Saul David, 16/02/2012
A História nos diz que um general pode deslocar e alimentar um exército tão eficientemente quanto ele queira, mas o fator limitante real é o campo de batalha. Toda a energia que ele gasta reunindo seus homens na linha de frente em forma e com saúde não conta nada se eles não têm o equipamento correto. O que eles precisam, acima de tudo, é munição suficiente - mesmo assim, houve momentos durante a guerra quando uma escassez de projéteis de artilharia significou o silêncio dos canhões. Dada a escala sem precedentes do conflito, era obrigatório tomar tempo da indústria armamentista em tempos de paz para ajustar-se. Cada um dos combatentes principais, além disso, tinha seus próprios limites para produção. A Alemanha tinha falta das necessárias matérias-primas para fabricar pólvora (o propelente essencial para cartuchos e projéteis) e explosivos. A Áustria-Hungria foi prejudicada pela falta de transporte e infra-estrutura ferroviária. A Grã-Bretanha tinha escassez de recursos humanos e pobreza de acetona, o componente-chave para fabricar pólvora. E a França, nos anos iniciais, teve que se ajustar devido à perda de muito de seu coração industrial pelo avanço alemão. Nenhum destes fatores foi particularmente urgente enquanto a guerra esteve nos passos iniciais. Mas tão logo ela se estabeleceu no final de 1914 como um atoleiro, com a linha de trincheira percorrendo 800 km, de Nieuport na Bélgica até a fronteira suíça, os projéteis de artilharia eram necessários em maior quantidade para forçar um progresso.
Em março de 1915, na Batalha de Neuve Chapelle, os britânicos dispararam mais projéteis em um bombardeio de 35 minutos do que eles fizeram durante toda Guerra Boer. A Grã-Bretanha tinha canhões suficientes, mas estava consumindo munição muito rápido e aqueles projéteis que estavam disponíveis freqüentemente falhavam em explodir ou queimavam prematuramente no cano do canhão. Por volta de maio deste anos, a "crise dos projéteis" estava tão séria que a maior parte dos canhões britânicos foi obrigada a disparar apenas quatro projéteis por dia, e parecia que a guerra seria perdida, não nas trincheiras da França, mas nas fábricas da Grã-Bretanha. O escândalo resultou na queda do governo liberal de Asquith e sua substituição por uma coalizão, apesar de Asquith ter permanecido como Primeiro-Ministro.
Lloyd George tornou-se o chefe de um novo Ministério das Munições, responsável pelo aumento da oferta de projéteis de artilharia para a Força Expedicionária Britânica. O novo ministério começou a construir fábricas de munições através do país e transformar a economia civil em uma de guerra. Ele também encarregou o químico de Manchester, Chaim Weizmann, de produzir grandes quantidades de acetona a partir das matérias-primas. Ela era obtida previamente da destilação seca da madeira; portanto, a maior parte da acetona era importante de países com grandes florestas como os Estados Unidos.
Em maio de 1915, após Weizmann ter demonstrado ao Almirantado que ele poderia usar um processo de fermentação anaeróbico para converter 100 toneladas de grão para 12 toneladas de acetona, o governo liberou a compra de equipamento de destilação e mistura, e construir fábricas para utilizar o novo processo em Holton Heath em Dorset e em King´s Lynn em Norfolk.
Juntos, eles produziram mais de 90.000 galões de acetona por ano, suficiente para alimentar a demanda insaciável da guerra por pólvora. Como resultado, a produção de projéteis cresceu de 500.000 nos primeiros cinco meses da guerra para 16,4 milhões em 1915.
Por volta de 1917, graças às novas fábricas de munições e às mulheres que trabalhavam nelas, o Império Britânico estava fornecendo mais de 50 milhões de cartuchos por ano. No final da guerra, o exército britânico havia disparado 170 milhões de projéteis.
A transformação da França de sua produção armamentista foi ainda mais bem sucedida. Ao importar carvão da Grã-Bretanha e aço dos Estados Unidos, liberando 350.000 soldados das indústrias militares, e acrescentando mais de 470.000 mulheres nelas, ela foi capaz de aumentar sua produção diária de cápsulas de 75 mm de 4.000 em outubro de 1914 para 151.000 em junho de 1916, e de cartuchos de 155 mm de 235 para 17.000. Em 1917, ela produziu mais cartuchos e peças de artilharia por dia do que a Grã-Bretanha.
A Alemanha havia iniciado com vantagem industrial em relação à Grã-Bretanha e à França – principalmente por causa de sua liderança na produção de aço e em muitos ramos da engenharia química – e sua produção de projéteis em 1914 foi de 1,36 milhões de cartuchos. Mas escassez de matérias primas vitais - particularmente o algodão, cânfora, pirita e salitre – significou que ela não poderia aumentar sua produção à mesma taxa, e somente 8,9 milhões de cartuchos foram fabricados em 1915.
O ano seguinte viu um melhoramento robusto, graças aos esforços do departamento de matérias primas da guerra, KRA, que comandava armazenamento, distribuição e, o mais importante, inspecionar a produção da indústria química de substitutos sintéticos.
Em 1916, conseqüentemente, a produção alemã de projéteis quadruplicou para 36 milhões. Mas no longo prazo, as Potências Centrais – Alemanha, Áustria-Hungria, Turquia e Bulgária – não poderiam ter esperança de competir com o poder fianceiro e industrial dos Aliados.
O orçamento das Potências Centrais de U$ 61.5 bilhões era menos da metade dos U$ 147 bilhões dos Aliados. No verão de 1916, a Alemanha instituiu o fracassado Programa Hindenburg – chamado em homenagem ao comandante do exército, o Marechal Paul Von Hindenburg – em uma tentativa de alavancar sua produção de armas. Ao invés disso, ele drenou uma força de um milhão de homens do exército, trouxe uma crise no transporte e intensificou a escassez de carvão.
No início de 1917, a Alemanha tentou proteger suas forças espalhadas e mal equipadas da Frente Ocidental abandonando a fortificada Linha Hindenburg, e lançando uma irrestrita guerra submarina.
Esta última provocou a entrada dos EUA na guerra, assim deslocando o equilíbrio da produção de munições para o lado dos Aliados. Ela foi, basicamente, uma guerra de atrito que as más abastecidas Potências Centrais não tinham esperança de vencer.
Desde a Primeira Guerra Mundial, força superior não é mais medida em termos de homens e cavalos, mas por meio de destruição executada.
Na Segunda Guerra Mundial, os Aliados despejaram 3,4 milhões de toneladas em bombas na Europa e na Ásia. No Vietnã, um número incrível de 7 milhões foi lançado sobre a Indochina.
O custo também aumentou. Na Segunda Guerra do Golfo, os EUA lançaram uma onda de choque e pavor contra o Iraque ao disparar 800 mísseis de cruzeiro Tomahawk em um período de apenas 48 horas. Cada um deles custa U$ 500 mil. Hoje, um simples Typhoon da Eurofighter custa 50 milhões de libras e o Caça Joint Strike proposto deve alcançar 100 milhões de libras a unidade. Para campanhas inteiras, a escala de custos é incrível.
É estimado que a Guerra no Afeganistão tenha já custado 18 bilhões de libras para o contribuinte britânico. E ainda que toda a sofisticação de seu equipamento militar, a vitória da OTAN sobre um inimigo armado com um pouco mais de Kalashnikovs e bombas caseiras está longe de ser certa.
Ter as melhores armas é geralmente decisivo, mas nem sempre.
http://www.bbc.co.uk/news/magazine-17011607
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