A História o condenou como o megalomaníaco que levou a morte e miséria para milhões.
Mas para uma mulher, o nome Adolf Hitler evoca um sorriso, não um arrepio.
Ela é Rosa Mitterer, que trabalhou como criada para o Führer no seu retiro na montanha na Bavária nos anos 1930.
Rosa tem 91 anos e até agora manteve uma promessa de silêncio sobre suas experiências. Ela decidiu quebrá-la após perceber que é a última sobrevivente do círculo que serviu o tirano nos anos antes de ele começar a Segunda Guerra Mundial.
E seu veredito sobre seu antigo mestre: "Ele era um homem encantador, alguém que era sempre agradável comigo, um grande patrão para trabalhar. Você pode dizer o que desejar, mas ele era um homem bom para nós."
As lembranças de Rosa da vida na corte do tirano é uma leitura emocionante. Ela viu líderes nazistas chegarem e ir embora. Himmler, o secretário malvado do partido; Bormann, que ela descreveu como "porco imundo"; e o festeiro e sexualmente obscecado ministro da propaganda Goebbels.
Rosa chegou ao serviço de Hitler com 15 anos em 1932, quando ela era Rosa Krautenbacher. Sua irmã Anni tinha trabalhado como cozinheira no retiro de Hitler em Berchtesgaden desde o final dos anos 1920.
"Ela disse que ele precisava de uma criada e que eu preenchia os requisitos," lembra Rosa. "Me lembro tão claramente do primeiro dia que conversei com ele na cozinha. Eu disse que era a irmã de Anni e aquilo o fez sorrir, porque Anni era sua favorita. Somente conheci Hitler como um homem gentil que era bom para mim."
Rosa Mitterer
Sua antiga governanta era Geli Raubal, com quem supostamente teve um caso amoroso. "Ela se matou em setembro de 1931 e foi-me dito tão logo iniciei meu trabalho que ele não deveria ser abordado no aniversário daquela data," disse Rosa.
"Minha irmã e eu compartilhávamos um quarto que era diretamente acima do de Hitler. Podíamos ouví-lo chorar."
Por um longo tempo ela e Anni eram as únicas criadas na casa, conhecida como Berghof.
Relembrando sua primeira ordem feita pelo mestre, ela disse que estava secando uns copos de porcelana quando ele desceu as escadas. "Olá," ele disse cordialmente. "Desculpe te incomodar, mas poderia fazer um pouco de café e trazer uns biscoitos para o meu estúdio?"
Estando tão próxima de Hitler fê-la sentir-se tímida, ela disse, mas ela logo acostumou-se à vida em Berghof.
"Eu acordava às seis da manhã todos os dias e colocava um vestido vemelho-verde com um avental branco. Minha primeira tarefa era alimentar seus cães - ele tinha três pastores alemães no começo chamados Wolf, Muck e Blondi.
"Naqueles dias, Hitler dormia em seu estúdio. Nele havia uma cama de ferro, um guarda-roupa, uma mesa, duas cadeiras e uma caixa de sapatos. Era um local muito modesto. Ao lado da cabeceira da cama havia uma foto de sua mãe."
Ela acrescentou: "Não tive que ser um membro do partido nazista ou qualquer outra coisa. Após um tempo eu relaxei um pouco. Aparentemente, foi ordem de Hitler que eu e Anni fossemos levadas à igreja todo domingo porque ele achava que seria 'bom para nós'. Uma outra vez, ele entrou na cozinha, me viu e disse, "Ah, vejo que nossa pequenina está um pouco mais gorda!"
Parte de suas obrigações envolviam selecionar cartas de fãs e presentes que eram entregues aos milhares em sua casa.
"Havia cigarros, potes de geléia, flores, fotografias," ela lembrou. "Dávamos a maioria deles para famílias de camponeses pobres sob as ordens de Hitler."
Seu tempo em serviço também permitiu-lhe ver de perto a mulher que Hitler manteve segredo de seus conhecidos durante seu governo - Eva Braun. "Ela não era tão bonita de perto," relembrou Rosa.
"Himmler estava sempre lá também, mais magro do que ele parecia nas fotos, e Goebbels."
"E Bormann, eu não gostava dele de jeito nenhum. Ele era um porco imundo." pelo final de 1934, a casa foi cercada por campos minados e pontos de guarda da SS. Rosa disse. "Eu me sentia como uma prisioneira ao invés de uma empregada."
Em 1935, ela se apaixonou por um comerciante local, Josef Amorts e entregou seu aviso prévio. Ela foi informada que poderia ir embora imediatamente.
"Eu encontrei Hitler somente uma vez mais, em 10 de dezembro de 1936, quando Anni se casou com Herbert Doehring, gerente de Berghof. Ele veio ao casamento e foi educado comigo, dizendo que sentia minha falta."
Rosa Mitterer no casamento de sua irmã, com a presença de Hitler (centro)
Rosa casou em 1939 e teve três filhas. Ela mais tarde se casou novamente. Uma bisavó, ela agora vive em Munique. Após a guerra ela teve que confrontar a realidade do homem por quem ela trabalhou com tanta dedicação. E em particular a realidade do Holocausto.
"Que ele ordenou tais coisas terríveis, eu não consigo acreditar," ela disse. "Mesmo agora, eu prefiro me lembrar das facetas encantadoras de sua personalidade."
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