terça-feira, 29 de janeiro de 2013

[POL] “A Questão Judaica” na visão dos Nazistas

O Problema Judeu

Max Eichler


Publicado em  Du bist sofort im Bilde (Erfurt: J. G. Cramer’s Verlag, 1939) pp. 139-142.

 

 

A Questão Judaica é tão antiga quanto a história da própria judiaria. Dos dias da antiguidade até o presente, os povos sempre se levantaram para se defender do parasitismo judeu. A defesa era frequentemente sangrenta. A Grande Alemanha é o primeiro país no mundo a encontrar um modo legal de se separar do povo judeu estrangeiro. Ao contrário das visões do século passado, e dos democratas contemporâneos, o Nacional Socialismo vê a Questão Judaica não como um problema religioso, mas sim como uma questão racial.

Após os judeus terem sido removidos do serviço público, e após a imprensa e a vida cultural terem sido limpas, o passo mais importante foram as leis de Nuremberg (veja as páginas 36-47!). O mundo prestou atenção. Ele viu que não era mais uma questão teórica, que não era meramente o anti-semitismo de uma era antiga, mas que o acerto final com a judiaria havia começado. Pela primeira vez em sua história, os judeus enfrentavam um movimento que transcendia todas as fronteiras e oceanos, um que não poderia ser mais parado – independentemente  de outros povos resistirem ou hesitarem. O movimento do boicote mundial contra a Alemanha Nacional Socialista, a guerra de agitação da imprensa mundial judaica e os tiros dos assassinos judeus que mataram Wilhelm Gustloff e Ernst Von Rath, provaram isso.


O Nacional Socialismo luta suas batalhas até um final vitorioso com determinação de ferro. Ele resolverá a Questão Judaica de um modo que ele acha certo para o povo alemão, independentemente da inimizade mortal e músicas de ódio por parte dos judeus e de seus amigos democráticos. Ele fará isso legalmente, mas sem compromisso e de uma vez por todas. Não é acidente que o povo alemão tenha sido conclamado a fazer isso.  Nenhum outro povo deu aos judeus tal oportunidade para cumprir suas ações como fez o povo alemão, no meio de sua mais profunda necessidade. Nenhum outro povo é forte o suficiente para dar aos judeus o destino que eles merecem além do povo alemão! Como em tantas outras áreas. A Alemanha Nacional Socialista deu ao resto do mundo o exemplo de como lidar com a Questão Judaica, como foi mostrado pelas leis raciais de nosso aliado Itália e pela difusão da Questão Judaica para muitos outros países.


O assassinato de Ernst von Rath não atrasou as medidas legais elaboradas para resolver o Problema Judaico, mas ao invés disso acelerou-as. Os judeus vivendo na Alemanha tiveram que pagar uma indenização de 1 bilhão de marcos para desencorajá-los a repetir um crime covarde. As vozes democrático-judaicas estrangeiras reclamaram a respeito dos “pobres” judeus. Mesmo assim, após seis anos de governo nacional socialista, os 700.000 judeus na Alemanha detinham 8 bilhões de marcos enquanto que aproximadamente 80 milhões de cidadãos alemães detinham somente 200 bilhões de marcos. Cada judeu tinha em média 4,57 vezes a média alemã. A renda judia, que era de 4 bilhões de marcos em 1918, dobrou às custas do povo alemão. Os judeus também possuíam propriedade substancial (por exemplo, mais da metade – cerca de 60% - de Berlim pertencia aos judeus, apesar deles serem apenas 3,8% da população). Isto prova a extensão da exploração do povo alemão pelos parasitas judeus. Realmente, é somente uma pequena conta que a liderança nacional socialista do povo alemão deu para os judeus.      


 

Resolvendo a Questão Judaica

Dr. Achim Gercke


Publicado em “Die Lösung der Judenfrage,” Nationalsozialistische Monatshefte, Heft 38 (May 1933), pp. 195-197


Como resultado da vitória da revolução nacional socialista, a Questão Judaica tornou-se um problema para aqueles que nunca pensaram antes em resolvê-la, que nunca lutaram para resolvê-la. Todos viram que a situação atual é intolerável. Permitir desenvolvimento livre e igualdade para os judeus tem levado a uma situação “não-livre” de competição exploradora e para uma entrega de importantes posições dentro do povo alemão para aqueles de uma raça estrangeira.


O resultado é que qualquer um que pensa nesta questão procura por uma solução. Todos têm uma proposta em sua mesa, que se consegue uma reação mais ou menos favorável em discussões. Isto era esperado.


Mas a solução para tão importante problema não é tão fácil quanto parece.


As medidas legais que acabaram de ser emitidas pelo governo são ações de limpeza que habilidosamente respondem a declaração de guerra de Judá. Basicamente, as leis fornecem uma direção na qual devemos nos mover. Ninguém deveria subestimar o significado destas leis. Todo o povo será educado sobre a Questão Judaica e entenderá que a comunidade do povo é uma comunidade de sangue. Pela primeira vez, elas serão influenciadas pelo pensamento racial e estarão focadas não em soluções teóricas, mas em uma solução real.


Todavia, estas medidas temporárias não podem ser uma solução final para a Questão Judaica já que a época não é oportuna, apesar das leis apontarem a direção e deixarem espaço para quaisquer outros futuros desenvolvimentos.


Seria, entretanto, muito cedo para pensar em planos para discussão pública que proponham fazer mais do que atualmente foi feito. Apesar disso, uns poucos princípios devem ser expostos de modo que os planos que façamos possam amadurecer e erros possam ser evitados.


Fundamentalmente, alguém deve decidir se devemos reunir os judeus na Alemanha (assim como aqueles de ascendência judaica) de forma organizada. Muitos planos anunciados até aqui propõem reunir os judeus em uma federação de modo que eles possam ser mantidos sob vigilância e influenciados. Todas estas propostas estão fundamentalmente erradas. Se estabelecermos uma federação de judeus, sob algum tipo de administração judaica ou qualquer outro tipo semelhante de estrutura, os judeus continuarão tendo uma âncora legal eterna com a Alemanha, um meio de apresentar seus desejos, uma ferramenta para seus objetivos, um modo legal para assegurar ligações secretas. E daríamos a impressão de que estamos lidando com uma minoria nacional que poderia buscar, e encontrar, apoio fora da Alemanha. Ninguém pode dar nem mesmo apoio superficial a tal atitude em relação à Questão Judaica, já que seria uma insanidade política confundir medidas domésticas alemãs sobre a Questão Judaica com questões de política externa.  


Todas as propostas que incluí uma presença permanente, uma regulação dos judeus na Alemanha não resolve a Questão Judaica, já que elas não eliminam os judeus da Alemanha. E é isto o que queremos fazer. Se os judeus são capazes de explorar seus povos anfitriões para sempre, eles permanecerão uma constante fonte de chama aberta e destrutiva do Bolchevismo, tornando mais fácil acendê-la repetidamente, sem mencionar as incertezas políticas resultantes da desunião do povo e do perigo para a unidade racial. Vamos nos livrar deste tipo de pensamento para sempre, seja ele resultante de pensamento pobre ou más intenções. Resumindo, o Estado pode e deve focar na eliminação sistemática, na emigração.


Se destruirmos qualquer cooperação organizacional dos judeus e expulsarmos os agitadores judeus subversivos e perigosos, que mostram quaisquer sinais de atividades conspiradoras, os judeus ainda terão a sinagoga, o rabino, para protegê-los. Se apoiarmos os planos sionistas e tentar uma solução internacional estabelecendo um lar para os judeus, seremos capazes de resolver a Questão Judaica não somente na Alemanha, mas na Europa e no mundo inteiro. O mundo inteiro tem interesse em tal solução, em eliminar esta fonte de desordem, que constantemente precede o Bolchevismo. Devemos estabelecer isto claramente.


Talvez os judeus sejam capazes de se tornar uma nação, um povo. Isto requereria trabalhadores, artesãos e colonos judeus que se desenvolveriam a partir da população judaica. Se regularmos este plano, então criaremos novas fundações para este assentamento. Dispersar os judeus aos quatro ventos não resolve a Questão Judaica, mas ao invés disso, piora a situação. Um programa sistemático de assentamento, portanto, é a melhor solução.


Planos e programas devem ter um objetivo apontando para o futuro. Eles não podem estar focados apenas em uma situação desconfortável temporária. Um futuro melhor exige a solução sistemática da Questão Judaica, não a organização dos judeus.


 

Gercke (1902 – 1997) trabalhou como especialista em assuntos raciais no Ministério do Interior do Terceiro Reich. Ele trabalhou no caso de Reihard Heydrich, que foi acusado de ter sangue judeu, provando o contrário. Após a guerra, trabalhou no governo de Konrad Adenauer.

 

O Fim da Migração Judia

Dr. Johann Von Leers


Publicado em “Das Ende der jüdischen Wanderung,” Nationalsozialistische Monatshefte, Heft 38 (May 1933) pp. 229-231.


 

O problema judeu é um problema migratório que se arrasta por séculos de uma região européia a outra. Podemos falar de um certo grau de saturação com a população judaica em regiões individuais. Se este grau de saturação for alcançado ou superado, os povos não-judeus afetados sempre tomarão as mesmas medidas defensivas. Eles tentam reduzir a influência judaica, impedir a corrupção judaica de sua vida cultural e comercial, ou para revertê-la se já tiver ocorrido. Frequentemente, o primeiro passo é uma clara conscientização de que os judeus são um elemento estrangeiro. Aqueles países não simultaneamente afetados pelo problema tendem a equivocar-se com estas medidas defensivas, e até o ponto que isso está em seus interesses políticos, ou na extensão da influência judaica sobre eles, falando de “barbarismo”. Quando as massas de emigrantes judeus desmascararem-se para eles, o curso inteiro de eventos frequentemente se repete. Medidas defensivas similares surgem no segundo país, enquanto que no primeiro país o espírito lutador contra os judeus se acalmou – e assim o equívoco continua.

Ninguém que compreende a situação será capaz de negar que a causa destas medidas defensivas reside basicamente no próprio povo judeu. Mesmo com o alto grau de imparcialidade, concluiremos que estamos lidando com um grupo de pessoas que na média é altamente indesejável. Isto não pode nos impedir de olhar a questão mais claramente.


É inquestionável mesmo falar de um “povo judeu”, já que há apenas um sentido limitado e variado de consciência real de ser um povo. Existe uma gama contínua desde os sionistas convictos até os judeus assimilados, de modo que é melhor falar da judiaria como um grupo de humanos no qual há um forte sentimento de se estabelecer como um povo. Dada a extensão da migração judaica, há duas coisas que temos que ter em mente. Primeira, é errado ver a judiaria como um povo já existente, e assim tratá-los como tratamos uma minoria étnica. Segunda, se desejamos seriamente resolver o problema, temos que levar em conta o desejo interior da judiaria de construir seu próprio povo.


Baseado nestas razões, a reflexão madura mostra que é um erro pegar aqueles judeus de um determinado país e levá-los juntos para formar uma federação, independentemente se eles são ortodoxos, assimilados, ou uma raça misturada, mão com a possibilidade e objetivo de construir um povo, mas ao invés disso estabelecer uma minoria legal com direitos dentro de um Estado de povo não-judeu. O objetivo é sempre os judeus construírem seu próprio povo e separá-los dos povos não-judeus. Portanto, não devemos promover judeus individuais como cidadãos minoritários, ou qualquer outro status, dentro de um povo não-judeu, mas ao invés disso mover os judeus para construírem seu próprio povo.


De século em século, a Europa sempre teve surtos de anti-semitismo, e dos bons e justificados desejos de defender os povos não-judeus contra uma judiaria indigesta. Não podemos, portanto, estar satisfeitos com uma solução que simplesmente muda os judeus de um país para outro ao longo dos séculos. Isto só fortalece a perigosa habilidade judia de conduzir suas políticas dentro dos Estados, construindo um poder transnacional. Ademais, sempre permanecem poderosos grupos judaicos, o resultado da mistura racial e assimilação dentro dos respectivos povos, o que aumenta o declínio racial.


Ao invés disso, devemos encontrar uma solução afirmativa que livre a Europa das massas de judeus nômades. Isto não é uma questão de números pequenos, como as estatísticas demonstram. De acordo com o Zeitschrift für Demokratie und Statistik der Juden (Berlim), havia cerca de 15 milhões de judeus no mundo no final de 1931. Havia 9,8 milhões na Europa, dos quais 3,1 milhões estavam na Polônia, 3 milhões na Romênia, 0,6 milhão na Alemanha, 0,5 milhão na Hungria e 0,4 milhão na Tchecoslováquia. Desde que estes números incluem somente judeus por confissão religiosa, estes números são provavelmente baixos. Mesmos estes números, entretanto, incluem milhões dos chamados “vagabundos” (original: Luftmenschen), pedintes empobrecidos e mascates da Europa Oriental, grupos populacionais que estão prontos quando as fronteiras abrem para deixar seus guetos poloneses e lituanos e espalhar-se pela Europa. Enquanto essa pressão destes milhões de judeus existir, a Questão Judaica na Europa não será resolvida, mas ao invés disso necessariamente continuará.


Mesmo se um movimento político e um povo tenham tido as piores experiências com a judiaria, isso opor-se-ia ao sentimento nórdico alemão de história de ver uma solução negativa como um meio de se defender das massas judaicas. Ao invés disso, a totalidade de nossa missão histórica exige uma aproximação grande e compreensiva que também chamará a atenção de nosso adversário.


O que dá alguma justificação para os objetivos sionistas não é que eles sejam frequentemente tanto românticos quanto um tipo particular de propaganda de seu modo de pensamento (como a velha piada judia “O que é sionismo? Um judeu quer dinheiro de um segundo judeu de modo que um terceiro judeu possa ir à Palestina.”) , mas ao invés disso, sua afirmação de que há uma questão relacionada ao povo judeu e que deve ser resolvida. O sionismo assume que ele pode construir um novo povo judeu a partir de muitos indivíduos judeus. Ele tem, entretanto, alguma justiça em exigir uma fundação territorial para seu desenvolvimento.


A Palestina é incapaz de absorver as massas vindouras de judeus já que ela não pode apoiá-los, e nem é sua localização exata. Além disso, a Inglaterra tem que considerar tanto a população nativa árabe e a comunidade mundial islâmica, o que torna impossível assentar mesmo uma significante parte das massas judias lá.


Somente um bárbaro permanecendo fora da grande manifestação divina da história mundial proporia uma batalha geral anti-semita com o objetivo de exterminar este povo. (N.do T.: o grifo é meu) O objetivo dos povos altamente desenvolvidos não é promover o ódio quando existe um modo decente de resolver o problema.


A única solução imaginável, positiva que finalmente resolva o problema judaico na Europa e ao mesmo tempo forneça a possibilidade real de tornar-se um povo, de estar ligado a uma terra e mesmo talvez permitir que seus elementos menos valiosos sejam influenciados pelos mais valorosos, é uma região rica fora da Europa. O holandês Von Dinghene, em seu livro Vollzionismus, propôs a ilha de Madgascar mas poderíamos imaginar outras regiões apropriadas nas regiões africana e sulamericana. Por um lado, tal área de assentamento deve dar ao povo judeu um espaço onde eles podem trabalhar produtivamente, dentro de uma estrutura que forneça espaço para os povos que hoje não dispõem de espaço. Por outro lado, nestes países onde os judeus estão sendo separados da população não-judia, os judeus perderão um grande número de empregos. Eles devem ser hoje treinados em grupos de trabalho, recebendo educação técnica e em agricultura de modo que eles possam se fixar nesta área. Aquelas potências coloniais Européias ocidentais que também estão se preocupando com a Questão Judaica e seus efeitos na Europa Oriental e Central, sem entretanto ver as conexões, realizariam um trabalho não somente humanitário, mas também um ato de estadista que traria paz ao mundo e a solução de um de seus mais sérios problemas se eles tornassem tal área de assentamento disponível. Isto não somente aliviaria a Europa do problema judeu, mas também permitiria que a judiaria se tornasse um povo.   


 

Von Leers (1902 – 1965) serviu na SA e depois na Waffen-SS como Sturmbannführer e foi professor na Universidade de Jena. Trabalhou no Ministério da Propaganda de Goebbels, publicando 27 livros. Após a guerra, viveu na Argentina e no Egito, onde tornou-se membro do Departamento Egípcio de Informação e converteu-se ao Islamismo sob o nome Omar Amin.

http://www.calvin.edu/academic/cas/gpa/gercke.htm



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Qual o Motivo do ódio de Hitler aos Judeus?

http://epaubel.blogspot.com.br/2012/05/qual-o-motivo-do-odio-de-hitler-aos.html

domingo, 27 de janeiro de 2013

[POL] O Fascismo é inerentemente Anti-Semita?

Nicholas Farrell, 02/09/2012

 
O fascismo é imaginado ser intrínseca e violentamente anti-semita, e os fascistas queriam exterminar os judeus, certo? Errado. Estes eram os Nacional Socialistas.

O historiador e jornalista alemão Emil Ludwig, que escreveu um livro fascinante sobre Mussolini em 1932 baseado em uma série de longas entrevistas com o Duce, notou:

Indubitavelmente, nenhum inglês ou russo contemporâneo teve comigo tanta compreensão simpática em relação aos judeus quanto Mussolini.

Ludwig, cujo sobrenome original era Cohn, era judeu e escreveu essas palavras em 1946 na introdução de uma nova edição de seu livro “Bate-papo com Mussolini.” Em outras palavras, ele as escreveu com percepção tardia: a Segunda Guerra Mundial havia acabado e os horrores do Holocausto eram revelados.

Foi somente após a aliança fatal da Itália com a Alemanha Nazista no final dos anos 1930 que o fascismo italiano tornou-se anti-semita, mas mesmo então ele não tinha planos de exterminar os judeus. Até então, os 50.000 judeus italianos estavam bem integrados e muitos fascistas da velha guarda eram judeus.

 Ettore Ovazza, banqueiro e empresário judeu entrou para o Partido Fascista em 1926

 
Marguerita Sarfatti, a principal amante de Mussolini até os anos 1930, era judia. Filha de uma rica família veneziana, Sarfatti encontrou Mussolini em Milão antes da primeira Guerra Mundial quando ele era uma celebridade revolucionária socialista. Ela escreveu artigos sobre arte para o jornal do Partido Socialista Avanti!, que Mussolini editava.

Ela o seguiu quando Mussolini abandonou o Partido Socialista Italiano em 1914. Mas ele não abandonou a ideologia, pois o partido queria que a Itália permanecesse neutra, que ele percebeu forçaria-a a ser um coadjuvante, ao invés da protagonista. E quando ele fundou o fascismo como um movimento revolucionário alternativo de centro-esquerda em 1919, ela tornou-se uma das chefes de propaganda, escrevendo a primeira biografia dele após a tomada do poder em 1922. Intitulado DUX em italiano, este livro brilhante, mas bajulador foi publicado primeiro em inglês em 1925 e tornou-se um Best-seller internacional traduzido para 20 línguas.

Os fascistas italianos não eram mais ou menos anti-semitas ou racistas do que os europeus médios daqueles dias.

Em 1920, Winston Churchill escreveu um artigo no Illustrated Sunday Herald sobre os três tipos de judeus – dois bons e um mau – judeus “nacionalistas” que eram patriotas, judeus “Sionistas” que queriam criar Israel e os judeus “internacionais”, que incluíam os líderes comunistas e eram maus porque atrás deles estava “uma conspiração mundial para a destruição da civilização.”

Até Mussolini aliar-se a Hitler no final dos anos 1930, não havia nada a respeito do fascismo italiano que pudesse ser relacionado ao anti-semitismo. Para o mesmo Ludwig, Mussolini disse em 1932:

É claro que não existem raças puras; nem mesmo os judeus mantiveram seu sangue intacto. Cruzamentos bem sucedidos sempre promoveram a energia e a beleza de uma nação. Raça! Ela é um sentimento, não uma realidade; noventa e cinco por cento, pelo menos, é um sentimento. Nada me fará acreditar que raças biologicamente puras possam existir hoje em dia. É engraçado que nenhum destes que vivem proclamando a “nobreza” da raça teutônica era, ele próprio, um teutão... o anti-semitismo não existe na Itália. Os italianos de origem judaica têm se mostrado bons cidadãos e eles lutaram bravamente na guerra.

N. do T.: O texto completo está aqui:


 
Mesmo assim, em setembro de 1938, ao mesmo tempo que Mussolini estava sendo anunciado como um anjo da paz em virtude do Acordo de Munique, o qual supostamente garantiria “paz para o nosso tempo,” ele introduziu leis anti-semitas na Itália.

Enquanto a Alemanha nacional socialista sempre foi anti-semita, a Itália fascista não. Nem era inevitável que a Alemanha Nazista e a Itália Fascista, apesar de compartilharem ódio comum do capitalismo e comunismo, se tornassem aliados militares. Pelo contrário. A anexação de Hitler em março de 1938 da Áustria – que faz fronteira com a Itália e dá acesso aos Balcãs – ultrajou e também amedrontou Mussolini. Por outro lado, sua própria invasão em 1935 da Abssínia (N. do T.: atual Etiópia) causou uma deterioração perigosa em suas relações com a Grã-Bretanha e França, fazendo com que procurasse vantagem em outro lugar.

O estreitamento dos laços entre nazista e fascistas italianos não foi a razão pela qual Mussolini introduziu suas leis anti-semitas, mas eles foram o catalisador.

O motivo tinha raízes profundas.

O inimigo número um de Mussolini, tanto como socialista como fascista, sempre foi a burguesia. Isto incluía os comunistas russos, que ele definia como capitalistas de Estado. Os judeus, ele chegou a acreditar, eram seu epítome. Seu anti-semitismo difundiu-se não por ódio à raça judia, mas da mentalidade judaica cujo espírito anti-fascista era o maior obstáculo à “fascistização” (fascistizzazione) da Itália. Mas um judeu sempre poderia renunciar à sua fé.

O anti-semitismo de Hitler, por outro lado, era uma coisa biológica: uma vez judeu, sempre judeu.

As leis anti-semitas de Mussolini foram terríveis porque elas transformaram os judeus italianos em cidadãos de segunda classe. Mas a ideia de Mussolini construir campos de extermínio com câmaras de gás para os judeus é inconcebível.

Nenhum judeu foi enviado para os campos de extermínio nazistas a partir da Itália, ou dos territórios ocupados pelos italianos (França, Iugoslávia e Grécia), até após a queda de Mussolini pelo rei da Itália, Vittorio Emanuele III, em julho de 1943, seguindo a libertação da Sicília.

Mussolini retornou ao poder no norte da Itália em novembro de 1943 como chefe da República Socialista de Saló, mas ele era realmente um fantoche de Hitler.

Os fascistas na parte da França ocupada pelas forças italianas até setembro de 1943, salvaram ativamente milhares de judeus, muito mais do que o bom nazista do filme “A Lista de Schindler” de Steven Spielberg. Mas eles não os salvaram dos alemães – eles os salvaram da República de Vichy que mal esperava enviar os judeus para os campos nazistas!

Entre setembro de 1943, quando os nazistas ocuparam a Itália, e abril de 1945, um total de 8.500 judeus (cerca de 17% do total na Itália) foram presos na Itália e deportados para os campos de extermínio nazistas. Aproximadamente 7.680 deles morreram. Os nazistas ordenaram suas prisões para deportação e soldados alemães efetuaram as prisões, apesar de fascistas italianos algumas vezes colaborarem.

Às vezes, fico pensando: poderia Mussolini ter evitado a sua aliança fatal com Hitler e permanecer neutro na Segunda Guerra Mundial e quais seriam suas consequências?

O General Francisco Franco, o ditador nacionalista da Espanha, fez isso e sua ditadura sobreviveu até sua morte em 1975.

Mas a Espanha não é a Itália e Mussolini não era Franco. A Espanha, diferentemente da Itália, havia saído de uma guerra civil devastadora. E a posição geográfica da Itália no coração do Mediterrâneo tornou a neutralidade muito mais difícil. Em ambas as guerras, a Itália permaneceu neutra por nove meses cada vez.

Mussolini não foi movido apenas pela ganância, mas pelo medo também. Por um bom motivo. Se ele tivesse permanecido neutro, Hitler, tenho certeza, teria tomado a parte norte da Itália ao nordeste do Lago Garda até os Alpes, e aquelas nações Bálcãs, que haviam sido parte até 1918 do Império Austríaco. Não obstante, a Itália poderia ter permanecido neutra e fascista após a guerra, apesar de que após algum tempo certamente teria havido uma guerra civil, como aconteceu na Espanha, que Mussolini poderia muito bem ter ganho. E temos também outra hipótese: se a Itália tivesse permanecido neutra, Hitler não teria atrasado de forma fatal sua invasão da Rússia em 1941 para resolver a confusão em que os italianos se meteram na sua invasão da Grécia, evitando assim que a Europa e a América fossem poupadas da Guerra Fria!

 
Nicholas Farrell, formado na Universidade de Cambridge, vive na Itália, onde é colunista da Libero e da La Voce di Romagna. Ele foi repórter do Sunday Telegraph em Londres antes de se mudar para paris em 1997 para escrever um livro sobre a morte da Princesa Diana e para a Itália em 1998 para escrever uma biografia de Benito Mussolini.

sábado, 26 de janeiro de 2013

[POL] Um Bom Alemão? Von Staufenberg e a Conspiração de Julho

Roger Moorhouse

History Today, Volume 59/Edição 1 (2009)

 
Em janeiro de 2009 vimos a estreia do novo filme de Bryan Singer, Operação Valquíria, uma nova abordagem dramática da Conspiração de 20 de julho para assassinar Adolf Hitler, estrelando Tom Cruise no papel de Claus Schenk Von Stauffenberg, o assassino escolhido de Hitler.

Como é inevitável sempre que Hollywood encontra uma estória como essa, o filme é acompanhado por uma miríade de publicações, republicações, documentários e discussões, já que o assunto abordado é lançado aos holofotes da mídia.

Uma nova e maior plateia de leitores e cinéfilos estará, assim, exposta à estória de Stauffenberg, muitos deles pela primeira vez. Eles serão apresentados a Stauffenberg como um herói de ação com princípios éticos e morais, um “bom alemão” que se opôs a Hitler e “fez a coisa certa”. Alguns podem mesmo pensar que eles estão assistindo ao progenitor da Alemanha democrática que conhecemos hoje.

 

Mas, antes que promovamos Stauffenberg ao status de um santo secular, devemos talvez lembrar quem realmente era o assassino escolhido de Hitler e que valores ele defendia. Ele era realmente um arauto da “nova” Alemanha que deveria segui-lo ou era apenas um produto da “velha” Alemanha, assim como o seu alvo?

Não podemos nos esquecer que Stauffenberg era, de muitas formas, o típico nacionalista alemão – muito mais um produto da época em que vivia. Ele foi um antigo e entusiasta apoiador do nazismo, por exemplo, tinha bem recebido a indicação de Hitler como Chanceler em 1933. Ele abraçou todas as medidas subsequentes – a reintrodução do alistamento obrigatório, a remilitarização da Renânia, o Anschluss com a Áustria e a anexação dos Sudetos – que eram vistos como a “restauração da honra alemã.”

Stauffenberg não era democrata. Ele passou sua lua-de-mel, por exemplo, em Borne, onde assistiu a uma exibição celebrando os primeiros dez anos de poder de Mussolini. Mesmo mais tarde, como um dos organizadores do complô contra Hitler, ele se opôs raivosamente à inclusão da esquerda na conspiração.

Um aristocrata, Stauffenberg desprezava “a mentira de que todos os homens são iguais” e insistia que as “hierarquias naturais” fossem respeitadas. Sua rejeição a Hitler, quando veio, não foi baseada na política ou moralidade, foi baseada na classe. Ele não poderia estar sujeito a Hitler, ele disse, já que este era um “burguês inferior” e sua tradição familiar proibia isso.

Stauffenberg também estava suscetível ao clima difundido de preconceito racial e nacional sob Hitler. Após o encerramento da campanha polonesa em 1939, por exemplo (na qual ele serviu como oficial de gabinete em uma Divisão Panzer Leve), ele descreveu os poloneses como uma populaça inacreditável de “judeus e viralatas” que eram confortáveis somente sob o chicote. Ele foi adiante ao defender a colonização sistemática da Polônia ocupada pela Alemanha nazista.

Mesmo após unir-se à resistência em 1943, Stauffenberg raramente mudou suas opiniões. Apesar dele – como outros conspiradores das forças armadas – estar motivado basicamente por seu senso de horror em relação ao Holocausto e seu desejo de terminar a brutalidade do nazismo, havia outro fator importante no seu pensamento. Como militar, ele era um crítico ocasional da liderança de Hitler. Mas em 1943, ele estava totalmente convencido de que Hitler estava conduzindo a nação para uma derrota catastrófica. A guerra não poderia ser lutada com mais eficiência, ele acreditava, se não houvesse uma mudança de pessoal no topo.

A substituição de Hitler, portanto, era vista muito mais como um imperativo militar do que moral. E esta convicção foi aumentada, é claro, com a abertura de uma segunda frente com o desembarque na Normandia em junho de 1944 – apenas seis semanas antes do atentado contra a vida de Hitler ser lançado.

Os conspiradores amigos de Stauffenberg eram críticos na mesma linha. O diplomata anti-nazista Hans Gisevius, por exemplo, confrontava-o repetidamente em relação aos planos para um golpe maior contra Hitler – Gisevius preferindo uma revolução mais abrangente do que a visão mais minimalista de Stauffenberg. Ao assassinar o Führer, Gisevius reclamou, Stauffenberg “queria fazer apenas o necessário, então ele pintaria o navio do Estado de cinza militar e o faria mover-se novamente.” Stauffenberg, parecia, imaginava substituir a ditadura de Hitler por outra militar.

Stauffenberg era certamente dinâmico e não há dúvidas sobre seu valor pessoal. Ele claramente impôs ambas as qualidades diante do seu frequentemente temerário e vacilante grupo de co-conspiradores e em suas ações decisivas em Rastenburg ao plantar a bomba que quase matou Hitler. Além disso, ele exibiu uma profunda bravura moral. Ele viu os crimes hediondos que os soldados de Hitler estavam cometendo em nome da Alemanha e tinha resolvido agir em defesa de uma moral mais elevada, apesar de saber que isto poderia custar sua vida.

Esta determinação não deve ser vista, contudo, como uma assinatura de caráter. Stauffenberg é lembrado da maneira correta: seu lugar no panteão, assim como o mais famoso pretenso tiranocida, está garantido. Pelo contrário, deveria ser encarado como um corretivo temporal: um lembrete de que é imprudente ver o passado através do prisma do presente; erramos quando julgamos personagens históricos de acordo com os padrões modernos.

Acima de tudo, é um lembrete de que o público leitor e cinéfilo não deveria aceitar o novo herói de Hollywood “ao preço da embalagem”, sem críticas; nem imaginar cegamente que ele “era um de nós.” Não vamos nos enganar: apesar de todo seu valor, Stauffenberg defendia valores que são estranhos a nós – e para a Alemanha moderna – assim como Hitler foi.          

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

[POL] A Implacável Ascensão dos Nazistas em Berlim

Uwe Klussmann

Der Spiegel, 29/11/2012

Naquele dia cinzento de 7 de novembro de 1926, não havia nenhuma indicação que o pequeno homem de 29 anos de idade que caminhava com dificuldade e havia descido na Estação Ferroviária Anhalter de Berlim moldaria o destino da capital alemã. Josef Goebbels, um funcionário de carreira do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), ou Partido Nazista, chegou para uma aparentemente missão impossível. Como Gauleiter, ou líder regional do partido, ele tinha sido indicado para lutar pelo poder em Berlim.

Naquela época, o fragmentado grupo liderado por Adolf Hitler tinha 49.000 membros em toda a Alemanha. Ele estava mal na capital, onde tinha apenas umas poucas centenas de seguidores. Em um relatório escrito em 1926, um funcionário do partido escreveu sobre a “total desestruturação da organização em Berlim,” que ele descreveu como um grupo autodestrutivo, confuso que estava quase sem chances de reparação.

A sede do partido na Potsdamer Strasse 109 somente reforçava essa impressão. Ela consistia de um porão escuro que estava impregnado com fumaça de cigarro, suor e cerveja. Os membros do partido eram conhecidos como “a confraria do ópio.”

No final do ano, Goebbels alugou um escritório mais aceitável para o partido na Lützowstrasse. Ele expulsou os vagabundos e arruaceiros do partido e conclamou os membros restantes a participar de várias campanhas.

Goebbels atrás de Hitler num discurso em Berlim


Goebbels estava apenas uma semana no trabalho quando organizou uma passeata pelo bairro de Neukölln, um reduto comunista, que o transformou em um cenário de rebelião.

Goebbels queria que o partido de Hitler mostrasse suas cores em Berlim, que ele descreveu como “a cidade mais vermelha na Europa depois de Moscou.” Juntos, o partido Social Democrata (SPD) e o Partido Comunista da Alemanha (KPD) conseguiram 52,2% dos votos nas eleições municipais de 1925. O novo líder nazista de Berlim decidiu combater a superioridade da esquerda em números com um ataque frontal.

Ele foi para a Pharussäle, um salão de encontros usado frequentemente pelo KPD para suas reuniões no distrido do Casamento de Berlim, e fez um discurso sobre “O colapso do Estado Burguês.” Isto provocou os comunistas.

Em 11 de fevereiro de 1927, a reunião do partido nazista transformou-se numa violenta pancadaria entre os dois grupos. Copos de cerveja, cadeiras e mesas voavam de um lado a outro no salão, e muitas pessoas machucadas foram vistas no chão cobertas de sangue. Apesar dos ferimentos, foi um triunfo para Goebbels, cujos brutamontes surraram 200 comunistas e os expulsaram do salão.

Uma Estratégia de Provocação

Goebbels transformou Berlim em um violento laboratório para a futura ditadura, aproveitando-se dos serviços dos uniformizados Sturmabteilung (Divisão de Assalto), ou SA, cujos membros eram conhecidos como “camisas pardas”. A SA combinava romantismo militar, ódio pelas elites tradicionais e desprezo das classes trabalhadoras da parte oriental da cidade contra as classes mais abastadas do lado ocidental.

Para o partido nazista, os camisas pardas – que incluíam desempregados, subempregados, aprendizes e estudantes de ensino médio – eram “soldados políticos”. Na visão de Goebbels, sua tarefa era a “conquista da rua.” No cadinho de Belim, estes jovens deveriam reconciliar e incorporar duas visões de mundo antagônicas: o nacionalismo, que Goebbels acreditava que tinha de ser “reformatada segundo um modo revolucionário” e um “socialismo verdadeiro” livre do Marxismo.

Os judeus de Berlim tornaram-se o farol para esta experiência, que objetivava trazer as tensões políticas e sociais até o ponto de ruptura. Goebbels, que fez seu trabalho de doutorado sob a orientação de um professor judeu, atribuiu ao judeu o papel de bode expiatório.

“O judeu” era um “aspecto negativo” que tinha de ser “erradicado”, escreveu Goebbels em 1929. Ele via os judeus como incorporando simultaneamente o capitalismo, comunismo, a imprensa e a polícia. Seu slogan “Os judeus devem ser culpados!” provou ser um veneno de ação lenta.

Como chefe dos nazistas de Berlim, Goebbels escolheu Bernhard Weiss, o vice-chefe judeu da polícia, como alvo de sua agitação anti-semita. Goebbels apelidou-o de “Isidore” e, após Weiss processá-lo e ganhar a causa, ele provocou-o com “Weiss, aquele que não é permitido chamar de Isidore.” Goebbels zombou dos membros da polícia de Weiss chamando-os de “Bernhardiner” (cães São Bernardo) e “os guardas de Weiss”.

Membros jovens do partido cantavam canções satíricas sobre “Isidore” e usavam máscaras “Isidore” – e geralmente as pessoas riam desse sarcasmo. De fato, os nazistas usavam humor grotesco como uma arma poderosa em sua luta contra a República de Weimar. “Zombamos de um sistema inteiro e o derrubamos com uma gargalhada retumbante,” escreveu Gunter d´Alquen, o jovem editor-chefe do Das Schwarze Korps (jornal oficial da SS) em 1937.

Goebbels acreditava que a grosseria era necessária. Em uma exibição do filme da adaptação do livro “Tudo Quieto no Front Ocidental” em 5 de dezembro de 1930, no cinema Mozartsaal, localizado na Nollendorfplatz em Berlim, membros da SA jogaram camundongos na plateia. Mulheres em estado de pânico obrigaram a interrupção do filme, enquanto membros da SA riam da cena. O próprio Goebbels estava no meio da plateia.

Ele justificou sua estratégia de provocação dizendo que os nazistas podiam ser acusados de muitas coisas, exceto de serem inertes. Batalhas urbanas e pancadaria em encontros políticos forjaram o senso de unidade e camaradagem entre os membros do partido em Berlim. No 1º. De maio de 1927, Hitler falou para eles pela primeira vez na respeitada Sala de Concertos Clou. Goebbels apreciou a confiança de Hitler e chorou com o seu discurso sobre “espaço e as pessoas.”

Os membros do partido em Berlim amaram o homem que eles chamaram “nosso Dr. Goebbels” porque ele passava seu tempo em contato direto com eles. Ele confortava os feridos gravemente, segurava as mãos dos moribundos e participava de funerais.

Sucesso Modesto Inicial

Goebbels, que foi incapaz de lutar na Primeira Guerra Mundial em virtude de sua perna direita defeituosa, provou ser o maior soldado de um exército lutando uma guerra civil insidiosa. Durante ela, os nazistas sobreviveram a diversos desafios. Cinco dias após o discurso de Hitler no Clou, a polícia baniu o partido nazista em Berlim. Mas aquilo não interrompeu sua ascensão. Goebbels, que havia lido as memórias de August Bebel, um político marxista e co-fundador do Partido Social-Democrata (SPD) na Alemanha, aprendeu uma lição da luta dos social-democratas contra as leis anti-socialistas de Bismarck.

Os nazistas estabeleceram grupos aparentemente mais inofensivos, como clubes de boliche, poupança e natação. Usando o lema “Vivos, apesar da proibição,” Goebbels criou o jornal Der Angriff (O Ataque) em julho de 1927, inicialmente como um semanário. Os subtítulos “Para os Oprimidos-Contra os Exploradores” objetivava atingir os leitores das classes trabalhadoras.

No começo, os nazistas usufruiram de sucesso muito modesto. Cerca de 39.000 berlinenses, ou 1,6% da população total da cidade, votou no partido de Hitler na eleição de maio de 1928 para o Reichstag, como o Parlamento era chamado na época. Quando Goebbels tornou-se um dos 12 membros nazistas do Reichstag, ele o fez com as seguintes palavras desafiadoras: “Não temos nada a ver com o parlamento. Reijeitamo-o de dentro.”

De fato, a estratégia da sede de Berlim do partido nazista era ser uma oposição extra-parlamentar, formando células nas ruas e nos negócios, usando o caso comunista como modelo. Em 1928, o partido organizou uma reunião com muitos milhares de simpatizantes, lotando o ginásio de esportes de inverno Sportpalats na Potsdamer Strasse.

Em 1929, o partido, liderado pelo “bandido-chefe” Goebbels, como os comunistas o chamavam, conseguiu 5,8% dos votos para o conselho da cidade, garantindo 13 cadeiras na câmara de vereadores.

O “sistema” da república de Weimar, que os mazistas atacavam, era relativamente estável há muito tempo. Mas aquilo mudou no final de outubro de 1929, quando o mercado de ações de Nova York quebrou. Desemprego em massa cresceu rapidamente, aumentando o potencial de inquietação urbana.

Os nazistas de berlim empreenderam uma guerra política em duas frentes. Uma frente era contra os social-democratas e os partidos estabelecidos administrando a cidade e o país. A outra era contra os comunistas, cujas fileiras cresceram quando as pessoas afetadas pela crise correram para os seus braços.

Em sua luta com propagandistas da revolução mundial, o partido nazista tinha somente uma chance para se diferenciar da direita reacionária. No Der Angriff, Goebbels polemizou contra os “gatos gordos pretos, brancos e vermelhos,” se referindo às cores da bandeira do Império Alemão favorecido por muitos nacionalistas de extrema direita. “Vocês dizem ‘pátria’,” escreveu ele acusatoriamente, “mas o que vocês estão falando são porcentagens.”

Ele viu os trabalhadores frustrados com o desanimado SPD como uma chance de ataque. Ele chamou o SPD de “o partido mais vergonhoso da Alemanha” e culpou-o pela “pobreza, fome, gatos gordos e trabalhadores famintos.” Os social-democratas, disse Goebbels em agosto de 1930, não eram “mais os protagonistas de um socialismo verdadeiro, decidido,” mas ao invés disso, tornou-se o “lacaio e beneficiário do capitalismo de mercado.” De fato, com seus políticos velhos e corruptos, o SPD tornou as coisas mais fáceis para os nazistas em Berlim.

O maior desafio para os nazistas era o Partido Comunista da Alemanha (KPD), chefiado em Berlim por Walter Ulbricht, que continuaria o líder de fato na Alemanha Oriental do pós-guerra. O partido ativista tinha seus redutos nos bairros proletários, como o Friedrichshain e Wedding, e tinha uma poderosa organização paramilitar na Aliança dos Combatentes Vermelhos (Roter Frontkämpferbund).

Políticos que esperassem fazer sucesso nos bairros “vermelhos” de Berlim tinham que falar a língua falada lá. Em uma panfletagem aérea em setembro de 1931 para trabalhadores desempregados esperando numa agência governamental em Berlim, Goebbels escreveu que o partido estava se voltando para “trabalhadores sem trabalho e sem esperança, expostos à mais terrível forma de desespero,” e ele prometeu “destruir o sistema do capitalismo e substituí-lo por uma nova ordem socialista.”

Goebbels discursa para uma brigada SA na Lustgarden de Berlim em 1934.


No seu apelo “para todos os desempregados,” os nazistas inteligentemente apontaram a questão da força dos partidos esquerdistas, o SPD e o KPD. Goebbels cortejou os proletários tratando-os como noivas enganadas, lembrando-lhes que “vocês foram deixados esquecidos pelos seus sedutores.”

Goebbels era familiar com os pontos fracos dos comunistas, quais sejam, a linguagem frequentemente desligada de seus membros e o controle que os líderes soviéticos exerciam sobre eles. No Der Angriff, Goebbels escreveu que o KPD, como uma “legião estrangeira russa em solo alemão” criado “com dinheiro russo e recursos humanos alemães,” estava enganando muitos membros do proletariado.

Ajudado por um “Mártir”

Horst Wessel foi um dos propagandistas nazistas que sabiam como ganhar o apoio dos trabalhadores. Nascido em 1907, ele formou-se na escola secundária que enfatizou os clássicos, mas dispensou a universidade antes de concluí-la. Wessel via-se como um socialista que foi afetado pelo “grande empobrecimento social e servidão das classes trabalhadoras em todas as profissões.”

Wessel, filho de um pastor protestante, tinha 19 anos quando se alistou no partido nazista em 1926. Em 1929, ele avançou na carreira, tornando-se chefe de um esquadrão da SA em Friedrichshain. Em poucas semanas, suas habilidades retóricas ajudaram-no a recrutar dezenas de novos membros. Juntos, eles tornar-se-iam o lendário “SA-Sturm 5.”

De fato, próximo a Goebbels não havia ninguém que falasse com mais freqüência do Wessel para o partido nazista na grande Berlim. Os discursos de Wessel conseguiram mesmo converter antigos comunistas em membros da SA. Com a aprovação de Goebbels, eles foram autorizados a trazer seus instrumentos de sopro parecidos com oboés, chamados charamelas, para os eventos nazistas.

Wessel e seus amigos conseguiram manter contato com os proletários em pátios sombrios e tavernas barulhentas, em esquinas e nas agências de emprego. Ao fazer isso, eles aderiram ao terceiro dos “Dez Mandamentos para os nacional socialistas” escritos por Goebbels: “Todo camarada nacional, mesmo o mais pobre, é parte da Alemanha. Ame-o como ama a si mesmo.”

Logo, ele tornou-se uma figura odiada na “Comuna”, como os nazistas chamavam o KPD. Em 14 de janeiro de 1930, Albrecht Höhler, um cafetão comunista, atirou na boca do herói da SA, que estava vivendo com uma ex-prostituta. Wessel morreu em virtude de complicações do ataque em 23 de fevereiro.

Seu funeral mostrou o quão fora de controle Berlim tinha se tornado. Os comunistas atacaram a procissão do funeral e tentaram roubar o caixão. Antes do funeral, eles picharam as palavras “Um Heil Hitler final para o babaca Horst Wessel!” na parede do cemitério Nikolai.

Afastando os trabalhadores do Partido Comunista

Mas o assassinato de um de seus mais poderosos propagandistas não enfraqueceu o movimento nazista em Berlim. Os comunistas, m particular, tornaram-se gradativamente as vítimas dos membros armados da SA. Em uma versão de sua canção, “Marchamos pela Grande Berlim,” eles cantavam “A frente vermelha, os quebramos em pedaços.” Em outra versão, as palavras foram alteradas para “batemos neles até virarem uma pasta de carne.”

O partido nazista continuou a atrair novos membros, e Wessel tornou-se um mártir. Nos “bares tempestade” da SA – que, de acordo com a polícia, cresceram de cinco para 107 entre 1928 e 1931 – os membros da SA em seus uniformes pardos cantavam o hino Wessel que supostamente dizia: “A bandeira ao alto! A guarda bem fechada! A SA marcha com passo silencioso e constante.”

Alguns meses após a morte de Wessel, parecia claro que Berlim estava à beira de um terremoto político. Em 10 de setembro de 1930, uma multidão de mais de 100.000 pessoas se espremeram na Sportpalast tentando entrar numa reunião promovida por Hitler.

Nas eleições do Reichstag realizadas quarto dias depois, o partido nazista tornou-se o Segundo partido mais poderoso do país, conseguindo 18,3% dos votos. Em Berlim, onde tornou-se o terceiro partido mais poderoso depois do KPD e do SPD, ele conseguiu 396.000 votos, ou mais de 10 vezes o que tinha conseguido dois anos antes.

Os nazistas tornaram-se o centro de poder político e formador de opinião. Mesmo os comunistas, que tinham a esperança de combater os nazistas com os punhos, soqueiras e revolveres (seu lema era: “Surrem os nazistas onde quer que eles sejam encontrados!”), estavam agora cortejando os seguidores de Hitler. Em um apelo pelo escritório distrital de Berlim-Brandenburgo em 1º. de novembro de 1931, o KPD elogiou os “trabalhadores nacional socialistas” e o “simpatizantes proletários do partido nazista,” chamando-os de “lutadores honestos contra o sistema da fome.”

De fato, os nazistas quebraram o monopólio do KPD como o único partido de oposição das classes trabalhadoras de Berlim. Em agosto de 1930, o jornal oficial do KPD “O Partido Trabalhador” (Der Parteiarbeiter) reclamou que os novos camaradas no KPD não estavam encontrando “o espírito de camaradagem que é necessário para ser capaz para colaborar com amigos.” Mas os nazistas não tinham esse problema.

Ao invés da rígida tarifa ideológica do KPD, as casas da SA ofereciam sopa quente e solidariedade. Em 1932, havia 15.000 membros da SA em Berlim. Durante as ferias do Natal, os membros do partido desempregados eram convidados para os lares dos que ainda estavam trabalhando no que Goebbels chamou de “socialismo de ação.”

O conceito gradualmente tomou conta do Wedding vermelho, onde o número de membros do partido cresceu de 18 para 250 entre 1928 e 1930. Num distrito onde a maioria votava nos comunistas, a Juventude Hitlerista organizava “noites de discussão pública” com assuntos como “A Suástica ou a Estrela Soviética.”

Trabalhadores que viviam na União Soviética eram convidados populares nas noites de agitação nazistas. Eles faziam relatos vivos das vidas miseráveis dos trabalhadores no reino de terror da polícia secreta. Uma das estrelas no circo de atrações nazista era Roland Freisler. Durante a Primeira Guerra Mundial, Freisler passou um tempo na Rússia como prisioneiro de guerra. Ele se tornaria mais tarde presidente do Tribunal Popular da era nazista, que movimentou uma ampla gama de “ofensas políticas” e tornou-se conhecido por suas freqüentes sentenças de morte.

Explosão de Popularidade

Em 1932, quando as fileiras de desempregados no Reich atingiram mais de 6 milhões, e para 600.000 somente em Berlim, o partido nazista alcançou seu grande salto tornando-se um dos partidos principais, atingindo 40.000 membros na sua organização regional. Em março de 1932, o partido mobilizou cerca de 80.000 pessoas em uma concentração no parque Lustgarten (no que hoje é conhecido como Museu Island), que se tornou um teste para futuros eventos. Em 4 de abril, cerca de 200.000 pessoas compareceram na praça entre o edifício Zeughaus (atualmente abrigando o Museu Histórico Germânico) e a Prefeitura de Berlim para recepcionar Hitler.


Em janeiro, as eleições estudantis em Berlim demonstraram que os universitários também estavam ansiosos para apoiar Hitler. Os nazistas conseguiram 3.794 dos 5.801 votos, ou quase dois terços. A onda Hitler alcançou mesmo as crianças, que se filiaram à Juventude Alemã, uma subdivisão da Juventude Hitlerista para a infância, e a Liga das Garotas Alemãs. Em 1932, uma avó foi confrontou sua neta de 10 anos insistindo: “Vovó, você deve votar em Hitler!”

Jovens que liam o Der Angriff, que começou a ter tiragem diária em novembro de 1930, eram formadores de opinião nos escritórios e fábricas. No início de novembro de 1932, a Organização de Célula Fabril Nacional Socialista, junto com a Oposição União Revolucionária do KPD, organizou uma greve contra cortes salariais na Autoridade de Transporte de Berlim. Os nazistas e comunistas organizaram um piquete e juntaram forças para impedir a entrada dos fura-greve.

A greve custou um grande número de votos na eleição de 6 de novembro de 1932 para o Reichstag, especialmente nos bairros de classe média. Mas Goebbels estava perseguindo um objetivo estratégico na cidade, onde o KPD era agora o partido mais forte. “Nossa posição fixa entre os trabalhadores,” escreveu ele no seu diário, não poderia ser abalada.

Goebbels prometeu o “direito ao trabalho” e “uma Alemanha socialista que dá pão para suas crianças uma vez mais.” Isto despertou as esperanças de 31,3% dos eleitores de Berlim que votaram no partido nazista na última eleição do Reichstag de março de 1933. Somente aqueles que prestaram atenção ao que Goebbels estava falando poderiam adivinhar onde a jornada iria parar sob a liderança nazista.

Tal foi o caso de uma transmissão de rádio de 1932, na qual ele propagou a “criação e aquisição de espaço,” que era o código de Hitler para a expansão para o leste. Um outro foi o discurso que ele deu em 5 de fevereiro de 1933 no túmulo de um líder da SA de Berlim que havia sido morto com um tiro. Neste caso, ele ofereceu aos ouvintes do rádio um gosto do que estava por vir: “Talvez nós alemães não compreendamos o que significa viver, mas somos extremamente bons em morrer.”

http://www.spiegel.de/international/germany/how-the-nazis-succeeded-in-taking-power-in-red-berlin-a-866793-2.html

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

[POL] A Trágica História das Crianças do Lebensborn

Com cabelos loiros e olhos azuis penetrantes, o bebê atraía o olhar das outras mães na Criméia. Mas a aparência de Folker Heinecke também provou ser uma maldição: ela lhe trouxe a atenção de Heinrich Himmler. Ele ficou encantado por Folker, que foi levado à Alemanha após ter sido capturado por oficiais da SS vasculhando terras ocupadas em busca de crianças loiras e de olhos azuis.

Tendo sido afastado de seu lar quando os tanques alemães atravessaram a Criméia em 1942, Folker foi primeiro levado por oficiais da SS para um instituto médico alemão, onde médicos mediram cada parte de seu corpo, procurando por qualquer “traço judaico” – por exemplo, circuncisão – antes de ser declarado apto.

Ele foi selecionado para ser membro do Lebensborn – A Fonte da Vida – o programa de procriação de Himmler para assegurar o futuro do Reich de Mil Anos ao fornecer gerações futuras “puras” para substituir aqueles perdidos pela guerra.
 
Folker Heinecke

 
“Lembro-me destas pessoas chegando a uma sala onde havia 30 de nós, crianças alinhadas como cachorrinhos, para serem escolhidos para um novo lar, diz Folker, agora com 67 anos. Eles deveriam ser meus pais. Eles voltaram no dia seguinte. Acho que minha ‘mãe’ queria uma menina, mas meu ‘pai’ queria um menino – para manter seus negócios no futuro. Encostei minha cabeça em sua capa e aquilo fez a diferença – eu seria seu filho.”

Agora, seis décadas depois, Folker Heinecke tornou-se o centro de outras milhares de crianças Lebensborn, cujas vidas foram destruídas pelo plano de Himmler. Com a abertura do maior arquivo do Holocausto do mundo no Centro de Rastreamento da Cruz Vermelha em Bad Arolsen, Alemanha, Folker finalmente descobriu a verdade. Os documentos mostram que Folker Heinecke nasceu em 17 de outubro de 1940 como “Aleksander Litau”, em Alnowa, Criméia, na União Soviética.

Com seus cabelos grisalhos, Folker viajou para a Criméia em 2008. Ele encontrou uma casa e uma estrada onde os habitantes locais lhe disseram que vivia uma família chamada Litau. Mas ele não encontrou os túmulos de seus pais. Mesmo assim, um grupo de camponesas idosas, com suas memórias vagas, lembrou o dia que os soldados chegaram e levaram embora uma “criança loira linda”. Mas após a guerra, Stalin enviou milhões de cidadãos russos para os gulags – muitos deles pelo “crime” de estar no caminho dos alemães. E não havia informação sobre os Litaus.

Eugenia Platônica

O Projeto Lebensborn não pode ser compreendido sem colocá-lo no contexto maior do movimento eugênico internacional que começou nos anos 1880. O movimento eugênico foi criado com o surgimento das disciplinas da psicologia e sociologia, isto é, a questão do por que os seres humanos se comportam de acordo com as características nacionais, raciais, religiosas, econômicas e de posição social. Ela também surgiu com a crença de que características físicas como dimensões anatômicas da cabeça, orgãos genitais e cor dos olhos e cabelos determinavam o valor da pessoa.

Concomitante a estes fatores estava a crença de que o povo de Atlantis, como descrito por Platão, era o protótipo do ser humano perfeito e que através da prática da eugenia seria possível trazer a humanidade de volta ao estado de perfeição. Os pensamentos de Platão sobre a eugenia e a procriação de reis filósofos e guardiães para a República podem ser encontrados em sua obra República, Livro IV.

Platão cita cinco critérios para crianças que devem se tornar reis filósofos e guardiães da República:

  1. A raça dos guardiões deve ser “pura”.

  1. Crianças serão colocadas num cercado e trocadas. As mães cuidarão dos bebês, mas não saberão quais são os seus.

  1. Crianças de pais inferiores e crianças defeituosas serão tirados de circulação em segredo já que isto será benéfico.

  1. Meninos e meninas guardiões serão educados como filósofos e guerreiros.

  1. Crianças serão levadas junto com os cavaleiros para presenciar batalhas e ter o gosto de sangue como cachorrinhos.

Na República, era uma questão de política eugênica que os pais gerassem crianças para o Estado por um determinado número de anos. As crianças não eram para realização pessoal ou família, mas eram para a saúde do corpo político. Após o limite de idade ser atingido, Platão defendia que o aborto fosse estimulado a qualquer mulher que se ficasse grávida aos quarenta anos ou tivesse um marido com mais de cinqüenta anos. Era esperado que os pais fizessem todo esforço para abortar os fetos ou descartar do recém-nascido de gravidezes de risco se o aborto não fosse bem sucedido.

O pai tinha controle total sobre a vida de sua criança. Patria potestas (“A Lei do Pai”) se refere ao poder dos pais gregos e romanos de decidir o destino de um feto mesmo antes de uma criança nascer assim como o da própria criança. Abortar um feto ou cometer infanticídio não era crime na Grécia antiga. Bebês defeituosos, deformados ou “nascidos de forma errada” eram levados para fora dos limites da cidade onde eram deixados morrer de fome. Estes bebês não eram considerados seres humanos porque um recém-nascido não era uma pessoa humana até seu pai declará-lo membro da família, o que não era feito até 5 a 7 dias após o nascimento para crianças saudáveis e até um mês para crianças com problemas.

A Eugenia nos Séculos XIX e XX

A Eugenia é o estudo do melhoramento hereditário da raça humana por procriação seletiva. O ponto alto do movimento eugênico aconteceu entre 1880 e 1950 nos EUA, Inglaterra e Alemanha.

O movimento eugênico teve apoio de muitas correntes filosóficas. Na Inglaterra, Sir Frances Galton tornou-se interessado nos padrões de genialidade nas famílias que ele considerava uma característica herdada. Os estudos de Galton influenciaram grandemente o interesse na avaliação psicológica e estudos da inteligência humana. Os conceitos de Charles Darwin de “seleção natural” e “sobrevivência do melhor adaptado” resultaram na conclusão lógica da perfeição do homo sapiens. Darwin teorizou, apesar de mais tarde ter repudiado, o que ele chamou de Síndrome da Adaptação Geral. Esta hipótese dizia que os seres humanos e a natureza evoluiriam em cada nível em direção de um estado mais perfeito.

Na América, o movimento eugênico foi liderado por duas pessoas: Margaret Sanger e o Dr. Charles Davenport. A primeira preocupação de Margaret Sanger com o controle da natalidade originou-se como uma consequência de seu trabalho em ambientes de pobreza, os quais levaram-na a acreditar que pessoas “geneticamente inferiores” não deveriam ter filhos e que centros de controle da natalidade deveriam ser instalados nas vizinhanças empobrecidas. O Dr. Charles Davenport, eugenicista e zoólogo na Universidade de Chicago, acreditava que era possível melhorar características morais “dentro” e “fora” da espécie humana. Consequentemente, ele era vigorosamente contra a imigração porque ele acreditava que os imigrantes eram geneticamente inferiores.

A Eugenia Nazista

Desnecessário dizer que Adolf Hitler, Heinrich Himmler e Josef Goebbels estavam muito interessados no campo emergente da eugenia.

Os nazistas criaram leis que refletiam seu objetivo de transformação da sociedade pela eliminação de elementos indesejáveis através de leis de regulamentação do casamento e preservação da raça. Estas leis tinham um duplo propósito: primeiro “purificar” a raça ariana e segundo erradicar a “inferior” raça dos judeus.

 O estereótipo de ariano na visão dos nazistas

 
A questão para os nazistas era “quem é judeu?” A regra do ¼ era extensivamente aplicada da seguinte forma: “alguém que é descendente de um ou dois avós que, racialmente, eram judeus completos, definido como aqueles que pertenceram à comunidade religiosa judaica.” Assim, em 1933 leis começaram a eliminar os direitos legais dos judeus e as Leis de Nuremberg de 1935 eliminaram não somente a cidadania judaica, mas também o acesso à Justiça e às propriedades. O termo Judenrein significa “livre de judeus” e em 1935 uma lei foi criada proibindo o casamento entre judeus e alemães étnicos. Esta lei deveria terminar a contaminação do sangue alemão.

Entretanto, as leis de casamento e raça também incluíam uma lei favorável aos casais alemães. A lei de impostos de 1933 estipulava que casais alemães poderiam conseguir um empréstimo que era pago a uma taxa de 25% para cada nova criança nascida. Entretanto, dificuldades do governo e outros fatores sociais levaram ao fracasso da iniciativa de se conseguir grandes famílias.

O Projeto Lebensborn

A Sociedade Fonte da Vida (Lebensborn Eingetragener Verein) foi criado por Himmler em 12 de dezembro de 1935, em resposta à taxa declinante de nascimentos na Alemanha. A proposta da SS era reforçar a doutrina nazista e os ideais anti-semitas. Em uma palestra de Himmler para a Wehrmacht em janeiro de 1937, ele citou o credo da SS:

Temos um inimigo ideológico... o Bolchevismo liderado pela Judiaria internacional e pela maçonaria... todos os Estados e povos que são dominados ou estão sob forte influência da Maçonaria e dos judeus eventualmente tornar-se-ão hostis à Alemanha e criarão um perigo para nós. O Bolchevismo é uma organização de subumanos, é a fundação absoluta do domínio judaico, é o exato oposto de tudo o que os povos arianos amam, saúdam e valorizam. É um estilo diabólico, pois apela aos instintos mais baixos e malvados da humanidade e transforma-os em religião. Seu objetivo é a destruição do homem branco.

Somos mais valorosos que os outros que podem ser agora e sempre serão mais numerosos. Somos mais valorosos porque nosso sangue nos permite ser mais inventivos que os outros, liderar nosso povo melhor do que os outros. Pois temos os melhores soldados, os melhores cidadãos, uma cultura mais nobre e um caráter melhor.[1]


 
Himmler indicou George Ebner, M.D., como Oberführer SS do Projeto Lebensborn. Sua posição oficial na hierarquia nazista era chefe do Departamento de Saúde do Escritório de Raça e Reassentamento. O Projeto Lebensborn era um das muitas divisões deste órgão. Ebner foi indicado porque ele era considerado um especialista em assuntos de “higiene racial” e um palestrante sobre “Problemas da Seleção Racial” no recrutamento de membros da SS.

Como Oberführer do projeto Lebensborn, Ebner era o responsável pela Casa Steinhöring Lebensborn, que foi a primeira instalação do projeto. Neste local, ele presenciou o nascimento de 3.000 crianças e realizou experiências reprodutivas em mulheres. Sua outra responsabilidade era determinar quais crianças de países ocupados satisfaziam os critérios para a “Germanização”. Ebner foi capturado no fim da guerra e julgado por crimes contra a humanidade, crimes de guerra e associação com organização criminosa em Nuremberg. Ele foi absolvido de crimes contra a humanidade e crimes de guerra, mas considerado culpado por pertencer a organização criminosa. Ele foi libertado após algum tempo e morreu em 1974, ainda acreditando que o Lebensborn era a salvação para a raça alemã.

O Projeto Lebensborn tinha dois objetivos principais. O primeiro era a criação de crianças alemãs “racialmente puras”, que deveriam ser o próximo passo para o avanço da raça ariana. Para atingir esse objetivo, jovens mulheres, que eram “racialmente puras”, foram selecionadas para serem engravidadas por oficiais da SS e dar á luz a uma criança em segredo. Estas mulheres tinham que passar por vários dias de testes físicos e psicológicos para serem aceitas como mães Lebensborn.
 
Escola de "noivas" para o Lebensborn
 
As crianças geradas por estas uniões eram dadas à SS, que cuidaria de sua adoção e educação. Entretanto, Himmler chegou à conclusão que este processo era muito demorado para fornecer o número de arianos necessários para construir o Terceiro Reich. Para resolver isto, ele instituiu uma política de sequestro de crianças que tinham características nórdicas (teutônicas) nos países ocupados pelos nazistas.
 

 Uma maternidade Lebensborn

 
A aceitação era definida com base na medida de 62 partes do corpo. Os testes incluíam: cor dos olhos e cabelos, formato do nariz e lábios, dedões dos pés e unhas, condições dos órgãos genitais e testes neurológicos. A desqualificação automática incluía: imundice persistente, incontinência urinária, flatulência, onicofagia (roeção de unhas) e masturbação. Os pais das crianças selecionados para “germanização” eram avisados que seus filhos seriam enviados à Alemanha para tratamento de saúde.

O segundo objetivo do projeto Lebensborn era constituído de três elementos:

  1. Despovoar os países ocupados, de modo que eles fossem mais facilmente pacificados.

  1. Despovoar as próximas gerações para minimizar a resistência à ocupação.

  1. Despovoar para satisfazer as necessidades laborais e de terra dos nazistas.

O Projeto Lebensborn operava orfanatos em todos os países ocupados e estava à cargo da “reeducação” das crianças. O Ministério do Interior fornecia a posição legal à Sociedade Lebensborn, conferindo a ela registro civil e guarda permitindo à organização a emissão de certificados de nascimento oficiais com locais e datas de nascimento e nomes falsos.

O esforço de Himmler para garantir uma Alemanha racialmente pura, o fato do Lebensborn ser um dos programas raciais de Himmler e o jornalismo sensacionalista sobre o assunto nos primeiros anos após a guerra levou a opiniões equivocadas sobre o programa. O principal erro foi que o programa envolvia procriação coerciva. As primeiras estórias de testemunhas que o Lebensborn era um programa coercivo podem ser encontradas na revista alemã Revue, que publicou uma série de reportagens sobre o assunto nos anos 1950. O filme alemão Der Lebensborn de 1961 mostrou que garotas eram obrigadas a se relacionar nos campos nazistas. 

Entretanto, o programa objetivava o crescimento da população ariana, através do encorajamento da relação entre soldados alemães e mulheres nórdicas nos territórios ocupados, e o acesso ao Lebensborn estava restrito às políticas eugênicas nórdicas e raciais do nazismo, que podem ser entendidas como procriação seletiva supervisionada. Registros recentemente descobertos e testemunhos em andamento das crianças do Lebensborn – e alguns de seus pais – mostram que alguns membros da SS geraram crianças no programa Lebensborn de Himmler. Isto foi, de fato, comentado dentro da Alemanha na época.

 Batismo de uma criança Lebensborn

 
Com a derrota dos nazistas, o projeto, criado em segredo, permaneceu desconhecido da maioria dos alemães até recentemente. Para as mulheres alemãs que tornaram-se mães através do Lebensborn, acreditando em seu ato patriótico, deve ter sido uma experiência agonizante ter que conciliar uma “causa nobre” para a qual foram recrutadas com a derrota e a conseqüente humilhação da Alemanha. Aquelas mulheres foram verdadeiras crentes, assim como os oficiais da SS que as engravidaram. Após a guerra, muitos dos oficiais estavam mortos e aqueles que estavam vivos negaram seu passado nazista.

O Lebensborn Polonês

Começando em 1939, crianças definidas como “racialmente boas” foram seqüestradas nos países ocupados do leste, principalmente a Polônia. Estas crianças eram levadas para os centros Lebensborn na Alemanha para serem “germanizadas”. As crianças “germanizadas” eram adotadas por famílias com membros na SS e outros casais simpatizantes do nazismo.

A Polônia foi dividida em três partes. A primeira parte, a seção oriental, foi para a União Soviética, que era o aliado da Alemanha no começo da guerra. A segunda parte, a Polônia Central, foi chamada de “governo central”, que era administrada como uma fonte de recursos humanos para as necessidades alemãs de mão de obra. A terceira parte, as terras agriculturáveis do norte, foram chamadas de Warthegau e incorporadas ao Terceiro Reich.            

Esta área foi “limpa” de judeus e poloneses, a língua nativa proibida e os nomes das ruas convertidos para o alemão. No verão de 1941, a área foi ocupada por 200.000 alemães étnicos. Todas as crianças nesta área com “aparência nórdica” encontradas em orfanatos ou casas de adoção foram supostas serem alemãs e evacuadas para as instituições educacionais Lebensborn na Alemanha.

Em um documento secreto de 1939, Himmler escreveu: “A primeira condição para o gerenciamento de crianças racialmente valiosas é o completo rompimento com todas as ligações com seus parentes poloneses. As crianças receberão nomes alemães de origem teutônica. Suas certidões de nascimento e hereditariedade serão preenchidas por um departamento especial.”

Em outro documento secreto de maio de 1940, Himmler escreveu: “Temos fé acima de tudo no nosso sangue, que tem corrido em uma nacionalidade estrangeira em virtude das vicissitudes da história alemã. Estamos convencidos que nossa própria filosofia e ideais reverberarão no espírito destas crianças que racialmente nos pertencem.”[2]


O homem escolhido para organizar este rapto em massa de crianças polonesas foi o tenente-general Ulrich Greifelt, que era chefe do escritório central da SS na Polônia. O general Greifelt escreveu em 1941: “Cuidado especial deve ser tomado para garantir que o termo ‘germanização’ de crianças polonesas não chegue ao conhecimento público. As crianças polonesas deveriam ser descritas como órfãos alemães dos territórios orientais reconquistados.” No inverno de 1941, por ordem secreta assinada pelo general Greifelt, o processo de rapto de crianças polonesas para o Projeto Lebensborn começou.

 

Eventualmente, todas as crianças polonesas com idades entre 2 e 12 anos foram examinadas e separadas em duas categoriais: “com valor racial” ou “sem valor racial”. As crianças “com valor racial” foram enviadas à Alemanha para serem “germanizadas”. Dentro deste grupo, crianças com idades entre 6 e 12 anos eram disponibilizadas a casais sem filhos após a adaptação nas instalações do Lebensborn.

O Lebensborn Norueguês

Em 1942, como represália ao assassinato de Heydrich (governador das SS) em Praga, uma unidade das SS exterminou toda a população masculina numa pequena localidade chamada Lídice. Durante esta operação, alguns funcionários das SS realizaram a seleção de crianças. De todas as crianças, 91 foram consideradas passíveis de serem germanizadas e enviadas para a Alemanha. As restantes foram enviadas para campos de concentração especialmente feitos para crianças (como Dzierzazna e Litzmannstadt).

Na Noruega, o governo exilou-se e uma administração fantoche sob o comando de Vidkun Quisling assumiu o poder. Este governo apoiou o projeto Lebensborn e clamou às mulheres norueguesas para se tornarem grávidas em seus lares. Está documentado que pelo menos 8.000 crianças foram geradas pelos nazistas na Noruega em virtude do Lebensborn – na Alemanha, por exemplo, foram entre 3.500 e 4.000 crianças.

As crianças do Lebensborn norueguês tornaram-se objeto de tremendo ódio, discriminação e maus tratos após a guerra. Elas foram classificadas pelo governo como “ratos” e “filhos da puta” nazistas. Muitos foram enviados para manicômios e prisões juvenis. O governo inclusive tentou enviar 8.000 crianças para a Austrália, apenas para se livrar delas. As taxas de suicídios entre as crianças do Lebensborn eram 20 vezes mais altas do que a da população normal, e o alcoolismo, uso de drogas e criminalidade era grande. Eles foram proibidas de educação pública e faziam parte das classes mais baixas da sociedade. Agora, velhos, alguns acabaram como mendigos.

Pior do que as crianças foi o tratamento dispensado às mães delas. Após a guerra, muitas foram arrastadas à rua, despidas, surradas e suas cabeças raspadas. Isto não era específico de um momento, podia acontecer a qualquer hora. Poderia mesmo acontecer durante uma caminhada na rua e ser reconhecida como uma mãe Lebensborn. Elas foram proibidas ajuda governamental e nenhum homem “respeitável” queria envolvimento com elas. A maioria não conseguia sequer encontrar um trabalho decente e viveram como prostitutas e na pobreza.

Muitas delas, chamadas “prostitutas alemãs” foram enviadas a campos de concentração secretos, onde se tornaram praticamente escravas. Testemunhas e documentos dizem que elas foram obrigadas a usar LSD, mescalina e outras substâncias durante experimentos conduzidos pelo exército norueguês. A ironia dsto tudo é que, dado o que aconteceu com os judeus, está além da compreensão.

Talvez o exemplo mais conhecido de descendente de mãe norueguesa e pai alemão seja Anni-frid Lyngstad, a cantora morena do grupo pop Abba. Ela e sua família fugiram da perseguição do pós-guerra mudando-se para a Suécia, onde sua estória não era conhecida. Outros, menos afortunados, foram surrados e estuprados.

Harriet Von Nickel, nascida na Noruega em março de 1942, sofreu anos de abuso após sai mãe concordar em ter uma criança com um oficial alemão como parte do programa. Após ter sido adotada no final da guerra, ela foi acorrentada como um cachorro num quintal. Quando completou seis anos de idade, ela foi jogada no rio por um homem de sua vila, que disse que ele queria ver se a bruxa afundava ou flutuava. Quanto ela completou nove anos, ela foi marcada com uma suástica na testa feita com um prego.

“A estigmatização e a vergonha eram tão grandes que levou 50 anos para apresentar-se,” disse Gerd Fleisher, cujo pai era oficial alemão. O pai de Gerd fugiu para a Alemanha após a guerra e ele teve que enfrentar anos de violência quando sua mãe casou-se com um membro da resistência norueguesa. Seu novo “pai” detestava os alemães e descarregou seu ódio em Gerd.

Documentos também mostram que as crianças Lebensborn foram estupradas, com a anuência de funcionários e outros internos dos hospitais psiquiátricos pelo crime de ter pais alemães. Padres recomendavam que as crianças fossem esterilizadas para preveni-las que crescessem como nazistas e travassem guerras nos anos seguintes.       

Entre os milhares de episódios tenebrosos, temos o de Gerd Andersen, também da Noruega, que foi sexualmente abusado em frente da turma inteira, enquanto seu amigo, Karl Zinken, foi colocado numa escola para crianças retardadas, onde foi estuprado.

Em 2008, um grupo de Lebensborn lançou uma ação legal no Tribunal Europeu de Direitos Humanos, exigindo uma compensação entre £50.000 e £200.000. O pedido foi indeferido; foi oferecida a eles uma indenização de £2.000.

Fontes