terça-feira, 29 de maio de 2012

GUERRA ASSIMÉTRICA

Gen Ex CARLOS ALBERTO PINTO SILVA
BRASÍLIA - DF, 18 Set 2007
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES
 
 
Guerra Assimétrica não é somente a guerra do fraco contra o forte: é a introdução de um elemento de ruptura, tecnológico, estratégico ou tático, um elemento que muda a idéia preconcebida; é a utilização de um ponto fraco do adversário. Não existe, pois, conflito armado assimétrico somente pela desigualdade entre os adversários, senão quando os adversários adotam formas de combate diferentes em sua concepção e desenvolvimento.

Em termos operacionais, então, a assimetria (entendida como desbalanceamento) “deriva-se de uma força empregando novas capacidades, que o oponente não percebe, nem compreende, nem espera: capacidades convencionais que sobrepujam as do adversário ou que representam novos métodos de ataque e defesa”.

É a guerra da infantaria realmente leve, que possa se mover para mais longe e mais rapidamente por terra que o inimigo, que tenha um repertório tático completo (não apenas manter o contato e solicitar apoio de fogo), que possa lutar com suas próprias armas (ao invés de depender de armas de apoio) e que se mantenha com o mínimo de apoio logístico.

A convicção moral e a eficiência militar convencional sozinhas não nos permitirão compreender e combater a ameaça que ataca a sociedade e as suas estruturas operacionais. Portanto, é essencial uma definição diferente de nível de adestramento e unidades com pessoal treinado e equipado para adaptação a novas tarefas operacionais inopinadas.

Derrotar estas novas ameaças exige a adequação de nossos sistemas decisórios para operações e a reorganização de nossas estruturas para as necessidades da Inteligência (obtenção e consolidação). Requer equipes híbridas de pensadores, cientistas e profissionais militares escolhidos, trabalhando juntos sob pressão. Depende de combinar a atuação das diversas agências de inteligência, com acesso ao ambiente operacional, considerando isto como assunto de interesse nacional.
 
REFLEXÕES SOBRE O EMPREGO DA FORÇA TERRESTRE NA GUERRA ASSIMÉTRICA

1. Não existe inimigo emassado, contra o qual possamos aplicar todo o poder de combate que a FTer pode dispor. A FTer não poderá ser empregada para romper um inexistente desdobramento inimigo, destruir ou neutralizar forças inimigas e dominar um terreno chave, materializando objetivos em um determinado espaço geográfico.

2. O emprego do fogo em massa, ou a ação contundente, rápida e profunda das formações blindadas perdem protagonismo.

3. A atuação da FTer será fundamental na luta contra um inimigo que empregue o procedimento do tipo guerrilha, contudo contra a subversão e o terrorismo seu papel haverá de ser de apoio às atividades das Forças de Segurança Pública.

4. Devemos considerar a possibilidade de que a FTer, além de ter as capacidades militares clássicas, deve adquirir outras, mais “civis”, que a permita adaptar-se à conjuntura da Guerra de Quarta Geração ou Assimétrica.

5. Na conjuntura da Guerra de Quarta Geração ou Assimétrica, trata-se de resolver situações sociais e culturais complexas em um ambiente hostil, as quais requerem uma preparação e métodos de execução diferentes dos que tradicionalmente têm sido empregados.

6. Combate e Manobra
- Isolar o inimigo eletronicamente e fisicamente.
- Realizar patrulhas, infiltrações, emboscadas, cercos etc.
- Máximo protagonismo de armas inteligentes de precisão.
 
7. Defesa Aérea
A utilização pelos terroristas de aeronaves (e mísseis) que explodem contra um objetivo de alto valor psicológico, nos leva à necessidade de estabelecer normas para Defesa Aérea que estabeleçam as formas de localização, acompanhamento, controle e, se for o caso, derrubada dessas armas.

8. Apoio de Fogo
No combate assimétrico, as ações de fogo haverão de ser: de precisão, seletivas, e, fundamentalmente, efetuadas de plataformas aéreas, tripuladas ou não, utilizando projéteis guiados.

9. Inteligência de Combate
Potencializar todos os órgãos de informações, tanto civis como militares, com maior protagonismo da contra-inteligência, inteligência cultural e atividades de obtenção através de fontes humanas e de sinais.

10. Comunicações
Com três componentes:
- Informações Públicas
- Operações Psicológicas
- Comando e Controle
  1. Guerra Eletrônica
  2. Segurança das Comunicações
  3. Dissimulação

11. Mobilidade, contramobilidade e proteção
As atividades associadas à mobilidade, contramobilidade e proteção têm escassas possibilidades de emprego no conflito assimétrico. Assim, as ações se concentram, fundamentalmente, no flanqueamento de obstáculos, constituídos por massas de minas em pontos de passagem obrigatórios e em zonas semeadas por armadilhas explosivas, e no desbloqueio de ruas, pontes, túneis, etc. O trabalho da FTer não será normalmente em apoio a sua própria manobra, senão em benefício da população civil mediante a construção e reconstrução da infra-estrutura danificada ou destruída pela ação do inimigo.

CONCLUSÃO

O Exército deverá antecipar os prováveis conflitos do milênio, por meio de análise de trabalhos publicados e de estudos prospectivos. Em função desses prováveis conflitos – tipologia e características – serão estabelecidas e desenvolvidas as doutrinas e as tecnologias pertinentes.

A preparação para a defesa da soberania deve receber a mais alta prioridade, mesmo que, dentro das hipóteses consideradas, seja estimada como remota, pois a eficiência alcançada é a base para o desenvolvimento de qualquer outra preparação específica.

As missões de combate, tal como estão concebidas, não garantem o êxito das operações em um conflito assimétrico.

Conflitos assimétricos passarão a ser a norma e não a exceção.

Na Guerra de Quarta Geração, o Estado perde o monopólio sobre a guerra. Em todo o mundo os militares se encontram combatendo oponentes não estatais. Quase em toda a parte o Estado está perdendo.

Para o nosso Exército, a Guerra de Quarta Geração ou Assimétrica representa duas vertentes importantes: como protagonistas, desenvolvendo essa Guerra (Força de Resistência) ou como uma Força Convencional, combatendo uma Força que empregue este tipo de ação militar. Para estas duas opções se faz necessária a devida preparação, aí incluída a Doutrina que nos orientará para o preparo e o emprego de nossas Forças.

Temos ainda que pensar na adaptação desses conceitos para a nossa realidade. Podemos analisar sob este prisma ações possíveis em áreas internas de nosso país, onde, seja pela forma de operar ou pelos meios de combate utilizados, as Forças de Segurança Pública não tenham capacidade de vencer. Ou, ainda, as Operações de Paz, onde o Brasil por seus objetivos de Política Externa está cada vez mais envolvido e comprometido, gerando, para o campo militar, possibilidades de emprego em ambientes operacionais desconhecidos e de enfrentamento com inimigos dos quais não tem nenhuma informação antecipada.

“As forças lutam como são adestradas".

A doutrina deve preparar as forças singulares com uma atitude pronta para lidar eficaz e rapidamente com a incerteza. Deve possuir um conceito operacional que inclua mais do que guerra convencional.

A doutrina do Exército deve tratar a assimetria como uma via de dois sentidos. A assimetria nada mais é do que mudar o nível de incerteza, ou de surpresa, para um novo nível que envolve estilos, meios e até fins. Todos os conflitos assimétricos exibem uma grande disparidade de vontade.

Toda a força militar competente se adapta. A adaptação é crítica para o êxito militar, uma vez que a guerra, assimétrica ou não, trata com a incerteza.

Fazer mudanças em técnicas e procedimentos para que sejam eficazes em toda a força exige experimentação, treinamento e disseminação. Essas ações são partes da natureza adaptável do combate.

Não devemos reescrever a Doutrina do Exército, apenas adaptar suas Forças para executarem a doutrina de novas maneiras.
 

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