sábado, 2 de junho de 2012

[HOL] Wannsee: Não foi aqui que a Solução Final Nasceu

Haaretz, 20/01/2012

O diretor do Centro de Memória da Conferência de Wannsee, em Berlim, foi entrevistado por um jornal alemão, quando esfriou o entusiasmo pelo 70º aniversário da reunião da conferência.

O Dr. Norbert Kampe, diretor do Memorial da Conferência de Wannsee em Berlim surpreendeu numa entrevista a um jornal alemão ontem, quando diminuiu o entusiasmo da mídia pelo septuagésimo aniversário da convocação da conferência, mencionou o jornal hoje em todo o mundo.

Kampe, 63, nasceu sete anos depois da convocação da infame conferência, que está gravada na memória coletiva - de forma não muito precisa - como o lugar e a época em que o regime nazista decidiu adotar o plano de "solução final", ou extermínio do povo judeu.

"É difícil entender isso, mas a conferência tratou da organização e tomada de decisão", disse Kampe ao jornal alemão "Tageszeitung". "É bastante claro que esta reunião, a nível de secretários de Estado, tratou da organização da conferência, lidando com a coordenação entre agências do governo," acrescentou. Para provar seu ponto de vista, ele afirmou que Hitler e seus ministros não participaram da conferência. "Neste momento, em janeiro de 1942, não havia nenhum plano organizado para campos de extermínio," concluiu.

Não se engane. Kampe não é antisemita. Certamente não é um negador do Holocausto. Pelo contrário. Como esperado de um historiador profissional, ele estudou inumeráveis textos relevantes, documentos e testemunhos sobre o evento particular... Sua conclusão é o resultado direto de uma análise estudada de material escrito em sua posse.

O resultado é uma lição instrutiva de história. O Ministério da Educação Israelense não tem condições de manter esse debate no ensino do Holocausto. Os estudantes do ensino médio escrevem sobre o termo "Conferência de Wannsee" sem abordar o assunto com a complexidade necessária. Certamente, não é preciso deixá-lo de lado. O Holocausto, como qualquer outro evento histórico, também precisa de símbolos. A Conferência de Wannsee é, sem dúvida, um dos melhores deles. A discussão mais aprofundada deve ser deixada para os historiadores.

Algumas pessoas devem ter se sentido ultrajadas pelas palavras do diretor do Memorial. Elas ampliaram suas críticas, vão apresentar pontos de vista diferentes e argumentam que ele não sabe o que está falando. O que está claro é que até hoje ninguém sabe com total certeza e confiança exatamente o que aconteceu em 20 de janeiro de 1942, nesta vila deslumbrante no subúrbio abastado de Berlim.

Quinze pessoas participaram desta conferência, conduzida por uma hora e meia. Eles eram altos funcionários do governo, do partido nazista e da SS, mas a maioria permaneceu totalmente desconhecida para a geração do pós-guerra, que não os reconheceria pelos nomes e imagens. A exceção foi Adolf Eichmann, cuja imagem foi publicada após ele ser seqüestrado pelo Mossad, julgado e executado em Israel. Eichmann, chefe da Gestapo para assuntos judaicos, teve um papel importante na conferência. Ele escreveu seu protocolo.

Apenas uma cópia deste documento sobreviveu à guerra. Ele foi descoberto em 1947. Os outros documentos foram deliberadamente destruídos pelos nazistas num esforço para ocultar provas. Este protocolo apresenta o testemunho autêntico do que aconteceu em Wannsee e é o único documento a fazer uso explícito da frase "Solução Final". A importância histórica é indiscutível, mas como qualquer documento histórico ele também deve ser lido atentamente.

Se acreditarmos no que Eichmann disse no julgamento em israel, o documento foi modificado e editado, e não reflete tudo com precisão e, literalmente, do que foi dito na conferência.

Além disso, as palavras "morte" ou "assassinato" não aprecem nele. Ao invés disso, temos "declínio natural", "tratamento adequado", "outras opções de solução" e "diferentes formas de solução." As únicas palavras explícitas neste documento tratam da deportação, e não do extermínio. Mesmo a famosa tabela anexada a ele, informando o número de judeus em cada país, não afirma que eles devem ser destruídos.

Não é de estranhar. Após décadas de pesquisa sobre o Holocausto, não se conseguiu encontrar uma ordem clara e explícita de líderes nazistas determinando o extermínio em massa dos judeus. Ao invés disso, os nazistas disfarçaram suas intenções em comentários longos, em código secreto e palavras dissimuladas, que supostamente deveriam ser interpretadas pelos oficiais como sendo a "vontade" de Hitler.

Esta semana, no aniversário de 70 anos da Conferência de Wannsee, 80 especialistas reunidos em Berlim em um seminário, trataram da conferência. Não podemos esperar que eles cheguem a um consenso do que foi ou não foi dito nesta conferência. Mas temos certeza de que não faria nenhuma diferença. A real importância deste dia é como sendo um dos momentos importantes para a memória do Holocausto.

http://www.haaretz.co.il/news/education/1.1621978

N.do T.: A reportagem do Haaretz mencionada acima está em hebraico, usei o Google translator para conseguir o texto em português. Tive que fazer algumas adaptações para tornar o texto inteligível.

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