Marine Dumeurger
História Viva, Ano VIII, nº 92
Birobidjan é um exemplo perfeito de um absurdo histórico, uma aposta insensata relegada ao esquecimento. Situada no extremo leste da Rússia, para lá da Sibéria, a mais de 8 mil km de Moscou, a Região Autonôma Judaica foi instaurada em 1934 por Stalin. Naquela época, o território (que cobria uma superfície igual à da Bélgica) era pouco povoado. Não tinha mais do que algumas dezenas de milhares de imigrantes chegados no século XIX, em sua maioria russos, cossacos, coreanos e ucranianos.
A Região Autônoma Judaica (RAJ), ou Birobidjan, nome da sua capital, destinava-se a reunir os adeptos dessa religião que viviam na União Soviética.
Os judeus frequentemente eram pobres, e a taxa de desemprego entre eles era elevada. Sem poder praticar algumas profissões e privados do direito de comprar terras até 1917, eles viviam confinados em zonas de residência, no oeste do Império Russo. A maioria era comerciante.
Concretamente, tratava-se de atrair os mais pobres para o Extremo Oriente e incentivar sua inserção, por meio da prática da agricultura. Assim, o governo esperava brecar o êxodo rumo ao oeste da URSS (Ucrânia, Bielo-Rússia, Criméia) e contribuir para o povoamento do extremo leste, que abrigava importantes e inexplorados recursos naturais e era um território estrangeiro, próximo da China e do Japão.
Para atrair os judeus, ogoverno forneceu ajuda material, como transporte gratuito, crédito vantajoso, isenções fiscais e subvenção alimentar. Em paralelo, captava dinheiro organizando sorteios e fazendo publicidade disso.
O poder central socialista previa instalar 100 mil famílias judias nas colônias agrícolas, com a intenção de construir uma nova comunidade, ao mesmo tempo socialista e laica, na qual prevalecesse o dialeto iídiche.
Mas a realidade era menos sedutora. Birobidjan ficava muito longe. Aí, as condições de vida eram hostis: verões quentes e chuvosos; invernos secos e gelados; pântanos cobrindo boa parte do território. As doenças e epidemias estavam presentes o ano todo. Os recém-chegados não encontravam muita coisa, pois tudo faltava: moradias, infraestrutura e trabalho.
Alguns anos após sua criação, a exemplo do resto do extremo leste russo, a RAJ tornou-se um centro de produção de cimento, estanho, tijolos, pasta de papel e roupas. Em 1939, só 25% da população judia do território morava no campo. Muitos não judeus nela se instalaram. Em 1939, 18 mil dos 190 mil habitantes eram judeus.
Ao longo de todo o período soviético, Birobidjan teve altos e baixos. Após a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, a população judia abandonou os territórios devastados do oeste e, entre 1946 e 1948, cerca de 10 mil pioneiros se instalaram na RAJ. Foi o apogeu da história judaica de Birobidjan, que reunia na época 30 mil colonos, um recorde. Mas os problemas de organização continuaram e muitos dos moradores foram embora.
Grandes ondas de repressão do regime se abateram sobre todo o país, e com a RAJ não foi diferente. De 1936 a 1938, o extermínio promovido por Stalin fez milhares de vítimas. Em Birobidjan, os dirigentes políticos tornaram-se suspeitos, em virtude de seu engajamento nas causas judias, e não soviéticas. O chefe do governo local, Iosif Liberberg, foi condenado à morte. O líder do partido, Matvei Khakin, seria mandado ao Gulag em 1956.
Em 1970, os judeus representavam menos de 7% da população. Nikita Krushev reconheceu formalmente em 1960 que o projeto havia fracassado. Muitas razões ajudam a explicar seu insucesso. Grandes cidades como Kiev, Minsk ou Leningrado ofereciam oportunidades de vida mais interessantes.
Tentou-se em vão relançar a colonização, com incentivos financeiros. Associações voltaram a aparecer. A sinagoga foi reaberta em 1984. Mas os recursos nunca foram suficientes, e muitos judeus aderiram ao movimento de emigração para Israel.
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