Daily Mail, 8/04/2011
A estória de Denis Avey é uma de compaixão profunda e heroísmo surpreendente. É uma estória de guerra que ele manteve para si por muitas décadas, antes de finalmente revelá-la em um livro que foi publicado este mês.
Chamado O Homem que Venceu Auschwitz, o livro já é um best-seller.
Ele conta como o sr. Avey foi mantido pelos alemães em um campo de prisioneiros de guerra próximo de Auschwitz, e como ele arriscou sua vida ao trocar de lugar com um interno judeu em duas ocasiões e entrou clandestinamente no campo de concentração para registrar os horrores do maior crime de todos os tempos.
O livro também conta como Avey salvou a vida de um outro interno judeu, chamado Ernst Lobethal, ao fornecer-lhe cigarros.
Lobethal cresceu num orfanato em Breslau no que hoje é a Polônia, e em janeiro de 1943 ele foi enviado para Auschwitz, onde ele teve que usar sua inteligência para sobreviver.
Ele era capaz de trocar cigarros por novas solas para seus sapatos - sapatos que eram vitais para sua sobrevivência em uma marcha forçada "mortal" do campo através da neve no final da guerra.
Quando foi Primeiro-Ministro, Gordon Brown ofereceu a Avey o Prêmio de Herói Britânico do Holocausto numa recepção na Downing Street 10.
Seu nome também foi colocado no Yad Vashem, o memorial oficial de Israel às vítimas do Holocausto, ao ser feito "Corretos entre as Nações", uma honra dada a gentis que salvaram judeus durante a guerra, ocupado por Oskar Schindler. Avey tem sido chamado de um homem de "coragem física e moral ilimitada" pelo jornalista Henry Kamm, vencedor do prêmio Pulitzer, e seu livro traz um prefácio pelo renomado historiador Martin Gilbert.
Ele tem dado inúmeras entrevistas sobre suas experiências e apareceu muitas vezes na TV e no rádio.
Na semana passada, Avey fez milhões de pausas para pensar quando ele deu uma longa e modesta entrevista para o BBC Brakfast, no qual ele revelou suas terríveis experiências.
Denis Avey
A estória de Avey está alcançando uma audiência poderosa – seu livro está sendo publicado pelo menos em dez países. E ele está sendo pego de surpresa por toda essa atenção. “Refletindo, ele diz, “Não posso realmente acreditar que pessoas acreditassem no que eu fiz.”
O problema é que um número crescente de pessoas não acredita nele. Entre elas estão antigos prisioneiros de Auschwitz, historiadores e organizações judaicas – e todos eles desconfiam muito que ele tenha estado em Auschwitz.
Esta semana, o dr. Piotr Setkiewicz, historiador-chefe em Auschwitz, disse que ele não acreditava na estória da troca do Sr. Avey. Ele disse que seu medo era que a estória poderia dar munição para os negadores do Holocausto que gostam de explorar memórias implausíveis no sentido de “provar” que o Holocausto não aconteceu.
O Congresso Mundial Judaico agora chamou os editores do Sr. Avey para verificar a precisão histórica do livro. “Estamos profundamente preocupados em relação à possibilidade de que uma parte significativa da estória do Sr. Avey – isto é, que ele supostamente entrou clandestinamente no campo de concentração de Auschwitz-Buna – seja exagerada senão completamente fabricada,” disse a organização.
Esta semana também foi noticiado que o Yad Vashem se sentiu incapaz de nomear o Sr. Avey com o “Correto entre as Nações”, porque ele não podia provar sua estória.
“Não encontramos ninguém para confirmá-la,” disse Irena Steinfeld, uma porta-voz do Yad Vashem. “Analisamos muitos testemunhos de internos judeus e nenhum deles mencionou que isso aconteceu. Não havia nada para evidenciá-lo.”
A srta. Steinfeld acrescentou: “Freqüentemente recebemos recomendações que mostram que o candidato ganhou uma honra de um governo, mas que isso não é por si só evidência.”
Antigos prisioneiros em Auschwitz e no campo E715 – o campo de prisioneiros de guerra britânicos próximo no qual o sr. Avey estava mantido preso – têm também sérias dúvidas sobre a estória de Avey, argumentando que a troca teria sido impossível. Vamos olhar em detalhes a sua principal declaração – que ele entrou ilegalmente em Auschwitz.
Nascido em 1919, Avey foi alistado na Brigada de Infantaria em 1939 e foi enviado ao Egito. Ele foi capturado pelo Afrika Korps na Líbia em novembro de 1940 e após uma sucessão de campos de prisioneiros de guerra, incluindo um ano na Itália, terminou no campo E715.
Lá, ele trabalhou como operário e ficou distante umas poucas centenas de metros de uma das maiores partes de Auschwitz, conhecida como Auschwitz III ou Monowitz.
Foi vendo o tratamento terrível sendo dispensado aos internos judeus de Auschwitz com quem ele trabalhava na mesma fábrica química que ele chegou à ideia de trocar de lugar com um prisioneiro judeu. Seu motivo, ele diz, era ver o que poderia acontecer com ele próprio e “prestar testemunho” e ajudar a prender os nazistas com seus depoimentos após a guerra.
De acordo com Avey, o plano exigia uma enorme quantidade de preparação. Por semanas, ele diz, ele estudou os prisioneiros judeus no campo de Auschwitz III e aprendeu como a imitá-los. Ele raspou sua cabeça, lambuzou sua cara com sujeira, e então encontrou um prisioneiro judeu com quem ele pudesse trocar.
Ele diz que usou cigarros como suborno para obter um par de sola de madeira que era usado pelos internos judeus e subornou um “kapo” – ou guarda – para fazer vista grossa para a troca.
Um dia, à medida que as duas colunas de trabalho de prisioneiros judeus e britânicos se aproximavam, o prisioneiro judeu e Avey se lançaram para uma barraca próxima, rapidamente trocaram de roupa, e então retornaram para as fileiras.
Enquanto ele estava dentro de Auschwitz III, Avey disse ter visto um corpo pendurado numa forca, permaneceu uma noite nas barracas junto com prisioneiros judeus gemendo e gritando, e lanchou alface estragado e casca de batata.
Ele diz que retornou ao E715 e mais tarde trocou de lugar com o prisioneiro uma segunda vez, apesar de que ambos decidiram que arriscar uma outra tentativa seria fatal. Ambos sabiam que a penalidade seria a morte se eles fossem pegos. Entretanto, a ideia que ambos os homens poderiam simplesmente trocado de fileira, duas vezes, sem serem vistos pelos guardas alemães ou descobertos mais tarde é implausível.
“Eu não acredito nisso,” diz Brian Bishop, 91, um sobrevivente de Dunquerque que foi capturado na África em 1942 e esteve no campo E715, “Eu não compreendo como ele conseguiu fazê-lo. Para fazer algo parecido você precisava ter muitas pessoas te ajudando em ambos os lados – nosso lado e do lado judeu.”
Sam Pivnik, 84, um judeu polonês, foi enviado para Auschwitz com a idade de 16 em agosto de 1943 e foi mantido lá como o prisioneiro 135913 até janeiro de 1945. Ele compartilha dúvidas semelhantes. “A estória de Avey parece-me altamente improvável,” ele diz. “Trocar de lugar com um prisioneiro de Auschwitz não apenas significava arriscar sua própria vida, mas de qualquer um de seu setor; e ele estava assumindo um risco enorme que ele não havia sido informado. Essa é uma chance que eu jamais pegaria. Os prisioneiros de Auschwitz eram tão desesperados que você não poderia arriscar em confiar neles.”
O historiador de Auschwitz, Dr. Setkiewicz, concorda com os dois sobreviventes. Ele aponta que muitas pessoas teriam que estar envolvidas em tal troca, e isto teria sido extremamente arriscado já que havia muitos espiões no campo: “Como não há nenhum testemunho de outros sobreviventes, eu certamente não incluiria esta estória em qualquer livro que eu escrevesse.”
Então, há a inconsistência nas declarações do Sr. Avey tanto da identidade do homem com quem ele trocou de lugar quanto o lugar que a troca ocorreu.
Em seu livro, ele escreve que trocou lugar com um judeu holandês chamado “Hans” e entrou clandestinamente de um campo de prisioneiros ingleses direto no campo de extermínio conhecido como Auschwitz III.
Entretanto, numa entrevista que ele deu ao Daily Mail em dezembro de 2009, o Sr. Avey – que diz que ele era chamado “Ginger” quando estava no campo – diz ter trocado de lugar com o prisioneiro Ernst Lobethal, o homem com quem ele trocava cigarros.
Na mesma entrevista – e numa conversa que ele deu subseqüentemente a estudantes em Oxford – o Sr. Avey disse que Ernst estava em Auschwitz II, ou Birkenau, o qual é cerca de 5 km distante de Auschwitz III.
Em seu livro, o Sr. Avey também escreve sobre passar sobre o infame letreiro “Arbeit Macht Frei” – O Trabalho Liberta – quando entrava em Auschwitz III. Como o Dr. Setkiewicz confirma, não havia tal letreiro lá; era no campo Auschwitz I cerca de 7 km distante.
O Sr. Avey declara que as roupas que ele pegou do prisioneiro judeu estavam infestadas com piolhos. Este detalhe é colocado em dúvida pelo antigo interno Sam Pivnik. “Éramos escrupulosamente limpos todo tempo nos campos de trabalho em Auschwitz III, e você estava sujeito a uma surra severa se você estivesse sujo,” diz Pivnik.
“A SS tinha pavor que epidemias de tifo se espalhassem e os uniformes dos prisioneiros, camas e barracas eram constantemente desinfectadas e limpas.”
A afirmação do Sr. Avey de ter entrado em Auschwitz é mesmo descartada por Ingrid Lobet, filha de Ernst Lobethal. Enquanto a sra. Lobet siz que ela não teria razões para duvidar que o Sr. Avey tenha trocado “a moeda internacional mágica”, cigarros, com seu pai, ela nãoaceita a estória da troca de lugar.
“Eu não acredito que isto aconteceu,” ela diz. “Onde está o detalhe que ele viu lá que não pode ser obtido do mais vago testemunho do Holocausto?”
“Os prisioneiros de guerra britânicos eram alimentados,” acrescenta ela. “Os judeus não. Os judeus pareciam famintos, os britânicos não. A maioria dos judeus falava somente Iídiche. Como é que um judeu magro, falando Iídiche, seria confundido com um prisioneiro inglês nas barracas de prisioneiros de guerra? ‘Ginger’ memorizou o número do sobrevivente em alemão de modo que ele poderia responder durante uma chamada?”
O que é também problemático é que a estória da troca do Sr. Avey é quase idêntica àquela dita por outro antigo prisioneiro de guerra no campo E715 chamado Charles Coward.
Num julgamento do pós-guerra – Coward deu um testemunho – agora totalmente desacreditado pelos estudiosos do Holocausto – no qual ele declarava que havia entrado ilegalmente em Auschwitz trocando de lugar com um prisioneiro judeu. Este conto é chamado A Senha é Coragem e impresso na capa vem a frase “O Homem que venceu Auschwitz” – o mesmo título do livro de Avey.
A chance de que dois prisioneiros de guerra britânicos, independente um do outro, tenham pensado na ideia perigosa de trocar de lugar com um interno de Auschwitz leva a credibilidade da estória ao limite.
A semelhança entre os dois contos também levanta a questão de que por que o Sr. Avey levou tanto tempo para falar de suas experiências de guerra. Foi em 2001 que as experiências do Sr. Avey em E715 apareceram pela primeira vez, publicadas num livro chamado Espectador no Inferno, de Collin Rushton, um poeta e historiador.
O Sr. Avey revelou muito que foi traumatic, incluindo um incidente no qual ele perdeu um olho após ser alvejado por um oficial da SS, e a morte de 38 prisioneiros de guerra em um bombardeio aliado. Mas ele nunca mencionou a troca.
Em 16 de julho de 2001, o Sr. Avey deu uma entrevista de 5 horas para o Museu Imperial de Guerra no qual ele falou sobre sua prisão, assim como o impacto psicológico da guerra e seus problemas com pesadelos. Em nenhuma vez desta entrevista ele fala sobre entrando ilegalmente em Monowitz.
Em setembro de 2004 e janeiro de 2005, Avey foi entrevistado pelo jornalista Diarmuid Jeffreys para o seu livro O Cartel do Inferno. Ele menciona o incidente com a pistola mas novamente falhou ao falar da troca ou sobre Ernst ou Hans.
Somente em 2009, numa entrevista com o jornalista da BBC Rob Broomby, o Sr. Avey finalmente menciona que ele havia entrado ilegalmente em Auschwitz III. E Rob Broomby rapidamente se ofereceu a co-escrever o livro que agora está disponível.
O Sr. Broomby explicou que o sr. Avey deixou para contar a estória por tanto tempo porque ele sofria de desordem de stress pós-traumática quando ele voltou da guerra.
Por que, então, ele foi capaz de falar sobre todas aquelas outras experiências da guerra nos anos anteriores?
O professor Kenneth Waltzer, diretor do Programa de Estudos Judaicos na Universidade Estadual de Michingan e uma autoridade mundial em campos de concentração nazistas, é céptico: “O padrão de silêncio mantido, apesar das entrevistas, e então a divulgação repentina da estória levanta de fato suspeitas.”
O antigo colega de campo do Sr. Avey, Brian Bishop, é mais severo: “Por que ele vem com essa estória justamente agora? Não compreendo por que todas essas estórias estão sendo lançadas agora. Parece que eles estão esperando que todos morram e então ninguém vai contradizê-los.”
Assim como estar traumatizado, o sr. Avey também afirma que sua reticência nasceu do fato de que as autoridades militares não queriam ouvir sua estória após a guerra – de acordo com ele, o negócio entre as autoridades era continuar a vida e esquecer os horrores do campo.
Entretanto, o oposto parece ser o caso. Em 1947, o sr. Avey foi convocado por promotores americanos através do Escritório de Guerra para pedir se ele gostaria de fazer uma declaração de suas experiências para ajudar a preparar um caso para um tribunal de crimes de guerra. Mas ele recusou.
Esta semana, o Sr. Avey foi incapaz de explicar as inconsistências em sua estória. Quando perguntado por que ele não mencionou a troca para o Museu Imperial da Guerra, ele disse: “Eu não sei por quê. Não escolhi mencioná-la na época. Mas o que eu escrevi no livro é a verdade. Eu não preciso defendê-lo. Não me importo com o que qualquer um diz. Eu sei o que fiz.”
Seu co-autor, Rob Broomby, também foi incapaz de confirmer se a estória da troca do Sr. Avey era realmente verdadeira. “É muito difícil verificar neste estágio,” ele disse. “Você não vai encontrar pessoas após 70 anos. É somente quando você investe um tempo com o Denis que você realmente o conhece. Isto não é história acadêmica de rodapé. Você tem que olhar dento dos olhos do homem e saber que tipo ele é.”
Há pessoas que pensam que é inapropriado questionar as palavras de um ancião – o sr. Avey tem agora 92 anos. Mas é vital que as estórias parecidas com esta sejam sujeitas a um escrutínio apropriado.
Como ninguém menos que o falecido Ernst Lobethal escreveu para o New York Times em fevereiro de 1994: “Eu acho importante verificar as inexatidões, a fim de que os revisionistas do Holocausto não o façam em nosso lugar.”
http://www.dailymail.co.uk/news/article-1375018/Denis-Avey-broke-Auschwitz-expose-Holocaust-account-insult.html#ixzz1ixlAyuxA
2 comentários:
Olha eu li o livro faz um tempo e realmente com esses fatos expostos na matéria é de se ficar cabrero. Confiar num veterano de guerra com 92 anos ou numa matéria com prisioneiros judeus e outras pessoas pesquisadoras da área. Absolutamente pensante a sensatez de até onde pode ser verdade a estória do sr. Denis Avey.
Bom , eu li o livro. Não acredito que os relatos do Sr. Denis Avey , tenham uma parte "ilusória"
Uma pequena observação: Avey é bastante claro em seus relatos (assim também como está no livro) , quando diz que não se alimentou , enquanto estava no lugar de um judeu, como o texto acima erroneamente diz.
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