quarta-feira, 9 de maio de 2012

[SGM] Revendo a "Boa Guerra"

Patrick Buchanan


Nas primeiras horas de 1º de setembro de 1939, 72 anos atrás, o exército alemão cruzou a fronteira polonesa.

Em 3 de setembro, o Primeiro Ministro Britânico Neville Chamberlain, tendo não recebido nenhuma resposta para seu ultimato exigindo que a Alemanha recuasse, declarou que um estado de guerra agora existia entre a Grã-Bretanha e a Alemanha.

O império seguiu a pátria. A Segunda Guerra Mundial havia sido iniciada. Ela duraria seis anos, resultando na morte de milhões e terminando com a Alemanha em ruínas, metade da Europa sob o jugo de Josef Stalin e o Império Britânico no caminho do colapso.

Apesar de ter provado ser uma ferida mortal que causou a morte do Ocidente, a maioria das pessoas hoje aceitam a Segunda Guerra como inevitável, aliás como a "boa guerra".

É dito e acredita-se que Adolf Hitler foi não somente a encarnação do mal, mas também era sedento por conquistas, primeiro a Polônia e então a Europa e depois o mundo.

Para parar tal monstro, todos tinham que arriscar tudo.

Estas são as duas sentenças no capítulo final do novo livro do historiador britânico Richard Overy, "1939: Contagem Regressiva para a Guerra", completando:

"Poucos historiadores hoje aceitam que Hitler tinha um plano ou projeto para a conquista do mundo... Pesquisas recentes sugerem que quase não haviam planos para fazer com uma Polônia conquistada e que a visão de um novo Império Alemão... teve que ser improvisada quase do rascunho."

Mas se Hitler não tinha "plano ou projeto para a conquista do mundo," isto levanta talvez a grande questão do século XX.

Qual foi a aposta da Inglaterra numa disputa territorial teuto-polonesa para justificar uma guerra da qual a nação britânica e o império jamais se recuperariam?

Como a guerra aconteceu é o objetivo do livro de Overy.

Em agosto de 1939, Hitler acreditava que a intransigência polonesa sobre a cidade de Danzig significava que a Alemanha teria que resolver o assunto à força. Mas ele desesperadamente não queria a guerra com a Inglaterra, como alguém que lutou contra ela entre 1914 e 1918.

Para prevenir que um confronto teuto-polonês resultasse numa guerra européia, contudo, Hitler teve de romper a aliança anglo-polonesa formada na primavera anterior.

Para tanto, Hitler negociou seu próprio pacto com Stalin, um golpe que significou que qualquer declaração de guerra britânica para salvar a Polônia seria um gesto inútil. Mas quando o pacto Hitler-Stalin foi anunciado, decretando o destino da Polônia, a Inglaterra reafirmou seu compromisso com aquele país.

Hitler imediatamente programou a invasão para 26 de agosto.

Na última análise, diz Overy, a "honra" britânica, honrando a garantia de guerra de Chamberlain para os poloneses, levou a Inglaterra para a guerra.

Quando e por que este compromisso foi dado?

Em 31 de março de 1939, Chamberlain, humilhado pelo colapso de seu acordo de Munique e a ocupação de Praga por Hitler, fez uma garantia de guerra não-solicitada para a polônia, então governada por uma junta de coronéis.

Para compreender a absoluta irracionalidade e precipitação desta decisão, temos que compreender a questão envolvida e a situação da Grã-Bretanha em 1939.

Primeiro, a questão: a disputa teuto-polonesa era sobre uma cidade, Danzig, e a maioria dos líderes britãnicos acreditavam que ela tinha sido tomada injustamente da Alemanha no final da Primeira Guerra e deveria ser devolvida.

A reinvidicação alemã sobre Danzig era lembrada como uma entre as mais justas feitas pela Alemanha que a maioria concorda terem sido resultado do injusto e vingativo Tratado de Versalhes.

O que os próprios cidadãos de Danzig queriam? Escreve Overy:

"Em maio de 1933, logo após Adolf Hitler chegar ao poder na Alemanha, o Partido Nacional Socialista de Danzig ganhou 38 das 72 cadeiras da assembléia e formou o governo da cidade... Por volta de 1936, havia virtualmente um sistema de partido único... A população alemã fortemente nacionalista agitou em 1939 para devolver a cidade para a Alemanha."

Em suma, os alemães queriam sua cidade de volta, e os danzigers queriam voltar à Alemanha. E a maioria dos britânicos não tinham nenhuma objeção.

Mesmo assim, eles garantiram a recusa da polônia mesmo em negociar, e quando isto levou à guerra, a Inglaterra declarou guerra à favor da polônia.

Por que a Inglaterra fez isso?

Acima de tudo, a garantia de guerra foi dada em resposta à destruição da Tchecoslováquia, mas os coronéis poloneses haviam eles próprios participado de tal destruição e tomaram um pedaço daquele país.

Segundo, apesar da garantia, a Inglaterra não tinha planos para vir ao auxílio da polônia. Terceiro, a Inglaterra não dispunha de meios para parar a Alemanha. Quando Hitler bombardeou Varsóvia, os bombardeiros britãnicos despejaram panfletos sobre a Alemanha.

Se a Inglaterra não tinha nenhuma chance de salvar a Polônia e nem nenhum plano, por que encorajar os poloneses a lutar ao oferecer o que os ingleses sabiamser uma garantia de guerra inútil? Por que declarar uma guerra européia e mundial por um país que a Grã-Bretanha não poderia salvar e por uma causa, Danzig, que ela não acreditava, numa Europa Oriental que a Inglaterra não tinha nenhum interesse vital?

Disse o Secretário do Exterior Britânico Lorde Halifax: "Devemos jogar tudo o que pudermos na balança no lado da lei em oposição à ilegalidade na Europa."

E jogar tudo foi o que fizeram. E o que aconteceu com a Polônia?

Em Teerã e Yalta, outro Primeiro Ministro, Winston Churchill, deu a Polônia para o império de Stalin, em cujo cativeiro ela permaneceu por meio século.

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