sexta-feira, 4 de abril de 2008

A Psicologia da Morte na Guerra

William S. Frisbee Jr


Hollywood é a melhor em tornar a guerra simples e direta. Ela faz com que a platéia acredite que as pessoas se matam porque elas apenas obedecem ordens, porque é matar ou morrer, o inimigo é desprezível ou qualquer outra coisa. Hollywood tenta fazer-nos acreditar que todos os soldados atiram contra si, desesperadamente para acertar e matar o outro. Apesar de uma parte disso ser verdade, a maior parte é errada.

Um excelente livro para leitura neste assunto é “Sobre a Morte: O Custo Psicológico de Aprender a Matar na Guerra e na Sociedade” (On Killing: The Psychological Cost of Learning to Kill in War and Society), de Dave Grossman. Recomendo muito que você leia este livro com grande atenção, pois ele cobre o assunto de forma mais ampla do que é discutido aqui.

Quando a maior parte das pessoas discute sobre a morte, elas parecem virgens falando sobre sexo. Você pode conversar sobre isso todos os dias, pode entender a mecânica da coisa, mas quando chega a hora há muito mais coisas a considerar do que a pessoa pensava.

Quando as balas começam a voar, a adrenalina corre e isso pode ter um efeito poderoso em como a pessoa vê as coisas. Quinhentos combatentes podem ver quinhentas coisas diferentes. Numa guerra todo soldado vê as coisas individualmente. Os filmes gostam de fazer as pessoas pensarem que o mundo é preto e branco, não em tonalidades de cinza.

Na Segunda Guerra Mundial somente um por cento dos pilotos conseguiu atingir de trinta a quarenta por cento dos caças inimigos derrubados em vôo. Alguns pilotos não conseguiram sequer derrubar um único avião inimigo.

Na Coréia, a taxa de soldados que recusaram disparar no inimigo caiu e cinqüenta por cento dos soldados atiraram no inimigo. No Vietnã, está taxa aumentou para cerca de noventa por cento mas isto não significa que eles estavam tentando acertar o alvo. De fato, isto geralmente quer dizer cerca de 52.000 projéteis disparados para conseguir uma única morte em unidades de infantaria regulares! Pode ser interessante notar que quando as estatísticas das Forças Especiais são registradas e monitoradas isto freqüentemente inclui as mortes realizadas pela artilharia ou suporte aéreo próximo. Neste caso, unidades das Forças Especiais podem registrar altas taxas de morte como cinqüenta ou cem inimigos para cada soldado da FE morto. Isto não quer dizer que tropas de elite não podem registrar um grande número de mortes por projétil disparado. Devemos notar que a maior parte das baixas em guerra é devido à artilharia ou outros tipos de armas de destruição em massa.

Se estudarmos história e tivermos a capacidade de perceber o principal, veremos que o combatente é freqüentemente reticente em matar seus inimigos e este acha muito traumático quando tem que fazer isso. No campo de batalha o estresse de ser morto ou ferido não é sempre o principal medo.

Lutar, Fugir, Atitude ou Rendição

No reino animal, a maior parte dos animais não mata os outros de sua própria espécie, salvo raríssimas exceções. Os humanos, sendo animais, não desejam matar-se uns aos outros e, algumas vezes, nos comportamos como os animais mais simples, especialmente em combate.
Quando os animais confrontam-se eles começam pela atitude. Ambos tentam intimidar o oponente através da crença que este é inferior e está em perigo. Neste ponto eles podem lutar, ou um pode se render ou escapar, e quando eles lutam raramente atinge-se a morte. Quando um se rende, acaba expondo alguma vulnerabilidade ao inimigo, como sua garganta.

Os humanos não são muito diferentes. Armas de fogo são um excelente método de atitude, pois são barulhentas e perigosas, e as balas cruzando a cabeça podem ser uma experiência terrível para o inimigo. Elas fornecem uma função primordial quando disparadas e podem dar ao atirador uma sensação de poder. A atitude é muito evidente na tática de combate. Os gritos de guerra são uma forma de atitude. Um grito de guerra não pode matar, mas tem a função de intimidar o inimigo. Os cartuchos das balas chocando-se no chão, ou dando pancadas contra uma parede próxima de um soldado, pode ser uma experiência assustadora e quando esses sons são misturados a alguns berros “maníacos” tudo fica ainda muito mais terrível.

Esta é a razão porque tantos disparos foram feitos no Vietnã sem realmente atingir os verdadeiros alvos (52.000 tiros para acertar um homem? Nossas tropas até que não foram tão mal!). As tropas norte-americanas foram em muitos casos superiores em atitude. Entretanto, quando “o bicho pega”, independentemente de quão machões possam parecer nas barracas, os soldados acham difícil matar companheiros combatentes e preferem apelar para a atitude sempre que possível.

Superioridade de fogo significa que um lado tomou a atitude com êxito e intimidou o inimigo. Na Guerra Civil há casos em que gritos clamorosos foram mantidos e o perdedor se retirou, simplesmente porque foi acuado pelos gritos de guerra do outro lado. (Isto ocorreu nas florestas onde os soldados não podiam se ver, porém unidades superiores foram vencidas por unidades inferiores graças à atitude destas últimas.)

Os militares não chamam isso de atitude, eles dizem o chamam de intimidar o inimigo.
Isto não significa que todos os soldados ficam tentando assustar o inimigo ao invés de matá-lo. Uns poucos podem tentar ativamente matar o inimigo e isto é onde grande parte dos ferimentos ocorre. Tal como aquele um por cento dos pilotos de caça que mataram quarenta por cento do total de inimigos mortos.

Lutar é outra opção e então ambos os lados farão um esforço para matarem-se. Um lado pode se render, mas num campo de batalha isto é a mais perigosa opção para o soldado, pois prisioneiros geralmente são mortos no calor da batalha, e nem sempre com razão! A fuga torna-se a melhor opção, mas mesmo essa é muito perigosa.

A distância de outro ser humano diretamente afeta a facilidade de matá-lo. Pilotos de bombardeios nunca tiveram este tipo de problema por estarem afastados por quilômetros da terra, de modo a poder matar centenas ou milhares, pois eles não vêem os mortos ou ouvem os murmúrios dos feridos. Para as unidades de infantaria, isto é um aspecto diferente já que os soldados vêem o medo nos olhos do inimigo, o suor na testa, a dor em sua face, o sangue escorrendo dos ferimentos, os gritos desesperados por ajuda ou piedade. O inimigo torna-se muito real e vivo, torna-se um humano com sonhos, esperanças, medos, com família, um pai (ou mãe), tal como o atirador. De um certo modo, o atirador pode ver o inimigo como ele próprio e matar essa pessoa é como matar-se a si mesmo. Esta é a razão por que infantes são mais traumatizados pela guerra do que outros.

Guerras dizem respeito à luta entre seres humanos, seu horror e caos, medo e trauma. Por isso, a quantidade de tiros disparados entre as tropas é menor do que a maior parte das pessoas pensa. As pessoas desejarão enfrentar a morte e a mutilação ao invés de ter que matar alguém. Médicos, por exemplo, são conhecidos por arriscar a vida ou sofrer mutilação para salvar uma vida; por outro lado, o soldado regular pode permanecer em seu posto e fazer nada além de atirar de forma impotente contra o inimigo.

Quando um soldado foge ele se torna um covarde[1]. Novamente, humanos são como animais. Se você corre de um cachorro ele o perseguirá e o morderá, talvez matando-o. Humanos vivem uma situação semelhante, fugindo de outro humano e a adrenalina é um convite para ser perseguido e executado. Este é o motivo pelo qual a maior parte dos ferimentos em guerra ocorre durante uma retirada. Neste caso, o soldado atirador não enxerga mais o fujão como um combatente tal como ele, mas sim um covarde, e reza para que o inimigo esteja em sua linha de visão, ficando mais fácil mirá-lo pelas costas. Um soldado fujão não é mais alguém, ele é uma coisa, um ser temeroso de quem o persegue.

Matar um soldado rendido é uma ocorrência comum na guerra porque o matador pode estar com a adrenalina nas alturas, com o estado emocional excitado e pode não perceber que o seu colega combatente está se rendendo. Neste caso, podem aparecer os psicopatas que desejam mais do que qualquer coisa atirar em tropas sob rendição; evidentemente este tipo de indivíduo existe em qualquer exército.

Matar ou Não Matar

Esta é uma decisão dificílima para um soldado e uma série de fatores importantes pode influenciar os soldados a matar seus inimigos. Antes do combate, os soldados devem conversar muito e parecer como famintos por sangue, uma trupe de meter medo. Os veteranos tendem a ser mais controlados, a menos que estejam “doidões”.

Deve ser notado que apesar de um soldado poder atirar, ele pode tentar não matar. Ele pode receber ordens de abrir fogo, mas isto é muito difícil de determinar se está tentando acertar como pode ser percebido pelos 52.000 disparos para um acerto no Vietnã. As pessoas desejavam atirar mas nem sempre acertar o alvo. Isto também é evidente nos tempos antigos quando os mosquetes eram usados quando os soldados caminhavam em linhas paralelas, ombro a ombro a ombro, atiravam contra si e não acertavam nada. Havia mesmo aqueles que não atiravam.
A maior parte dos humanos mentalmente sãos, se lhes for dada a opção, não matarão seus inimigos e são extremamente relutantes em faze-lo, apesar de você duvidar. Quando eles são forçados a matar, muitos podem sofrer de traumatismo psicológico.

Treinamento superior atualmente realizado pelas organizações militares ajudam o indivíduo a tomar decisões. Esta é, na verdade, uma forma de lavagem cerebral mas é freqüentemente necessária. Na Segunda Guerra, as pessoas aprendiam a atirar num campo aberto com alvo de papelões. Quando elas iam para o campo de batalha, percebiam que, apesar de belos atiradores, estavam mandando bala em outras pessoas, alguém chamado Hans ou Frederico, ou qualquer outro nome. Hoje, alvos mais realistas são utilizados em ambientes simulados. Matar um “alvo” torna-se mais automático, mais instintivo de modo que quando se depara em combate, o soldado pode até estar nervoso e assustado, mas seu corpo sabe o que fazer e o faz, talvez até usando sua razão algumas vezes. Isto evita que o ato de matar se torne traumático para o matador, fato responsável pela alta taxa de traumatismo em veteranos do Vietnã após a guerra. Assim, eles treinam para matar, apesar de não desejar faze-lo.

A distância emocional e física também pode permitir que um soldado mate seu opositor. A distância emocional pode ser entendida como a distância mecânica, social, cultural e emocional. A distância física tem a ver com o afastamento físico entre os combatentes. É muito mais difícil matar alguém que você sente sua respiração e vê o medo em seus olhos num ataque com uma faca. É muito traumático a tal curta distância. A longa distância, tal como um artilheiro disparando contra seu alvo que está sobre um morro, ele não vê o inimigo e pode desprezar mais facilmente o lado humano do inimigo.

A distância emocional permite a uma pessoa matar a curtas distâncias e ajuda-o a justificar o ato a si próprio mais facilmente. A distância cultural é definida como a visão do inimigo como uma forma de vida inferior. O inimigo é desumanizado e considerado inferior. Tal como os nazistas classificavam os judeus e negros como inferiores e subumanos, retirando-os da espécie humana e assim tornando-os como animais a serem mortos.

A distância moral significa classificar o inimigo como moralmente errado. As tropas norte-americanas lutando contra os nazistas ou japoneses tinham uma distância moral para ajuda-los a matar. Os nazistas eram açougueiros, cruéis e sórdidos; culpados que tinham de ser punidos por aqueles que eram justos e direitos.

[1] No texto original, o autor diz he becomes a back (ou seja, ele se torna apenas um dorso).

http://www.military-sf.com/

terça-feira, 1 de abril de 2008

Nomenclatura Militar

Um pelotão é uma unidade militar tipicamente consistindo de dois a quatro esquadrões ou seções e contendo de 30 a 50 soldados. Pelotões são organizados em companhias, que contém três, quatro ou cinco pelotões. O pelotão é geralmente a menor unidade militar liderada por um oficial comissionado - o líder ou comandante do pelotão, geralmente um tenente. Este geralmente é assessorado por um oficial senior não comissionado, o sargento de pelotão.

Uma companhia é uma unidade militar consistindo de 75 a 200 soldados. Muitas companhias são agrupadas para formar um batalhão ou regimento, sendo este último algumas vezes formado por vários batalhões.

Um batalhão é uma unidade militar com cerca de 500 a 1500 homens consistindo de duas a seis companhias e são tipicamente comandadas por um Tenente-Coronel. Muitos batalhões são agrupados para formar um regimento ou brigada. A nomenclatura varia de acordo com a nacionalidade, mas é comum organizar-se a infantaria em batalhões, enquanto que cavalaria, reconhecimento e unidades motorizadas são organizados em esquadrões ou regimentos. O batalhão é geralmente a menor unidade militar capaz de operações independentes (isto é, sem ser presa a um Alto Comando), apesar de alguns exércitos possuírem unidades menores que são auto-sustentáveis.

Um regimento é uma unidade militar composta de um número variável de batalhões, comandado por um Coronel. Dependendo do país, arma, missão e organização, um moderno regimento forma uma brigada, na qual tanto o alcance quanto o tamanho vai de poucas centenas até 5.000 soldados (3 a sete companhias-padrão). geralmente, regimentos e brigadas são agrupadas em divisões.

Uma divisão é uma grande unidade militar ou formação que usualmente consiste de cerca de 10.000 a 20.000 soldados. Na maioria dos exércitos, uma divisão é composta de vários regimentos ou brigadas, e assim muitas divisões formam um corpo.