terça-feira, 20 de agosto de 2013

[POL] Heinrich Himmler: Uma Biografia


 
 
Recentemente, escrevi uma resenha do livro de Peter Longerich Não Sabíamos de Nada! ("We Knew Nothing About That!" The Germans and the Persecution of Jews 1933-1945), no qual ele examinou o que o público alemão sabia do Holocausto na Alemanha Nazista. Fiquei impressionado pela sua profunda e sistemática erudição. Nesta biografia de 2010, Heinrich Himmler: Uma Vida, Longerich escreveu O trabalho definitivo sobre o Reichsführer-SS – indubitavelmente a segunda figura mais importante no regime nazista. Li a tradução no inglês (trabalho excelente de tradução de Jeremy Noakes e Lesley Sharpe) que possui mais de 1.000 páginas, incluindo 200 páginas de notas de rodapé.

Em épocas normais, uma pessoa do calibre de Heinrich Himmler, o produto de uma educação restrita de uma família católica de classe média, poderia crescer e alcançar o status de um Filialleiter – gerente de departamento – de um Sparkasse (banco de economia) local. Mas aqueles não eram tempos normais e Himmler foi capaz de usar seus talentos organizacionais, sua energia obsessiva compulsiva e frenética e acesso ao aparato de terror nazista para tomar o controle da estrutura completa de segurança do Terceiro Reich, tanto no interior do Reich Alemão quanto nos territórios ocupados durante a guerra. No auge de seu poder, Himmler estava no comando de toda a organização SS, incluindo o braço militar Waffen-SS, a rede inteira de campos de concentração, os Einsatzgruppen envolvidos em campanhas de extermínio nos territórios ocupados, da segurança interna e organizações policiais, incluindo a Gestapo e a Kripo, assim como um serviço burocrático gigantesco que fornecia centenas de milhares de recursos de trabalho escravo para a indústria alemã e para os projetos grandiosos de Albert Speer. E mesmo assim, Longerich mostra, apesar de seu vasto poder e lealdade absoluta ao der Führer, Himmler nunca pertenceu ao círculo íntimo de Hitler.

Longerich transformou completamente minha compreensão sobre Heinrich Himmler. Sempre o imaginei como um competente funcionário emitindo ordens sob o comando do Führer – uma caracterização da “banalidade do mal”. Mas Himmler era exatamente o oposto do burocrata sem rosto sentado atrás de uma mesa. Himmler era dinâmico, visitando campos de concentração, recrutando novos membros para a SS, fazendo discursos para os comandantes da polícia. Ele tinha interesse pessoal em todo o aspecto da SS, incluindo dieta, higiene pessoal e vida sexual dos homens. E não apenas deles: Himmler era interessado em história racial e capacidade de gravidez de suas esposas e namoradas. Longerich escreve: “A posição (Himmler) construída ao longo dos anos pode ao invés disso ser descrita como um exemplo extremo da quase personalização total do poder político.”

Longerich gasta muito tempo reconstruindo a visão de mundo de Himmler. É fascinante ler como o Reichsführer-SS desenvolveu uma hostilidade em relação ao Cristianismo e ao invés disso abraçou um tipo de misticismo teutônico, que então encontrou expressão nos rituais da SS. Basicamente, a SS, como criada por Himmler, era uma organização religiosa, um culto baseado em pseudociência (Teoria do Gelo Cósmico*) e a grosseira ideologia racial que era central ao pensamento e política nazistas. Himmler, é claro, estava convencido de que os judeus eram uma raça estrangeira à cultura alemã. Mas ele também odiava o homossexualismo e o aborto, que ele encarava como catastróficos para o destino biológico da Alemanha.

O sistema de crença bizarro de Himmler seria engraçado se ele não tivesse tido consequências catastróficas. Ele tinha a autoridade e poder para agir de acordo com suas crenças, em estabelecer a rede de campos de concentração primeiro na Alemanha e depois na Polônia e nos territórios orientais. Seus planos de reassentamento maciço, elaborados de acordo com suas fantasias raciais, resultaram em caos total e morte. E a invasão da União Soviética foi vendida como uma batalha entre o ideal teutônico e a subhumanidade judaica-bolchevista:

Isto é uma luta de ideologias e uma batalha racial. De um lado, temos o Nacional Socialismo, uma ideologia baseada no valor de nosso sangue nórdico, germânico, um mundo que visionamos como lindo, decente, justo socialmente... um mundo culto, alegre e lindo. Do outro lado, temos 180 milhões de pessoas, uma mistura racial e de povos cujos nomes são impronunciáveis e cuja aparência física é tal que podemos fuzilá-los sem compaixão e remorso.

Longerich mostra que é inútil buscar a data exata na qual as ordens para o Endlösung – a “Solução Final” para a “Questão Judaica” – foram emitidas. Mas podemos argumentar que Himmler colocou a coisa em movimento muito antes da Conferência de Wannsee. Primeiro, quando tornou-se claro que o sonho fantástico de deportar 10 milhões de judeus para Madgascar jamais seria realizado, Himmler criou os Einsatzgruppen para assassinar dezenas de milhares de judeus masculinos “bandidos”. Segundo, quando ele presenciou em primeira mão como o fuzilamento contínuo estava causando grande estresse entre seus homens, ele veio com a ideia de usar monóxido de carbono e depois o Zyklon B para matar os prisioneiros. Finalmente, quando tornou-se difícil lidar com todas as mulheres e crianças deixadas para trás, Himmler os matou também – ostensivamente “sob as ordens do Führer”. De fato, Himmler estava agindo “com o espírito do Führer” e não foi somente bem tarde que ele convenceu Hitler da necessidade de matar mulheres e crianças.  

Logo, Himmler, como descrito em detalhes na biografia de Longerich, era um Vordenker – um pioneiro – do Holocausto, senão seu planejador. Mas ele foi cuidadoso em envolver e implicar outros líderes nazistas, assim como os generais da Wehrmacht, no genocídio. Em maio de 1944, ele falou abertamente sobre o Endlösung numa reunião de generais:

A questão judaica foi resolvida brutalmente de acordo com ordens e uma avaliação racional da situação... Não achei justo – estou me referindo aqui às mulheres e crianças judias – em permitir que gente com espírito vingativo crescesse naquelas crianças, que então matariam nossos pais e netos. Teria sido uma covardia fazer isso. Consequentemente, as questões foram resolvidas de forma inflexível.

A série de discursos honestos sobre o extermínio em massa lança dúvidas sobre a teoria das “mãos limpas” da Wehrmacht.

No final, quando o Terceiro Reich colapsou, Himmler comportou-se da maneira mais covarde, primeiro tentando enganar sua captura assumindo uma falsa identidade de Heinrich Hitzinger e depois, quando pego, suicidando-se com uma cápsula de cianureto, nos negando hoje de uma compreensão mais detalhada de como ele foi capaz de alcançar tanto poder. Mas, graças à pesquisa exaustiva de Peter Longerich, ainda sabemos muito sobre Himmler – o suficiente para chamá-lo de um dos grandes criminosos dos tempos modernos.


Nota:

* Welteislehre (Teoria do Gelo Cósmico), conhecida também como “Cosmogonia Glacial”, é uma teoria cosmológica proposta por Hans Hörbiger, um engenheiro e inventor austríaco.

Hörbiger não chegou à sua teoria por meio de pesquisa, mas disse que ele a havia recebido por uma “visão” em 1894. De acordo com sua teoria, gelo era a substância básica de todos os processos cósmicos, e luas geladas, planetas gelados e o “éter global” (também feito de gelo) havia determinado o desenvolvimento inteiro do Universo.

Ela não recebeu muita atenção na época, mas após a Primeira Guerra Mundial, Hörbiger decidiu mudar sua estratégia, promovendo a nova “verdade cósmica” não somente às pessoas nas universidades e instituições de ensino, mas também ao grande público. Hörbiger achava que se “as massas” aceitassem sua ideia, então elas poderiam pressionar o establishment acadêmico a divulgar sua teoria nos meios de comunicação.

Duas organizações foram criadas em Viena baseadas nesta teoria, a Kosmotechnische Gesellschaft e o Instituto Hörbiger. O primeiro foi criado em 1921 por um grupo de entusiastas da Teoria, que incluía engenheiros, médicos, funcionários públicos e empresários. A maioria era pessoalmente ligada a Hörbiger e participava de suas palestras. Entre os seguidores de Hörbiger estava o escritor vienense Egon Friedell, que explicou a Teoria do Gelo Cósmico em seu livro de 1930 História Cultural da Modernidade.

Heinrich Himmler, um dos líderes nazistas mais poderosos, tornou-se um seguidor ativo da teoria e dizia que se ela fosse corrigida e ajustada de acordo com as novas descobertas científicas ela poderia ser muito bem aceita como trabalho científico. Entretanto, o Ministério da Propaganda sentiu-se obrigado a esclarecer que “uma pessoa pode ser um bom nacional socialista sem acreditar na teoria.”

Adolf Hitler, um seguidor entusiasta da teoria, adotou-a como a cosmologia oficial do partido nazista. Ele afirmava que Hörbiger não era aceito pelo establishment científico porque “o fato é que os homens não querem conhecer.” A Teoria do Gelo Cósmico deveria fazer parte do planetário que Hitler queria construir no monte Pöstling em Linz. De acordo com o projeto estrutural, o piso térreo seria o centro em torno do Universo Ptolomaico, o piso médio teria a teoria de Copérnico e no piso superior, a teoria de Hörbiger.

Especula-se que a razão real do interesse de Hitler e Himmler na teoria era a tentativa de contrabalançar a influência judaica percebida nas ciências, semelhante ao movimento Física Alemã. A teoria de Hörbiger era, por exemplo, oposta à teoria da relatividade de Albert Einstein. Dezenas de jornais científicos, livros e mesmo romances foram publicados sobre este assunto. As teorias de Hörbiger tornaram-se aceitas de forma generalizada entre a população da Alemanha nazista e uma organização teve milhares de membros.

Após a Segunda Guerra Mundial, a teoria desapareceu. Mas foi reavivada um pouco depois, continuando a ter membros tanto na Alemanha quanto na Inglaterra por muitos anos, mesmo tendo sido desacreditada novamente.


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domingo, 18 de agosto de 2013

[SGM] O Discurso do “Mapa Secreto” de Roosevelt

Mark Weber

 
O presidente Franklin Roosevelt era um mestre do engodo. Em pelo menos uma ocasião, ele admitiu honestamente sua prontidão em mentir para conseguir seus objetivos. Durante uma conversa em maio de 1942 com seu conselheiro próximo judeu, o Secretário do Tesouro Henry Morgenthau Jr., o presidente lembrou: “Você sabe, sou um trapaceiro, e nunca deixo minha mão direita saber o que minha mão esquerda faz... Posso ter uma política para a Europa e outra diametralmente oposta para a América do Norte e do Sul. Posso ser inteiramente inconsistente e, além disso, desejo perfeitamente enganar e dizer inverdades para ajudar a ganhar a guerra.”*

Roosevelt não foi o primeiro ou o último presidente americano a mentir para o povo. Mas raramente existiu uma figura política americana proeminente que tenha feito um discurso com mentiras descaradas como Franklin Roosevelt fez em seu anúncio ao Dia da Marinha de 27 de outubro de 1941, que foi dado a um grande encontro em Washington, DC, e transmitido ao vivo para toda nação por rádio.

Muita coisa aconteceu nos meses precedentes. Em 11 de março de 1941, Roosevelt transformou a ajuda Lend-Lease em lei, permitindo entregas gradativamente crescentes de ajuda militar para a Grã-Bretanha – uma política que violava a neutralidade americana e a lei internacional. Em abril, Roosevelt enviou ilegalmente tropas americanas para ocupar a Groenlândia. Em 27 de maio, ele afirmou que os líderes alemães planejavam a “dominação mundial”, e proclamou aos EUA um estado de “emergência nacional ilimitada”. Seguindo o ataque da Alemanha contra a URSS em junho, a administração Roosevelt começou a fornecer ajuda militar aos soviéticos sitiados. Estes embarques também violavam descaradamente a lei internacional. Em julho, Roosevelt enviou ilegalmente tropas para ocupar a Islândia. E em setembro, Roosevelt anunciou uma ordem para os navios de guerra americanos de “mirar e atirar” contra embarcações alemãs e italianas em alto mar.

O presidente começou seu discurso do Dia da Marinha lembrando que submarinos alemães torpedearam o destróier americano Greer em 4 de setembro de 1941 e o destróier Kearny em 17 de outubro. Em linguagem altamente emocional, ele caracterizou estes incidentes como atos espontâneos de agressão direcionados contra todos os americanos. Ele declarou que, apesar de querer evitar o conflito, as hostilidades haviam começado e “a história registrou quem deu o primeiro tiro.” O que Roosevelt deliberadamente falhou em mencionar era o fato de que em ambos os casos, os destróieres americanos se envolveram em operações ofensivas contra os submarinos, que atiraram em autodefesa somente como último recurso. Apesar da ordem de “mirar e atirar” de Roosevelt, que tornou incidentes como estes que ele condenou piedosamente como inevitáveis, Hitler ainda queria evitar guerra com os Estados Unidos. O líder alemão ordenou expressamente que seus submarinos evitassem conflito contra navios de guerra americanos sob qualquer custo, exceto para evitar destruição iminente. Apesar dos esforços provocativos do presidente Roosevelt para conduzir Hitler a declarar guerra aos Estados Unidos, a maioria dos americanos ainda se opunham ao envolvimento direto no conflito europeu.

E assim, como parte de seu esforço em convencer os americanos que a Alemanha era uma ameaça real à sua segurança, Roosevelt continuou seu discurso do Dia da Marinha com um anúncio surpreendente: “Hitler tem protestado frequentemente que seus planos de conquista não se estenderão além do Oceano Atlântico... Tenho em minha posse um mapa secreto, feito na Alemanha pelo governo de Hitler – pelos planejadores da Nova ordem Mundial. É o mapa da América do Sul e parte da América Central como Hitler pretende reorganizá-las.” Este mapa, explicou o presidente, mostrava a América do Sul, assim como “nossa grande linha vital, o canal do Panamá,” dividido em cinco Estados vassalos sob a dominação alemã. “O mapa, meus amigos, torna claro o projeto nazista não somente contra a América do Sul, mas também contra os Estados Unidos.”**

Roosevelt continuou revelando que ele também tinha em sua posse “outro documento feito na Alemanha pelo governo de Hitler. É um plano detalhado para abolir todas as religiões existentes – católica, protestante, mulçumana, hindu, budista e judaica – de modo que a Alemanha imporá “em um mundo dominado, se Hitler ganhar.”

A propriedade de  todas as igrejas serão tomadas pelo Reich e seus marionetes,” ele continua. “A cruz e todos os outros símbolos de religião serão proibidos. O clérigo será silenciado para sempre sob a penalidade dos campos de concentração... No lugar das igrejas de nossa civilização, haverá o estabelecimento de uma igreja nazista internacional – uma igreja que servirá aos oradores determinados pelo governo nazista. No lugar da bíblia, as palavras do Mein Kampf serão impostas e reforçadas como Palavra Santa. E no lugar da cruz de Cristo serão colocados dois símbolos – a suástica e uma espada nua.” ***

Roosevelt enfatizou a importância de suas afirmações alarmantes. “Vamos ponderar bem,” ele disse, “estas verdades horríveis que eu lhes disse a respeito dos planos presentes e futuros do hitlerismo.” Todos os americanos, ele continuou, “devem enfrentar a escolha entre o tipo de mundo que eles pretendem viver e o tipo de mundo que Hitler e suas hordas nos imporão.” Analogamente, “temos o nosso compromisso de colocar nossas forças na destruição do hitlerismo.”

Em Berlim, o governo alemão respondeu rapidamente ao discurso com uma declaração que rejeitava categoricamente as acusações do presidente. Em relação aos supostos documentos secretos, ele declarou, “são falsificados do tipo mais grosseiro e rude.” Além disso, a declaração oficial continuou: “As afirmações da conquista da América do Sul pela Alemanha e a eliminação das religiões das igrejas ao redor do mundo e sua substituição pela igreja nacional socialista são tão ridículas e absurdas que é superfulo para o governo do Reich discuti-las.” O Ministro da Propaganda Joseph Goebbels também respondeu às acusações de Roosevelt (ver texto abaixo). As “absurdas acusações” do presidente americano, escreveu ele em um longo ensaio, eram uma “grande fraude” elaborada para “fazer a cabeça da opinião pública americana.”

Em uma conferência de imprensa no dia seguinte ao discurso, um repórter naturalmente pediu ao presidente uma cópia do “mapa secreto”. Roosevelt se recusou, mas insistiu que ele tinha vindo de “uma fonte indubitavelmente confiável.”

A estória completa só apareceu muitos anos depois. O mapa existia, mas era uma falsificação produzida pelo serviço de inteligência britânico, muito provavelmente em seu laboratório técnico no Canadá. William Stephenson (codinome: Intrépido), chefe das operações de inteligência britânica na América do Norte, passou-o para o chefe de inteligência dos EUA, William Donovan, que o deu a Roosevelt. Em uma memória publicada no final de 1984, o agente britânico durante a guerra Ivar Bryce disse que a ideia do “mapa secreto” foi sua. É claro, o outro “documento” citado por Roosevelt, afirmando os planos alemães para destruir as religiões mundiais, era tão fraudulento quanto o “mapa secreto”.

O público americano de 1941 aceitou em sua grande maioria como verdade as afirmações fantásticas e alarmistas do presidente. Poucos americanos podiam acreditar que seu chefe executivo pudesse estar mentindo, enquanto que “os nazistas” pudessem estar falando a verdade. Em seu discurso do Dia da Marinha, Franklin Roosevelt conseguiu seu objetivo principal, que era o de assustar o público ao ponto de conseguir o apoio, ou pelo menos a tolerância, à sua campanha de conduzir os EUA à guerra.


Notas:

* Warren F. Kimball: The Juggler: Franklin Roosevelt as Wartime Statesman. Princeton University Press, 1991

** É interessante notar como o mesmo argumento fraudulento foi utilizado pela administração Bush para mostrar o “perigo” das supostas armas de destruição em massa do ditador iraquiano Sadam Hussein (que não existiam) ou pela administração do Primeiro-Ministro israelense Benjamin Nethanyahu em seu discurso nas Nações Unidas para mostrar a intenção do Irã em destruir Israel por armas atômicas (cuja construção nunca foi provada, até pelos serviços secretos dos EUA e de Israel).

*** A ideia de que Hitler imporia um domínio mundial e escravidão a todos os povos caso tivesse ganho a guerra persiste ainda hoje, provavelmente em virtude do impacto psicológico e disseminação desse discurso.

A resposta do Ministro da Propaganda do Reich, Joseph Goebbels

“O Sr. Roosevelt confrontado”

Por Joseph Goebbels

Em 28 de outubro, mais de um mês atrás, o presidente dos EUA Franklin D. Roosevelt deu um discurso por rádio que aparentemente tinha como objetivo lançar o povo americano em incerteza e pânico, assim preparando gradualmente para a intervenção funesta que o presidente americano deseja, apesar da opinião pública americana. O discurso difere de todos os seus discursos anteriores no qual Roosevelt não limitou-se aos ataques quase tradicionais e irresponsáveis e caluniadores contra o Führer e a Alemanha Nacional Socialista. Desta vez, Le fez acusações concretas contra as políticas do Reich, que ele tentou provar através da apresentação de documentos que ele supostamente possui.

O Sr. Roosevelt afirmou que ele tem provas em suas mãos de que as potências do Eixo planejam reorganizar a América do Sul e Central. Elas planejam transformar os catorze países existentes em cinco estado que estariam sob seu controle. Sua prova é um mapa secreto supostamente produzido pelo governo do Reich. O governo americano também afirma que possui outro documento do Reich. De acordo com ele, o governo do Reich planeja abolir as religiões existentes do mundo uma vez ganha a guerra – Catolicismo, Protestantismo, Islamismo, Hinduísmo, Budismo e Judaísmo. Elas serão substituídas pela Igreja Internacional Nacional Socialista, a cruz pela suástica e Deus pelo Führer. Isto é o que ele afirma.

Está claro para nós que o Sr. Roosevelt precisava deste grande subterfúgio para enganar a opinião pública americana. Ele precisava da munição mais pesada possível, já que o povo americano é mais inteligente do que o seu governo e não quer absolutamente nada com a guerra na Europa. Não estamos realmente interessados na opinião do Sr. Roosevelt a respeito da inteligência de seu povo ou no que ele acha que ele seja capaz de acreditar, e normalmente não haveria necessidade de responder estas mentiras desavergonhadas e ultrajantes que tão claramente mostram sinais de falsificação. Neste caso, contudo, é uma questão de falsificação política que nos parece ter um objetivo claro e agourento, e nos deu uma chance de ouro para desmascarar os mentirosos ao mundo inteiro, de modo que não poderíamos perder a oportunidade. Tivemos que superar nossos escrúpulos morais, contudo, no sentido de confrontar o mentiroso e pedir-lhe onde ele conseguiu esses documentos, onde eles podem ser encontrados, e se ele estava preparado para mostrá-los em público.

As coisas ocorreram como esperado. O Sr. Roosevelt, o presidente de uma nação de 130 milhões de pessoas, ignorou nossos questionamentos. Ele afirmou que a autenticidade dos documentos é inatacável; ele os tinha. Eles, contudo, não podiam ser publicados, já que eles eram secretos e publicá-los seria como revelar a fonte. E o mapa em questão que mostrava a América Central e do Sul tinha marcas de lápis que poderiam comprometer a fonte que os forneceu. Ele, Roosevelt, não queria causar quaisquer dificuldades para o coitado que os passou adiante.

Que presidente! Ele é uma boa alma que se preocupa com seus patifes. Considerando seus discursos e ações, ele não hesitaria em enviar centenas de milhares de soldados para o campo de batalha, talvez sacrificando-os em serviço em nome de seus planos loucos de conquista, mas o simples pensamento de causar problema para um traidor elegante e honrado doe-lhe o coração. Como qualquer um pode imaginar, a resposta de Roosevelt não é uma prova muito convincente de suas acusações aterradoras tanto em casa quanto no estrangeiro. Nossos questionamentos duros deram frutos. Usamos a imprensa e o rádio para propor ao presidente americano que ele publicasse o mapa incriminador da América central e do Sul, talvez também apagando as marcas ignominiosas a lápis ou cobrindo-as com papel, ou pelo menos publicar o texto de nosso plano fantástico de começar uma campanha contra todas as religiões do mundo uma vez acabada a guerra, de Jeová até Confúcio até Cristo.

O Sr. Roosevelt afundou no silêncio, não comentando nada. Somente um de seus pares, o antigo cafetão e dono de boate argentino Taborda****, que por acaso o estava visitando na época, disse que ele tinha sido capaz de olhar o mapa, e que tudo era como o que o Sr. Roosevelt havia dito. Mais do que isso ele não poderia falar, já que ele havia lhe dado a palavra de honra.

Podemos compreender nossa relutância em considerar a palavra de honra de figura tão dúbia do submundo como absolutamente convincente. Olhamos adiante, e desde que não pudemos aprender nada além do que revelou o silêncio teimoso do acusador, tentamos fisgá-lo à resposta através de ataques maciços. Meu Deus, o normalmente cavalheiro falador parecia ter esquecido como conversar. Mesmo as tentativas da imprensa americana em saber algo mais enquanto ele visitava um dos famosos arranha-céus foi em vão.

O governo do Reich publicou duas negações formais em 1º. de novembro, que atingiram os ouvidos de Roosevelt de maneira tão intensa que ele teve que escolher entre revelar seus documentos ou provar ser ele próprio um falsificador e mentiroso para o mundo inteiro. Ele escolheu o último. A imprensa americana deu publicidade às negações alemãs e exigiu uma resposta. O Sr. Roosevelt aceitou o ataque, inflou as bochechas e não disse nada. Fizemos toda sugestão concebível para facilitar a publicação dos documentos, mas o presidente dos EUA preferiu ser concebido como um mentiroso e falsificador do que provar suas acusações absurdas.

Este é o jeito com são as coisas. Nós não nos chateamos ao acreditar que devemos de algum modo forçar o Sr. Roosevelt a falar. Ele aparentemente tem toda a razão em esperar que o assunto seja esquecido. Quando ele fez suas acusações, poderíamos talvez garantir generosamente que ele acreditava nelas. Era ao menos possível que ele tivesse sido vítima de algum tipo de “pegadinha” e tivesse acreditado na autenticidade dos documentos. Isto já não é mais possível, já que se ele tivesse agido honestamente ele teria fornecido a evidência que apoia suas acusações. Ele não o fez. Isto é prova suficiente que ele não foi vítima de uma fraude, mas muito mais do que isso, ele esteve envolvido direta ou indiretamente. Isto é um assunto de guerra e paz, e o público americano tem todo o direito de avaliar seu presidente e suas ações, perguntar-lhe sobre estes documentos, por que o Sr. Roosevelt não os publicou, se ele ainda mantém seu discurso de 28 de outubro, e o que ele planeja fazer para restaurar o dano feito à sua reputação pelas duas negações alemãs que o acusam de fraude.

Sempre sentimos a necessidade de lavar a mão após sermos forçados a lidar com os métodos do intervencionismo americano. É tão desagradável e imundo que trememos. Quando escutamos o absurdo virtuoso da plutocracia mundial comandada pelos judeus nos rádios ou o que é lido na imprensa, necessitamos olhar por trás das cenas para sentir pena pelas misérias da humanidade. Este homem teve a imprudência de nos julgar, de convocar Deus e o mundo como testemunhas da pureza de suas ações, de incitar a guerra e enviar pessoas inocentes cantando “Avante Soldados Cristãos” para lutar em nome de seus interesses financeiros imundos pode somente deixar horrorizada uma pessoa com o sentimento mais primitivo de decência. Houvesse somente tal tipo de pessoa no mundo, ela teria desprezado a humanidade.

O Sr. Roosevelt é o cúmplice de Churchill, mas aparentemente ele reconhece que no caso da derrota da Inglaterra, uma porção respeitável das possessões da Grã-Bretanha ficará sobrando. Assim, ele busca a guerra apesar da oposição da opinião pública de uma forma incompreensível para aqueles não familiares com os países democráticos. Qualquer que seja a política que ele possa seguir, ele não é mais capaz de mudar o destino da Inglaterra na guerra. Se o Sr. Roosevelt não quiser aceitar nosso argumento, ele pode pelo menos considerar que nós provavelmente não atacaremos o continente americano porque isso não é simplesmente possível. Isto deve estar claro para ele, já que é igualmente impossível para os americanos nos atacarem. Tão longe quanto os armamentos americanos possam ir, eles não são superiores em qualidade em relação aos da Europa, quanto mais melhores. Segundo, o material americano deve cruzar o Atlântico para chegar à Inglaterra. Nós, por outro lado, podemos receber tudo que não produzimos através de linhas ferroviárias de cada nação da Europa.

Mesmo na América, as árvores não alcançam os céus. Podemos dizer das ameaças de nosso inimigo quais são sérias e quais são blefes. Não subestimamos os Estados Unidos, mas não o superestimamos. Se o Sr. Roosevelt tiver sucesso em provocar a Guerra, ele verá que sua realidade é consideravelmente menos prazerosa do que suas fantasias. Seguiremos suas contínuas maquinações com calma estoica. Aqui, também, a comida é mais quente no forno do que no prato.      

http://www.calvin.edu/academic/cas/gpa/goeb2.htm

Nota:

**** Raúl Damonte Taborda (1909 – 1982). Deputado do Partido Radical que comandou um Comitê de investigação de atividades antiargentinas em julho de 1941 cujo alvo principal eram grupos nazi-fascistas instalados no país.  

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A Liderança Imoral de Roosevelt

http://epaubel.blogspot.com.br/2012/12/pol-lideranca-imoral-de-roosevelt.html

A Guerra Cultural torna-se Global

Patrick Buchanan, 13/08/2013

 
A guerra cultural tornou-se global.

E as divisões não são somente entre as nações, mas dentro delas também.

“De repente, a homossexualidade é contra a lei,” lamentou Jay Leno. “Quero dizer, isto parece com a Alemanha. Vamos prender os judeus. Vamos prender os gays... Quero dizer, a coisa toda começa com aquilo.”

Leno estava falando da Rússia de Vladimir Putin. Obama concordou impulsivamente: “Não tenho paciência com países que tratam gays ou lésbicas... de modo a intimidá-los ou maltratá-los... Ninguém fica mais ofendido do que eu com a legislação antigay e lésbica que estamos vendo na Rússia.”

Leno e Obama estavam se referindo à nova lei russa proibindo “propaganda homossexual”. Moscou está também alertando os estrangeiros, incluindo os visitantes dos Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi que propagar direitos gays pode levá-los a duas semanas de detenção. Beijos públicos não são permitidos.

“Medieval”, uivou o The Washington Post. “A guerra do Sr. Putin” contra os gays e lésbicas é “parte e parcela de seu lapso rumo à xenofobia, chauvinismo religioso e intolerância geral.”

O New York Times de segunda-feira tem uma reportagem de página frontal – “Gays na Rússia estão fora do Paraíso, apesar do apoio do Ocidente” – trazendo fotos de manifestantes cercados pela polícia.

Nossas elites morais e culturais colocaram Putin em alerta: ande ao nosso lado em relação aos direitos gays ou boicotaremos seus jogos de Sochi.

O que isto revela é a distância que a América percorreu, moral e culturalmente, em poucos anos, e nossa amnésia sobre quem os americanos uma vez foram, e no que nós acreditamos uma vez.

Somente ontem, a sodomia homossexual, que Thomas Jefferson disse que deveria ser tratada como estupro, foi colocada fora da lei em muitos estados e o casamento de mesmo sexo era lembrado como um absurdo.

Será que a América na qual crescemos era realmente como a Alemanha Nazista?

Nas escolas católicas este autor estudou, a pornografia – e muito menos a propaganda homossexual – era motivo de expulsão.

Isto se parece com a Kristallnacht?

Como o padre Regis Scanlon escreve na Revista Crise, em 2005, o Papa Bento XVI reiterou a doutrina católica de que a homossexualidade é uma “forte tendência direcionada a um mal moral intrínseco,” uma “desordem objetiva.” Que os atos homossexuais são antinaturais e imorais conforme o ensinamento católico.

Assim, se procurarmos construir uma Boa Sociedade através dos padrões tradicionais católicos e cristãos, por que a propaganda homossexual não deva ser tratada da mesma forma como a propaganda racista e antissemita?

Não podemos nem mais chegar a um acordo no que é bom e mal.

Quando o Papa Francisco disse, “Quem sou eu para julgar?” ele estava dizendo que uma orientação sexual é algo sobre a qual um indivíduo pode não ter nenhum controle, datando do nascimento ou infância. Assim, os homossexuais não devem ser condenados, mas trazidos para a comunidade.

Quanto à propaganda homossexual e as manifestações, isto é outro assunto. Qual, alguém pode se perguntar, é a visão daqueles cristãos evangélicos que mantém o Partido Republicano sobre a propaganda homossexual em praça pública? Eles concordam com o Post? Ou eles concordam com Putin?

Quando o regime socialista de Fraçois Hollande criou uma lei autorizando o casamento de mesmo sexo, um milhão de franceses marcharam em protesto em Paris. A América está do lado de Hollande ou do lado dos manifestantes?

Quando judeus ultraortodoxos de Jerusalém denunciam a parada anual do orgulho gay na Cidade Santa, em qual lado a América está?

O Post lamenta pelas “jovens da perseguida banda de rock Pussy Riot,” que se envolveram em atos obscenos seminus no altar da catedral mais sagrada de Moscou.

Tivessem essas mulheres pichado suásticas no Museu do Holocausto em Washington, D.C., teria o Post sido tão simpático com elas?

Putin sugeriu que as damas tentassem fazer isso em Meca.

Em nossas últimas guerras do Oriente Médio, a América lutou pela democracia secular. Mesmo assim, os cristãos sofreram terrivelmente, com o assassinato de padres, queima de igrejas, terrorismo e luta indiscriminada.

De acordo com a LifeSiteNews, Putin, encontrando-se com líderes cristãos ortodoxos, pediu ao mundo que se una para combater estas perseguições violentas.

Especialmente no Oriente Médio e na África do Norte... os direitos das minorias religiosas estão sendo infringidos, especialmente dos cristãos e dos cristãos ortodoxos... Este problema de pressão deveria ser objeto de atenção de toda a comunidade internacional.

Ao pedir que a América e o Ocidente se unam à Rússia para salvar os cristãos da Síria, o Patriarca Ortodoxo Kirill disse que sua expulsão da Síria seria uma “catástrofe” para a civilização.

Por acaso Obama chegou a falar de uma ação internacional para salvar os cristãos? O New York Times exibiu uma fração da preocupação com os cristãos perseguidos em suas exibições diárias para os atormentados homossexuais?

O que o Post quis dizer com “chauvinismo religioso”? Putin está tentando restabelecer a Igreja Ortodoxa como o norte moral da nação, como ela tem sido nos últimos 1.000 anos antes da Rússia se tornar refém da ideologia ateísta e pagã do Marxismo.

“A adoção do cristianismo,” declarou Putin, “tornou-se um ponto de inflexão no destino de nossa pátria, nos tornou uma parte inseparável da civilização cristã e ajudou a torná-la uma das maiores potências mundiais.”

Alguém ouviu algo parecido do Post, do Times ou de Barack Hussein Obama?


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domingo, 11 de agosto de 2013

[POL] Churchill: O Fim da Glória

Stephen Berry

 
Em uma crítica recente de “Um Mundo em Armas”, de Gerhard L. Weinberg, no The Times, o historiador Norman Stone expressou o pensamento britânico sobre a Segunda Guerra Mundial. Os britânicos, ele acha, são os heróis deste livro. Stone acha notável que os britânicos, junto com os franceses e os holandeses, não tenham feito um pacto com o governo alemão para manter seus impérios marítimos. A Alemanha tinha ambições imperiais na Ucrânia. Por que não um pacto, com a Europa Ocidental buscando os oceanos e a Europa Central buscando as estepes? Ao invés disso, a guerra tornou-se a Guerra da Sucessão Britânica – um quarto do globo para divisão – com a América emergindo como o claro vencedor. E Stone está contente que tudo isto tenha acontecido. “Aquela guerra, desastrosa como foi para os britânicos... tinha que ser lutada, e hoje temos a Alemanha que precisamos e queremos.”

Apesar de A.J.P Taylor ter escrito um livro afirmando que Hitler não era um louco com intenções de dominação mundial, ele considerou (no seu História Oxford da Inglaterra) que a Segunda Guerra Mundial foi uma guerra do povo, onde os britânicos atingiram sua maioridade, uma guerra de ter orgulho. No meio de suas efusões, Taylor é desleixado o suficiente para conceber o custo da guerra para o povo britânico. Aproximadamente 400.000 pessoas foram mortas, e a isto deve ser adicionado o número de mutilados e feridos. O Reino Unido recorreu a dívidas com o resto do mundo no valor de £ 4 bilhões (número relativo ao valor da libra esterlina em 1946). Um pouco mais de £ 1 bilhão foi levantado com a venda de ativos estrangeiros. £ 3 bilhões de dívida estrangeira foi criada e, portanto, um peso para as futuras gerações. Renda invisível* caiu pela metade para £ 120 milhões ao ano e as exportações ficaram 40% menores em relação ao número do pré-guerra.

Isto não chega perto de um cálculo final do custo real da guerra. De vez em quando me deparo com pequenos petiscos que me fornecem evidência da deterioração dos padrões de vida durante aqueles anos. Recentemente, estatísticas foram publicadas mostrando que mortes no trânsito estão caindo (acho que ano passado foram em torno de 4.000). Os dois anos em que as fatalidades nas estradas atingiram seu ápice foram 1940 e 1941 (aproximadamente 9.000 em cada ano), presumivelmente como resultado dos blackouts devido aos ataques aéreos. Durante a recente controvérsia na queda da idade de leitura das crianças, alguém mencionou que a última vez que a idade de leitura das crianças tinha caído ocorreu entre 1937 e 1946. Estou certo de que exemplos como estes podem ser multiplicados e que a qualidade de vida caiu dramaticamente entre 1939 e 1945 para a maioria das pessoas.

Aos poucos, a visão oficial da Segunda Guerra Mundial começa a mudar. Churchill brincou, “A História não olhará bem para Neville Chamberlain – Eu sei, eu devo escrevê-la.” Ele então resolveu escrever uma coleção de livros sobre a história da guerra que moldou a percepção geral dela. John Charmley escreveu recentemente uma biografia de Churchill que questiona a visão oficial, churchulliana e oferece algumas percepções do destino do liberalismo no começo do século XX na Grã-Bretanha.

A vida juvenil de Churchill é aquela de um jovem aristocrata ambicioso que está ansioso em deixar sua marca. Ele escreve alguns livros nos últimos anos do século XIX, os quais descrevem suas experiências como soldado no exército do império cujo Sol nunca se põe. Nestes livros, ele era crítico da “política do futuro” do governo Salisbury – a política de mais expansão imperial. É agradavelmente surpreendente saber que o imperialista tabagista dos anos posteriores ficou uma vez satisfeito que um quarto do mapa mundial estivesse pintado de vermelho.

Pelo fato do pai de Churchill ter sido um dos líderes do partido Tory, o jovem Winston sentiu-se obrigado a juntar-se aos Conservadores. De fato, suas visões políticas eram próximas dos membros do Partido Liberal da época, e não foi surpresa quando ele mudou de partido (não pela última vez) e juntou-se aos Liberais em 1905. Sua recusa em trabalhar em equipe, um egocentrismo intenso que ele não fazia questão de esconder e uma predileção por ataques pessoais fizeram com que o Rei dissesse, “Churchill é um gigolô,” e como Charmley diz, o Rei não era o único que tinha este ponto de vista.

Apesar de Churchill ter se oposto a investimentos navais em 1909 enquanto estava no Departamento de Comércio, ele apoiou um aumento de gastos quando foi para o Almirantado. Ele parece ter sido um ministro que aumentava sua própria importância lutando para aumentar a verba de seu departamento, um fenômeno de modo nenhum único. Ele apoiou totalmente uma corrida armamentista naval com a Alemanha antes da Primeira Guerra Mundial. Ele parecia amar a guerra e tudo em torno dela. No meio da crise de Sarajevo em 1914, ele escreveu para sua esposa, “Estou interessado, entusiasmado e feliz. Não é horrível estar deste modo?”

Em 1914, as opiniões de Churchill estavam formadas e não acho que elas mudaram muito. Ele era a favor de intervenção ativa no estrangeiro (logo evidenciadas por suas visões em relação à Guerra Civil Russa e à Turquia) e intervenção no país em questões sociais. Ou seja, as típicas visões de um político do século XX, um pouco mais na política externa ao invés dos assuntos domésticos já que ela era mais importante para ele. Mas este tipo de pensamento não é incomum, sendo Bush nos EUA um exemplo.

Churchill achava que a Grã-Bretanha deveria se aliar com a segunda potência mais poderosa da Europa, a ideia central da doutrina do Departamento do Exterior. Alianças foram criadas contra a Espanha de Felipe II, a França de Louis XIV e a Alemanha do Kaiser Guilherme II no sentido de prevenir que estes países dominassem a Europa. Mantenho o ponto de vista que alianças contra a potência mais forte na Europa faz sentido para o governo do Reino Unido, mas somente se as intenções daquele país forem hostis à Grã-Bretanha. Baldwin, e provavelmente Chamberlain, assumiram o ponto de vista que Hitler queria se mover para o leste. Se haveria qualquer luta a ser feita na Europa, Baldwin queria ver os bolchevistas e os nazistas nela. Baldwin estava certo neste ponto, enquanto Churchill estava errado. Uma rápida olhada no Mein Kampf teria despertado os políticos britânicos em relação às visões políticas de Hitler. Hitler queria converter a Ucrânia numa colônia alemã. Isto era deplorável, mas não era da conta do governo inglês – assim como atualmente os eventos na Iugoslávia não são da conta do governo britânico. Tal política é consistente com uma política externa não-intervencionista e é consistente com o Liberalismo.

Em fevereiro de 1938, o Gabinete concordou que os gastos com defesa fossem de £ 1,57 bilhão nos próximos cinco anos. Isto, foi sentido, era a máxima quantidade para uma nação do porte da Grã-Bretanha. Charmley mostra que as visões de Churchill antes da Segunda Guerra Mundial levaram pouco em conta suas implicações de longo prazo para o Reino Unido. O Estado poderia exercer mais controle sobre a economia e aumentar o gasto com defesa, mas quais seriam as consequências para a economia? Talvez Churchill tenha pensado que trazer os sindicatos para o governo, gastando quantidades enormes de dinheiro e intervindo na economia em grande escala poderia rapidamente ser desfeito. A maioria dos cidadãos britânicos vivos hoje tem vivido com as consequências da economia de guerra construída entre 1939 e 1950 e sabem que ela não pode ser desfeita rapidamente. O Partido Trabalhista não teria alcançado o sucesso entre 1945 e 1950 sem as estruturas econômicas herdadas da guerra. Estas são as implicações de uma política externa intervencionista.

Após a queda da França, muitas pessoas ficaram interessadas na paz. Beaverbrook disse, “Ele poderia não ver outra alternativa na época, mas negociar um acordo honroso, permanecer dentro das fronteiras de nosso império, nos armar até os dentes, deixar o continente traçar seu próprio destino e defender o Império com toda nossa força.” Lloyd George acreditava que uma vez que Hitler visse que a Grã-Bretanha não pudesse ser derrotada facilmente, chegaria a época para negociar os termos. A Grã-Bretanha estava isolada do continente de um modo que ela nunca este antes. Para derrotar a Alemanha, ela precisaria se equipar, criar e desembarcar um exército maciço no continente para sustentar uma guerra por anos. Depois de um tempo, a Grã-Bretanha estaria falida.

Churchill jamais faria isso. Ele conseguiu o emprego de Primeiro Ministro graças à ajuda da Dama Sorte. Em 10 de maio de 1940, o dia da Blitzkrieg alemã na Holanda e Bélgica, um funcionário público falhou em dizer a Halifax que R. A. B. Butler estava esperando fora do escritório com a mensagem que os trabalhistas serviriam em uma coalizão com ele. Halifax saiu do escritório direto para o dentista. À noite, Churchill era o Primeiro Ministro e já era tarde demais. Ele não iria abandonar sua ambição de vida sem uma luta. Ao final de 1940, vários códigos alemães foram quebrados e Churchill sabia que os alemães não iriam invadir. A Luftwaffe foi expulsa dos céus da Grã-Bretanha e os italianos derrotados na África do Norte. A possibilidade de uma paz honrosa nos próximos meses teria sido bem real. R. A. B. Butler entrou em contato com o ministro sueco em Londres e supõe-se que Hess viajou para a Escócia porque algumas pessoas importantes estavam interessadas na paz (os detalhes deste episódio ainda estão envoltas em mistério e governos britânicos sucessivos não se mostram dispostos a nos dizer a verdade).

Churchill novamente permaneceu firme. Ele lutaria contra os nazistas nas praias – por trabalho e país. O início da guerra o trouxe para o Almirantado e seu final poderia ver sua partida ao estilo Lloyd George. Ele ainda era impopular para uma grande parte do Partido Conservador que não havia esquecido sua oposição ao Ato da Índia e suas gafes durante a Crise da Abdicação. Churchill pensou em dois métodos com os quais a guerra poderia ser ganha.

1. A RAF bombardearia os alemães até o pó. A condução subsequente do conflito lançou dúvidas sobre a praticabilidade e moralidade desta política.

2. Ele também contava com a ajuda do Ocidente, da terra de nascimento de sua mãe. Mas haveria um preço.

A política de Chamberlain de construir caças ao invés de bombardeiros garantiu a independência da Grã-Bretanha em relação à Alemanha. A continuidade da guerra por Churchill substituiu isto pela dependência em relação aos EUA. No outono de 1940, as reservas em dólar estavam exauridas. O secretário do Tesouro americano Morgenthau exigiu uma lista completa dos bens britânicos no hemisfério ocidental, diferenciando-os de acordo com sua liquidez. Quando Roosevelt viu a lista, ele lembrou, “Bem, eles não são pobres, há muito dinheiro lá.” Na primavera de 1941, Roosevelt estava em um estado mais alegre, “Estamos mamando na vaca financeira britânica, que tem muito leite, mas deve acabar secando.” Em 10 de março, Halifax recebeu um ultimato (Churchill livrou-se de seu adversário nomeando-o embaixador na América). Os britânicos deveriam vender suas companhias importantes nas próximas semanas como marca de boa fé; uma subsidiária da Courtaulds foi vendida a preço de banana.

À medida que a guerra se aprofundou, assim também aconteceu com seu custo. Charmley teve grande alegria ao comparar as semelhanças entre a política de Churchill em relação à Polônia após 1944 e a de Chamberlain em relação à Tchecoslováquia em 1938. Ele compara a atitude de Chamberlain para a Alemanha em 1938 e 1939 com o apaziguamento de Churchill para a Rússia no final da guerra. Mesmo assim, tenho simpatia por Churchill aqui. No que a Grã-Bretanha poderia ajudar a Polônia em 1944 e 1945? Nossas tropas estavam na Polônia nesta época? A opinião pública britânica estava tão pró-soviética que Orwell teve dificuldades em encontrar uma editora para publicar seu livro antibolchevista, “A Revolução dos Bichos”.

À medida que os velhos soldados da Segunda Guerra Mundial deixam este mundo, um julgamento mais equilibrado pode e será feito. À luz dos eventos dos últimos 50 anos, as razões de Chamberlain para evitar a guerra tornam-se mais convincentes**:

1. Outra guerra de grandes proporções enfraqueceria o poder britânico ainda mais. A Grã-Bretanha não poderia manter uma guerra longa, e era impossível vencê-la com poucos recursos militares.

2. A guerra colocaria o Reino Unido em dependência da América, cujas ideias teriam uma parte ainda maior nas discussões do pós-guerra em relação ao que aconteceu em 1919. O internacionalismo wilsoniano tornar-se-ia a nova ordem mundial.

3. A expansão da Alemanha seria no Leste europeu, uma área que tradicionalmente tinha pouca importância para o Reino Unido.

4. A intervenção na Europa Oriental exigiria a ajuda da URSS e o preço seria muito alto.

“Mas este louco precisava ser parado!” é lembrado como o argumento decisivo pela brigada do pós-guerra neste ponto. Não estou convencido. Imagine se a Grã-Bretanha e a França não tivessem declarado guerra à Alemanha em setembro de 1939 e Hitler tivesse eventualmente continuado seu plano mestre de atacar a União Soviética. Uma grande guerra entre a URSS e a Alemanha poderia ter tido um número de resultados possíveis. Um atolamento, com as duas potências totalitárias se arrastando atrás de arames farpados. A Alemanha ganhar. Robert Harris retrata esse cenário em sua obra de ficção “Pátria”. Hitler disse em 1942, “As pessoas de vez em quando dizem para mim: ‘Seja cauteloso! Você terá 20 anos de guerrilha em suas mãos.’ Eu me delicio com essa expectativa... a Alemanha permanecerá em estado de alerta perpétuo.” As consequências de um Império Alemão na Rússia europeia teria sido de uma guerrilha (sem dúvida financiada pelo Ocidente) em uma escala que teria feito o Afeganistão parecer uma briga de salão. Em ambos os casos, existe a possibilidade de populações descontentes gozando das alegrias de economias totalitárias – tornadas pior pela realidade da guerra. Se compararmos o desempenho deste tipo de Estado com aquele da economia mista do Bem Estar Social, a superioridade deste último é óbvia – especialmente para as pessoas vivendo no anterior. O colapso do Comunismo demonstra que as pessoas se cansam das ditaduras e das condições miseráveis de vida. Países com mercados livres deveriam agir como exemplos do que é possível conseguir.

Os objetivos de Churchill eram preservar o Império Britânico e garantir a continuidade das instituições britânicas. Seu trabalho de vida teve o efeito oposto. A guerra quebrou o Reino Unido e sedimentou o caminho para a dissolução do Império ao aumentar a importância da URSS e dos EUA. Churchill gostava de destacar que Cromwell foi um grande homem que cometeu um erro terrível. Obsecado pelo poder da Espanha em sua juventude, Cromwell falhou em notar o crescimento da França. O mesmo pode ser dito de Churchill em relação à Alemanha e à URSS. A derrota completa da Alemanha aumentou proporcionalmente a importância da Rússia Soviética no período do pós-guerra. Se isto não fosse o suficiente, a guerra ajudou na disseminação das ideias intervencionistas e socialistas que ajudaram a enfraquecer o sistema econômico e social da Grã-Bretanha do pós-guerra. Os controles de troca comercial com o exterior, impostos em 1939, foram somente abolidos em 1979. “Um perigo de longe muito maior do que os alemães,” lembrou o Primeiro Lorde do Mar Fisher em 1915. Esta descrição de Churchill parece ser a correta no mundo atual.


Notas:

* Renda invisível: renda conseguida no exterior com negócios ao invés de venda de mercadorias. Pode incluir ganhos com osistema bancário, seguros, investimento, transporte e turismo.

** No dia 5 de junho de 2013 ocorreu na Sociedade Geográfica Real um debate entre historiadores sobre o legado de Chamberlain e, mesmo com as críticas de estudiosos pró-Churchill, como Richard Evans, parece haver consenso que o Primeiro Ministro estava certo em sua política de manter a Grã-Bretanha fora da guerra na Europa.


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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

[SGM] Ucrânia dividida com seu legado da Segunda Guerra Mundial

Associated Press, 01/08/2013

 
Ucranianos vestidos em uniformes da SS nazista caminham por trincheiras e atiram com fuzis de munição falsa em uma reconstrução de uma batalha-chave contra os soviéticos durante a Segunda Guerra Mundial. Um padre ortodoxo realiza uma cerimônia para os soldados mortos da unidade nazista, abençoando os muitos homens vestindo suásticas que carregam um caixão em um ritual de enterro.

As cenas foram parte das comemorações na semana passada dos soldados, muitos nacionalistas ucranianos – junto com um bando de extremistas de direita – saudando-os como heróis. Os homens que eles estavam honrando pertenceram à divisão Galícia da SS, uma unidade militar nazista composta na maioria por ucranianos, que lutaram contra as tropas soviéticas durante a Segunda Guerra Mundial.

Mais de 20 anos após ganhar a independência da União Soviética, a Ucrânia permanece dolorosamente dividida em relação ao legado da Segunda Guerra Mundial e às ações dos combatentes nacionalistas ucranianos, que são comemorados como heróis por alguns e condenados como traidores por outros. Alguns destes combatentes serviram sob ou cooperaram com os nazistas, buscando uma chance de derrotar o regime soviético, enquanto outros lutaram tanto no Exército Vermelho quanto com os nazistas.

“A Ucrânia está em nossas almas e corações,” disse o veterano da Divisão Galícia da SS Mykhailo Yamulyk, um homem grisalho em seus 80 e poucos anos, diante dos restos de alguns de seus camaradas que foram reenterrados em caixões cobertos com a bandeira azul e amarela ucraniana, em um cemitério na pequena vila de Chervone, na Ucrânia Ocidental. “Aqueles que dizem que vestíamos uniforme alemão – sim, nós vestíamos e nossas armas eram alemãs, mas nossos corações estavam cheios de sangue ucraniano e jamais o traímos.”

Um dos veteranos da SS Galícia e camarada de Yamulyk é Michael Karkoc, um homem de Minnesota mostrado em uma investigação da Associated Press como tendo comandado uma unidade nazista acusada de atrocidades. As comemorações anuais dos galícios dão uma noção da reação complexa que as revelações de Karkoc produziram na Ucrânia, em contraste com o quase ultraje universal que elas levantaram na Polônia, Alemanha e Estados Unidos.

Todo ano, reuniões de competição comemorando a Segunda Guerra Mundial são realizadas por toda a Ucrânia, algumas resultando em pancadaria. Muito do leste russo do país celebra a vitória do Exército Vermelho sobre os invasores nazistas, enquanto que no lado ocidental ucraniano, onde a maioria dos insurgentes antisoviéticos lutaram, monumentos foram erguidos e ruas foram nomeadas em sua honra. Os veteranos recebem benefícios governamentais, não importa o lado que lutaram durante a guerra.

Os políticos também estão profundamente divididos sobre o assunto. O antigo presidente Viktor Yushchenko, que conduziu a Ucrânia em direção do Ocidente após liderar a Revolução Laranja de 2004, fez campanha para ter os insurgentes nacionalistas honrados como heróis, mesmo que historiadores ocidentais afirmem que muitas de suas unidades tenham sido responsáveis por massacres de civis, incluindo judeus e poloneses. E o partido nacionalista radical Svoboda – uma força vocal no parlamento cujos líderes foram acusados de fazer comentários antissemitas e racistas – exalta esses combatentes.

O Partido das Regiões, liderado pelo presidente Viktor Yanukovych, que é visto como aliado da Rússia, tem feito uma campanha contra o tratamento destes homens como heróis. Mas o partido explorou a causa antifascista para sua vantagem. Em maio, ele organizou uma grande reunião em Kiev para protestar contra o fascismo e pedir tolerância – mas quando o evento acabou, os ativistas pró-governistas partiram para a briga contra os manifestantes da oposição e bateram em dois jornalistas que tentavam filmar a pancadaria.

A Ucrânia pós-soviética falhou em investigar, processar ou levar a julgamento um único criminoso de guerra nazista, de acordo com Efraim Zuroff, o maior caçador de nazistas do Centro Simon Wiesenthal. O mesmo é verdade de outros países pós-comunistas com um registro de colaboração com os nazistas como Letônia, Estônia e Bielorússia. Pressionada pelo Ocidente, a Lituânia colocou três criminosos nazistas em julgamento, mas esperou que eles ficassem muito velhos ou incapacitados para serem punidos. Em todos estes países, dizem os especialistas, colaboradores nazistas suspeitos foram protegidos por causa de seu papel na luta contra os soviéticos, considerados pela maioria da população como seu maior inimigo.

“Os esforços da Ucrânia ou falta deles em investigar e processar os criminosos de guerra nazistas são considerados um fracasso total; eles não atingiram nada,” diz Zuroff. “Para trazer tal tipo de pessoa à justiça seria politicamente impopular na Europa Oriental.”

Os ucranianos buscaram sua independência dos impérios russo e austro-húngaro por séculos, assim como a Polônia, e sete décadas como parte da União Soviética. A Subjugação sob a Polônia está no coração do resentimento histórico da Ucrânia contra os poloneses. Quando a Ucrânia Soviética foi tomada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, a Organização dos Nacionalistas Ucranianos inicialmente cooperou com as forças de Hitler, esperando livrar-se do regime soviético – que havia coletivizado fazendas, planejado uma epidemia de fome devastadora que matou milhões e encarcerou ou executou opositores do regime aos montes. Quando os líderes do grupo perceberam que os nazistas não tinham nenhum plano para uma Ucrânia independente, o grupo e seu ramo militar começaram a lutar em ambos os lados das forças de Hitler e Stalin. Outras unidades militares ucranianas, tais como a Divisão Galícia SS ou a Legião de Autodefesa Ucraniana, permaneceram leais aos nazistas.

Os veteranos da Galícia veem-se como combatentes da liberdade.

Yevhen Kutsik, 86, tinha 16 anos quando pegou em armas e juntou-se à Divisão Galícia SS após ver “montanhas de corpos de homens, mulheres e mesmo crianças inocentes torturados” pelos soviéticos. “Lutei pela pátria, por meu povo, pelo meu país,” Kutsik, vestido com o uniforme azul marinho da divisão dos veteranos e um gorro, disse à Associated Press durante as comemorações nos arredores da cidade ocidental de Lviv no final de julho. Após a guerra, Kutsik foi internado em um campo de trabalho soviético.

Em abril, uma grande reunião comemorando a Divisão Galícia SS foi realizada em Lviv. Homens e mulheres vestidos em roupas tradicionais ucranianas marcharam pacificamente no centro da cidade carregando bandeiras azuis e amarelas da unidade SS – mas havia claramente um contingente neonazista no meio. Alguns manifestantes vestiam bonés nazistas da SS ou uniformes inspirados na Wehrmacht nazista, enquanto outros faziam saudações nazistas. Uma banda de skinheads neonazistas da Rússia marchou ao lado dos nacionalistas ucranianos, vestindo camisetas com o símbolo da SS Totenkopf – em aparente referência à unidade da SS que fornecia os guardas dos campos de concentração.

Em outra comemoração recente na vila de Yaseniv, nos arredores de Lviv, um jovem com o símbolo do leão da Divisão Galícia SS tatuado em sua perna vestia uma camiseta com o lema neonazista: “Orgulho branco mundial.”

Em muito da pós-União Soviética, as pessoas geralmente não recebem muita educação sobre os horrores do Holocausto. Tal ignorância tem um papel importante em eventos como estes em Yaseniv e Chervone que glorifica a simbologia nazista – e a maioria dos participantes não pertence à extrema direita. A tendência de subestimar os crimes nazistas, contudo, alimenta a tolerância com os poucos elementos neonazistas entre eles, e pode também levar à vulnerabilidade à retórica xenofóbica de partidos como o Svoboda.

Reuniões em honra a soldados que lutaram em unidades nazistas durante a SGM têm sido realizadas na Letônia e na Estônia nos últimos anos, também gerando controvérsia.

Muitos historiadores ucranianos veem os insurgentes, incluindo aqueles que colaboraram com os nazistas, como guerrilheiros e vítimas de circunstâncias injustas e brutais. Muitos historiadores ocidentais dizem que alguns deles estiveram envolvidos em massacres de civis, tais como judeus, poloneses e simpatizantes soviéticos. A matança de judeus representou “uma mancha enorme e inexpugnável nos registros da insurgência nacional ucraniana,” escreve John-Paul Himka, um historiador na Universidade de Alberta do Canadá que estuda o Holocausto na Ucrânia. Historiadores ainda estão juntando evidências do papel da SS Galícia nos crimes de guerra nazistas, disse Himka.

Uma discussão aberta do legado dos insurgentes ucranianos era tabu durante a era soviética, com as crianças na escola sendo ensinadas que eles eram inimigos do povo. Com o colapso da União Soviética em 1991, arquivos secretos foram abertos e relatos de testemunhas e documentos tornaram-se acessíveis, alguns retratando os combatentes nacionais de uma forma heroica, outras apontando as atrocidades que eles cometeram.

“Agora tornou-se aberto e com muita dor aparente,” diz Anatoly Podolsky, chefe do Centro Ucraniano para Estudos do Holocausto. “O que não pode ser feito é rotulá-los todos como colaboradores (nazistas). Ou como heróis. Eles não são todos colaboradores e eles não são todos heróis.”

Podolsky e outros dizem que uma investigação completa e condenação dos crimes de guerra nazistas na Ucrânia deveria ser conduzida junto com uma revisão análoga dos crimes cometidos pelas autoridades soviéticas, o que ainda não aconteceu.

Nascido na região de Lutsk, que agora é parte da Ucrânia Ocidental, Karkoc emigrou para os Estados Unidos logo após a guerra mentindo para as autoridades americanas sobre seu papel na Legião de Autodefesa Ucraniana, que é acusada de queimar vilas cheias de mulheres e crianças. A investigação AP encontrou evidência indicando que Karkoc estava presente na cena dos massacres, apesar de nenhum registro incriminá-lo diretamente. Quando procurado por uma entrevista em sua casa em Minnesota, Karkoc se recusou a discutir seu passado.

O Ministro do Exterior ucraniano recusou-se a falar sobre o caso de Karkoc. O Ministério Público disse que o caso de Karkoc seria revisado pela agência de segurança da Ucrânia.

Mas Vadim Kolesnichenko, um advogado do partido do presidente, pediu aos promotores para conseguir a extradição de Karkoc dos Estados Unidos e colocá-lo em julgamento na Ucrânia. “Os crimes nazistas contra a humanidade não tem data de expiração,” escreveu Kolesnichenko em uma postagem num blog.

Ativistas do outro lado do debate saíram em defesa de Karkoc.

Rostislav Novozhenets, chefe do Rus-Ucrânia, um grupo que estuda a repressão soviética contra os ucranianos, disse que combatentes como Karkoc cooperaram com os nazistas para a causa da libertação de sua pátria do regime totalitário soviético.

“Era melhor juntar-se ao exército soviético, o exército de um país infame pelas repressões e pelo Holodomor (epidemia de fome na era de Stalin), que matou milhões de seus próprios cidadãos? A URSS era o inimigo número um,” disse Novozhenets. “É por isso que aqueles garotos, aqueles ucranianos, os representantes de uma nação oprimida, não podem ser condenados: eles lutaram por uma Ucrânia independente e é por isto que eles devem ser celebrados como combatentes da independência.”               








 
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