sábado, 30 de junho de 2012

Por que os EUA invadiram o Iraque?

Jim Lobe, 18/03/2008


As razões oficiais - a ameaça imposta aos EUA e a seus aliados pelos alegados programas de Armas de Destruição em Massa (WMD, sigla em inglês) de Saddam Hussein e a possiblidade de que ele pudesse passar essas armas para a Al Qaeda - há muito tempo estão descartadas pelo peso extraordinário das evidências, ou, mais precisamente, a falta de evidência que tal ameaça alguma vez tenha existido.

Liberar o Iraque da tirania da versão particularmente vingativa e sanguinária do Baatismo (ideologia nacionalista árabe) de Hussein e assim estabelecer um precedente irresistível que seria espalhado por todo o mundo árabe - um tema defendido pela administração do presidente George Walker Bush principalmente após a invasão, já que tornou-se claro que os motivos oficiais poderiam não ser justificáveis - parece ter sido a obsessão dominante de somente um membro da equipe de Bush, e que não era particularmente influente: o adjunto do Secretário da Defesa Paul Wolfowitz.

Então, há a teoria que Bush - cuja psicologia enigmática, particularmente sua relação com seu pai, já deu muito combustível para a fogueira literária - queria esnobar seu pai por ter falhado em conquistar Bagdá em 1991. Ou ele quis "terminar o trabalho" que seu pai começou em 1991; e/ou vingar seu pai pela suposta tentativa de assassinato ordenada por Hussein contra ele no Kuwait após a guerra.

Pelo fato de Bush ser quem decidia as coisas, como ele próprio dizia, e porque ninguém que trabalhou nos níveis mais altos da administração jamais foi capaz de dizer precisamente quando (deixe sozinho o porquê) a decisão foi tomada para invadir o Iraque, esta explicação não pode ser inteiramente dispensada como uma resposta.

Então, há a questão do petróleo. A administração estava agindo a favor de uma indústria petrolífera desesperada para colocar suas mãos no petróleo mesopotâmico que era negado como resultado de sansões unilaterais da ONU proibindo negócios entre as companhias americanas e Hussein?

Dada a longa relação de Bush e do vice-presidente Dick Cheney com a indústria e a afirmação do antigo presidente do Federal Reserve (FED, o Banco Central americano) em sua recente auto-biografia que "a Guerra do Iraque é principalmente por causa do petróleo," esta teoria tem apelo definitivo - particularmente para aqueles da esquerda que fizeram do "Nenhuma gota de sangue por petróleo" um mantra favorito nos protestos anti-guerra na época da invasão - com uma grande plausibilidade.

O problema, entretanto, é que pouca ou nenhuma evidência que o Grande Petróleo, uma besta extremamente cautelsa no circo corporativo global, favoreceu uma guerra, particularmente uma conduzida de um modo (unilateralmente) que arriscava desestabilizar a região mais rica de petróleo do mundo, especialmente a Arábia Saudita e os Emirados.

Pelo contrário, o Instituto da Universidade Rice que carrega o nome do antigo secretário de Estado James Baker - um homem que representava e encarnava o Grande Petróleo ao longo de sua longa carreira jurídica - publicamente alertou no começo que se Bush absolutamente, positivamente tinha que invadir o Iraque por qualquer razão que fosse, ele sequer deveria considerar isso se duas condições não fossem satisfeitas: 1) que a ação fosse autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU; e 2) que tudo deveria ser feito para que não ficasse a impressão de que a motivação era a aquisição das reservas de petróleo do Iraque por companhias americanas.

Isto não quer dizer que o petróleo era irrelevante nos cálculos da administração, mas talvez de uma forma diferente do que aquele slogan "Nenhuma gota de sangue por petróleo" sugeriria. Acima de tudo, o petróleo é uma exigência absolutamente indispensável para movimentar as modernas economias e forças armadas. E a invasão era uma demonstração forçada - de fato, chocante e surpreendente - para o resto do mundo, especialmente rivais potencialmente estratégicos como China, Rússia ou mesmo a União Européia, da habilidade de Washington de conquistar e controlar rápida e eficazmente uma nação petrolífera no coração da região rica do Oriente Médio/Golfo Pérsico qualquer momento que os EUA desejassem, talvez convencendo aquelas potências emergentes que desafiar os EUA poderia ser contra-produtivo aos interesses de longo prazo, senão suas fontes de energia no curto prazo.

De fato, uma demonstração de tal poder poderia bem ser o caminho mais rápido para formalizar uma nova ordem internacional baseada no poder militar extraordinário dos Estados Unidos, inigualado pelo menos desde a época do Império Romano. Seria um “mundo unipolar” do tipo imaginado pelo relatório Guia de Planejamento de Defesa de 1992 organizado pelo então chefe do Pentágono Dick Cheney, examinado por Wolfowitz e pelo futuro chefe de gabinete de Cheney, I. Lewis Libby, e subscrito pelo futuro embaixador do Afeganistão e Iraque “libertados”, Zalmay Khalilzad e pelo conselheiro adjunto de segurança nacional de Bush, J. D. Crouch.

Era a mesma visão que formou a inspiração para os 27 signatários da Carta – uma coalizão de nacionalistas agressivos, neo-conservadores e líderes da direita cristã que incluía Cheney, Donald Rumsfeld, Wolfowitz, Libby, Khalilzad e muitos outros futuros funcionários de segurança nacional da administração Bush – do Projeto para um Novo Século Americano (PNAC) em 1997. Era o mesmo projeto que começou clamando por “mudança de regime” no Iraque em 1998 e que, nove dias após o ataque de 11/09 em Nova York e no Pentágono, publicamente alertou que qualquer “guerra ao terror” que excluísse a eliminação de Hussein seria necessariamente incompleta.

Resumindo, parece claro que o Iraque estava sendo visto por este grupo, que se tornou poderoso primeiro com a eleição de Bush e depois com o 11/09, como o primeiro, mais fácil e melhor disponível passo para alcançar a “Pax Americana” que não apenas estabeleceria os EUA de uma vez por todas como a potência dominante na região, mas cujas implicações estratégicas geopolíticas para almejar “competidores iguais” seria global em escopo.

Para os neo-conservadores e para os membros da direita cristã deste grupo, que eram os maiores belicistas, Israel também seria um grande beneficiário de uma invasão.

De acordo com um documento de 1996 esboçado por neo-conservadores linha dura proeminentes – incluindo alguns como Douglas Feith e David Wurmser, que mais tarde serviria em postos superiores no departamento de Cheney e no Pentágono no decorrer da invasão – expulsar Hussein e instalar um líder pró-ocidente era a chave para desestabilizar os inimigos árabes de Israel e/ou subjugá-los para o seus interesses. Isto permitiria que o Estado Judaico não somente escapasse do processo de paz de Oslo, mas também garantir todo território na Palestina ocupada e Síria que desejasse.

De fato, livrando-se de Hussein e ocupando o Iraque não somente aumentaria o poder de Israel nos territórios árabes nesta visão, mas também ameaçaria a sobrevivência da mais formidável arma dos mundos árabes e mulçumanos contra Israel – OPEC – ao despejar no mercado mundial petróleo iraquiano e forçando o preço do commodity para níveis históricos baixíssimos.

Isto é como parecia cinco anos atrás.


http://www.ipsnews.net/2008/03/politics-why-did-the-us-invade-iraq/

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