sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

[POL] As Origens do Fascismo

Elizabeth Wiskemann

History Today, Vol. 17, nº 12, dez/1967

Filippo Tommaso Marinetti

A palavra fascismo foi há muito tempo roubada pelos comunistas e usada por eles para designar seu inimigo mais mortal, obviamente amaldiçoado pela destruição. Mas a palavra era italiana e não tinha um significado básico – somente um associado, exceto na Itália. Em italiano, um fascio significa um feixe ou grupo, um fascio di Fiori sendo um buquê de flores.

O primeiro fascio político registrado foi o Fascio Operario criado por Garibaldi em Bolonha em 1871, uma organização vagamente socialista. Muitos outros fasci políticos se seguiram, sempre significando um tipo de agrupamento esquerdista.

Quando, no outono de 1914, o dissidente socialista Mussolini foi expulso do Partido Socialista Italiano porque ele desejava que a Itália atuasse do lado aliado, ele imediatamente criou seu próprio Fascio di Azione Rivoluzionaria (Grupo de Ação Revolucionária). No final do ano, esta foi unida a uma entidade semelhante chamada Fasci, organizada por sindicalistas pró-guerra. Os membros de todos estes fasci consideravam-se revolucionários esquerdistas.

Como este tipo de fascismo tornou-se um Estado Corporativo de Partido Único de direita no período fascista? Há muitas respostas para esta questão, mas a primeira é D´Annuzio. Gabriele D´Annuzio, que nasceu em Pescara no Adriático em 1863, fez sua fama como poeta e teatrólogo nos anos 1880. Ele escreveu material flagrantemente Art-Nouveau, um tanto espalhafatoso mas não sem esplendor.

Ele simpatizava com o sindicalismo e, ao mesmo tempo, sonhava em reviver a glória passada romana e veneziana. Ele desprezava o Estado liberal de Giolitti, acusando-o de transformar a Itália em nada, numa Italietta. De certo modo, o primeiro manifesto futurista de Marinetti, publicado em fevereiro de 1909, foi uma reação contra o poema dramático de D´Annuzio, La Nave, sobre a fundação de Veneza, que foi publicado com ilustrações lascivas de Art-Nouveau em 1908.

Um carro em movimento, afirmou Marinetti, era mais bonito que a Vitória de Samotrácia[1]. “Glorificamos a guerra,” ele declarou, como “a única forma de higienização do mundo.” Assim, o fascismo nasceu do casamento turbulento da influência destes dois homens e de suas persuasões combinadas entre muitos jovens italianos, incluindo o agitado jornalista Mussolini.

A coisa que ligava D´Annuzio, Marinetti e Mussolini era um amor pela violência e o desprezo pelos direitos individuais; somente homens heroicos e violentos, eles acreditavam, tinham direito ao poder.

Acontece que o primeiro congresso do Partido Nacionalista ocorreu em Florença em dezembro de 1910. A maioria das pessoas que fundaram esse partido eram socialmente conservadoras, algumas delas representando a indústria pesada; mas eles, também, eram autoritários; eles também pensavam em termos de violência, apesar de chamarem isso de educação da nação para a guerra. A ambição que a Itália deveria se expandir para a África era comum naquela época; ela era conhecida além dos membros do Partido Nacionalista.

O terremoto em Messina em 1908 fez com queo resto da Itália conhecesse a pobreza extrema do sul; o escritor nacionalista Corradini cunhou a frase de que a Itália era uma nação “proletária”. Mas isto poderia ser corrigido com a conquista da Líbia.

“Lá em Trípoli milhões de homens poderiam viver felizes,” escreveu Corradini, somente o barbarismo turco e a obstrução interna na Itália atrapalhariam a conquista da Terra prometida que resolveria o problema do sul e encerraria a hemorragia da emigração. Quando a guerra líbia foi lançada, D´Annuzio, cujas dívidas o levaram para a França, compôs sua “Canções das Façanhas no Exterior” (Canzoni delle gesta d’oltre mare) homenageando-a: elas foram publicadas no respeitado Corriere della Sera.

Nesta época, Mussolini ainda estava atrasado em relação a D´Annuzio e Marinetti, já que em 1911 ele era um pacifista radical, e em Forli uniu-se ao republicano Nenni ao incitar as pessoas a demonstrações antiguerra. No outono de 1914, ele tornou-se um intervencionista em oposição à política de neutralidade anunciada pelo governo Salandra em 2 de agosto e apoiou o partido socialista. A neutralidade era igualmente odiada por D´Annuzio, Marinetti e Mussolini: ela os unia.

A expansão italiana na Líbia foi somente uma possibilidade, apesar de que era uma chance para a colonização. As guerras balcânicas anunciaram o colapso do Império Otomano e muitos italianos estavam ansiosos em ganhar território, preferencialmente na Albânia ou mesmo na Ásia Menor[2].

O futuro da Península Balcânica estava ligado a toda questão do Adriático e isto, por sua vez, conectado com o irredentismo[3], o futuro dos italianos que viviam na Áustria-Hungria, em Zara, Fiume, Pola, Trieste e Trento.

A pressão nacionalista alemã contra os italianos no Trentino-Alto Ágide (Tirol do Sul) era forte localmente; e os italianos se resentiam da falta de uma universidade italiana na Áustria. Era sabido que o Comandante em Chefe austríaco, general Conrad Von Hotzendorf, era a favor de uma guerra preventiva contra a Itália; era sussurrado que ele sugerira um ataque logo após o terremoto em Messina quando o Exército italiano estava envolvido com trabalho de resgate.

Como aliado da Itália na Tríplice Aliança, isto parecia uma estranha atitude por parte do Comandante em Chefe da Áustria; Conrad sem dúvida achou conveniente que as mãos italianas deveriam ser parcialmente amarradas pela Aliança[4].

O pedido italiano em relação a Trieste era etnicamente justificado; era particularmente irritante aos patriotas italianos que o grande mundo comercial de Trieste, na maioria nas mãos de judeus, tenha tido pouco entusiasmo em se unir a Itália, mantendo suas oportunidades comerciais na Áustria-Hungria por ser comercialmente mais favorável. Contudo, o desenvolvimento que tornou-se mais crítico para a Itália foi o sentimento nacionalista eslavo do sul.
      
Os camponeses eslovenos e croatas da Ístria (região em direção ao sul de Trieste) e da Dalmácia foram frequentemente italianizados no passado. Após 1900, esta tendência acabou. Ao invés disso, muitos deles sentiam-se eslavos do sul em termos de lealdade; particularmente os croatas da Dalmácia que tornaram-se defensores fervorosos de algum tipo de união iugoslava entre eslovenos, croatas e sérvios.

Quando eleições livres foram introduzidas na Áustria em 1907, foi revelado que a Ístria e a Dalmácia eram mais eslavas do que italianas. Isto coincidiu com o período quando D´Annuzio estava inculcando todos os italianos suscetíveis com nostalgia do antigo Império Veneziano; tudo aquilo que outrora pertenceu a Veneza deve retornar à Itália, ele afirmava. Assim, a rivalidade racial tornou-se amarga e a cruz era a Dalmácia.

Foi particularmente infeliz que no tratado secreto de Londres, as potências da Entente, para o desgosto da Rússia, prometeram uma grande parte da Dalmácia para a Itália. Era uma promessa que os Estados Unidos não poderiam aceitar; mas quando o presidente Wilson proibiu essa injustiça aos iugoslavos, os italianos puderam sentir que eles uniram-se às potências da Entente em troca de uma promessa quebrada. Isto tornou a frase de D´Annuzio de uma “vitória mutilada” tão plausível.

Após a declaração de Salandra da neutralidade italiana, todos os tipos de intervencionistas começaram a protestar. As Repúblicas Mazzinianas[5] estavam ansiosas em ajudar a França e quatro mil voluntários se dirigiram para lá sob a liderança do neto de Garibaldi. O grupo de futuristas estavam desde o início em cena. Suas demonstrações resultaram na prisão de Marinetti, o do pintor futurista Boccioni e de outros: destemidos, eles lançaram sua “Síntese futurista da Guerra” (Sintesi futurista della guerra) na prisão.

A contribuição de Mussolini chegou tarde quando em novembro de 1914 ele começou a publicar seu próprio jornal, o Popolo d´Italia, que recebia contribuições de todos os intervencionistas. Mussolini e Marinetti, que havia sido libertado, uniram-se em demonstrações intervencionistas. Quando a primavera chegou e o Tratado de Londres foi assinado, o “maio radiante” de 1915 foi o mês do retorno de D´Annuzio do exílio.

Em 5 de maio, ele falou em Quarto, onde Garibaldi havia partido em 1860; em 12 do mesmo mês, ele chegou e, Roma e saudou multidões excitadas do balcão de seu hotel; “Se é um crime incitar os cidadãos à violência, então devo ser culpado deste crime,” ele gritou. O clímax chegou em 17 de maio no Congresso, onde D´Annuzio beijou a espada do herói garibaldiano Nino Bixio. Em 24 de maio, a guerra foi declarada contra a Áustria-Hungria.

Marinetti apresentou-se como voluntário na hora; ele foi ferido e duas vezes condecorado. Boccioni apresentou-se como voluntário e foi morto em 1916. D´Annuzio apresentou-se imediatamente e superou sua própria retórica. Ele pilotou seu próprio avião, naqueles dias pioneiros, e lançou panfletos políticos em Trieste e Trento em agosto e setembro de 1915.

Após um pouso forçado, ele perdeu um olho e ficou em repouso por um mês. Em 1917 ele foi mais dinâmico do que nunca; sua carreira de guerra culminou em um voo sobre Viena em 9 de agosto de 1918. Mussolini também se apresentou como voluntário; ele foi ferido e retornou ao seu jornal em julho de 1917 sem nenhum desempenho espetacular: sua vida nas trincheiras o tornou ainda mais nacionalista.

Para os amantes da violência, a derrota em Caporetto em novembro de 1917 foi uma prova clara da incompetência do controle parlamentar. Violência ainda maior era necessária. Treinamento especial foi dado a homens escolhidos, frequentemente escolhidos entre jovens universitários; estas tropas especiais eram chamadas arditi e vestiam camisas negras.

Quando a guerra terminou, estes homens estavam mais perdidos do que os camponeses que voltaram para casa. Eles ficaram chocados e desanimados quando as notícias chegaram informando que o tratado de paz daria à Itália a fronteira Brenner, Trieste e a Ístria, mas não a Dalmácia.

Uma das mais estranhas anomalias na Áustria-Hungria era o corpus separatum de Fiume: este era o porto da Hungria no Adriático, administrado de Budapeste separadamente da Croácia autônoma, que governava a costa estéril ao sul de Fiume. Fiume era italiana na população, apesar de seu subúrbio, Susak, e seu interior, serem croatas. Ele não foi mencionado no Tratado de Londres.

Após a guerra, ele foi ocupado pelas forças aliadas; os iugoslavos, que esperavam alegremente por Trieste e Ístria, prepararam-se para assumir o controle, Rijeka para eles. Para os italianos parecia absurdo que a Ístria não devesse incluir Fiume; eles pensavam que isso era uma conspiração francesa contra eles. Com a conveniência das forças armadas italianas, D´Annuzio, com menos de trezentos arditi, tomou Fiume em setembro de 1919.

Este golpe foi saudado como uma vitória gloriosa contra os eslavos e um triunfo da violência. De Fiume, D´Annuzio proclamou que ele marcharia sobre Roma e a livraria de seu liberalismo: os arditi aplaudiram o discurso. Assim fez Giulietti, o chefe sindical da união dos marinheiros e um admirador de D´Annuzio. Em Fiume, D´Annuzio introduziu um sistema sindicalista de acordo com o estatuto de sua “regência” lá.

Seis meses antes, Mussolini, com Marinetti, cujo lar serviu de quartel-general dos arditi milaneses, fundou seu “Grupo Italiano de Combate” (Fasci Italiani di Combattimento) para lutar por um programa fortemente esquerdista, porém nacionalista. Pouco tempo antes, Mussolini e Marinetti conduziram um ataque violento sobre o orador socialista moderado Bissolati e debelaram seu encontro em Milão.

Bissolati clamava pelo velho ideal mazziniano de simpatia e apoio ao nacionalismo eslavo. Os mazzinianos, homens como Sforza e Salvemini, assim como Bissolati, acreditavam que a Itália somente estaria segura se ela fizesse amizade com os eslavos e, consequentemente, tomasse o lugar da Áustria como seu líder. Tal liberalismo, a expressão dos objetivos de guerra dos aliados e particularmente dos Estados Unidos, era um anátema para os apóstolos da violência.

Após a representação proporcional ter sido votada, a Câmara italiana foi dissolvida e uma eleição fixada para 16 de novembro de 1919. O resultado foi surpreendente. Dois meses após a tomada de Fiume por D´Annuzio, o novo partido dos Fascisti, liderado por Mussolini e Marinetti, não conseguiu nenhuma cadeira.

Pelo contrário, seus principais oponentes, os socialistas e o novo partido católico do Popolari, ganhaam 156 e 100 cadeiras, respectivamente, de um total de 508. A maioria dos socialistas, contudo, eram extremistas, embalados por entusiasmo leninista e compartilhando o desprezo dos fascistas pelo Parlamento; provavelmente, muitos sindicalistas que flertaram com os fascistas foram atraídos em virtude desta mostra de violência.

Giolitti chegou ao poder no verão de 1920 com Sforza como Ministro do exterior e, pelo final do ano, D´Annuzio foi obrigado a deixar Fiume e quase toda a Dalmácia foi reconhecida como Iugoslávia.

Este período oi caracterizado por dificuldades econômicas que intensificaram os problemas trabalhistas. Os líderes revolucionários dos socialistas encorajaram greves em uma grande escala: elas deveriam de ser a ponta do iceberg de uma grande evolução socialista. Os empresários ficaram apreensivos e em 30 de agosto de 1920, a Alfa Romeo em Milão ordenou o fechamento da fábrica. Logo a seguir, a associação dos engenheiros ordenou a ocupação de trezentas fábricas em Milão.

Em setembro, este estado de coisas espalhou-se para outras cidades. Simultaneamente, houve greves agrárias em larga escala em Emilia e a colheita foi abandonada para apodrecer. Giolitti vivia no passado. Ele tinha sempre deixado os arruaceiros sozinhos até que eles percebessem que estavam fazendo papel de idiotas.

Mas agora era diferente; os grevistas nas cidades tinham armas e chegaram para dominar o poder político. No último segundo, a Confederação Geral do Trabalho os dissuadiu da ideia. Na teoria, 1920 trouxe sucesso para os trabalhadores, tanto industriais quanto do campo. Mas quase todas as outras categorias sociais estavam irritadas. Se o Estado não fazia nada, por que não usar os arditi ou fascisti armadas?

Outro nome foi dado à violência italiana contra os eslovenos em Trieste em julho de 1920; os jovens do Fascio que queimaram o quartel-general esloveno foram chamados de squadristi. Em Emilia, também, os esquadrões fascistas entraram em ação contra grevistas agrários. Mussolini estava ansioso em não ficar do lado dos empresários quando as fábricas fossem ocupadas.

Mas, de fato, ele foi obrigado a fazer uso da ansiedade e irritação de todos os adversários dos sindicatos; isto era irresistível para um homem sedento de poder e inescrupuloso. Ele conseguiu roubar os louros de D´Annuzio, o qual tinha reduzido Fiume ao caos; ele encontrou apoio pelos manifestantes antigreve em Emilia.

Muitos sindicalistas e futuristas, incluindo Marinetti, agora o abandonavam parcialmente, pois Mussolini, antes um ateu radical, estava começando a dar gestos conciliadores para a Igreja.

Nos próximos dois anos, Mussolini manipulou com habilidade. Ele derrotou D´Annuzio e Marinetti ao ser menos honrado e mais ambicioso do que eles. Em 1921, ele entusiasticamente se uniu ao bloco nacionalista de Giolitti. Seus fascistas receberam carta branca para aterrorizar algumas áreas – “nossos Black and Tans”, disse Giolitti[6] – e eles ganharam 35 cadeiras na Câmara na eleição de maio de 1921.

Agora, os comunistas saíram do partido socialista. Mussolini estava impressionado como Giolitti tirou D´Annuzio de Fiume e, após as extravagâncias da campanha eleitoral, no início de agosto ele achou melhor fazer um “pacto de pacificação” com os líderes sindicais, abandonando os métodos violentos por enquanto. No outono de 1921, Mussolini transformou seu Fasci em um partido político que possuía sua própria força paramilitar, o Squadre.

Contudo, não foi até setembro de 1922 que Mussolini atravessou seu Rubicão[7] ao aceitar a Monarquia, um passo essencial se sua sede de poder fosse satisfeita sem uma guerra civil. Ele foi o mais ardente dos republicanos; e a tradição republicana era forte na Itália.

Essa renúncia foi seu passo final em direção da respeitabilidade. Isto foi tornado possível pelo Rei, após o congresso fascista em Nápoles e outra mostra de força chamada “A Marcha sobre Roma”, para revogar o estado de sítio que havia declarado; ele, então, convidou Mussolini para comandar um governo de coalizão.

Mussolini insistiu em presidir, mas seu gabinete incluía quatro liberais de pensamentos diferentes, dois direitistas do Popolari, um nacionalista, assim como quatro outros fascistas, os dois chefes de serviço e o filósofo Gentili. O que o fascismo significava estava mais obscuro do que antes; algumas pessoas pensaram que ele tornar-se-ia uma forma de Giolittismo, só que menos protecionista.

Quando indicou Mussolini, o Rei se recusou a dissolver o Parlamento. Isto deu a Mussolini tempo de abolir a representação proporcional e aprovar a Lei eleitoral Acerbo que garantia ao maior partido dois terços das cadeiras na Câmara. Novas eleições foram fixadas em abril de 1924.

Na campanha eleitoral os fascistas ganharam impiedosamente dos socialistas e dos Popolari. De fato, o fascismo tornou-se identificado com propaganda mentirosa e vitória sobre os adversários. Apesar da intimidação fascista, um terço do eleitorado votou contra Mussolini.

Entre os socialistas eleitos em 1924 esta o moderado e habilidoso Giacomo Matteoti. Em 30 de maio, seis dias após o encontro da Câmara, entre interrupções furiosas dos fascistas, Matteotti descreveu, por mais de uma hora, em detalhes o reino de terror fascista durante a campanha eleitoral, e exigiu que a eleição fosse declarada inválida.

Mussolini ordenou que a vida fosse “tornada difícil” para os adversários como Amendola e Gobetti, que mais tarde sofrerão agressões físicas. O Popolo d´Italia, após o discurso de Matteotti, declarou que ele merecia mais do que lágrimas de indignação.

Em 10 de junho, uma gangue de ex-squadristi atacou Matteotti e o assassinou, apesar de não ser provável que sua morte imediata tenha sido planejada. Seu assassinato teve um efeito devastador na opinião pública, que ficou profundamente chocada. O fascismo parecia ser reconhecido pelo que ele era, e Mussolini perdeu apoio de forma sensacional.

Assim, não havia razão para o Rei não demiti-lo como instigador do crime. Em nenhum outro país uma ditadura nasceu de tal situação. Então, os inimigos de Mussolini cometeram o erro catastrófico de abandonar o parlamento rumo ao seu Aventino[8] e de falhar  em acabar com suas diferenças. A fuga permitiu ao Rei, que detestava a maioria dessas pessoas como republicanos, condená-los como subversivos.

Suas desavenças obrigaram os industrialistas a se sentirem mais confiantes em Mussolini; o Papa, surpreendentemente, tomou o lado de Mussolini. No final de 1924, Mussolini percebeu que ele poderia converter a situação após o assassinato de Matteotti a seu favor.

Em 3 de janeiro de 1925, ele fez um discurso na Câmara aceitando responsabilidade pessoal por tudo o que havia acontecido e estabeleceu um governo plenamente fascista. Talvez isto tenha sido o seu Rubicão.

Uma após outra, todas as liberdades foram destruídas na Itália. Parecia uma eternidade desde o impulso original Adriático e futurista até o Estado-policial, com o Rei e o Senado vivendo à sombra do Grande Conselho Fascista.

Alguns anos após o assassinato de Matteotti, o elemento corporativista ou sindicalista foi introduzido no sistema; este processo culminou em 1939 quando a Assembleia das Corporações finalmente assumiu o lugar do antigo Parlamento eleito.                    

Notas:

[1] A Vitória de Samotrácia, também conhecida como Nice de Samotrácia, é uma escultura que representa a deusa grega Nice.

[2] Anatólia ou península anatoliana, também conhecida como Ásia Menor, denota a protrusão ocidental da Ásia, que compõe a maior parte da República da Turquia. A região é banhada pelo mar Negro ao norte, o mar Mediterrâneo ao sul, e do mar Egeu, a oeste. 

[3] O termo irredentismo indica a aspiração de um povo a completar a própria unidade territorial nacional, anexando terras sujeitas ao domínio estrangeiro ("terras irredentas") com base em teorias de uma identidade étnica ou de uma precedente posse histórica, verdadeira ou suposta.

[4] A Tríplice Aliança foi uma aliança militar entre Alemanha, Áustria-Hungria e Itália. Ela durou de 20 de maio de 1882 até o início da Primeira Guerra Mundial em 1914. Cada membro prometia apoio mútuo no caso de um ataque por outra grande potência, ou, no caso da Alemanha e Itália, de um ataque somente da França.

[5] O Mazzinianismo é uma escola de pensamento que apoia as ideias políticas de Giuseppe Mazzini, patriota, filósofo político e italiano, e significa a ideia de que a libertação da Itália só poderia ser feita através do estabelecimento de um Estado republicano unitário e a redenção nacional só poderia ser alcançada pelas pessoas animadas por uma profunda fé religiosa (uma espécie de religião secular da Pátria).

[6] Os Black and Tans foram uma força de combate de elite composta em sua maioria por veteranos britânicos da Primeira Guerra Mundial, empregados pela Royal Irish Constabulary (a Real Polícia Irlandesa) como uma força especial entre os anos de 1920 e 1921 para reprimir as rebeliões na Irlanda. Apesar de ter sido constituído com o objetivo de combater os membros do Exército Republicano Irlandês (IRA), eles foram constantemente usados para reprimir outros movimentos populares. Eles ficaram conhecidos por, em várias ocasiões, brutalizar e abrir fogo à queima roupa contra civis irlandeses. 

[7] Esta expressão significa tomar uma decisão que se traduzirá numa perigosa empresa, pensar em grande, ou ainda, ultrapassar fronteiras, defrontando-se com um caminho duvidoso e potencialmente perigoso. Rubicão era o nome antigamente utilizado para designar um curso de água na Itália Setentrional, que corria para o mar Adriático. Na época do império romano, este rio tinha uma importância notável: a lei romana proibia que o rio Rubicão fosse atravessado por qualquer legião do exército romano; dessa forma, a lei assim protegia a República de ameaça militar interna. No dia 11 de Janeiro de 49 a.C., o general e estadista romano Caio Júlio César tomou uma decisão radical: atravessar o rio Rubicão, seguido pelo seu exército. Nessa ocasião, segundo o historiador Suetonius, Júlio César terá proferido a também famosa frase latina “alea jacta est”, significando: a sorte está lançada!

[8] Segundo a mitologia, foi no monte Aventino que Hércules matou Caco. Durante a época do fascismo italiano, vários deputados da oposição refugiaram-se nesta colina após o assassinato de Giacomo Matteotti, aqui terminando — pela designada Secessão Aventiniana — a sua presença no Parlamento e, consequentemente, a sua atividade política. Atualmente constitui uma zona residencial de Roma.


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