acordo Naval Anglo-Germânico em 18 de junho de 1935. Este acordo, concluído por Simon, permitiu à Alemanha construir até 35% do tamanho da Marinha Britânica (e até 100% em submarinos). Esta foi uma facada nas costas da França, porque ele deu à Alemanha uma marinha consideravelmente maior do que a francesa nas importantes categorias de navios (navios principais e porta-aviões), pois a França estava limitada por acordo a 33% da Grã-Bretanha; e a França, além disso, tinha um império mundial para proteger e uma Marinha Italiana pouco amigável na costa do Mediterrâneo. Este acordo colocou a costa atlântica francesa tão completamente à mercê da Marinha alemã que a França tornou-se completamente dependente da frota britânica para a proteção desta área. [8]

O Plano Hoare-Laval (N. do T.: plano anglo-francês de 1935 para acabar com a Segunda Guerra Ítalo-Abssínia) também foi usado para direcionar a Alemanha para o leste ao invés do sul através do Mediterrâneo oriental, que a Grã-Bretanha como uma peça crítica para manter seu império unido e conectá-lo através do Canal de Suez à Índia. Quigley explica:

Os países marcados para extinção incluíam Áustria, Tchecoslováquia e Polônia, mas não incluíam Grécia e Turquia, já que o Grupo (Milner) não tinha nenhuma intenção de permitir a Alemanha descer até a “linha da vida” mediterrânea. De fato, o propósito do Plano Hoare-Laval de 1935, que destruiu o sistema de segurança coletiva ao dar a maior parte da Etiópia à Itália, deveria apaziguar a Itália em posição ao lado da Grã-Bretanha, no sentido de impedir qualquer movimento da Alemanha em direção ao sul ao invés do leste. [9]

Tanto a União Soviética, sob Joseph Stalin, e a Alemanha, sob Adolf Hitler, acabaram percebendo o planejamento de uma guerra teuto-soviética e por causa disso Moscou e Berlim assinaram um pacto de não-agressão antes da Segunda Guerra Mundial. O acordo foi em boa parte uma resposta à postura anglo-americana. No final, foi por causa da desconfiança mútua entre alemães e soviéticos que a aliança colapsou e a antecipada guerra teuto-soviética veio a ser o teatro de guerra mais mortal da Segunda Guerra Mundial, a frente oriental.

 
Mahdi Darius Nazemroaya  é pesquisador associado ao Centre for Research on Globalization (CRG), especializado em geopolítica e estratégia.

Texto Completo

Referências

[1] Mahdi Darius Nazemroaya, The “Great Game”: Eurasia and the History of War, Centre for Research on Globalization (CRG), December 3, 2007.
http://www.globalresearch.ca/index.p...xt=va&aid=7064


[2] China at this time was already being limited by Japan and before that by combined Japanese, Russian, and Western European policies. This would leave Germany and the U.S.S.R. as the two main threats to Anglo-American interests.

[3] Carroll Quigley, The Anglo-American Establishment: From Rhodes to Cliveden (San Pedro, California: GSG & Associates Publishers, 1981), p.240.

[4] Ibid., p.266.

[5] Ibid., p.265.

[6] Ibid., p.272.

[7] Ibid., p.264.

[8] Ibid., pp.269-270.

[9] Ibid., p.273.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

[SGM] Fumaça Humana: O Começo da Segunda Guerra Mundial, o Fim da Civilização

Fumaça Humana (Companhia das Letras, 2010) de Nicholson Baker é um livro meticulosamente pesquisado e bem construído, demonstrando que a Segunda Guerra Mundial foi uma das maiores e mais cuidadosamente planejadas mentiras da história moderna. Ele questiona a crença geralmente aceita de que os Aliados queriam evitar a guerra a todo custo, mas foram forçados a agir pela cruzada imperdoável de Hitler. O livro consiste grandemente em transcrições oficiais governamentais e outros documentos da época. Baker cita documentos sugerindo que os líderes dos Estados Unidos e do Reino Unido provocaram a Alemanha à guerra (mostrando, por exemplo, que a Grã-Bretanha bombardeou a Alemanha antes dos alemães bombardearem a Inglaterra) e que os líderes daquelas duas nações tinham motivos secretos para querer participar.





Os fatos são indiscutíveis. Baker mostra, passo a passo, como uma aliança dominada por líderes que eram intolerantes, mais opostos ao comunismo do que ao fascismo, obcecados por venda de armas e desejando por uma luta conduziu o mundo à guerra.

O anti-semitismo era predominante entre os Aliados. De Franklin Roosevelt, Baker nota que em 1922, quando ele era advogado em Nova York, “observou que os judeus representavam um terço dos calouros em Harvard” e usou sua influência para estabelecer uma cota para os judeus naquela instituição. Por anos ele impediu ajuda à judiaria européia e, tão tarde quanto 1939, ele desencorajou a aprovação da lei Wagner-Rogers, uma tentativa do Congresso para salvar as crianças judias. O Primeiro-Ministro Neville Chamberlain disse em 1939 do tratamento alemão dos judeus que “sem dúvida os judeus não são um povo amável. Eu mesmo não me importo com eles.” Uma vez começada a guerra, Winston Churchill queria prender os refugiados judeus alemães porque eles eram alemães. Que facilidade tal liderança deve ter sido para os nazistas, que, de acordo com o New York Times de 3 de dezembro de 1931, estavam tentando bolar uma maneira de se livrar dos judeus da Alemanha sem “despertar a opinião estrangeira.”

Como o livro de Baker deixa claro, entre as duas guerras mundiais, o comunismo, e não o fascismo, era o inimigo. David Lloyd George, que foi Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha durante a Primeira Guerra Mundial, alertou em 1933, ano em que Hitler chegou ao poder, que se os Aliados tentassem derrubar o Nazismo, “o que viria em seu lugar? Comunismo extremista. Certamente esse não pode ser nosso objetivo.” Mas mesmo maior que os comunistas, o inimigo número um de Churchill nos anos 1920 e início dos anos 1930 era Mohandas Gandhi e sua doutrina de não-violência, a qual Churchill alertou “mais cedo ou mais tarde, terá que ser combatida e finalmente esmagada.”

Churchill é uma figura dominante em “Fumaça Humana”, descrito como um belicista sanguinário que, em 1922, ainda lamentava o fato de a Primeira Guerra Mundial não ter durado um pouco mais de modo que a Grã-Bretanha pudesse ter tido a oportunidade de sua força aérea bombardear Berlim e “o coração da Alemanha”. Mas não, ele lamentou, ela tinha que parar, “devido ao nosso baixo estoque de alemães e inimigos.”

As políticas perseguidas por Churchill não poderiam estar mais longe desta demanda clara por jus in bello (limitação da ação agressiva). Como Primeiro Lorde do Almirantado na Primeira Guerra Mundial, ele supervisionou o bloqueio de suprimentos britânico da Alemanha. Ao determinar a fome entre a população alemã, Churchill esperava minar a máquina de guerra alemã a partir do interior.

“O bloqueio britânico,” mais tarde escreveu Churchill, “tratou a Alemanha por inteiro como uma fortaleza cercada, e admitidamente decidiu levar á fome a população inteira – homens, mulheres, crianças, jovens e velhos, feridos e sãos – até a submissão.

O armistício de 11 de novembro de 1918, não terminou com o bloqueio. Churchill continuou com ele até os alemães assinarem o Tratado de Versalhes em 1919. Ele disse em 3 de março de 1919,

“Estamos reforçando o bloqueio com rigor... É repugnante à nação britânica usar esta arma de fome, que cai principalmente sobre mulheres e crianças, sobre os velhos e fracos e pobres, após toda luta ter cessado, (mas) um momento a mais é necessário para garantir os termos justos pelos quais estávamos lutando.”

Tal desumanidade não é nem mesmo uma desculpa para a necessidade militar. Tivessem os alemães recusado a assinar, eles estariam indefesos contra uma tentativa inglesa e francesa de obrigá-los a fazer isso.

Baker não menciona isto, mas a geração jovem que cresceu sob estas condições medonhas tinha uma grande afinidade pelo Nazismo. O historiador da UCLA (N. do T.: Universidade da Califórnia) Peter Loewenberg, em seu artigo importante, “As Origens Psicohistóricas da Juventude Nazista” (American Historical Review, dezembro de 1971, pp. 1457-1502) documentou isto extensivamente. A política de Churchill ajudou, assim, a criar o regime nazista que ele mais tarde estaria determinado a destruir.

Churchill poderia ter dito das leis da guerra o que Jonathan Swift (N. do T.: autor de “As Viagens de Gulliver”) falou das promessas, qual seja, assim como a casca de um pão, elas foram “feitos para serem quebradas”. Baker mostra que no jornal The Aftermath, publicado em 1929, Churchill disse que tivessem os alemães não capitulado em 1918, uma campanha maciça contra o povo germânico teria trazido a guerra para um fim.

Mas o que tinha acontecido não foi nada comparado ao que teria acontecido se os alemães continuassem lutando em 1919, disse Churchill. Gases venenosos de “terrível malignidade” teriam encerrado toda resistência. “Milhares de aviões teriam reduzido a pó suas cidades.”

Dado este registro lamentável, não é de surpreender que o reinício de uma guerra mundial em setembro de 1939, a qual resultou na volta de Churchill ao Gabinete britânico como Primeiro Lorde do Almirantado, tenha trazido um novo bloqueio de fome à Alemanha. Herbert Hoover (N. do T.: antecessor de Roosevelt na presidência) protestou veementemente: era realmente uma tática de guerra aceitável levar à fome mulheres e crianças inocentes? Churchill não se emocionou e manteve o bloqueio.

Churchill não era movido pelo anti-fascismo. Em seu livro “Grandes Contemporâneos”, de 1937, ele descreveu Hitler como “um funcionário altamente competente, calmo e bem-informado com maneiras educadas.” O mesmo livro atacou ferozmente Leon Trotsky. (O que havia de errado com Trotsky? “Ele era ainda um judeu. Nada podia superar isso.”) Churchill repetidamente elogiou Mussolini por seu “jeito gentil e simples.” Em 1927, ele disse a uma platéia romana, “Se eu fosse um italiano, com certeza que eu estaria com vocês do começo ao fim na sua luta vitoriosa contra os interesses e paixões bestiais do Leninismo.” Churchill considerava o fascismo “um antídoto necessário para o vírus russo,” escreve Baker. Em 1938, ele lembrou à imprensa que se a Inglaterra fosse derrotada numa guerra, ele esperava que “pudéssemos encontrar um Hitler para nos liderar de volta para a nossa posição correta entre as nações.”

Em uma situação, Churchill foi capaz de aumentar sua reputação estratosférica de crueldade. Na guerra anterior, os bombardeiros não haviam sido usados em campanhas de terror contra civis. Teóricos militares após a guerra, como o italiano Giulio Douhet (não mencionado em “Fumaça Humana”) anteviu que a próxima guerra seria caracterizada decisivamente pelo bombardeio em massa. Churchill era um ardente defensor deste ponto de vista, e quando ele tornou-se Primeiro-Ministro, imediatamente instituiu a política de bombardeio civil. Baker talentosamente cita o funcionário do Ministério Aeronáutico britânico James Spaight lembrando que foi a Inglaterra, e não a Alemanha, que começou esta política repulsivamente imoral, condenada publicamente durante a guerra pelo corajoso bispo George Bell.

Foi na segunda noite do mandato de Churchill como Primeiro-Ministro… “Começamos a bombardear objetivos na pátria alemã antes de os alemães começarem a bombardear objetivos na pátria britânica.” (escreveu Spaight)

(As críticas ao bombardeio provavelmente custaram a Bell sua chance de suceder William Temple como Arcebispo de Canterbury.)

A última informação de Baker no livro é de 31 de dezembro de 1941, quando a campanha de bombardeio ainda não havia atingido o nível de selvageria do de Hamburgo e Dresden, mas a essência da política já estava em andamento.

Churchill não foi o único defensor do bombardeamento em massa: a política infelizmente tinha grande apelo popular. Baker cita nesta conexão algumas observações do esquerdista britânico Gerald Brenan: “Toda mulher e criança alemã morta é uma contribuição para a segurança e felicidade futuras da Europa,” escreveu Brenan.

Franklin Roosevelt rivalizou com sua contraparte britânica em seu desrespeito às regras da guerra civilizada. Antes mesmo do ataque japonês a Pearl Harbor naquela “data que viverá na infâmia,” 7 de dezembro de 1941, Roosevelt esperava que os chineses bombardeassem as maiores cidades do Japão. Por causa da presença da proximidade de construções de madeira, cidades inteiras poderiam ser rapidamente colocadas em chamas. É claro, os ataques de bombardeio americanos em Tóquio mostraram que Roosevelt estava perfeitamente certo em suas expectativas dos resultados horripilantes de tais bombardeios.

Baker afirma corretamente que Roosevelt estava ansioso pela confrontação com os japoneses. A colocação da Frota do Pacífico em Pearl Harbor por Roosevelt foi pensada como uma provocação a eles, e o comandante-em-chefe da Frota do Pacífico, Almirante James O. Richardson, protestou contra isto em várias ocasiões. Roosevelt eventualmente respondeu demitindo Richardson do seu posto.

As ofensas morais de Churchill e Roosevelt não estavam confinadas a violações das leis de guerra. Da época da ascensão de Hitler ao poder, 30 de janeiro de 1933, estava claro que os nazistas viam os judeus como seus arquiinimigos. Hitler desejava expulsá-los da Alemanha, e aqueles que desejassem emigrar eram encorajados ativamente a fazê-lo. Aqueles que ficaram viram sua situação tornar-se gradativamente precária.

Roosevelt não fez praticamente nada para ajudar. Ele se recusou a fazer pressão para relaxar as rígidas cotas de imigração americanas no sentido de permitir aos judeus a encontrar refúgio do reich. Pode ser dito em sua defesa, contudo, que as origens nacionais do sistema de cotas eram muito populares na época, e tivesse Roosevelt tentado mudá-las, ele teria arriscado cometer suicídio político. Mas ele não tentou alternativas óbvias como permitir residência temporária, sem possibilidade de futura cidadania americana. Nem ele mostrou muito interesse nos esforços para assentar os judeus em outro lugar. Churchill, com sua simpatia frequentemente expressada pelos judeus e o Sionismo, foi um pouco melhor.

As coisas ficaram piores após o pogrom da Kristallnacht em novembro de 1938. Hitler deixou claro em seu discurso de janeiro de 1939 ao Reichstag que se a guerra européia estourasse, ele contemplaria ações drásticas contra os judeus.

Dadas estas circunstâncias desagradáveis, não era um imperativo moral evitar o início da guerra e, se possível, assegurar a evacuação dos judeus das partes da Europa que poderiam possivelmente cair sob o controle alemão? Além disso, uma vez iniciada a guerra, não era imperativo terminá-la o mais rápido possível?

Churchill rejeitou todos os esforços para conseguir um assentamento. Ele continuou o bloqueio de fome, uma ação que somente exacerbaria as políticas nazistas mais extremistas. Mais uma vez, Herbet Hoover protestou, mostrando que o bloqueio colocava as crianças de Varsóvia em perigo de fome.

Em Varsóvia, Hoover disse, a taxa de morte entre as crianças era dez vezes maiores que as taxas de nascimento, e os corpos jaziam nas ruas... “É a causa Aliada mais avançada hoje como uma conseqüência da inanição das crianças?”, perguntou Hoover.

Churchill, é claro, tornou-se surdo: nenhuma consideração humanitária poderia desviá-lo da luta de vida e morte que ele estava determinado a seguir contra seu colega nazista.

Os defensores de Churchill, como John Lukacs, argumentam que ele não tinha escolha. Hitler intencionava o domínio da Europa; e não tivesse a guerra sido declarada em 1939, ou tivessem as ofertas de paz de Hitler em 1940 sido aceitas, a Grã-Bretanha logo teria que lutar de uma posição mais fraca ou aceitar a total supremacia alemã. Baker não aborda os objetivos de Hitler, apesar dele deixar claro suas simpatias a pacifistas como Rufus Jones e Jeanette Rankin. Como mencionado antes, Fumaça Humana é uma crônica de eventos significativos mais do que um argumento histórico, e os leitores em busca de uma análise da política alemã devem buscar outras fontes. Mesmo assim, gostaríamos de pensar que tendo em vista os massacres e destruição horrorosos da guerra, algumas escolhas melhores que as aquelas que Churchill e Roosevelt fizeram eram possíveis.

Fontes

http://mises.org/misesreview_detail.aspx?control=332

http://www.tkinter.smig.net/Stuff/SomeBooks/HumanSmoke.htm

http://articles.latimes.com/2008/mar/09/books/bk-kurlansky9

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sábado, 15 de dezembro de 2012

Rússia celebra 200º aniversário de batalha contra Napoleão

Terra, 02 de setembro de 2012


Russos reencenaram a histórica batalha de Borodino, de 1812, o maior e mais sangrento enfrentamento entre os Exércitos da França napoleônica e da Rússia czarista, que completou 200 anos neste domingo. A batalha, na qual 250 mil homens lutaram e 70 mil foram mortos, é considerada um marco decisivo da resistência russa ante a invasão do país por Napoleão.

O presidente russo, Vladimir Putin, discursou antes do evento deste domingo, em Borodino.

Participantes simularam carregar feridos durante a batalha e disparar canhões durante a simulação. O evento foi encenado por clubes de história russos.

Napoleão invadiu a Rússia em 16 de junho de 1812. A batalha de Borodino foi o enfrentamento de um dia de duração mais sangrento das guerras napoleônicas na Rússia. O Exército napoleônico venceu a batalha, mas sofreu perdas que o levariam a não conseguir derrotar a totalidade das forças russas.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

[POL] Eugenia e os Nazistas – A Conexão Californiana

Edwin Black, 09/11/2003


Hitler e seus seguidores vitimaram um continente inteiro e exterminaram milhões em sua busca pela chamada Raça Superior.

Mas o conceito de uma raça nórdica branca, loira e de olhos azuis não surgiu com Hitler. A idéia foi criada nos Estados Unidos, e cultivada na Califórnia, décadas antes de Hitler chegar ao poder. Os eugenistas californianos tiveram um papel importante, apesar de desconhecido, na campanha para limpeza étnica do movimento eugênico americano.

A eugenia foi uma pseudociência que objetivava “melhorar” a raça humana. No seu extremo, a forma racista, isto significava se livrar de todos os seres humanos classificados como “ineptos”, preservando somente aqueles que se enquadravam ao estereótipo nórdico. Elementos da filosofia foram santificados como política nacional através da esterilização forçada e de leis de segregação, assim como restrições conjugais, estabelecidas em 27 estados. Em 1909, a Califórnia tornou-se o terceiro estado a adotar tais leis. Finalmente, os praticantes da eugenia esterilizaram cerca de 60.000 americanos, barraram o casamento de milhares, forçosamente segregaram milhares em “colônias” e perseguiram números incontáveis em modos que estamos apenas tomando conhecimento. Antes da Segunda Guerra Mundial, quase metade de esterilizações coercivas foram feitas na Califórnia, e mesmo após a guerra, o Estado foi responsável por um terço de tais cirurgias.

A Califórnia era considerada um epicentro do movimento eugênico americano. Durante as primeiras décadas do século XX, os eugenistas da Califórnia incluíam cientistas raciais influentes, mas pouco conhecidos, como o especialista em doenças venéreas do Exército Dr. Paul Popenoe, o magnata das frutas cítricas Paul Gosney, o banqueiro de Sacramento Charles Goethe, assim como membros da Comissão de Caridade e Correção do Estado da Califórnia e a Comissão de Reitores da Universidade da Califórnia.


Paul Popenoe


A eugenia teria sido apenas conversa bizarra de salão se ela não tivesse recebido financiamento extensivo de filantropos corporativos, especialmente o Instituto Carnagie, a Fundação Rockfeller e a fortuna da ferrovia Harriman. Eles estavam todos em conluio com alguns dos cientistas mais respeitados da América de tais prestigiadas universidades como Stanford, Yale, Harvard e Princeton. Estes acadêmicos abraçaram a teoria e ciência raciais e então falsificaram e distorceram dados para servir aos objetivos racistas da eugenia.

O presidente de Standford David Starr Jordan originou a noção de “raça e sangue” em sua epístola racial de 1902 “Sangue de uma Nação”, na qual o estudioso declarou que as qualidades humanas e condições tais como talento e pobreza passavam pelo sangue.

Em 1904, o Instituto Carnagie criou um complexo laboratorial em Cold Spring Harbor em Long Island que acumulou milhões de fichas sobre americanos comuns, com os pesquisadores cuidadosamente traçando a remoção de famílias, linhagens e povos inteiros. De Cold Spring Harbor, os defensores da eugenia agitaram nas assembleias legislativas da América, assim como nas agências e associações de serviço social da nação.

A fortuna da ferrovia Harriman pagou caridade local, como o Escritório de Indústrias e Imigração de Nova York para encontrar imigrantes judeus, italianos e outros e em outras cidades populosas e sujeitá-los à deportação, prisão ou esterilização.

A Fundação Rockfeller financiou o programa de eugenia alemão e mesmo financiou o programa que Josef Mengele trabalhou antes de ir para Auschwitz.

Muito da orientação espiritual e agitação política para movimento eugênico americano veio das quase-autônomas sociedades eugênicas da Califórnia, tais como a Fundação para Melhoramento Humano de Pasadena e a filial da Califórnia da Sociedade Eugênica Americana, que coordenou muito de sua atividade com a Sociedade de Pesquisa Eugênica em Long Island. Estas organizações – que funcionavam como parte de uma rede – publicaram periódicos eugênicos racistas e jornais pseudocientíficos, tais como o Notícias Eugênicas e Eugenia, e propagandeou a ideologia nazista.

A eugenia nasceu como uma curiosidade científica na era vitoriana. Em 1863, Sir Francis Galton, primo de Charles Darwin, teorizou que se pessoas talentosas casassem somente com outras pessoas talentosas, o resultado seria um descendente comparativamente melhor. Na virada do último século, as ideias de Galton foram importadas para os Estados Unidos, assim como os princípios da hereditariedade de Gregor Mendel foram redescobertos.

Os defensores da eugenia americana acreditavam com fervor religioso que os mesmos conceitos mendelianos determinando a cor e tamanho de ervilhas, milho e gado também governavam o caráter social e intelectual de um homem.

Em um Estados Unidos demograficamente agitado pela onda de imigração e dividido pelo caos pós-reconstrução (N. Do T.: depois da Guerra Civil), o conflito racial estava presente em todo lugar no início do século XX. Elitistas, utopistas e os chamados progressistas fundiram seus medos raciais latentes e seus preconceitos de classe no sentido de criar um mundo melhor. Eles reinventaram a eugenia de Galton como uma ideologia racista e repressiva. A intenção: povoar a Terra com mais de seus pares sócio-econômicos e biológicos – e menos ou nada do resto.

A espécie superior que o movimento eugênico vendia não era somente formada por pessoas altas, fortes e talentosas. Os eugenistas estabeleceram tipos nórdicos loiros e de olhos azuis. Este grupo sozinho, eles acreditavam, estava preparado para herdar a Terra. No processo, o movimento pretendia diminuir negros emancipados, trabalhadores imigrantes asiáticos, indianos, hispânicos, europeus orientais, judeus, pessoas de cabelos escuros, pobres, enfermos e qualquer um que fosse classificado fora das linhas genéticas estabelecidas pelos estudiosos da raça (N. do T.: raceologists).

Como? Identificando árvores genealógicas defeituosas e sujeitando-os à segregação eterna e programas de esterilização para eliminar suas descendências. O grande plano era literalmente acabar com a capacidade reprodutiva daqueles classificados como fracos e inferiores – os chamados ineptos. Os eugenistas esperavam neutralizar a viabilidade de 10% da população numa só tacada, até que nenhum fosse deixado vivo exceto eles próprios.

Dezoito soluções foram estudadas em um “Relatório Preliminar do Comitê da Seção Eugênica da Associação do Reprodutor Americano para Estudo e para Identificar os Melhores Meios Práticos para Eliminar o Germoplasma (N. do T.: elemento dos recursos genéticos que maneja a variabilidade genética entre e dentro da espécie, com fins de utilização para a pesquisa em geral, especialmente para o melhoramento genético) Defeituoso na População Humana”, apoiado pelo Instituto Carnagie em 1911. A solução número oito era a eutanásia.

O método sugerido mais comum de eugenocídio nos Estados Unidos era uma “câmara letal” ou câmaras de gás coletivas operadas localmente. Em 1918, Popenoe, o especialista em doenças venéreas do Exército durante a Primeira Guerra Mundial, coescreveu o livro universitário amplamente usado, “Eugenia Aplicada”, que argumentava, “De um ponto de vista histórico, o primeiro método que se apresenta é a execução... Seu valor em manter o padrão da raça não deve ser subestimado.” “Eugenia Aplicada” também dedicava um capítulo para a “Seleção Letal”, que operava “através da destruição do indivíduo por algum efeito negativo do ambiente, tal como frio excessivo, ou bactéria, ou por deficiência corporal.”

Reprodutores eugênicos acreditavam que a sociedade americana não estava pronta para implantar uma solução letal organizada. Mas muitos hospícios e médicos praticavam morte médica improvisada e eutanásia passiva por sua própria conta. Uma instituição em Lincoln, Illinois, alimentava seus pacientes novatos com leite de vacas tuberculosas acreditando que indivíduos eugenicamente fortes seriam imunes. De trinta a quarenta por cento de óbitos eram registrados em Lincoln. Alguns médicos praticaram eugenocídio passivo em um bebê recém-nascido uma vez. Outros médicos em hospícios praticaram a omissão letal.

Entretanto, com o eugenocídio marginalizado, a principal solução para os eugenicistas era a rápida expansão da segregação forçada e esterilização, assim como mais restrições a casamentos. A Califórnia liderava a nação, executando quase todos os procedimentos de esterilização com pouco ou nenhum processo correto. Em seus primeiros 25 anos de legislação eugênica, a Califórnia esterilizou 9.782 indivíduos, a maioria mulheres. Muitas foram classificadas como “garotas más”, diagnosticadas como “apaixonadas”, “taradas” ou “sexualmente imprevisíveis”. Na Casa Pública Sonoma, algumas mulheres foram esterilizadas porque seus clitóris ou lábios vaginais foram considerados grandes.

Só em 1933, pelo menos 1.278 esterilizações forçadas foram realizadas, 700 em mulheres. As duas maiores fábricas de esterilização do Estado em 1933 foram a Casa Pública Sonoma com 388 operações e o Hospital do Estado Patton com 363 operações. Outros centros de esterilização incluíam Agnews, Mendoncio, Napa, Norwalk, Stockton e os hospitais públicos da Colônia do Pacífico.


Agnews

Mesmo a Suprema Corte dos EUA endossou aspectos da eugenia. Em sua decisão infame de 1927, o juiz Oliver Wendell Holmes escreveu, “É melhor para todo mundo se, ao invés de esperar para executar descendente degenerado por crime, ou deixá-lo morrer de fome por conta de sua imbecilidade, a sociedade puder prevenir aqueles que são manifestamente ineptos de continuarem sua espécie...Três gerações de imbecis é o suficiente.” Esta decisão permitiu que milhares de pessoas sofressem esterilização forçada ou perseguidas como subumanas. Anos depois, os nazistas no Julgamento de Nuremberg citaram as palavras de Holmes em sua própria defesa.

Somente após a eugenia tornar-se entrincheirada nos EUA é que a campanha foi transferida para a Alemanha, em grande medida, através dos esforços de eugenistas da Califórnia, que publicaram panfletos idealizando a esterilização e circulando-os para funcionários e cientistas alemães.

Hitler estudou as leis eugênicas americanas. Ele tentou legitimar seu anti-semitismo ao medicá-lo, e envolvê-lo na fachada pseudocientífica mais palatável de eugenia. Hitler foi capaz de recrutar mais seguidores entre alemães cultos ao afirmar que a ciência estava ao seu lado. O ódio racial de Hitler nasceu de sua própria cabeça, mas a base intelectual da eugenia que Hitler adotou em 1924 nasceu na América.

Durante os anos 1920, os cientistas eugênicos do Instituto Carnagie cultivaram relações profundas pessoais e profissionais com os eugenistas fascistas da Alemanha. No “Mein Kampf”, publicado em 1924, Hitler citou a ideologia eugênica americana e mostrou abertamente um conhecimento detalhado da eugenia americana. “Há hoje um Estado,” escreveu Hitler, “o qual pelo menos caminha em direção de uma melhor concepção (de imigração). É claro, não é nossa exemplar República alemã, mas os Estados Unidos.”

Hitler orgulhosamente disse aos seus camaradas como ele estava acompanhando de perto o progresso do movimento eugênico americano. “Tenho estudado com grande interesse,” ele disse a um amigo nazista, “as leis de muitos estados americanos sobre a prevenção de reprodução por pessoas cuja prole poderia, com toda probabilidade, não ter nenhum valor ou ser prejudicial à herança racial.”

Hitler chegou mesmo a escrever uma carta de elogio ao líder eugenista americano Madison Grant, chamando seu livro racial baseado na eugenia, “A Passagem da Grande Raça”, sua “bíblia”.

Agora, o termo americano “nórdico” foi alterado livremente para “germânico” ou “ariano”. Ciência racial, pureza racial e domínio racial tornaram-se as forças motivadoras por trás do Nazismo de Hitler. A eugenia nazista ditaria finalmente quem seria perseguido em uma Europa dominada pelo Reich, como as pessoas viveriam e como elas morreriam. Os médicos nazistas tornar-se-iam os generais invisíveis na guerra de Hitler contra os judeus e outros europeus classificados como inferiores. Os médicos criariam a ciência, descobririam as fórmulas eugênicas e selecionariam à mão as vítimas para esterilização, eutanásia e extermínio em massa.

Durante os primeiros anos do Reich, eugenistas por toda a América saudaram os planos de Hitler como a concretização lógica de décadas de seu esforço e pesquisa. Os eugenistas da Califórnia republicaram propaganda nazista para consumo americano.


Cartaz do Programa de Eutanásia da Alemanha Nazista: "Esta pessoa sofrendo de defeitos hereditários custa à comunidade 60.000 Reichsmark durante sua vida. Companheiro alemão, este é seu dinheiro também."


Eles também organizaram exibições científicas nazistas, tal como uma exposição em agosto de 1934 no Museu do Condado de Los Angeles, para o encontro anual da Associação de Saúde Pública Americana.

Em 1934, quando as esterilizações foram aceleradas para mais de 5.000 por mês, o líder eugenista da Califórnia C. M. Goethe, após voltar da Alemanha, entusiasticamente alardeou para um colega, “Você estará interessado em saber que seu trabalho está tendo uma parte importante na formação de opiniões do grupo de intelectuais que estão ao lado de Hitler neste programa de tomada de decisões. Em todos os lugares, senti que suas opiniões foram tremendamente estimuladas pelo pensamento americano... Quero você, meu amigo, leve esta mensagem contigo para o resto de sua vida, que você realmente impulsionou para ação um grande governo de 60 milhões de pessoas.”

Naquele mesmo ano, 10 anos após a Virgínia passar seu ato de esterilização, Joseph DeJarnette, superintendente do Hospital Público da Virgínia Ocidental, observou no jornal Richmond Times-Dispatch, “Os alemães estão nos batendo em nosso próprio jogo.”

Mais do que fornecer o embasamento científico, a América financiou os institutos eugênicos da Alemanha.

Em 1926, Rockfeller doou cerca de U$ 410.000 – quase U$ 4 milhões a preços de hoje – a centenas de pesquisadores alemães. Em maio de 1926, Rockfeller doou U$ 250.000 para a criação do Instituto Kaiser Wilhelm de Psiquiatria. Entre os psiquiatras no Instituto de Psiquiatria Alemã estava Ernst Rüdin, que tornou-se diretor e eventualmente um arquiteto da repressão médica sistemática de Hitler.

Dentro do complexo de institutos de eugenia no Instituto Kaiser Wilhelm estava o Instituto para Pesquisa do Cérebro. Desde 1915, ele operava em uma sala simples. Tudo mudou quando o dinheiro de Rockfeller chegou em 1929. Uma receita de U$ 317.000 permitiu ao instituto construir um prédio principal e assumir o comando na biologia racial alemã. O instituto recebeu dinheiro adicional da Fundação Rockfeller durante os anos seguintes. Liderando o instituto, novamente, estava o seguidor médico de Hitler, Ernst Rüdin. A organização de Rüdin tornou-se o elemento principal e o lar de pesquisa e experiências assassinas conduzidas em judeus, ciganos e outros.

Começando em 1940, milhares de alemães tirados de asilos, hospícios e outras instalações foram sistematicamente gaseados. Entre 50.000 e 100.000 foram eventualmente mortos.

Leon Whitney, secretário executivo da Sociedade Eugênica Americana, declarou do Nazismo, “Enquanto estávamos engatinhando... os alemães estavam chamando os bois pelos nomes.”

Um receptor especial do financiamento de Rockfeller era o Instituto Kaiser Wilhelm para Antropologia, Hereditariedade e Eugenia Humanas em Berlim. Por décadas, os eugenistas americanos desejavam gêmeos para avançar em sua pesquisa sobre hereditariedade.

O instituto estava agora preparado para assumir tal pesquisa a um nível sem precedentes. Em 13 de maio de 1932, a Fundação Rockfeller em Nova York despachou um telegrama para seu escritório em Paris:

Encontro de Junho do Comitê Executivo

Nove mil dólares por um período de três anos para o Instituto de Antropologia do KWG para Pesquisa com gêmeos e os efeitos em gerações futuras de substâncias tóxicas para Germoplasma.

Na época do financiamento de Rockfeller, Otmar Freiherr Von Verschuer, um herói nos círculos eugenistas americanos,trabalhou como chefe do Instituto para Antropologia, Hereditariedade Humana e Eugenia. O financiamento de Rockfeller deste instituto continuou por via direta e através de outros meios durante o mandato de Verschuer. Em 1935, Verschuer deixou o instituto para formar uma instituição eugenista rival em Frankfurt que foi muito celebrada na imprensa eugenista americana. Pesquisa com gêmeos no Terceiro Reich explodiu, mantida por decretos governamentais. Verschuer escreveu no Der Erbazt, um periódico médico eugenista que ele publicava, que a guerra da Alemanha resultaria em uma “solução total para o problema judaico.”

Verschuer teve um assistente de longa data. Seu nome era Josef Mengele.

Em 30 de maio de 1943, Mengele chegou a Auschwitz. Verscher notificou a Sociedade de pesquisa Alemã, “Meu assistente, o Dr. Josef Mengele (M.D., Ph D.) juntou-se a mim neste ramo de pesquisa. Ele está presentemente empregado como Hauptsturmführer (capitão) e médico no campo de concentração em Auschwitz. O teste antropológico da maioria dos diversos grupos raciais neste campo de concentração está sendo conduzido com a permissão do SS Reichsführer (Himmler).”

Mengele começou a procurar gêmeos na chegada dos vagões. Quando ele os encontrava, ele conduzia experiências bestiais, escrupulosamente anotando os relatórios e enviava os trabalhos de volta para o instituto de Verschuer para avaliação. Geralmente cadáveres, olhos e outras partes de corpo também eram despachadas para os institutos eugênicos de Berlim.

Os executivos da Rockfeller jamais souberam de Mengele. Com poucas exceções, a fundação encerrou todos os estudos eugenistas na Europa ocupada antes da guerra eclodir em 1939. Mas por esta época, os dados haviam sido lançados. Os homens talentosos que Rockfeller e Carnagie financiaram, as grandes instituições que eles ajudaram a fundar, e o silêncio que eles ajudaram a criar seguiram caminho próprio.

Após a guerra, a eugenia foi declarada um crime contra a humanidade – um ato de genocídio. Os alemães foram julgados e eles citaram os estatutos da Califórnia em sua defesa – sem sucesso.

Entretanto, o chefe de Mengele Verschuer escapou de ser processado. Verschuer reestabeleceu suas conexões com os eugenistas da Califórnia, que saíram de cena e renomearam sua cruzada de “genética humana”. Típica foi uma troca em 25 de julho de 1946, quando Popenoe escreveu para Verschuer, “Foi de fato um prazer saber sobre você novamente. Estava muito ansioso sobre meus colegas na Alemanha... Suponho que a esterilização foi descontinuada na Alemanha?” Popenoe comentou boatos sobre várias personalidades americanas da eugenia e então enviou várias publicações eugênicas. Em um pacote separado, Popenoe enviou chocolate, café e outros produtos.

Verschuer respondeu, “Sua carta muito amigável de 7/25 deu-me um grande momento de satisfação e você tem meus sinceros agradecimentos por isso. A carta constrói outra ponte entre o seu e o meu trabalhos científicos; espero que esta ponte nunca colapse novamente mas, ao invés disso, torne possível estímulo e riqueza mútuas.”

Logo, Verschuer novamente tornou-se um cientista respeitado na Alemanha e ao redor do mundo. Em 1949, ele tornou-se membro correspondente da recentemente formada Sociedade Americana de genética Humana, organizada por eugenistas e geneticistas americanos.

No outono de 1950, a Universidade de Münster ofereceu a Verschuer uma posição em seu novo Instituto de Genética Humana, onde ele mais tarde tornou-se reitor. No início e meados dos anos 1950, Verschuer tornou-se membro honorário de diversas sociedades de prestígio, incluindo a Sociedade Italiana de Genética, a Sociedade Antropológica de Viena e a Sociedade Japonesa para Genética Humana.

As raízes genocidas da genética humana na eugenia foram ignoradas por uma geração vitoriosa que se recusou a ligar-se com os crimes do Nazismo e por gerações sucessivas que nunca souberam da verdade dos anos seguintes à guerra. Agora, governadores de cinco estados, incluindo a Califórnia, pediram desculpas públicas a seus cidadãos, do passado e do presente, pela esterilização e outros abusos difundidos pelo movimento eugenista.

A genética humana tornou-se um desafio iluminado no final do século XX. Trabalhando arduamente, cientistas dedicados finalmente decifraram o código humano através do Projeto Genoma Humano. Agora, cada indivíduo pode ser biologicamente identificado e classificado pelas características pessoais e ancestralidade. Mesmo agora, algumas vozes no mundo genético estão clamando por uma limpeza dos ineptos entre nós, e mesmo uma espécie humana superior.

Há preocupação compreensível sobre formas de abuso mais comuns, por exemplo, em negar seguro ou emprego baseado em testes genéticos. Em 14 de outubro, a primeira lei anti-discriminação genética passou no Senado por voto unânime. Apesar da pesquisa genética ser global, nenhuma lei nacional pode parar as ameaças.

http://www.sfgate.com/opinion/article/Eugenics-and-the-Nazis-the-California-2549771.php

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

[SGM] Ordeira e Humana?

Peter Hitchens, 28/11/2012

 
Há algum tempo atrás, decidi escrever um livro sobre o culto prejudicial e ilusório da vitória nacional que tem provocado tanto dano a este país desde 1945. Não há dúvidas que ele receberá a usual mistura de ofensa e silêncio que a maioria dos meus livros recebe. Mas eu tenho que escrever de qualquer modo, já que parece ser uma verdade que deve ser urgentemente expressa, especialmente agora que estaremos registrando o 70º. aniversário do fim da supostamente “boa” Segunda Guerra Mundial. É agora possível ter atitudes mais ou menos crescidas em relação à Primeira Guerra Mundial, cuja última justificativa remanescente – que era “A Guerra que terminaria com todas as Guerras” – transformou-se em pó e teia de aranha em setembro de 1939. Mas o conflito de 1939-45 é ainda enfeitado com ilusões, ilusões freqüentemente empregadas para justificar guerras modernas que são ditas ter objetivos comparativamente “bons”.

A crença em sua bondade é, de fato, absurda. Nosso principal aliado (rejeitado no começo com escárnio arrogante, depois abraçado com entusiasmo desesperado e esnobe) foi um dos maiores tiranos assassinos na história humana, cujo império de escravidão nós o ajudamos a expandir e consolidar, e para quem entregamos depois milhares de vítimas, para quem devíamos pelo menos uma vida, ainda que soubéssemos que ele as mataria.

Nossa proposta em se juntar à guerra não foi somente não atingida, mas o país cuja independência afirmamos ter “salvo” (N do T.: Polônia) afundou em sucessivas ondas de terror, crueldade, ilegalidade, assassinato e despotismo, para emergir 60 anos depois a muitas milhas longe de onde ele estava quando o “resgatamos”.

O principal efeito da guerra na vida da Grã-Bretanha (exceto do dano físico imposto pelo bombardeamento consideravelmente menor do que os danos que nós infligimos à Alemanha) foi a falência de nossa economia, o aumento dos impostos a níveis nunca antes vistos, tornar a interferência do Estado em todos os aspectos da vida mais atuantes, destruir inúmeras famílias, popularizar o divórcio, enfraquecer as famílias, aumentar o crime e a delinquência, e sujeitar a cultura nativa à uma invasão dos costumes e linguagem americanos dos quais jamais nos recuperamos. O principal efeito da guerra na Grã-Bretanha como Estado e economia foi a destruição de seu Império, permanentemente enfraquecendo sua moeda e seu status de potência naval e diplomática de primeira classe. No processo, em Singapura em 1942, este país sofreu a derrota mais grave de seus exércitos em toda a sua história, uma derrota tão desastrosa e irreparável que a maioria dos britânicos é – na melhor das hipóteses – ignorante dela, apesar deles estarem razoavelmente bem informados sobre os horrores que se abateram sobre os exércitos capturados.

Durante e imediatamente após a guerra, como discuti aqui, empregamos métodos que teriam revoltado nossos antepassados e que nos revolta, mas que foram tão horrorosos que ainda mentimos para nós mesmo, ou escondemos de nossas consciências. Ninguém que realmente os entendeu poderia defendê-los, que é a razão porque a crítica destas políticas tem primeiro que enfrentar um grande obstáculo de ignorância, algumas vezes intencional, outras não.

O primeiro foi o bombardeio deliberado das casas dos civis alemães, não apenas nos famosos incidentes em Hamburgo e Dresden, mas em toda a Alemanha por muitos meses, o que é moralmente indesculpável e, como geralmente acontece, militarmente ineficiente. A maioria dos britânicos é ignorante desta operação ou subestimam ou se recusam a acreditar que tenha sido uma política deliberada, erroneamente acreditando que os bombardeiros procuravam destruir alvos militares e industriais e somente acidentalmente matou ou mutilou civis. A bravura indubitável e sacrifício dos tripulantes nesta operação, aceita incondicionalmente por mim, não tem nada a ver com a culpa dos políticos e comandantes que a autorizaram e executaram.

O segundo foi a atroz, mas ainda grandemente desconhecida, “limpeza étnica” de talvez dez milhões de alemães de seus antigos lares na Europa Oriental e Central, autorizada e planejada antes do fim da guerra, aprovada pelos aliados vitoriosos em Postdam, e falsamente retratada – na época e até hoje – como “ordeira e humana”. Aqueles que a ordenaram e autorizaram sabiam perfeitamente bem que não seria nada desse tipo. Aqueles que a conduziram fizeram poucos esforços para reduzir seu caos e crueldade, que serviu bem para sua proposta – expulsar seus vizinhos de seus lares ancestrais por terror em massa e roubo.

Estas palavras, “Ordeira e Humana” que apareceu no documento de Postdam que autorizou a atrocidade, também forneceu o título friamente amargo de um novo livro de R. M. Douglas, recentemente publicado pela Editora da Universidade de Yale.
 
 
 
 

              
Amargura insensível é a primeira reação de qualquer pessoa que o lê, quem afirma ser realmente civilizado. Tenho, noite após noite, sentado em minha poltrona em casa lendo este catálogo de horrores, incapaz de encontrar um modo de expressar ou articular apropriadamente minhas emoções.

O livro nos leva através de vários estágios, o primeiro sendo o planejamento deliberado das expulsões, por servidores civis e políticos, que descobriram muito rapidamente, à medida que se aprofundavam no tema, que a coisa não poderia ser conduzida sem crueldade.

E aqueles que viviam na época? Muitos protestaram, notavelmente o editor esquerdista Victor Gollancz, o excelente jornalista Eric Gedye e nossos velhos amigos da campanha contra o bombardeio dos alemães em suas casa, o bispo George Bell de Chichester e o parlamentar Richard Stokes.

Mas como ocorre sempre quando algo de ruim está acontecendo, o consenso “geral” era complacente e defensivo. Winston Churchill, que exigiu o plano por anos, e havia ignorado os alertas sobre seus perigos, começou fazendo escarcéu hipócrita sobre sua crueldade muito tempo depois que já era tarde demais. Atualmente, é moda declarar a santidade de Clement Attlee, o Primeiro Ministro trabalhista do pós-guerra. Bem, São Clement foi informado que o plano tinha sérios problemas, em especial muito sofrimento humano: “Qualquer coisa que leve à casa dos alemães a realidade irrevogável e completa de sua derrota é digna ao final.”

Qualquer coisa? Veremos.

Removi a nacionalidade das vítimas e dos soldados da seguinte descrição. Veja se você consegue adivinhar quem eles eram, antes de eu te dizer, logo abaixo:

“Em um simples incidente, 265******, incluindo 120 mulheres e 74 crianças, foram mortas em 18 de junho pelas tropas******, que os removeram de um trem em Horne Mostenice, próximo a Prerov, fuzilaram-nos pelas costas na nuca e os enterraram em uma cova coletiva que as vítimas foram obrigadas a cavar ao lado da estação de trem.”

Bem, se eu te dissesse que o ano era 1945, quando em 18 de junho a guerra já havia acabado, talvez você esteja apto a raciocinar que todos os assassinos *não* eram. Sim, você está chegando perto, eles não eram “os nazistas” ou mesmo “os alemães”. Os mortos (a maioria mulheres e crianças) eram alemães. Os assassinos eram as tropas supostamente disciplinadas do Exército da boa e amigável Tchecoslováquia.

Dois pontos surgem aqui. Um, que o professor Douglas insiste repetidamente, é que estes matadores nojentos não eram (em geral) o resultado de civis enfurecidos fazendo sua vingança, o que pelo menos serviria para diminuir o crime. Eles eram mantidos pelo Estado e controlados centralmente e são, até hoje, defendidos pelos países envolvidos, justamente nervosos com qualquer sugestão de que eles podem estar sujeitos a investigação legal, ou exigências para compensação.

O segundo é que os autores destas coisas abomináveis indesculpáveis foram os “decentes” tcheco-eslovacos e os “galantes” poloneses, por muito tempo tratados com admiração sentimental pela Grã-Bretanha (talvez para mascarar o fato de que os traímos em 1938 e 1939).

Também falarei aqui sobre o murmúrio que ouço de que “os alemães fizeram isto primeiro, e estávamos retribuindo da mesma forma que eles”, junto com as vaias de “Pô, você é um daqueles apologistas de Hitler?” e (sem dúvida) insinuações do tipo policiamento ideológico de que sou um racialista enrustido.

Bem, alguns alemães certamente fizeram tais coisas e mesmo piores (apesar de tê-los deixado em paz já que precisávamos deles para administrar o país após a derrota de Hitler), mas a maioria das vítimas destes incidentes eram mulheres e crianças, e alguns dos outros (por exemplo) alemães tchecos social-democratas que resistiram aos nazistas. Isto foi um expurgo racial, combinado com um colossal roubo de propriedade, dinheiro, imóveis e terra (os refugiados não podiam levar quase nada consigo), horrivelmente comparável com as ações nacional socialistas alemãs. Qualquer um que (justamente) condena os nazistas alemães como assassinos bárbaros não pode realmente, em toda a consciência, se recusar em condenar os autores destas ações também. (Este ponto é falado mais tarde).

O professor Douglas defende que as expulsões não chegaram ao nível dos campos de extermínio (apesar de que em certas ocasiões, como veremos, elas chegaram incrivelmente perto disso).

Mas ele argumenta: “No entanto, o limite para a violação abusiva em massa dos direitos humanos não pode ser as barbaridades sem precedentes do regime de Hitler. Com exceção dos próprios anos de guerra, a Europa a oeste da URSS nunca viu, e jamais veria novamente, tão vasta detenção arbitrária – na qual dezenas de milhares, incluindo muitas crianças, perderiam suas vidas. Que em grande parte escapou à atenção dos contemporâneos de outros países na Europa, e do aviso dos historiadores hoje, é um comentário arrepiante sobre a facilidade com que os grandes males diante de nossos olhos podem ser negligenciados quando eles apresentam um espetáculo que a opinião pública internacional prefere não ver.

A propósito, uma das razões por que esta ação monstruosa foi adiante foi por causa de uma crença difundida de que a (sanguinária e caótica, e economica e socialmente desastrosa) troca compulsória de população entre Grécia e Turquia, após a cessão de Smyrna aos turcos pela derrotada Grécia (1922), foi um sucesso. O silêncio sobre as expulsões pós-1945 não deve ser permitido para criar a mesma falsa impressão. Foi um verdadeiro inferno, e qualquer um que proponha repeti-la deve ser avisado disso.

De todas as muitas páginas de notas que peguei deste livro importantíssimo, devo relutantemente mencionar umas poucas das mais surpreendentes, ao mesmo tempo pedindo aos leitores para comprar ou solicitar em suas bibliotecas públicas este trabalho necessário de verdade histórica obrigatória.

Em Linzer-Vorstadt, próximo da cervejaria Budvar, um campo para alemães, tinha inscrito em seus portões as palavras “Oko za Oko, Zub za Zub, que traduzido significa “Um olho por um olho, e um dente por um dente.”

Prisioneiros novos eram despidos, obrigados enquanto despidos a correr por uma fila de guardas que batiam neles com bastões, raspavam seus cabelos e os forçavam a usar uniformes humilhantes. A experiência de um padre católico, Josef Neubauer, neste lugar de miséria, é muito longa para recontar aqui, mas é ao mesmo tempo chocante e comovente.

Em Auschwitz, não passou duas semanas entre a partida dos últimos sobreviventes judeus e a chegada dos primeiros prisioneiros alemães étnicos.

Um oponente tcheco da perseguição, o Dr. Bedrich Bobek, é citado ter alertado em uma carta “Não deixe ninguém cair na desculpa de que os alemães fizeram a mesma coisa. Ou estamos qualificados para sermos os seus juízes, caso em que não podemos nos comportar como eles, ou então não somos diferentes deles, e devemos abdicar do direito de julgá-los”, um sentimento com o qual eu concordo profundamente.

Alguns poucos episódios a mais frequentemente envolvendo maus cuidados que beiram a negligência criminosa. Um trem chegou na Alemanha em dezembro de 1945 da Tchecoslováquia, um período de clima gelado predito. Ele transportava 650 pessoas. Quando as portas foram abertas, foram encontrados 94 passageiros, incluindo 22 crianças, mortos pelo frio.

Uma outra descrição, desta vez de um trem da Polônia: “... a maioria dos passageiros, após sua passagem pelos campos poloneses, estavam magros ao ponto da inanição, cobertos de piolhos e sofrendo de uma variedade de doenças infecciosas.” Trinta e nove passageiros terminaram sua viagem como corpos congelados.

A descrição do destino de um trem de Luben, na página 196, simplesmente tem que ser lida totalmente para ser acreditada.

Como sempre acontece, a intensa escuridão destes eventos (durante o tempo inteiro que eu li este livro me senti cercado por um tipo de sombra e imaginei todo evento descrito, mesmo aqueles que mais tarde percebi tinham acontecido à luz do dia de verão, continuado em condições de poeira e escuridão, noite e neblina) é algumas vezes iluminada pela luz fulgurante de boas ações individuais, feitas contra a maré dos acontecimentos.

A estória do tcheco Premsyl Pitter (que havia trabalhado para salvar judeus do assassinato nazista durante a ocupação) mostra que pequenos atos individuais de coragem humana e bondade podem contrabalançar os interesses e cinismo do Estado. Após resgatar mil prisioneiros alemães de uma prisão secreta em Praga, Pitter relembrou: “À medida que trouxemos crianças magras e apáticas para fora e as descansamos no gramado, acreditei que poucas poderiam sobreviver. Nosso médico, o Dr. E. Vogl, ele próprio um judeu que passou pelo inferno de Auschwitz e Mauthausen, quase chorou quando ele viu aqueles corpinhos. E aqui nós tchecos fizemos isto em apenas dois meses e meio!”, ele exclamou.

Os leitores são convidados a adivinhar qual sistema de pensamento e crença Premsyl Pitter seguia.

As autoridades tchecas, polonesas e iugoslavas sabiam o que era resultante de suas políticas (assim como os aliados, que planejaram e permitiram sabiam o que aconteceria e foram alertadas pelos seus próprios especialistas dos perigos de tal ação). Eles não fizeram quase nada a respeito disso. Poupar as mulheres e crianças do internamento teria arruinado o programa inteiro. Devo acrescentar que quando os refugiados chegaram na Alemanha, tudo acabou ficando pior por causa da colossal destruição causada pelo bombardeio anglo-americano.

Você pode não querer saber que no campo de Postoloprty na Boêmia do Norte em junho de 1945, cinco crianças alemãs étnicas foram chicoteadas e depois fuziladas por tentar escapar.

Poderia continuar citando este livro por horas. Mas você deve lê-lo ao invés disto. Terminarei com dois outros momentos dele que me deixaram sentindo intensamente envergonhado da raça humana, e imensamente grato por viver em uma ilha que por muitos séculos este livre da invasão, subjugação e autoritarismo.

O primeiro é o relato das condições de vida de alemães na Berlim ocupada (na época, lotada de refugiados do Leste, muitos deles seriamente doentes e/ou famintos) no outono de 1945. “...Mulheres podiam ser vistas recuperando a água suja da pia da cozinha de uma casa onde havia uma trupe de aliados para obter pequenas porções de gordura que poderiam ser usadas em suas próprias casas.”

Você pode estar certo que, mesmo um ano antes, nenhuma destas recuperações de água suja para obter gordura teria sido a mais remota premonição do que viria a acontecer a eles. Nem eles, em seu estado policial, ter tido qualquer palavra séria nos eventos e políticas que resultaram neste destino. Aqueles nas sociedades livres como a nossa, que promovem ou permitem as guerra, tem muito a responder sobre isso. Eles deveriam curar-se de qualquer presunção sobre se alemães comuns “mereciam” o que aconteceu a eles.

O segundo é um extrato de uma carta (literalmente) suicida escrita por Gertrude Kostka ao seu marido Johannes, um recruta no Exército alemão que foi feito prisioneiro por nós. Sua pequena filha, Barbara, havia morrido no caos do avanço do Exército Vermelho através da Polônia. Gertrud foi então estuprada por um colega de refúgio e ficou grávida. Johannes Kostka tentou se comunicar com o governo americano e então com o britânico, pelo menos, para apressar a deportação de sua esposa da Polônia de modo que eles pudessem ser reunidos. As autoridades britânicas responderam que tal ação poderia muito bem ser usada como propaganda contra nós, e poderia deixar a situação dela pior (tais receios eram é claro genuínos) e que a deportação era “um assunto interno da Polônia no qual não devemos interferir”, o que eu acho ser mais ambíguo, dado que tínhamos sancionado e cooperado com isso. Não fizemos nada, compreensivelmente. Não consegui descobrir o que aconteceu mais tarde, no final, aos Kostkas. Somente posso adivinhar.

Ela escreveu:

“Me sinto vazia e morta. Mas sendo honesta como nossa vida mútua foi, estas podem ser as últimas linhas. Não tenho culpa em confessar. Não tenho lágrimas para derramar. Tenho apenas esta crença que o Senhor te ajudará em confiar nas minhas palavras. Após uma dor curta você encontrará a felicidade novamente. Para mim, haverá desespero triste e a esperança de que o Senhor não me deixará, e me chamará para Ele em minha hora mais escura, unindo-me à minha criança. Confiando em Sua ajuda, me despeço de você e da minha vida. Não posso escrever mais. Só posso implorar-te, por favor, acredite em mim, não sinto nenhuma culpa.”


 
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