quarta-feira, 13 de junho de 2012

[HOL] Perdoando Josef Mengele

Der Spiegel, 12/09/2005

Eva Kor

Eva Kor e sua irmã gêmea sobreviveram milagrosamente a Auschwitz e ao infame Doutor Josef mengele da SS. Mas, apesar de quase ser morta, Eva perdoou os nazistas. O documentário de sua vida agora foi mostrado pela primeira vez na Alemanha.

Uma rápida olhada nos relatórios médicos foi o suficiente. "Você tem apenas duas semanas para viver," o médico disse. Foi assim; ele então deixou o ambulatório - sem dar à sua paciente, a menina Eva de dez anos de idade, qualquer medicamento. Por que ele faria isso, já que ele queria que a garota romena morresse. O médico, Josef Mengele, injetou nela uma mistura LETAL de bactérias.

Era primavera de 1944 quando Eva Kor, junto com sua irmã gêmea Miriam e sua mãe chegaram no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Quando a família desceu do trem, um guarda da SS agitado aproximou-se delas gritando "gêmeas! gêmeas!" Uns poucos meses depois, Eva e Miriam foram afastadas de sua mãe. Elas nunca mais a viram.

Após mais de 60 anos, a jovem garota Eva é uma mulher idosa de 71. Ela tem um cabelo branco encrespado e está vestindo, nesta noite de terça-feira, uma roupa desportiva azul com mangas curtas e um xale de seda. Em seu antebraço esquerdo, sua tatuagem de Auschwitz é ainda facilmente visível: A-7063. O fato de Eva ainda estar viva pode ser muito incrível, mas é a sua presença em Hamburgo num convite da Fundação Körber esta semana - e a estréia alemã de um documentário sobre sua vida - que realmente tira o fôlego de qualquer um. O filme - feito pelo cineasta Bob Hercules e o historiador Cheri Pugh, ambos americanos - é chamado "Perdoando o Dr. Mengele." Pois foi exatamente isso o que Eva Mozes Kor fez.

Sua estória, apesar disso, chegou a um fim prematuramente - assim como muitas nos campos de extermínio da Segunda Guerra Mundial. Após ser selecionada entre os novatos, as irmãs foram levadas para o agora infame médico do campo Josef Mengele. mengele tinha uma ordem específica para as gêmeas; ele precisava delas para "experimentos médicos". A maior parte do tempo, ele injetava em uma das irmãs veneno ou uma bactéria ou vírus, e então documentava o desenvolvimento da doença e o início da morte. Tão logo o paciente morria, ele e seus assistentes então imediatamente matavam o irmão gêmeo - geralmente com uma injeção no coração - antes de realizar autópsias simultâneas. Cerca de 1.400 pares de gêmeos morreram vítimas das experiências bárbaras de Mengele.

Perdão e Cura

E foi exatamente isso o que ele pretendia fazer com as gêmeas Kor. "Mas ele tinha outra coisa em mente," diz Eva de forma desafiadora. Graças a uma vontade corajosa - e a um sistema imunológico forte - Eva sobreviveu à doença que Mengele injetou em suas veias. "Eu apenas continuei pensando, 'Se morrer, então Miriam será também morta.'"

Em 27 de janeiro de 1945, o Exército Soviético libertou os sobreviventes de Auschwitz-Birkenau e trouxe o pesadelo deles para um fim. Não muito tempo depois, as gêmeas Kor emigraram para Israel. Eva então se mudou para os EUA, iniciou sua própria família e tornou-se uma corretora de imóveis. Mas o sofrimento permaneceu com ela. Miriam, também, aparentemente havia recebido uma injeção de Mengele, mas ninguém poderia imaginar o que ela estava sofrendo por isso. Seus rins, contudo, estavam falhando. Mais uma vez, Eva fez o que pode para salvar a vida de sua irmã e doou um de seus rins para ela. Mas a doença não pode ser parada e, em 1993, Miriam morreu em Israel.

Desde então, contudo, a estória de Eva tornou-se uma de perdão e cura pessoal. Ela também tornou-se uma de controvérsia. Depois de tudo, o filme, mostrado na Fundação Körber na terça-feira à noite, não é focado na aniquilação e culpa, como muitos dos filmes sobre o Holocausto fizeram antes dele. Mais do que isso, é sobre uma mulher que fez as pazes com aqueles que exterminaram sua família e tentaram exterminá-la.

O caminho de Kor para a paz começou com uma viagem de seu lar atual em Terre Haute, Indiana, até o país de seus quase-assassinos. Somente umas poucas semanas após a morte de sua irmã, Eva viajou para a Alemanha para se encontrar com um médico alemão. Hans Münch era seu nome, e ele havia trabalhado junto com o Dr. Mengele em Auschwitz. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o médico da SS enfrentou acusações de crimes de guerra, mas foi considerado inocente. Ao contrário de seus colegas, foi descoberto que Münch não havia realizado experiências em seus pacientes.

Um ex-nazista com um sorriso envergonhado

Ela estava incrivelmente nervosa quando ela finalmente ficou frente a frente com a porta de Münch, disse Kor. Mas então, um idoso educado com cabelo branco, barbeado e com um sorriso envergonhado abriu a porta. Sim, ele admitiu que ele estava lá durante o gaseamento. "E isto é problema meu," ele continuou. Ele ainda sofre de depressão e pesadelos como resultado. Kor foi procurando um monstro, mas encontrou um ser humano ao invés disso. "Eu então decidi que escreveria uma carta a Münch na qual eu o perdoava," disse Kor.

Mas a resoluta sobrevivente foi mais adiante do que aquilo. Quando, em janeiro de 1995, o 50º aniversário da libertação de Auschwitz , foi celebrado, Kor levou Münch junto com ela. No local coberto de neve do antigo campo de extermínio, ela leu uma confissão de culpa de Münch para a imprensa reunida. Ela viu isso como uma declaração importante de uma testemunha que poderia ser usada para contradizer aqueles que negavam o Holocausto. Mas então, ela disse, "Em meu nome, eu perdôo os nazistas."

Os outros antigos prisioneiros do campo de concentração ficaram horrorizados. "Não temos o direito de perdoar os causadores no nome das vítimas," era a idéia geralmente usada. A anistia particular de Kor era chocante, disse uma mulher que também havia sido uma vítima das experiências de Mengele com gêmeos. E desde a clemência pessoal de Kor, um número de sobreviventes de Auschwitz tem feito o possível para evitá-la. A dor e a raiva são muito grandes. Pode alguém realmente perdoar a maldade pura? Ao fazer isso, não exonera os assassinos e torturadores que comandavam os campos?

Hoje, a corretora de imóveis americana, contudo, está certa de que fez a coisa certa. "Eu senti que um incrível peso de angústia havia sido retirado," ela diz. "Eu nunca pensei que pudesse ser tão forte." Ela diz que pelo fato de ser capaz de perdoar seus piores inimigos, ela finalmente foi capaz de se ver livre de sua condição de vítima. Mas, ela rapidamente acrescenta que o perdão não significa esquecimento. "O que as vítimas fazem não muda o que aconteceu," ela diz. Mas toda vítima tem o direito de curar-se assim que puder. "E a melhor coisa sobre o remédio do perdão," ela diz, "é que não há efeitos colaterais. E todo mundo pode proporcionar isso."

http://www.spiegel.de/international/0,1518,389491,00.html

Um comentário:

Anônimo disse...

Nunca Esquecer,mas Sempre Perdoar.