Peter Hitchens
Daily Mail, 19 de abril de 2008
Ao escrever isso, sinto-me como um traidor. A Segunda Guerra Mundial foi minha religião pela maior parte da minha vida.
Bravos, sozinhos, feridos, desafiadores, nós britânicos a ganhamos por nosso próprio mérito contra o inimigo mais malvado e poderoso que se pode imaginar.
Nascido 6 anos após o seu término, senti-me como se a tivesse vivido, como meus pais enfaticamente a viveram, com alguma bravura e muito sacrifício em ambos os casos.
Com meus soldadinhos de brinquedo, tanques e metralhadoras, derrotei os nazistas diariamente no chão do meu quarto.
Me perdi nos livros com títulos despreocupados como "Homens de Glória", com seus relatos revigorantes, tocantes de atos de incrível bravura por pessoas comuns que poderiam ter sido meus vizinhos.
Li aventuras imaginárias do ás de bombardeiro da RAF Matt Braddock na crença de que as estórias eram verdadeiras, e sem me preocupar sobre o que acontecia com suas bombas quando chegavam ao solo. Hoje, eu me preocupo.
Após isto, vieram todos aqueles filmes patrióticos que enriqueceram a imagem da decência, coragem discreta e humor auto-zombeteiro que eu pensava ser a essência britânica.
Está foi nossa melhor hora. Era a medida contra a qual tudo mais deveria ser medido.
Logo, foi muito difícil para mim desde que as dúvidas começaram. Eu não queria realmente saber se era exatamente como isso. Mas isso acabou exercendo uma pressão sobre mim.
Quando morei na Rússia no final da era Soviética, encontrei um país que fez muito mais na guerra do que nós.
Eu mesmo empreguei um veterano fantástico do Exército Vermelho para me ajudar a organizar o escritório lá: um velho senhor honesto, totalmente confiável como a geração do meu pai, exceto que ele era russo e um estalinista convicto que fez trabalhos estranhos para a KGB.
Eles tinham seus filmes de guerra também. E suas cicratizes honrosas.
E eles estavam tão convencidos de que ganharam a guerra sozinhos quanto nós.
Eles lembram o Dia D como um evento ordinário e nunca ouviram falar de El Alamein.
Uma vez, me peguei pensando: "Eles estão usando a guerra como uma forma de consolo contra seu declínio nacional, e está claro que eles estão perdendo sua disputa com a América."
E então me toquei que isto poderia ser uma descrição do meu próprio país.
Quando morei na América, onde descobri que a Segunda Guerra Mundial, na visão deles, se centrava mais no Pacífico, e em qualquer caso não significava metade do que a Guerra Civil e a Guerra do Vietnã significou, levei um segundo choque, uma lição de história não pedida.
Agora, vem outra. Em uma recente visita aos EUA, comprei dois novos livros que vão fazer uma porção de pessoas ficar zangadas.
Eu os li, incapaz de desviar os olhos, parecido como tentar desviar os olhos de uma cena de acidente, em um tipo de escuridão deprimente.
Eles são uma reação ao uso - em minha visão, abuso - da Segunda Guerra Mundial para justificar a Guerra do Iraque.
Nos disseram que a guerra de 1939-45 foi uma boa guerra, lutamos para superar um tirano perverso, que a guerra no Iraque seria a mesma coisa, e que aquelas pessoas que se opunham eram parecidas com os apaziguadores de 1938.
Bem, não me senti como Neville Chamberlain (um homem que ainda desprezo) quando argumentei contra a Guerra do Iraque. E ainda não me sinto.
Alguns daqueles que se opuseram à Guerra do Iraque perguntam uma questão perturbadora.
As pessoas que nos venderam o Iraque o fizeram como se eles fossem os atuais Churchills. Eles estavam errados.
Naquele caso, como podemos estar certos que a guerra de Churchill foi uma boa guerra?
E se os Homens de Glória não precisassem morrer ou arriscar suas vidas? E se a coisa toda foi um desperdício mal calculado de vidas e recursos que destruiu a Grã-Bretanha como uma grande potência e tornou-a em um prisioneiro falido dos EUA?
Divertido o bastante, estas questões ecoam igualmente desconfortáveis como fui freqüentemente perguntado por leitores aqui.
A versão moderada é: "Quem realmente ganhou a guerra, desde que a Inglaterra está sujeita agora à União Européia comandada pela Alemanha?"
A outra é uma que ouvi de um número crescente de veteranos de guerra contemplando a paisagem da Grã-Bretanha de grosseria e desordem e relembrando os sacrifícios que eles fizeram por isso: "Por que nos importamos?"
Não continue lendo se isso abala o seu universo.
Os dois livros, a serem publicados logo neste país, são "Churchill, Hitler e a Guerra Desnecessária" de Patrick Buchanan e "Fumaça Humana" (Human Smoke) de Nicholson Baker.
Eu conheço Pat Buchanan e o respeito, mas nunca gostei de sua simpatia pelo "Primeiro, a América", o movimento que tentou manter os EUA fora da Segunda Guerra Mundial.
Quanto a Nicholson Baker, ele se tornou famoso somente porque seu romance erótico, Vox, foi dado de presente a Bill Clinton por Monica Lewinsky.
Fumaça Humana não é um romance, mas uma série de itens factuais arrumados deliberadamente para destruir a estória aceita da guerra, e tem recebido tratamento generoso da mídia americana, especialmente do New York Times.
Baker é um pacifista, uma posição idiota aberta somente a cidadãos de países livres com grandes armadas.
Ele selecionou com cuidado para defender sua posição, mas muitos dos fatos aqui, especialmente sobre Winston Churchill e o entusiasmo inicial da Grã-Bretanha no bombardeio de alvos civis, estragou a visão oficial.
Aqui está Churchill, em um artigo de jornal de 1920, supostamente criticando a "confederação sinistra" da judiaria internacional.
Eu digo "supostamente" porque não vi o original. Também digo isso porque sou relutante em acreditar nisso, assim como sou relutante em acreditar em outra informação de Baker que sugere que Franklin Roosevelt estava envolvido em um esquema para limitar o número de judeus na Universidade de Harvard.
Tais coisas hoje encerrariam a carreira política em um instante.
Muitos acreditam que a guerra de 1939-45 foi lutada para salvar os judeus de Hitler. Nenhum fato suporta essa crença.
Se a guerra salvou quaiquer judeus, foi por acidente.
Sua deflagração parou nos trens "Kindertransport" resgatando crianças judias do Terceiro Reich. Ignoramos relatórios confiáveis de Auschwitz e nos recusamos a bombardear a ferrovia que chegava lá.
Baker é também inteligente em mostrar que a decisão de Hitler de exterminar os judeus da Europa veio somente após a guerra estar totalmente lançada, e que antes disso, apesar do seu tratamento dos judeus ser revoltante e homicida, ele parou bem aquém do extermínio em massa industrializado.
A implicação disto, que o Holocausto foi o resultado da guerra, e não a causa dela, é especialmente perturbadora.
Uma porção de pessoas terão problema também com o conhecimento do que Churchill disse de Hitler em 1937, quando a natureza de seu regime era bem conhecida: "Um funcionário altamente competente, ponderado, bem informado com maneiras agradáveis, um sorriso irresistível, e poucos têm sido pouco afetados pelo seu magnetismo sutil pessoal."
Três anos depois, uma visão semi-oficial, ainda muito acreditada, era que Hitler era o demônio na forma humana e mais ou menos insano.
Buchanan é, por sua vez, mais prejudicial. Ele retrata Churchill como um homem que amava a guerra para seu próprio lucro, e a preferia em lugar da paz.
Quando a Primeira Guerra Mundial começou em 1914, dois observadores, Margot Asquith e David Lloyd George, descreveram Churchill como "radiante, sua face brilhando, seu jeito interessado.. você pode ver que ele era um homem realmente feliz."
Churchill também é acertado diretamente no pescoço por Buchanan por ter desmantelado as forças armadas britânicas no período entre-guerras.
Foi Churchill que, como Chanceler do Exchequer*, exigiu cortes profundos na Marinha Real em 1925, de modo que quando ele adotou o rearmamento como sua causa dez anos depois, foi contra suas própria decisão infeliz que ele lutou.
* N. do T.: O Exchequer é um departamento governamental do Reino Unido responsável pelo gerenciamento e coleta de impostos e outras rendas governamentais.
Bem, todo país precisa de homens que gostam de guerra, se é para enfrentar e lutar quando necessário. E todos nós cometemos enganos, que são esquecidos se então conseguimos uma coisa espetacularmente certa, como Churchill fez.
Os americanos podem gostar ou abandonar as opiniões do Sr. Buchanan sobre se eles deveriam ter permanecido fora, mas os EUA fez muito bem numa guerra na qual a Inglaterra e a Rússia fizeram a maior parte da luta, enquanto Washington apenas colheu (e continua colhendo) a maior parte dos benefícios.
Analisando o resumo frígido de Buchanan, encontrei-me envolto por muitas perguntas.
A Primeira e Segunda Guerras Mundiais, como Buchanan diz, são realmente apenas um conflito.
Fomos à guerra contra o Kaiser em 1914 principalmente porque temíamos ser ultrapassados pelos alemães como grande potência naval. Ainda que um dos principais resultados da guerra foi que ficamos tão fracos que fomos ultrapassados pelos EUA.
Fomos também forçados, pela pressão americana, a terminar nossa aliança naval com o Japão, que protegeu nosso Império no Extremo Oriente durante a guerra de 1914-1918.
Esta decisão, mais do que qualquer outra, nos custou aquele Império. Ao tornar o Japão nosso inimigo, mas sem a força naval ou militar para proteger nossas possessões, garantimos que seríamos páreo fácil em 1941.
Após a queda de Singapura em 1942, nossa força e reputação na Ásia terminaram de vez e nossa despedida da Índia inevitável.
Pior ainda é a análise de Buchanan de como entramos na guerra.
Sempre achei que o momento que deveríamos ter parado Hitler foi quando ele reocupou a Renânia em 7 de março de 1936. Mas Buchanan mostra que ninguém estava interessado em tal ação naquela época. Ninguém? Sim.
Isto inclui Churchill., que disse insensatamente em 13 de março: "Ao invés de retaliar por uma força armada, como teria sido feito pela geração anterior, a França optou pelo caminho apropriado e ordenado de apelar para a Liga das Nações."
Então, ele mesmo clamou de forma emocionada a "Herr Hitler" para fazer a coisa decente e desistir.
Buchanan não acha que a Inglaterra e França poderiam ter salvo a Tchecoslováquia em 1938, e suspeito que ele está certo.
Mas este é um assunto menor diante do seu exame clínico da garantia inglesa em ajudar a Polônia em março de 1939. Hitler viu nossa posição como um blefe vazio, e o enfrentou.
Os poloneses foram esmagados e assassinados, e seu país varrido do mapa. A derrota final de Hitler deixou eventualmente a Polônia sob o jugo soviético por duas gerações.
Embarcamos então em uma guerra que nos custou nosso Império, muitos de nossos melhores mercados de exportação, o que foi deixado de nossa supremacia naval, e a maior parte de nossa riqueza nacional - alegremente tomada de nós por Roosevelt em retorno aos suprimentos do Lend-Lease.
Como resultado direto, dispensamos a presença de um Mercado Comum que havia sido nossa independência nacional.
Deveríamos ter sido mais sábios e se comportar como os EUA, ficando de fora e esperando Hitler e Stalin se aniquilarem?
Hitler realmente queria mesmo uma guerra contra a Inglaterra ou acabar com o Império Britânico?
O país mais interessado em desmontar nosso Império era os EUA. Hitler nunca construiu uma marinha de superfície verdadeiramente capaz de desafiar a nossa e, para nossa sorte, ele deixou para muito tarde a construção de submarinos para nos matar de fome.
Ele foi derrotado por pouco na Batalha da Inglaterra, mas como teríamos temido se, um ano depois, ele tivesse usado as forças que ele usou na Rússia para nos atacar?
Mas ele não o fez. Seu "plano" de invadir a Inglaterra, a famosa "Operação Leão Marinho", era apenas um esboço, rapidamente abandonado.
Pode ser verdade que ele não estava muito interessado em lutar ou nos invadir? Seus assessores sempre ficavam perplexos pela sua admiração do Império Britânico, sobre o qual ele falaria por horas.
É claro, ele era um ditador cruel. Mas assim também era Joseph Stalin, que mais tarde tornou-se nosso honrado aliado, sustentado com armas britânicas, bajulado por nossa imprensa e políticos, incluindo o próprio Churchill.
Por volta de 1940, Stalin de fato havia matado mais pessoas do que Hitler e havia invadido quase número idêntido de países.
Quase declaramos guerra a ele em 1940 e ele ordenou aos comunistas britânicos para subverter nosso esforço de guerra contra os nazistas durante a Batalha da Inglaterra.
E, em aliança com Hitler, ele abasteceu a Luftwaffe com muito do combustível e recursos que ela precisava para bombardear Londres.
Não é simples, não? Analise o século XX e verá a Inglaterra repetidamente lutando contra a Alemanha, a um custo colossal.
Ninguém pode duvidar do valor e sacrifício envolvidos.
Mas no final, a Alemanha domina a Europa por trás da cortina de fumaça da União Européia; nosso Império e nosso domínio dos mares se foi, lutamos com todos os tipos de problemas de uma grande civilização em declínio, e nosso amigo especial,os EUA, nos superou alegremente para sempre. Mas nós ganhamos a guerra.
http://www.dailymail.co.uk/news/article-560700/Was-World-War-Two-just-pointless-self-defeating-Iraq-asks-Peter-Hitchens.html#ixzz1wPH8lFx9
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Um comentário:
? Esse blog é pró Império Britânico o mais cruel quanto o seu inimiguinho?
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