Quando
Suástica foi apresentado no festival
de Cannes em 1973, brigas eclodiram na sala de projeção e alguém lançou uma
cadeira contra a tela.
“Foi
um pandemônio,” disse Philippe Mora, o diretor francês radicado em Los Angeles. “As
pessoas gritavam e jogavam coisas. Eventualmente, eles interromperam o filme e
um cara saiu da multidão e disse, ‘Senhoras e senhores, isto é o festival de
Cannes e não um salão de cervejaria.’”
A
razão pela reação furiosa foi que o documentário de Mora parecia humanizar
Adolf Hitler. Usando vídeos domésticos inéditos do líder nazista descansando em
seu retiro alpino em Obersalzberg, filmados em sua maior parte pela namorada de
Hitler, Eva Braun, Suástica destruía a imagem aceita de Hitler como um monstro.
As
platéias puderam ver a personificação do Mal brincando com seu cachorro,
paparicando crianças e discutindo o filme “E o Vento Levou”. Elas não gostaram
e o filme foi proibido na Alemanha.
Mês
passado, Suástica foi exibido na
Universidade Humboldt de Berlim para uma platéia nova e mais jovem, que estava
entre os primeiros alemães a ver o filme. Não somente não atiraram coisas como
se sentiram confortáveis o suficiente para rir sarcasticamente nos momentos irônicos
e fizeram perguntas educadas durante a sessão de esclarecimento de dúvidas.
Foi
um exemplo, Mora notou mais tarde, como a visão da Alemanha de sua própria
história nazista está constantemente evoluindo e que perguntas-chaves –
incluindo por que tantos alemães comuns apoiaram o regime que perpetrou o
Holocausto – ainda estão para serem respondidas.
Até
os anos 1980, alemães ocidentais raramente discutiam a era nazista, disse
Simone Erpel, co-curadora de uma nova exibição, “Hitler e os Alemães”, parte do
mesmo esforço para reexaminar a era nazista junto com a exibição de Suástica. A idéia de Hitler como
personagem cinematográfico era um tabu até o final dos anos 1990. Filmes
controversos como “A Queda” (2004), que retratava Hitler humanamente e mesmo em
algumas vezes de forma simpática, ou “Mein Führer” (2007), que foi uma comédia
madura, derrubaram o tabu.
“O
filme de Philippe foi feito muito cedo,” diz Erpel após a exibição na Universidade
Humboldt, na qual ela participou da sessão de perguntas e respostas. “Muita coisa mudou desde o começo dos anos 1970.”
Sua
exibição atual no Museu Histórico Alemão, que mostra como os alemães comuns
contribuíram entusiasticamente para a máquina de propaganda nazista, teria
encontrado o mesmo destino se tivesse sido realizada em 1973, diz ela.
“Os
alemães não estavam preparados para aqueles fatos 30 anos atrás,” diz ela. “Eles
criaram lendas que diferenciam o povo alemão dos nazistas. As pessoas diriam, “Meu
avô não era nazista e ele não foi um assassino.”
O
ultraje que Suástica originalmente
recebeu foi mais constrangedor em virtude do enorme trabalho que Mora teve para
revelar os vídeos caseiros de Hitler. Era material para um romance de
espionagem internacional.
Ele
tornou-se um diretor celebrado de filmes como Mad Dog Morgan, com Dennis
Hopper, O Retorno do Capitão Invencível, com Alan Arkin, e o filme de ficção
científica Communion, com Christopher Walken, sem mencionar os filmes de terror
B, The Howling, partes I e II.
Mas
quando começou Suástica, Mora era apenas um cineasta de 23 anos explorando a
história nazista. Seu próprio pai, que nasceu em Leipzig, foi expulso da
Universidade de Humboldt nos anos 1930 porque ele era judeu.
Mora
planejou originalmente uma biografia de Albert Speer, o arquiteto nazista e
confidente de Hitler que escapou da sentença de morte. Ele passou um dia na
casa de Speer em Heidelberg, durante o qual Speer apresentou seus próprios
vídeos caseiros dos anos 1930. Em um filme, Eva Braun podia ser vista segurando
sua própria câmera no retiro de Oberzalsberg, Berghof.
“Perguntei
a Speer, ‘O que aconteceu aos filmes da câmera de Eva Braun?’ Ele disse, “Eles
não existem.’ Mas ele estava mentindo.”
Poucas
semanas depois, Mora disse, seu parceiro criativo alemão, Lutz Becker, estava
numa festa e encontrou um soldado americano que esteve entre os primeiros a
pisar em Berghof no final da guerra. Ele perguntou ao soldado se ele havia
encontrado qualquer filme e o soldado disse, “Sim, pilhas deles.”
Mora
foi até o Pentágono, onde um funcionário disse que procuraria por eles. Ele
realmente não esperava mais receber notícias do funcionário novamente, porém
três meses depois, o funcionário o procurou. Eles haviam encontrado os filmes.
“Ficamos
simplesmente boquiabertos,” disse Mora, em um almoço em Berlim no mês passado. “Aqui
estava um filme incrível que estava escondido porque ninguém havia perguntado
sobre ele.”
O
produto é um filme estranho e inquietante sem narração e com somente um vago
roteiro. Mesmo assim, ele funciona a um nível resumido. Em suas conversas
banais com seus companheiros nazistas em Obersalzberg, Hitler se torna
completamente humano.
No
momento seguinte, o filme corta para o noticiário de Hitler como um semideus em
frente à multidões extasiadas que, Mora afirma, poderiam ser “fãs histéricas em
um show do Rolling Stones.”
Como
plateia, vislumbramos desconfortavelmente como as pessoas entravam na euforia.
O filme também tem seu humor negro. Ele termina com algumas imagens chocantes
do Holocausto e encerra os créditos finais com a canção satírica de Noel
Coward, “Não deixe de ser bestial com os alemães.”
Mora
disse que ele nunca quis questionar a maldade de Hitler ou suavizar o período
mais sombrio da história alemã, mas ao invés disso fazer os espectadores
pensarem de modo diferente.
“O
filme foi feito sob a premissa que todo mundo sabia que Hitler era um monstro e
um assassino. Não esperava que fosse ser motivo de debate,” ele disse. “Mas ele
foi um homem com uma mãe e um pai e irmãs e um cachorro de estimação. E isto perturba as pessoas.”
“Se
pensarmos em Hitler como um ser extraterrestre ou um demônio sobrenatural, não
perceberemos a vinda do próximo. Mas
provavelmente haverá outro.”
Jens
Koethner Kaul, 46 anos, um produtor cinematográfico que esteve na exibição na
Humboldt, acha que Suástica deveria fazer parte do currículo do ensino médio na
Alemanha.
“Crescer
na Alemanha significa aprender os fatos dos nazistas e do Holocausto,” ele
disse. “Mas o entendimento emocional estava faltando. Havia claramente algo de
sedutor ou pelo menos tentador em relação a esses caras que fazia com que as
pessoas os seguissem. Você vê isso
no filme de Philippe.”
À
medida que a Alemanha vai aceitando seu passado, as controvérsias continuarão a
crescer. Talvez a fronteira final seja o humor – e de acordo com Simone Erpel,
isto está no planejamento dos cineastas mais jovens.
“Visões
satíricas e irônicas são um modo de lidar com o passado,” ela disse. “Rir de
algo sério é importante. É assim que o humor trabalha. Isto acontecerá nos
próximos dez anos.”
Um comentário:
Este psicopota só vai ser humano o dia que for empalado e gemer de dor.................a europa em crise é natural que as pessoas busquem tábuas de salvação, e os grupos de direita se aproveitam disto.........mas jamais este senhor será humano
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