segunda-feira, 29 de julho de 2013

[SGM] Força Aérea Soviética x Luftwaffe

A. D. Harvey

History Today, Vol. 52 nº 1/2002

 
A Rússia soviética, tendo investido profusamente em aviação militar, tornou-se a mais poderosa força aérea do mundo em meados dos anos 1930, tanto em números quanto em excelência técnica.* O Tupolev TB-3, colocado em voo em 1930, foi o primeiro bombardeiro monoplano quadrimotor e o único na época a ser produzido em série; o Polikarpov I-16 foi o primeiro caça monoplano da história a ter trem de pouso retrátil.

A indústria aeronáutica soviética tinha suas fraquezas, notavelmente no desenvolvimento de motores (que baseava-se principalmente na cópia e melhoramento de projetos alemães, franceses e americanos) e nos padrões de fabricação: em 1941, descobriu-se que a pintura final no caça LaGG-3, um dos caças da nova geração que iria substituir o I-16, reduzia a velocidade em pelo menos 10% e a razão de subida em 50%**. Mais importante, contudo, foram as noções erradas de operação e organização. Uma coisa é ter uma grande força aérea, outra é saber como usá-la em guerra. O serviço aéreo soviético (Voenno-Vozdushniye Sily ou VVS), não menos que o Exército, sofreu com o expurgo de Stalin de seu alto comando militar a partir de 1937. Jan Alknis, Chefe do Staff Geral do VVS, um defensor do uso de bombardeiros estratégicos de longo alcance, estava entre os primeiros a serem executados.

Apesar de Alknis ter legado aos seus sucessores o TB-7 (mais tarde redesenhado como Pe-8), um bombardeiro quadrimotor muito superior em desempenho ao TB-3, Stalin não mostrou nenhum interesse em prosseguir em seu desenvolvimento, e os dois homens responsáveis por seu projeto, V.M. Petlyakov e A.N. Tupolev, foram presos em um quartel do NKVD (polícia secreta) até 1940 e 1941, respectivamente. Após o Pacto nazi-soviético de agosto de 1939, Stalin convenceu-se de que não haveria probabilidade para os próximos anos da Rússia entrar em guerra contra a Alemanha, e a Alemanha era o único inimigo poderoso o suficiente para justificar investimento em uma frota de bombardeiros de longo alcance, de modo que simplesmente não havia nenhuma exigência para um bombardeiro moderno quadrimotor.        

O Pacto nazi-soviético foi seguido, entre outras coisas, do ataque soviético contra a Finlândia em novembro de 1939, o qual, tanto no VVS quanto no Exército Vermelho como um todo, mostrou as limitações dos comandantes que foram promovidos para substituir aqueles que Stalin havia eliminado. Missões aéreas sobre Helsinki em 30 de novembro de 1939, o primeiro dia de guerra, matou aproximadamente mil civis, mas não tinha nenhum objetivo estratégico além de anunciar o início das hostilidades; em seguida, a capital finlandesa foi geralmente deixada em paz. Encontros entre o VVS e a muito menor Força Aérea finlandesa foram relativamente raros, em parte por causa das terríveis condições climáticas. Mas a lição que bombardeiros penetrando em espaço aéreo exigiam uma escolta de caças (que os japoneses, por exemplo, aprenderam na China) não foi assimilada pelos russos, mesmo após um piloto finlandês, Jorma Sarvanto, sozinho ter abatido seis dos sete aviões em uma formação de bombardeiros bimotores DB-3F em 6 de janeiro de 1940. De fato, o VVS parece não ter aprendido nada de toda a guerra contra a Finlândia.

Quando Hitler atacou a União Soviética em 22 de junho de 1941, o VVS não estava somente despreparado para ação, ele estava em uma situação que não podia ser colocado de prontidão com antecipação suficiente. Quarenta e três por cento dos oficiais estavam servindo há menos de seis meses; 91% dos comandantes de formação estavam no comando há menos de seis meses. Menos de um quarto dos caças do VVS eram os modernos MiG-3 e LaGG-3; mais de um quarto dos restantes eram biplanos, mesmo mais velhos do que os obsoletos I-16, que eram os tipos de avião mais numerosos em uso. As táticas de caças eram antiquadas e ineficientes. No primeiro dia do assalto nazista, o VVS perdeu 336 aeronaves em combate aéreo contra somente 59 perdas na Luftwaffe.

Mais séria ainda foi a perda, em algumas poucas horas, de 800 aeronaves destruídas em solo durante as missões de bombardeio da Luftwaffe contra os aeródromos soviéticos. Este foi o primeiro exemplo de uma força aérea alcançando uma vitória significativa sobre outra por meio de um ataque preventivo contra suas bases. Quando a Luftwaffe tentou isto na Polônia em setembro de 1939 e na França em maio de 1940, os resultados foram desapontadores; mais tarde tais ataques foram utilizados pelos japoneses contra as forças britânicas e americanas no Extremo Oriente. Os ataques contra as bases aéreas soviéticas, a superioridade dos pilotos da Luftwaffe em combate e a perda de centenas de aviões danificados, porém recuperáveis, que foram abandonados nos aeródromos durante a fuga com o avanço alemão juntos significaram que, pelo final da primeira semana da invasão alemã, o VVS estava próximo da morte como organização militar.

Quase, mas não totalmente. Pilotos deram seus próprios relatos. Imperfeições técnicas poderiam ser compensadas por fanatismo ou coragem cega. Algumas vezes, aviões soviéticos derrubaram seus oponentes golpeando-os. Um piloto, V.V. Talalikhin, destruiu cinco aviões por este método entre 7 de agosto e 27 de outubro de 1941. Os inadequados MiG-3 e LaGG-3, e logo o esperado Yak-1, começaram a sair em grandes números das fábricas. Um pouco depois, os caças britânicos e americanos fornecidos no programa de empréstimo Lend-Lease alcançaram as linhas de frente. Os russos tendiam a ser um pouco mordazes sobre o agora fora de moda Hawker Hurricane (a principal contribuição britânica), mas Boris Safonov, o principal ás da Marinha Soviética, alcançou pelo menos metade de suas trinta vitórias aéreas com o americano Curtiss P-40E. Mais tarde, o Bell P-39, considerado pelo Exército Americano quase inútil em combate aéreo, chegou a ser avaliado pelos pilotos russos como um dos melhores caças disponíveis para eles, e ele foi o avião com o qual quatro dos sete maiores ases soviéticos conseguiram a maior parte de suas vitórias.  

Mas os suprimentos do Lend-Lease representavam somente um oitavo das aeronaves fornecidas ao VVS no total. O LaGG-3 foi modificado substituindo-se seu motor (sendo designado agora como La-5), enquanto que o Yak-3, introduzido em 1943, foi o melhor caça leve da Segunda Guerra Mundial. A superioridade da Luftwaffe sobre o VVS em relação à qualidade técnica de seus equipamentos durou apenas uma questão de meses.

Analogamente, a vantagem inicial que os pilotos da Luftwaffe tinham em suas experiências de combate tornou-se cada vez menor. Tomando o período 1941-45 como um todo, os alemães não foram significativamente mais habilidosos como pilotos do que os russos. Em todas as forças aéreas durante a Segunda Guerra Mundial – na RAF e na Força Aérea do Exército Americano, assim como na Luftwaffe e no VVS – novatos eram jogados em combate antes que tivessem tempo de aprimorar suas habilidades de voo. De fato, o treinamento das tripulações e pilotos da Luftwaffe era mais rústico e inadequado do que no VVS.

Uma impressão errada é estabelecida pelas estatísticas extraordinárias de um punhado de pilotos da Luftwaffe no front oriental. Durante seis dias em agosto de 1943, Erich Hartmann, que eventualmente acumulou um total de 352 vitórias aéreas, derrubou 24 aviões soviéticos em 20 missões; Günter Scheel abateu 71 aeronaves soviéticas em 70 missões; e Wilhelm Batz destruiu 222 aviões soviéticos no espaço de 12 meses. Estes números, contudo, foram parcialmente uma função do número excessivo de aviões soviéticos encontrados e dos longos períodos de missões múltiplas em dias sucessivos. Do primeiro ao último dia, a força aérea soviética tinha mais aviões que a Luftwaffe, e isto foi um fator para estabelecer as estatísticas de pilotos rivais.         

Aliás, alguns pilotos de caça soviéticos eram muito bons. O ás da Luftwaffe Gerd Barkhorn, que acabou sendo conhecido por ter abatido 301 aviões soviéticos, uma vez teve um combate duro de 41 minutos com um LaGG-3. “Suor estava escorrendo pelo meu corpo que parecia que eu tinha ficado debaixo de um chuveiro,” ele lembrou: apesar de possuir um avião mais rápido, ele simplesmente foi incapaz de dobrar o russo. Seis ases soviéticos receberam crédito por derrubar 50 ou mais aviões alemães, mas eles poderiam ter tido uma contagem maior se houvessem mais aeronaves alemãs no caminho. Por exemplo, Aleksandr Konstantinovich Gorovets, voou 73 missões entre junho de 1942 e 5 de julho de 1943, encontrando aviões alemães dez vezes, derrubando dois e compartilhando a destruição de outros seis – um recorde perfeitamente respeitável. Em 6 de julho de 1943, em sua septuagésima quarta missão, ele separou-se de seus camaradas no setor  , foi em direção de uma formação de 20 bombardeiros de mergulho Junkers Ju-87 alemães (Stuka) e derrubou nove em dez minutos. Geralmente, grandes formações alemãs eram difíceis de se encontrar.

 
 
O caça, é claro, era essencialmente uma arma defensiva de curto alcance. Inicialmente, ele estava presente somente no sul, contra o aliado romeno da Alemanha, que o VVS era capaz de combater em território inimigo. A partir de 23 de junho de 1941 em diante, pequenas formações dos bombardeiros bimotores Ilyushin IL-4 soviéticos atacaram Bucareste, os campos de petróleo de Ploesti e o porto de Constanta. Os bombardeiros soviéticos não tinham escolta de caças já que eles estavam operando além do raio de ação de 250 milhas com o qual o Polikarpov I-16 estava limitado devido à sua capacidade de combustível, e eles tiveram pesadas perdas contra os caças alemães e romenos deslocados para interceptá-los. (Entre os caçlas romenos incidentalmente estavam Hawker Hurricanes comprados da Grã-Bretanha pouco antes da guerra eclodir.) Os russos decidiram reviver uma técnica testada em meados dos anos 1930 e em 1º. De agosto de 1941, Constanta foi bombardeada por quatro caças Polikarpov I-16, cada um carregando duas bombas de 550 lb, que foram transportadas sob as asas de dois velhos e lentos TB-3 a partir de Odessa. Em 10 de agosto e novamente três dias depois, o mesmo método foi usado para atacar o viaduto rodoviário em Czernavoda, que foi levemente danificado.

Enquanto isso, os russos conduziram suas primeiras missões contra Berlim. Em poucas horas de 8 de agosto de 1941, pelo menos três IL-4 da Frota Báltica do Estandarte Vermelho, voando a partir das bases na ilha Sarema na boca do Golfo de Riga, penetraram no centro da capital alemã, danificando 20 vagões de passageiros na Estação Ferroviária de Stettin, destruindo uma fábrica de margarina e matando seis civis. Em noites subsequentes, os caças navais receberam a companhia de bombardeiros quadrimotores Pe-8, a maioria dos quais falhou em achar seus alvos. Os alemães rapidamente identificaram as bases que estavam sendo usadas para bombardear Berlim: estas foram atacadas, mas de qualquer forma elas haviam sido abandonadas por causa do avanço das tropas terrestres alemãs.

Um ano depois, quando os russos decidiram retomar as missões contra Berlim, os voos foram realizados a partir de bases a sudeste, a quase 2.000 km de seus alvos: em sua maioria, foram usados IL-4, tornando estas missões as mais longas de toda a guerra para bombardeiros bimotores; elas também envolviam os voos mais longos jamais feitos com carga total sobre território controlado pelo inimigo. “A cidade merece tudo o que está para acontecer,” escreveu um piloto soviético que participou da missão sobre Berlim em 27 de agosto de 1942: “Amanhã, o mundo inteiro saberá sobre esta missão. Milhões de pessoas sofrendo tormentos indescritíveis nas mãos dos açougueiros nazistas respirarão com alívio. Mães que perderam seus filhos nos saudarão como vingadores e combatentes de uma causa justa.”

Na missão, apenas 20 casas em Berlim sofreram vários graus de destruição; ninguém ficou ferido. Três noites depois, os russos planejaram destruir uma fábrica de lingüiça. Nesta vitória simbólica, dois civis morreram. Uma missão sobre Budapeste em 4 de setembro foi levemente mais eficiente: oito civis mortos, 21 feridos.

As autoridades soviéticas estavam cientes, contudo, do impacto de propaganda de missões muito mais pesadas conduzidas pela RAF a partir do ocidente. Prisioneiros de guerra alemães feitos em Stalingrado foram interrogados em relação ao efeito no moral dos civis da ofensiva da RAF contra as cidades alemãs. Em abril de 1943, os soviéticos começaram um programa de ataques em alvos na Prússia Oriental, usando tanto o Il-4 quanto o Pe-8; na ocasião alguns destes últimos foram carregados com bombas de cinco toneladas, a maior arma usada na guerra até esta época, apesar da RAF estar desenvolvendo uma bomba de 12.000 lb que entraria em serviço em setembro do mesmo ano. Em 20 de abril de 1943, o The Times em Londres anunciou:

...a Força Aérea Soviética conduziu uma missão maciça contra Tilsit. Objetivos militares e industriais na cidade foram submetidos a um bombardeio devastador, que causou muitos incêndios. Mais tarde, os incêndios espalharam-se formando uma vasta conflagração, o brilho da qual foi observada a quase 200 km de distância.

Não foi tão espetacular como descrito, apesar de 104 pessoas terem morrido aquela noite em Tilsit, 113 casas destruídas e 158 severamente danificadas. Dada a grande eficiência das precauções alemãs contra bombardeios aéreos, isto foi um ataque mais eficiente do que a maioria das missões de destruição conduzidas contra centros civis pelos italianos (112 mortos em Tel Aviv em 9 de setembro de 1940) e japoneses (mais de mil fatalidades em Singapura em 8 de dezembro de 1941), apesar de bem longe do que os britânicos, americanos e dos próprios alemães conseguiram.

Grandemente encorajadas, as autoridades soviéticas anunciaram que eles tinham empregado não menos que 200 bombardeiros em um ataque contra Insterburg (hoje  Chernyakovsk , distrito de Kalaningrado). “Ao final da missão, a cidade inteira estava em chamas,” reportou o The Times. Em Insterburg, os próprios cidadãos sequer sabiam que um ataque aéreo havia acontecido. (Os russos acobertaram isso queimando boa parte da cidade após ela ter sido ocupada em janeiro de 1945.) O Escritório de Informação Soviético nesta época anunciou que a produção em massa de bombardeiros quadrimotores havia começado alguns meses antes em “uma série de novas plantas industriais de aviões nos Montes Urais”. De fato, Tilsit e Insterburg eram os pontos altos da “ofensiva estratégica de bombardeiros” soviética. Todas as aeronaves envolvidas nas missões na Prússia Oriental foram logo realocadas para missões contra alvos táticos próximos da linha de frente. O último dos ataques espetaculares de longo alcance do VVS foi um ataque malsucedido contra o encouraçado Tirpitz em Tromso Fjord, no norte da Noruega em fevereiro de 1944.

No final, menos que uma centena de Pe-8 quadrimotores foram construídos – algumas fontes afirmam 79. Em comparação, 36.163 aviões monomotores Ilyushin Il-2 para ataque terrestre foram produzidos – mais do que qualquer outro tipo de aeronave na história – tantos quanto o Hurricane e o Spitfire juntos.  Foi a ênfase soviética no Il-2 que pareceu justificar a declaração de oficiais da RAF visitantes que o VVS “é essencialmente uma arma tática de curto alcance que foi desenvolvida com um único objetivo e visão – o apoio ao Exército Vermelho.” Entretanto, é questionável se o Il-2 foi algo mais do que uma arma prática ganhadora da guerra do que o Pe-8.

Lento e desajeitado, o Il-2 em sua forma original de um assento era vulnerável a um ataque pela cauda. A montagem de uma metralhadora de 12,7 mm operada por um atirador preso em uma cinta de lona num cockpit traseiro improvisado ajudou a reduzir as perdas consideravelmente: entre aqueles que foram derrubados por um atirador atento do Il-2 foi Otto Kittel, um dos quatro ases alemães com 267 vitórias na época de sua morte no Dia de São Valentim (14 de fevereiro) em 1945. A principal característica do Il-2 era que, enquanto a metade traseira da fuselagem era principalmente de madeira, a metade dianteira consistia de uma espécie de banheira de aço niquelado de uma polegada de espessura impenetrável à muniçaõ das armas automáticas de infantaria abaixo. Mesmo assim, durante 1943, os Il-2 foram derrubados a uma taxa de 1 para 26: um total de 12.400 foram perdidos em ação contra o inimigo.

A carga de bombas de 1.323 lb do Il-2 não era muito mais que a metade do que poderia ser transportado por um muito mais rápido bombardeiro de mergulho Petlyakov Pe-2 ou pelo americano Douglas A-20 fornecido no Lend-Lease. O armamento normal eram duas metralhadoras de 7.62 mm e dois canhões de 23 mm capazes de penetrar uma blindagem de 25 mm a uma distância de 400 m. Desde que os tanques alemães somente tinham tal blindagem fina em superfícies horizontais e o Il-2, não tendo freios de mergulho, somente poderia atacar em mergulhos rasos, de modo que este equipamento era somente eficiente contra veículos de transporte alemães. Em julho de 1943, uma variação do Il-2 com dois canhões Nudelman de 37 mm fizeram sua estreia na Batalha de Kursk e as autoridades soviéticas divulgaram resultados extraordinários – 270 tanques da 3ª. Divisão Panzer foram destruídos em duas horas, e assim por diante. Na verdade, a 3ª. Divisão Panzer só perdeu 9 tanques na batalha inteira. O Il-2 armado com o Nudelman foi eliminado da produção logo em seguida: o canhão não era confiável e seu volume e peso – e especialmente seu recuo quando disparado – tornava o avião quase incontrolável. No final da guerra, o ás soviético do Il-2 era Aleksandr Nikolayevich Yefimov, que recebeu crédito por ter destruído 126 tanques, 85 aviões em solo (mais dois em combate aéreo), 30 locomotivas ferroviárias, 193 canhões de artilharia e 43 canhões antiaéreos. Outros sete pilotos soviéticos receberam crédito por ter destruído entre 63 e 70 tanques cada um. (Para variar, os alemães se saíram melhor, Hans Ulrich Rudel afirmou ter abatido 519 tanques, 800 veículos e o navio de guerra Marat ao longo de incríveis 2.530 missões de combate.) É claro, contudo, a partir da experiência do front ocidental, que as estatísticas fornecidas pelos pilotos contra tanques eram grandemente exageradas. Em 7 de agosto de 1944, por exemplo, o Comando Nº 121 da RAF, equipado com Hawker Typhoon armados com foguetes, afirmou ter destruído mais de 80 tanques alemães da 1ª. Divisão Panzer SS “Leibstandarte Adolf Hitler” próximo a Mortain. Nas semanas seguintes, duas equipes de especialistas da Pesquisa Operacional, trabalhando por oito dias, foram capazes de encontrar somente 32 tanques alemães destruídos pela ação dos Aliados, dos quais somente sete mostraram algum sinal de terem sido atingidos por foguetes.

À medida que avançava, recuperando o território perdido em 1941 e 1942, e passando por posições que foram bombardeadas e destruídas pelos Il-2, o Exército Vermelho foi capaz de ver com seus próprios olhos como poucos tanques alemães foram destruídos por ataques aéreos, e é difícil acreditar que o enorme programa de construção de I1-2s e treinar suas equipes foi o resultado de uma completa incompreensão quanto à sua eficácia.

O efeito moral nas tropas terrestres de serem atingidas do ar foi notado desde 1917. “É maravilhoso que um pequeno avião pode fazer para assustar as tropas que não estão cobertas,” lembrou um piloto de caça da Primeira Guerra Mundial. “A velocidade da máquina, o barulho que ela faz quando se aproxima, o estrondo enquanto passa pelas cabeças – combinam para fazer os homens a correr e se jogar no chão antes que eles sejam atingidos.”

Analogamente, o impulso psicológico que veio do conhecimento de que os aviões passando em voo rasante sobre as cabeças dos aliados e de vê-los atacando posições inimigas, foi incomensurável. O avanço implacável do Exército Vermelho primeiro rumo à fronteira alemã e em seguida para Berlim envolveu perdas horríveis. Uma das coisas que mantiveram as tropas russas em avanço foi o senso de que elas estavam sendo apoiadas pelos recursos técnicos e industriais da União Soviética. Enquanto elas se agachavam sob o fogo cerrado de posições alemãs bem guardadas, elas eram mantidas firmes pelo conhecimento de que praticamente toda vez que olhavam para o céu viam um avião de seu país sobre suas cabeças. No final, batalhas são ganhas por homens no solo e os generais de Stalin sem dúvida apreciavam que o Il-2 fez mais para fortalecer o espírito de luta da infantaria russa e das unidades blindadas do que fez para enfraquecer a capacidade de defesa dos alemães.

Notas:

* Isso contrasta com o relato oficial da Segunda Guerra Mundial, que afirma que Stalin fez o Pacto com Hitler em 1939 porque precisava de tempo para preparar-se para uma possível agressão alemã. De fato, as forças armadas soviéticas eram as maiores do mundo e mesmo sofrendo as terríveis perdas no início da Operação Barbarossa, elas foram capazes de virar o jogo em menos de dois anos.

** Razão de subida é a componente vertical do vetor velocidade do avião. Um avião voando com uma razão de subida de 500 pés por minuto, em 10 minutos aumentará sua altitude em 5.000 pés.

domingo, 28 de julho de 2013

[PGM] 1ª Guerra Mundial: Atentado contra arquiduque deu início ao conflito

Túlio Vilela

 
Se o atentado terrorista nas torres gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, foi o acontecimento que marcou o início do século 21, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi o que marcou o início do século 20.

Nos primeiros anos do século passado, a situação mundial aparentava ser de relativa tranquilidade. Muitas pessoas, na Europa, principalmente, acreditavam que as guerras entre as potências eram coisa do passado, que estava tendo início uma era de paz e progresso permanente. Mas a dura realidade dos fatos mostrou o quanto a ideia de um mundo em paz era ilusória.

Hoje, a Primeira Guerra Mundial pode nos parecer um fato muito distante e não despertar tanto a curiosidade do público quanto a Segunda Guerra Mundial. No entanto, a Primeira Guerra e suas consequências estão entre as principais causas da Segunda Guerra. Vale lembrar que entre os que lutaram na Primeira Guerra estava um cabo do exército alemão que anos mais tarde se tornaria mundialmente conhecido: um certo Adolf Hitler.

Qual foi a causa da Primeira Guerra Mundial?

O fato que deflagrou a Primeira Guerra foi o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, e sua esposa no dia 28 de junho de 1914. O arquiduque e sua esposa foram mortos a tiros em Sarajevo, capital da Bósnia. O assassino foi um estudante nacionalista sérvio. A Áustria apresentou um ultimato à Sérvia e exigiu uma resposta dentro de 48 horas. Os termos desse ultimato eram tão humilhantes que era quase impossível a Sérvia aceitá-los.

Assim, a Áustria, que era aliada da Alemanha, declarou guerra à Sérvia, que era aliada da Rússia, essa por sua vez, era aliada da França e da Inglaterra. Na verdade, o assassinato do arquiduque serviu de pretexto para que os países entrassem em guerra. Desde 1871, as potências europeias estavam em paz umas com as outras, mas todas estavam envolvidas numa corrida armamentista, isto é, todas estavam investindo em gastos militares, cada uma procurando superar as outras em armamentos.

O que foi a "paz armada"?

Por isso, se diz que a paz que havia entre as potências europeias antes da Primeira Guerra era uma "paz armada". Além disso, havia muita rivalidade entre as potências europeias, especialmente entre a França e a Alemanha. Boa parte dessa rivalidade entre franceses e alemães tinha origem nos ressentimentos gerados pela Guerra Franco-Prussiana (1870-1871).

Uma das principais razões para a rivalidade entre os países europeus era a corrida colonialista, ou seja, a disputa pelo controle de territórios na África e na Ásia. Vale lembrar que, naquela época, os europeus se julgavam superiores aos africanos e asiáticos (a própria "ciência" da época era racista) e encaravam com muita naturalidade a ideia de dominar os povos considerados "inferiores" para explorar as riquezas dos continentes africano e asiático.

Quem lutou contra quem na Primeira Guerra?

Antes de a guerra começar, as principais potências europeias já tinham formado alianças militares: a Tríplice Aliança (formada por Alemanha, Itália e Império Austro-Húngaro) e a Tríplice Entente (formada por Inglaterra, França e Rússia). Ao fazer parte de uma dessas alianças, cada país membro comprometia-se a entrar em guerra caso um dos aliados estivesse envolvido numa guerra.

 
Por exemplo, se a França entrasse em guerra com a Alemanha, a Inglaterra e a Rússia entrariam na guerra ao lado França. Assim, quando a guerra começou, de um lado estavam a Inglaterra e a França, do outro, a Alemanha e o Império Austro-Húngaro. A exceção foi a Itália, que apesar de fazer parte da Tríplice Aliança permaneceu neutra na guerra até maio de 1915, quando "trocou de time", entrando na guerra ao lado dos países que formavam a Tríplice Entente.

Essa "mudança de time" tinha uma razão: a Itália entrou na guerra sob a promessa de seus novos aliados de que receberia o território de regiões fronteiriças da Áustria. Em 1917, a Inglaterra e a França perderam um aliado, a Rússia, mas em compensação ganharam outro, os Estados Unidos. Naquele ano, a Rússia havia passado por uma revolução que derrubou a monarquia russa e um novo governo acabou assinando uma paz em separado com os alemães, o Tratado de Brest-Litovski.

A saída da Rússia foi vista como uma traição por seus antigos aliados. Os Estados Unidos declararam guerra à Alemanha após vários navios norte-americanos serem torpedeados por submarinos alemães. Isso aconteceu porque os Alemanha havia decidido torpedear todos os navios que fossem encontrados em águas inimigas, mesmo que esses navios fossem de países neutros (navios brasileiros também foram afundados) e os Estados Unidos eram os principais fornecedores de matérias-primas para a Inglaterra.

Outro país que entrou na guerra era o Japão. O objetivo do Japão era apoderar-se de colônias alemãs no Oriente: Tsingtao, na China, e as Ilhas Carolinas, Marshall e Marianas, localizadas no Oceano Pacífico.

Tensão imperialista eclode na Primeira Guerra

Claudio B. Recco

O início do século 20 na Europa não apresentou grandes mudanças, pelo menos do ponto de vista estrutural. As disputas imperialistas, iniciadas nas últimas décadas do século anterior, ainda davam a tônica da política das principais nações e se tornavam mais agudas a cada momento.

A segunda Revolução Industrial permitira que outros países questionassem a supremacia britânica e alcançassem grande desenvolvimento. Mas a manutenção do ritmo acelerado de crescimento foi condicionada à conquista de novos mercados, ao mesmo tempo em que a formação de conglomerados empresariais acirrou a disputa neocolonialista.

Os interesses imperialistas nacionais foram responsáveis pelo armamentismo e por conflitos localizados. Podemos perceber a lógica e as contradições do imperialismo quando várias potências se unem para invadir a China e, ao mesmo tempo, brigam entre si pelo domínio de outros territórios "coloniais".

A península Balcânica foi a região em que se expressaram os mais diversos interesses: o sonho imperialista austríaco, fomentado pela Alemanha, o russo, amparado pela Inglaterra, o sonho da "Grande Sérvia", assim como os ideais nacionalistas de bósnios, croatas, macedônicos, albaneses, kosovares e montenegrinos, que até pouco tempo estavam sob o domínio do turco.

As tensões na Europa chegaram ao seu ponto máximo com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, uma guerra imperialista entre as grandes potências e que ainda envolveu países que pretendiam tornar-se grandes, adotando o mesmo modelo imperialista - casos principalmente da Áustria e da Rússia, países atrasados que, do ponto de vista do capitalismo, não podem ser considerados imperialistas, mas que adotaram os mesmos padrões de desenvolvimento econômico e as mesmas práticas expansionistas.

Esse também foi o período de maior expansão dos Estados Unidos, apoiados principalmente na política do "big stick", quando desenvolveram suas ações principalmente na América Central e no Caribe e aproveitaram-se da Primeira Guerra para consolidar sua estrutura industrial, ampliando as exportações para a Europa e para os países americanos que até então dependiam da Inglaterra.

Fontes:



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domingo, 14 de julho de 2013

O Mito de Guernica

James S. Corum

Este texto faz parte do livro “Inflated by Air: Common Perceptions of Civilian Casualties from Bombing.


Em 26 de abril de 1937, talvez a incursão de bombardeio convencional mais famosa de todos os tempos foi conduzida durante a Guerra Civil Espanhola. Naquele dia, Guernica, uma cidade basca, e centro cultural, foi arrasada pela Luftwaffe (a força aérea alemã), que estava servindo sob o comando do governo nacionalista espanhol. O bombardeio de Guernica foi rapidamente transformado em um evento de proporções místicas e a versão dos eventos aceita pelo público e lideranças da Europa e América pareciam provar as piores predições das baixas civis que resultariam de um bombardeio aéreo. Guernica foi caracterizada como “bombardeio de terror” de civis inocentes conduzido com o intuito de castigar os não-combatentes e aterrorizar os sobreviventes até a submissão. O governo basco transformou o bombardeio de Guernica em uma grande propaganda e afirmou que 1.654 civis morreram e 889 ficaram feridos no ataque. As estatísticas de baixas e a interpretação padrão da incursão como um prelúdio para o bombardeio de terror de civis na Segunda Guerra Mundial continuou até hoje na literatura popular e histórica com poucas mudanças.

Os fatos sobre o bombardeio de Guernica guardam pouca semelhança com o mito. Guernica era uma pequena cidade de 5.000 a 7.000 pessoas que em abril de 1937 estava localizada próxima das frentes de combate. A Legião Condor alemã escolheu-a como alvo por razões puramente táticas. Guernica tinha uma ponte e uma importante interseção de estradas que eram vitais para a retirada da maioria dos 23 batalhões do exército basco, localizado a leste de Guernica, e no processo de evacuação para as linhas fortificadas próximas a Bilbao. A interseção de estradas, dois batalhões do exército basco estacionados na cidade, e a preocupação dos nacionalistas que os bascos pudessem fortificar a cidade tornaram legítima sua seleção como alvo para ataque aéreo.

Os alemães atacaram a cidade com 43 bombardeiros e caças e despejaram entre 40 e 50 toneladas de bombas de alto explosivo e incendiárias, que destruíram metade da cidade e infligiram grandes baixas. A incursão foi absolutamente típica da Guerra Civil Espanhola. Devido à baixa precisão dos bombardeios contra alvos pontuais, as tripulações consideravam as vilas como sendo melhores alvos. O raciocínio foi revelado em um relatório da Legião Condor de 1938: “Temos tido resultados notáveis em atingir alvos próximos do front, especialmente no bombardeio de vilas que mantém reservas e o quartel-general do inimigo. Temos tido grande sucesso porque estes alvos são fáceis de encontrar e podem ser destruídos totalmente pelo bombardeio geral.” A liderança nacionalista estava totalmente ansiosa sobre o bombardeio de pequenas cidades próximas das linhas de combate. Mesmo as histórias oficiais da Guerra Civil espanhola contém fotografias e relatos do bombardeio de pequenas cidades ocupadas por legalistas pela Força Aérea Nacionalista.

Correspondentes estrangeiros escrevendo para o Times de Londres e o New York Times em conjunto com os membros do governo basco, entretanto rapidamente classificaram o bombardeio de Guernica como “ataque terrorista”. Um correspondente escreveu: “O objetivo do bombardeio parece ter sido a desmoralização da população civil e a destruição do legado da raça basca.” A estória tornou-se gradativamente mais embelezada. Os jornais de Nova York e Londres escreveram extensivamente sobre o ataque. O New York Post publicou uma charge sobre Guernica mostrando pilhas de corpos de civis mortos na “Cidade Santa de Guernica” com Hitler pairando sobre a cidade arrasada com uma espada coberta de sangue que foi nomeada como “incursões aéreas”. O Registro Congressista americano mesmo indicou o uso de gás venenoso em Guernica – um evento que jamais ocorreu. No Parlamento britânico, discursos foram feitos denunciando o ataque e imprecisamente descrevendo Guernica como “cidade aberta” que não continha nenhum alvo militar. O relato do governo basco de 1.654 mortos e 889 feridos foi aceito sem críticas pela imprensa mundial. De fato, a impressão foi dada que Guernica era uma metrópole ao invés de uma pequena cidade e que a Luftwaffe de 1937 já possuía a capacidade de apagar cidades inteiras do mapa – algo que estava muito além da capacidade da força aérea alemã na época. Acima de tudo, a imprensa já estava condicionada a esperar a destruição de cidades inteiras pelo ar e a seleção de alvos civis seria a primeira consequência das guerras vindouras. Parecia que o futuro havia chegado.

Em Guernica, todos os principais componentes deste estudo chegaram em foco prematuro, porém nítido. Os governos republicanos espanhol e basco tinham todos os motivos para exagerar nas baixas civis em Guernica para efeitos propagandísticos. De fato, a versão do ataque que foi disseminada teve grande efeito na causa republicana. Simultaneamente, a imprensa, o público e a liderança política foram condicionados a aceitar números exagerados para as baixas civis. Mesmo assim, outro elemento é a persistência da estória original. Poucos historiadores tem se interessado em examinar criticamente os eventos de Guernica, e décadas mais tarde, o número original de 1.654 mortos é ainda citado em textos históricos.

Portanto, o número oficial de baixas em Guernica merece uma análise mais detalhada. Se os números oficiais estão corretos, então o bombardeio da Legião Condor de Guernica resultou em 41 fatalidades por tonelada de bomba (1654 mortos para 40 toneladas de bomba aproximadamente). Este é um número extraordinário quando comparamos Guernica com os ataques aéreos mais devastadores da Segunda Guerra Mundial. Na incursão de Hamburgo de julho de 1943, a RAF despejou 4.644 toneladas de bombas produzindo cerca de 7,5 fatalidades por tonelada de bombas. No bombardeio anglo-americano de Dresden em fevereiro de 1945, as forças aéreas aliadas despejaram 3.431 toneladas de bombas produzindo entre 7,2 a 10,2 fatalidades por tonelada. Em contraste com as incursões de bombardeiros contra cidades na Segunda Guerra Mundial, o número de baixas de Guernica parece simplesmente inacreditável. Hoje, é impossível obter um número exato para as baixas de Guernica já que os nacionalistas espanhóis afirmam que a cidade nunca foi atacada por ar e os republicanos dinamitaram a cidade para uso propagandístico. O número chutado foi mantido oficialmente durante a ditadura de quarenta anos de Francisco Franco e, presumivelmente, a polícia secreta de Franco eliminou qualquer evidência sólida (atestados de óbito, registros de hospitais e igrejas, etc.) do bombardeio conduzido sob ordens nacionalistas. Entretanto, mesmo uma estimativa realista considerando uma alta taxa de eficiência (7 a 12 fatalidades por tonelada de bomba) conduziria a um número de fatalidades entre 300 e 400 em Guernica. Certamente, trata-se de um evento sanguinário, mas relatar que uma pequena cidade teve algumas centenas de mortos não tem o mesmo efeito que dizer que uma metrópole bombardeada teve quase 1.700 mortos.

Os relatórios do bombardeio de Guernica tiveram o efeito de confirmar as previsões dos teóricos do poder aéreo em relação às baixas civis. No gabinete francês durante as sessões de estratégia de 1938, estimativas extravagantes foram feitas a respeito da capacidade alemã em infligir baixas na população francesa por bombardeio. O general francês da força aérea, Dentz, previu na época da crise dos Sudetos em 1938 que as cidades francesas tornar-se-iam ruínas. Um membro do gabinete francês disse a respeito do possível bombardeio aéreo alemão das cidades francesas que “nossas cidades serão varridas, nossas mulheres e crianças serão massacradas.” Durante a Crise de Munique em 1938, cerca de um terço da população parisiense abandonou a cidade para evitar o bombardeio alemão.

Na Grã-Bretanha, durante os anos anteriores à Segunda Guerra Mundial, as atitudes e estatísticas dos efeitos do bombardeio aéreo foram praticamente os mesmos. O cientista britânico Lorde J.B.S. Haldane escreveu um livro sobre defesa contra incursões aéreas em 1938 que postulava uma fórmula de 20 fatalidades para cada tonelada de bomba despejada sobre Londres. Ele previu que uma força de bombardeiros alemães de 270 aviões poderia despejar 400 toneladas de bombas e provavelmente matar 8.000 pessoas e ferir mais de 15.000. Ele esclareceu que isso poderia ser feito diversas vezes por dia e que o “golpe explosivo” poderia matar entre 50.000 e 100.000 londrinos. O staff da RAF disse ao governo nos anos 1930 esperar cerca de 20.000 baixas por dia se os alemães atacassem. No início da guerra, o governo esperava fornecer 750.000 leitos para os hospitais para receber o número esperado de vítimas. De fato, mesmo nos dias mais sombrios da Blitz, não mais que 6.000 leitos foram necessários. Como Harold McMillam  mais tarde lembrou sobre as percepções daquela época, “Pensávamos na guerra aérea em 1938 como as pessoas pensam hoje da guerra nuclear.”

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quarta-feira, 10 de julho de 2013

[POL] “Reductio ad Hitlerum”

K. R. Bolton

 
A “erudição” no estudo do Terceiro Reich é medida em relação a um axioma de facto que está centrado em torno do Holocausto, assim como com as discussões concomitantes sobre experimentos médicos e outros aspectos da suposta brutalidade nazista única. Qualquer coisa menor do que isso é rotulada por estudiosos como Deborah Lipstadt como “relativizar o Holocausto”, o que é aparentemente mesmo pior do que o “revisionismo do Holocausto”.

Redutcio ad Hitlerum é a técnica de arruinar um debate acusando o oponente de ser um nazista. Leo Strauss, um filósofo judeu, criou o termo em 1951, explicando-o em 1953:

"Na sequência deste movimento em direção ao seu fim nós inevitavelmente deveremos alcançar um ponto além do qual a cena é obscurecida pela sombra de Hitler. Infelizmente, isso não será feito sem dizer que, na nossa análise, é preciso evitar a falácia que nas últimas décadas tem sido frequentemente utilizada em substituição ao reductio ad absurdum: o reductio ad Hitlerum. Uma opinião não é refutada pelo fato de ocorrer que ela tenha sido compartilhada por Hitler."

A pesquisa informativa “A Falácia ordena” dá um exemplo de reductio ad Hitlerum:

“As ideias de ecologistas de espécies invasivas – espécies forasteiras como elas são frequentemente chamadas – parecem semelhantes à retórica anti-imigração. Os temas verdes como escassez e pureza e invasão e proteção têm ecos totalmente na direita. As ideias de Hitler sobre ambientalismo vieram, acima de tudo, da pureza.”

A citação acima por uma “feminista radical”, Betsy Hartmann, é parte de um lamento sobre o suposto “controle direitista” do movimento ecológico, cujos proponentes têm, aparentemente, defendido restrições à imigração, que é semelhante ao nazismo para aqueles que empregam compulsivamente o reductio ad Hitlerum em seu discurso intelectual. Como evidência disso, Hartmann cita a edição do jornal acadêmico População e Meio-Ambiente pelo professor Kevin McDonald, junto com o falecido J. Philip Rushton, que pertencia à diretoria editorial, ambos considerados “racistas”.

“A Falácia ordena” explica o reductio ad Hitlerum:
 
 
Apesar do termo reductio ad Hitlerum ter sido cunhado por Strauss ainda em 1951 na edição da primavera do jornal Medida, ele é muito útil. O Dr. Thomas Fleming, membro do movimento Católico Conservador Americano, presidente do Instituto Rockford e editor do Crônicas, definiu convincentemente o reductio ad Hitlerum:

“Leo Strauss o chamou reductio ad Hitlerum. Se Hitler gostava de arte neoclássica, isto significa que o classicismo é, em toda forma, nazista; se Hitler queria fortalecer a família alemã, isto torna a tradicional família (e seus defensores) nazista; se Hitler falava da ‘nação’ ou do ‘povo’, então qualquer evocação de nacionalidade, afiliação étnica, ou mesmo atributo popular é nazista.”

Por exemplo, o lobby “pró-armamento” argumenta que Hitler – como ditador – estabeleceu um confisco em massa de armas particulares no Terceiro Reich e, portanto, os defensores do “controle de armas” estão adotando uma postura como a de Hitler. Isto, como tudo mais que se passa como verdade nos meios acadêmicos, é superficial, na melhor das hipóteses. Entretanto, esta é uma indicação do quão o reductio ad Hitlerum pode ser totalmente distorcido, de modo que é o lobby pró-armamento que pode ser encarado como sendo mais hitlerista, pois como o comentarista liberal Chris Miles mostrou, quando Hitler assumiu o poder, a quantidade de armas privadas era aquela imposta pelo Tratado de Versalhes. Citando o professor Bernard Harcourt da Universidade de Chicago, sobre o Ato de Armamento alemão de 1938, que os anti-nazistas pró-armamento também citam como prova de que Hitler queria desarmar a população, “As revisões de 1938 desregularam completamente a aquisição e transferência de rifles e armas curtas, assim como munição.” Restrições que foram mantidas somente envolviam armas de fogo portáteis, que pessoas corretas poderiam portar se elas mostrassem uma boa razão para isso. Miles continua:

“O grupo de pessoas que eram privilegiadas com a aquisição do porte de armas expandiu-se. Caçadores profissionais, servidores públicos e membros do Partido Nazista não estavam mais sujeitos a restrições do porte de armas. Antes da lei de 1938, somente funcionários do governo central, dos estados e empregados da Reichsbahn (Rodovia) alemã eram privilegiados. As permissões aumentaram de um para três anos. Tanto no ato de 1928 quanto no de 1938, os fabricantes de armas e comerciantes eram obrigados a manter registros com informações sobre os compradores e o número de série das armas. Estes registros deveriam ser entregues à autoridade policial para inspeção no final de cada ano.”

Foi sob o regime da autoridade aliada de ocupação que os alemães foram completamente desarmados entre 1945 e 1956.

Avanços Sociais no Terceiro Reich Suprimidos

É em relação a este ponto de vista que os “horrores do nazismo” têm sido usados para esconder e suprimir os avanços do regime em um espectro de assuntos que afetam o mundo contemporâneo. Por causa da visão dogmática de que tudo é hitlerista, algumas descobertas e avanços importantes têm sido escondidos sob uma pilha de corpos figurativa, que previne o mundo de uma análise acadêmica racional de avanços em áreas como a saúde, ecologia e sistema financeiro, ou, alternativamente, como mencionado, colocam alternativas sérias para os problemas na defensiva ao compará-las com o nazismo.

É notável que alguns avanços do Terceiro Reich foram tomados e desenvolvidos quando serviram a interesses poderosos. O exemplo mais aparente está na área de foguetes e outros armamentos avançados criados pelo Terceiro Reich, quando havia uma luta entre a União Soviética e os EUA para sequestrar “cientistas nazistas” após a guerra. Detalhes disso são incontestáveis, embora ainda estejam obscuros:

A Operação Clipe de Papel foi o nome sob o qual a inteligência americana e os serviços militares levaram cientistas embora da Alemanha durante e após os estágios finais da Segunda Guerra Mundial. O projeto era originalmente chamado de Operação Overcast e é, algumas vezes, conhecido como Projeto Paperclip.

De interesse particular foram os cientistas especializados em aerodinâmica e foguetearia (como aqueles envolvidos nos projetos da V-1 e da V-2), armas químicas, tecnologia da propulsão a jato e medicina. Estes cientistas e suas famílias foram secretamente levados aos Estados Unidos, sem a aprovação do Departamento de Estado; seus serviços para o Terceiro Reich de Hitler, sua associação com o Partido Nazista ou com a SS, assim como a classificação de muitos como criminosos de guerra ou ameaças à segurança também os desqualificavam para obter o visto de entrada. Um objetivo da operação era capturar equipamento antes dos soviéticos. O Exército americano destruiu parte do equipamento alemão para prevenir que fosse capturado pelo Exército Soviético durante seu avanço.

A maioria dos cientistas, cerca de 500, foi deslocada para o Campo de Testes de White Sands, Novo México, Forte Bliss, Texas e Huntsville, Alabama, para trabalhar em mísseis guiados e tecnologia de mísseis balísticos. Isto, por sua vez, resultou na criação da NASA e do programa de ICBMs americano.

Muito da informação sobre a Operação Clipe de Papel ainda é secreta.

Muito mais que o Paperclip foi o esforço para capturar os segredos nucleares alemães, equipamentos e pessoal (Operação Alsos). Outro projeto americano (TICOM) reuniu os especialistas alemães em criptografia.

O Departamento de Minas dos EUA empregou sete cientistas alemães especialistas em combustível sintético em uma planta da Fischer-Tropsch em Louisiana, Missouri, em 1946.

Supressão da Pesquisa contra o Câncer

A Alemanha hitlerista foi pioneira em muitos programas de saúde pública e bem-estar e no estudo da prevenção de doenças, a relação entre o cigarro e o câncer, etc. De fato, o regime estava décadas adiante em relação aos atuais estados democráticos, os quais orgulham-se de serem “progressistas”.

A mãe de Adolf Hitler morreu de câncer*. Com os lucros do livro “Minha Luta” (Mein Kampf), ele doou 100.000 marcos para a pesquisa de câncer que ele mesmo encomendou à Universidade de Jena. A campanha anti-tabagismo na Alemanha nazista foi a pioneira no mundo. Graças a ela:

* O fumo foi proibido nos escritórios da Força Aérea e do Serviço Postal;

* O fumo foi banido dos departamentos de polícia;

* Os restaurantes e cafés foram proibidos de vender cigarros a mulheres;

* Cupons de cigarro foram proibidos a mulheres grávidas;

* O fumo entre menores de 18 anos foi tornado ilegal; e

* Propagandas de cigarros foram severamente controladas.
 

Campanha antitabagista na Alemanha nazista
 
A supressão da pesquisa de saúde alemã é uma das grandes tragédias do modo como o reductio ad Hitlerum impactou em muitas vidas. Com tal mentalidade, Peter Dunne, o único membro do Parlamento neozelandês do Partido do Futuro Unido, descreveu os lobistas para as restrições ao cigarro em 2003 como “nazistas da saúde.” Uma notícia detalhou o caso:

O líder da Coalizão Livre do Cigarro está questionando o quão o Futuro Unido é amigo da família. O líder do partido Peter Dunne atacou os simpatizantes do Livre do Cigarro como “nazistas da saúde” e fanáticos de olho gordo. Leigh Sturgiss diz que tal linguagem é inapropriada e horrorosa. Ela diz que os proponentes do controle do cigarro querem SALVAR vidas, e não destruí-las. Ela diz que Peter Dunne tem um histórico de votar contra o controle do tabagismo, que é uma contradição aos valores de seu próprio partido.

É notável que entre aqueles que foram selecionados pelos EUA na Operação Clipe de Papel estivesse o pesquisador de câncer, Dr. Kurt Blome, vice-líder da Saúde do Reich (Reichsgesundheitsführer) e Plenipotenciário para Pesquisa contra o Câncer no Conselho de Pesquisa do Reich. O Dr. Blome foi capturado e conduzido aos EUA, segundo um documento que descrevia sua relevância:

Em 1943, Blome estava estudando guerra bacteriológica, apesar de que oficialmente ele estivesse envolvido em pesquisas contra o câncer, a qual era, contudo, somente uma camuflagem. Blome também serviu como vice-ministro do Reich. Gostariam de enviar isso aos investigadores?

Notemos que o interesse no Dr. Blome não foi motivado por sua pesquisa contra o câncer mas como desenvolvedor de armas biológicas. Além disso, o relatório americano se refere à pesquisa do câncer somente incidentalmente como uma cobertura para a pesquisa nazista em guerra bacteriológica. A implicação deste relatório é que a pesquisa sobre o câncer no Reich de fato não existia; era uma farsa para esconder experimentos médicos abomináveis com o objetivo de desenvolver armas biológicas.

O Dr. Blome, como diz o relatório, foi salvo da masmorra, tendo sido acusado pelos americanos de experimentar vacinas nos prisioneiros do campo de concentração de Dachau, e em 1951, ele foi contratado pelo Corpo Químico do Exército Americano para trabalhar na guerra química.

O que isto indica é que foram os EUA que tiveram o interesse particular nas descobertas alemãs da guerra química e não tiveram nenhum interesse nas descobertas alemãs em relação ao câncer, dando a impressão que não havia nenhuma pesquisa sobre este assunto na Alemanha. Tais controvérsias servem para esconder os avanços sob o Nacional Socialismo. A erudição precisa de objetividade e isto não é possível enquanto os estudos sobre o Terceiro Reich estiverem sendo feitos a priori segundo um absolutismo moral do tipo dualidade zoroastriana, que necessariamente rotula qualquer coisa e tudo a ver com o Terceiro Reich como sendo inerentemente má, inclusive a pesquisa sobre câncer, ecologia, Autobahns (autopistas) e reforma bancária.

Assim, o que o professor Robert N. Proctor relata em seu livro, “A Guerra Nazista contra o Câncer”, somente pode ser analisada através das lentes distorcidas da propaganda de guerra, isto é, de que tal medicina social pioneira foi realizada com más intenções. O mesmo pode ser dito a respeito dos trabalhos públicos no programa Autobahn, de modo que seu objetivo era permitir uma rede de estradas capazes de mobilizar militarmente de forma rápida a Alemanha. Ocasionalmente, a verdade emerge de forma incidental dos próprios estudos ortodoxos: por exemplo, o Dr. Frederic Spotts, em seu livro “Hitler e o Poder da Estética”, escreve que as Autobahans eram admiradas no mundo inteiro como um “avanço inovador, bem sucedido e brilhante.”

Suas rodovias divididas, de extensão generosa, engenharia soberba, sensibilidade ambiental, harmonia com o interior do país, paisagens maravilhosas, entradas e saídas em trevo, viadutos e trincheiras uniformes, estações de serviço modernas, instalações de restaurantes e hotéis eram os mais avançados em relação a qualquer outro lugar e se apresentavam como um modelo para o mundo.

Enquanto a Autobahn é convencionalmente retratada como um exemplo da preparação militar da Alemanha, o Dr. Spotts teve a coragem de mostrá-la de outra maneira: “O que não é popularmente apreciado é que Hitler considerava estas autopistas acima de tudo como monumentos estéticos.” Pela primeira vez, as estradas não eram construídas sob o ponto de vista utilitário, mas sim trabalhos de arte duradouros, comparáveis às pirâmides.” O Dr. Spotts continua:

As Autobahns foram, portanto, criadas não somente para facilitar as idas e vindas de automóveis, mas também para mostrar a beleza natural e arquitetônica do país. As rotas eram escolhidas para atravessar áreas atraentes sem perturbar a harmonia das montanhas, vales e fazer com que a própria rodovia desse voltas, apesar dos custos adicionais, para oferecer uma visão particularmente impressionante. Grande esforço foi feito na construção de modo a minimizar o dano ao meio ambiente.

O modo como o Dr. Spotts se afasta de seu relato positivo dos avanços ecológicos e técnicos do Reich é revelado ao descrever a estética de Hitler como apenas “outro exemplo de autoindulgência megalomaníaca.” Assim, mesmo com este avanço notável, como tantos outros no Terceiro Reich, devemos ser lembrados que tudo no final repousa na maldade difundida de um único homem. Sendo assim, independentemente dos motivos de Hitler, tal reducionismo previne uma consideração racional e objetiva de tais avanços. Tivesse o Dr. Spotts descrito os avanços da construção de estradas nos EUA e na Inglaterra durante os anos 1930, por exemplo, o leitor ficaria com a impressão duradoura de um governo que havia alcançado muito das necessidades atuais. Entretanto, desde que um avanço notável foi feito por Hitler, ele é reduzido, mesmo pelo Dr. Spotts, a outro exemplo de megalomania de uma única pessoa má. Mas o Dr. Spotts detona um dos grandes mitos daquela era, qual seja, de que a Autobahn foi primariamente criada com objetivos militares. Falando sobre Todt, chefe do projeto, Spotts afirma que enquanto os argumentos de Todt para a Autobahn incluíam objetivos militares, “Hitler jamais se sensibilizou com essa noção. De fato, as rotas não percorriam linhas de frente, as superfícies eram muito finas para suportar tanques e por aí vai. Longe de serem úteis à Wehrmacht, as estradas, com a suas superfícies brancas brilhantes, provaram ser úteis às aeronaves inimigas ao fornecer pontos de orientação, de modo que elas tiveram que ser cobertas de tinta.”

 

Hitler começa os trabalhos da primeira autopista da Áustria em 7 de abril de 1938
 
Assim, enquanto a Autobahn, sendo um triunfo da ecologia e da engenharia, pode ser relegada ao reino da megalomania, a lição explicada pelo livro do Dr. Proctor sobre a pesquisa contra o câncer e outras pesquisas médicas no Terceiro Reich é, de acordo com o crítico do The Washington Post, “um conceito próximo do perturbador – a “banalidade do bem.”

A pesquisa do Terceiro Reich ligando o tabagismo com o câncer torna-se, portanto, banal, estúpido, trivial e outras palavras associadas com “banalidade”. Tivessem os EUA interessados em tais pesquisas, tanto quanto estavam interessados nos armamentos alemães, muitos milhões de pessoas teriam agradecido por tal pesquisa, independentemente do regime sob o qual ela foi conduzida. Entretanto, quando o público em geral ouve a respeito das pesquisas médicas alemãs é sobre os alegados abusos em prisioneiros e “racialmente inferiores”, conduzidas por indivíduos como o Dr. Joseph Mengele, que é descrito realizando alguns experimentos médicos abomináveis, apesar de ser um grande geneticista.

O que esta “banalidade do bem” – nas palavras do critico do Washington Post sobre o livro de Proctor – incluía era um esforço persistente para estabelecer uma população sadia. Naturalmente, os motivos para isto seriam criar uma “Raça Mestre” para conquistar o mundo, mas independente dos motivos, os resultados poderiam ter beneficiado a humanidade se não tivessem sido suprimidos em virtude de sua associação com o Terceiro Reich.

Proctor afirma que mais de mil dissertações de doutorados na área médica examinaram o câncer durante os doze anos do domínio nacional socialista. Pela primeira vez, registros da doença foram feitos, medidas de saúde pública preventiva foram tomadas, havia leis contra adulteração de alimentos e medicamentos, proibição do fumo e campanhas alertando contra o uso de cosméticos com componentes cancerígenos. Proctor faz a pergunta se estas e outras medidas de saúde pública resultaram na baixa incidência de câncer entre os alemães durante os anos 1950. Isto coloca um dilema moral porque significa que “um dos regimes mais assassinos na história” poderia ter sido bem sucedido em reduzir as taxas de câncer. Outras campanhas, que somente em anos recentes foram feitas nos países ocidentais, alertaram as mulheres sobre a necessidade de realizar exames de câncer anuais ou bianuais, e as mulheres foram instruídas a fazer o exame do seio, de modo que a Alemanha foi aparentemente o primeiro país a adotar essa postura. Os efeitos da poluição e do amianto foram estudados com grande ênfase. Proctor diz que a Alemanha tornou-se o líder em documentar “a conexão entre o câncer de pulmão e o amianto” como doença ocupacional. Advogados americanos trabalhistas se basearam nessas pesquisas para defender suas causas.



"Mães evitam álcool e nicotina", diz o cartaz
 
Com a derrota da Alemanha, Karl Astel, chefe do Instituto de Pesquisa dos Males do Tabaco, que promoveu a proibição do fumo em locais públicos – algo realizado na Nova Zelândia há poucos anos atrás – cometeu suicídio. O Líder de Saúde do Reich, Leonardo Conti, enforcou-se com sua calça enquanto estava sob detenção dos Aliados. O presidente do Departamento de Saúde do Reich, Hans Reiter, serviu muitos anos na prisão, após o que ele trabalhou em uma clínica particular, mas nunca mais voltou à vida pública. Fritz Sauckel, responsável pelo trabalho de mão de obra estrangeira, e responsável pela legislação antitabaco de Astel, foi executado em 1946. Proctor comenta: “Não é de se surpreender que muito da motivação do movimento antifumo da Alemanha foi retirada.” Mesmo assim, outros cientistas foram levados pelos EUA a trabalhar em projetos militares durante a Guerra Fria.

Mesmo hoje, o movimento antifumo alemão não superou o ativismo e a seriedade dos anos de auge entre 1939 e 1941. A pesquisa de saúde sobre o tabaco está muda, e não é difícil de imaginar que as memórias do ativismo daquela geração mais velha ajudaram a perpetuar o silêncio. A memória popular da abstinência nazista ao cigarro pode bem ter destruído o movimento antifumo alemão do pós-guerra. Parece ter moldado como lembramos a história da ciência envolvida: o mito de que cientistas americanos e ingleses foram os primeiros a mostrar as causas tabagistas do câncer de pulmão, muito conveniente – tanto para os estudiosos dos países vencedores quanto para os alemães tentando esquecer seu passado recente.

Proctor também se agarra ao método do reductio ad Hitlerum ao suprimir as iniciativas antitabagistas, um exemplo disto sendo os comentários de Peter Dunne na Nova Zelândia. Proctor diz: “Os defensores do tabagismo começaram a agir de acordo com os nazistas,” falando de “niconazistas” e “fascismo tabagista”. Proctor se refere à Philip Morris da Europa publicando propaganda ofensiva nas revistas, a qual identifica fumantes como os judeus presos nos guetos e os não-fumantes como nazistas.

Estranhamente, Proctor rejeita a ideia de que se a pesquisa médica nazista não tivesse sido suprimida vidas teriam sido salvas. Ele diz que os Aliados tiveram muito interesse na pesquisa científica nazista, mas procede com o foco rapidamente na tecnologia militar. Onde os pesquisadores médicos nazistas sequestrados após a guerra foram empregados para ajudar nas causas do câncer, os efeitos do amianto, os benefícios de uma dieta saudável? Como descrito previamente, eles estavam mortos, na prisão ou relegados à obscuridade, enquanto os cientistas aeroespaciais estavam trabalhando diligentemente nos mísseis da Guerra Fria, antes de serem denunciados após ficarem velhos.

A Oposição à Usura era intrinsecamente Nazista?

O reductio ad Hitlerum está sendo usado para suprimir e cobrir outra questão importante: aquela das alternativas ao sistema de dívida bancária. Pouco é compreendido sobre o sistema das finanças dos regimes fascistas, e é geralmente dito que a Alemanha em particular alcançou a recuperação econômica pelo gasto com armamentos. Mesmo se aceitarmos essa ideia, ela explica pouco.

Uma diferença significativa entre aquela época e os tempos atuais é que, após a Primeira Guerra Mundial, muitas pessoas compreenderam a necessidade de mudar o sistema bancário e grandes movimentos reformistas como o Crédito Social em Alberta e o Partido Trabalhista na Nova Zelândia chegaram ao poder por sua plataforma pela reforma bancária. Pelo fato dos três principais países do Eixo também emitirem crédito estatal, controlarem o sistema bancário e conduzirem suas nações à prosperidade, esta importante questão também foi submetida ao reductio as Hitlerum.

Uma vítima importante desta tática foi Stephen M. Goodson, um economista sul-africano que trabalhou muitos anos (2003 – 2012) como diretor do Banco Central Sul-Africano. Goodson é também um ardoroso defensor da reforma bancária e fundador do Partido pela Abolição da Usura e Taxa de Juros. Pior ainda, ele não se inibiu ao descrever os sistemas bancários do Japão e Alemanha nos anos 1930 como exemplos de grandes estados que alcançaram o sucesso ao romper com a agiotagem bancária. (N. do T.: Goodson também deu declarações públicas contestando o Holocausto). Goodson foi rotulado de “negador do Holocausto”, mas foi sua declaração sobre os sistemas bancários do Eixo que causaram sua demissão.

O economista chinês, executivo do Grupo de Investimentos Liu localizado em Nova York, Henry C. K. Liu, que escreveu exaustivamente sobre as políticas econômicas do Terceiro Reich, foi poupado até agora da associação com os supremacistas brancos, e é ainda capaz de escrever colunas para o The Huffington Post e o Asia Times, etc. Liu escreveu um artigo detalhado sobre a política bancária do Terceiro Reich dizendo:

De fato, a recuperação econômica alemã precedeu e mais tarde permitiu o rearmamento alemão, ao contrário da economia americana, onde os obstáculos constitucionais criados pela Corte Suprema em relação ao New Deal atrasaram a recuperação econômica até que a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial colocou a economia de mercado em passos largos. Enquanto esta observação não é uma apologia à filosofia nazista, a eficácia da política econômica alemã neste período, parte da qual foi iniciada na última fase da República de Weimar, é inegável.

Notem que Liu repudia qualquer noção de que o sucesso “inegável” da política econômica do Reich é “uma apologia à filosofia nazista”, e que ele dispensa o clichê da recuperação econômica da Alemanha como sendo resultante do rearmamento. Liu descreve os Títulos de Criação de Trabalho (WCB, sigla em ingês) emitidos pelo Reich, comentando: “Mas o princípio dos WCBs pode ser aplicado aos EUA ou à China ou qualquer outro país atualmente para combater os altos níveis de desemprego. Aliás, esta ideia de bom senso recebe forte oposição de teorias obscuras de inflação na maioria dos países.”

Conclusão

O reductio ad Hitlerum é uma cria da confusão semântica que tem sido usada pelas forças convencionalmente chamadas de Esquerda, Direita e Centro. A metodologia tem sido usada para rotular os proponentes da saúde pública como “nazistas da saúde” e “niconazistas”. Os ecologistas têm sido chamados de “econazistas”. Um blog da internet chamado de “A Ralé Climática” “prova” que a ecologia é “nazista” ao mostrar vistas aéreas de uma floresta plantada durante o Terceiro Reich, na qual certas árvores foram plantadas de modo a formar uma suástica. O discurso “rios de sangue” de Enoch Powell em 1968 sobre a imigração da Nova Comunidade Britânica na Grã-Bretanha foi condenado por causa de alusões a Auschwitz, e o espectro do neonazismo ainda é evocado quando alguém questiona a imigração do Terceiro Mundo. O líder do Partido Trabalhista Tony Benn disse sobre o discurso de Powell: “A bandeira do racialismo que foi hasteada em Wolverhampton está começando a parecer com aquela que tremulava 25 anos atrás em Dachau e Belsen,” e assim permanece...

Agora, no meio de uma crise de dívida global, onde há uma luz – ainda assim pouco visível – de ressurgimento de ações alternativas à usura e à dívida, o reductio ad Hitlerum é lançado contra os defensores da reforma bancária. O método é uma perversidade social que ofusca soluções para os desafios atuais, ao negar a legitimidade de políticas que foram testadas e aprovadas.               


* Nota: ver tópico “O Judeu Favorito de Hitler”