quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

[SGM] As Origens da Segunda Guerra Mundial

T. S. Tsonchev

The Montreal Review, março de 2010

 
Uma resenha do livro “As Origens da Segunda Guerra Mundial” de A. J. P. Taylor

 

 
As fontes de conflito estão sempre escondidas no meio de velhos crimes e injustiças, feridas não cicatrizadas da dignidade perdida, sofrimentos e traumas que poderiam mostrar que mesmo o pior criminoso foi uma vítima de circunstâncias infelizes e abusos passados. O mal da guerra e conflito é sempre simples em suas manifestações exteriores e misticamente obscura em seus motivos interiores. A obra de A. J. P. Taylor “As Origens da Segunda Guerra Mundial” , apesar de seu grande discernimento, não pode nos dar uma resposta completa para a questão “Por que a Europa sucumbiu a uma segunda guerra sanguinária após os pesadelos da Primeira Guerra Mundial?”

As observações e conclusões de Taylor são notáveis, e muitos historiadores ainda as aceitam ou as rejeitam apaixonadamente. Seu livro sobre as origens da Segunda Guerra Mundial talvez seja a leitura mais popular sobre o assunto, ainda que sua interpretação não possa ser vista como uma verdade final sobre as causas da guerra mais sanguinária da história humana. A narrativa fascinante de Taylor é, em alguns aspectos, correta, em outros errada, e certamente não dá um quadro completo do período entre guerras. É apenas um fragmento de um quadro maior que ainda espera pela sua total revelação.

A conclusão mais popular de Taylor em “As Origens...” é que Hitler não tinha nenhum plano real para a expansão alemã. Ele argumenta que não devemos misturar planos com intenções e fantasias. De acordo com Taylor, Hitler esperava alcançar a expansão a leste não através de uma grande guerra, mas por meio de ofensivas bem direcionadas e rápidas ou, se fosse possível, sem mesmo uma guerra. Hitler também não esperava que a França capitularia de sua posição de Grande Potência de maneira fácil. Ele não tinha uma visão clara de como na realidade a Ucrânia e Polônia conquistadas seriam povoadas por alemães, nem ele era capaz de militarizar a Alemanha mais rápido que as outras Grandes Potências durante os anos 1930. Hitler também não tinha nenhum plano para tirar a Alemanha da depressão econômica. Sua qualidade política mais significativa era a habilidade de esperar, ou ter nervos de aço. Ele era um perfeito oportunista na política doméstica, assim como na externa. Em casa, Hitler usou as oportunidades que Von Papen e outros conservadores lhe deram para assumir o controle, sua política era de uma constante improvisação – ele explorava com a paciência de um predador suas intrigas, mas sem ideia de como ele escaparia de seu controle. A mesma técnica ele aplicava à política externa. Ele torturou, emocionalmente, a França e a Grã-Bretanha com os medos e esperanças e a confusão deles trabalhou para ele melhor do que suas ações ofensivas. Ele esperou pacientemente por vitórias políticas entregues num prato por seus próprios inimigos através de seus erros.

Quando “As Origens…” foi publicada em 1961, a maioria destas conclusões era novidade. Assim, com sua publicação, o livro de Taylor produziu tremores no entendimento comum da origem da Segunda Guerra Mundial, principalmente pelo argumento de que Hitler foi o único culpado pela guerra. A visão de Taylor não era tão não convencional, pois ele acreditava que, acima de tudo, o Tratado de Versalhes foi a principal razão para o conflito. As cláusulas pesadas não destruíram a Alemanha completamente. Além disso, a Alemanha com ou sem o tratado era ainda a maior potência do continente. “Os alemães,” observa Taylor, “tinham essa enorme vantagem que eles podiam enfraquecer o sistema de segurança criado contra eles simplesmente não fazendo nada.” Este fato se encaixava bem no estilo político de Hitler. De fato, em uma coincidência tudo na Europa trabalhou bem para um político alemão com talento oportunista e nervos para esperar, a tragédia estava no fato de que este político era Hitler, uma pessoa com uma visão corrompida para o futuro e ideias lunáticas. Se no lugar de Hitler, estivesse uma pessoa inteligente, sensível com uma visão racional do futuro da Alemanha, menos obcecada pela ideia de poder, a Segunda Guerra Mundial talvez não tivesse acontecido. É claro, os oportunistas não são sempre as pessoas mais sensíveis, e raramente a maioria é humilde, de modo que políticos alemães combinando em suas características talento oportunista, forte vontade política, boas intenções e pragmatismo eram praticamente impossíveis de surgir ou permanecer no poder por muito tempo nos anos turbulentos após a Primeira Guerra Mundial.

O Tratado de Versalhes tinha uma falha séria – nenhum dos lados acreditava genuinamente que ele foi um acordo justo. As nações derrotadas sentiram a humilhação e viram-se como vítimas de um roubo; os vencedores – Grã-Bretanha, França, EUA e Itália – tinham suas próprias dúvidas sobre se eles tomaram as decisões certas em Versalhes. A crença comum, admita ou não, era a de que os Aliados puniram a Alemanha além da conta. Mas os franceses, preocupados com sua própria segurança, queriam os alemães de joelhos. Enquanto isso, os britânicos não foram capazes de abandonar seu aliado continental, França, nem ignorar a opinião pública anti-alemã em casa imediatamente após a guerra; por outro lado, os americanos saíram de cena em seu tradicional isolacionismo e não fizeram nada para melhorar a situação política na Europa.

Após Versalhes, os Aliados seguiram uma política externa caótica, seguindo seus próprios interesses e objetivos. Mas, como Taylor nota, “não havia rejeição deliberada da parceria dos tempos de guerra. Os eventos afastaram os aliados; e nenhum deles lutou o bastante para reverter o processo.” Após a guerra, a Grã-Bretanha se sentiu segura e não viu a Alemanha como um perigo; a França tinha sentimentos opostos, sua obsessão com o item segurança mesmo aprofundou-se. Enquanto a Grã-Bretanha estava tentando apoiar a recuperação alemã, a França fazia o que podia para retardá-la. Os franceses acreditavam que a primeira Guerra Mundial foi causada por agressão, enquanto que os britânicos mantinham a posição de que se tratou de um engano.

Sob pressão da França, o tamanho das reparações alemãs não foi definido imediatamente após a guerra. Foi um erro. O lucro real das reparações foi insignificante para os Aliados e as reparações não tiveram um efeito tão devastador na economia alemã como parece à primeira vista. O dinheiro que vinha da Alemanha era usado pelos Aliados para pagar os débitos de guerra aos americanos, não para a recuperação de suas economias, enquanto que a Alemanha, simultaneamente, estava recebendo empréstimos generosos dos EUA. Mas as constantes disputas sobre a questão da reparação e a inabilidade de um acordo justo ser alcançado eram uma constante fonte de tensão. Isso criou um ambiente psicológico amargo na Alemanha que impedia o melhoramento das relações entre as Potências por anos e que estava alimentando o radicalismo anti-ocidental entre os alemães. Os alemães acreditavam que as reparações eram a principal causa de seus problemas econômicos. “De repente, as reparações tornaram-se a única responsável pela pobreza alemã,” diz Taylor. “O comerciante em dificuldades; o professor mal pago; o trabalhador desempregado, todos culpavam as reparações pelos seus problemas. O choro de uma criança faminta era o choro contra as reparações... A grande inflação de 1923 foi atribuída às reparações; assim como a grande depressão de 1932...” Este senso de injustiça evoluiu das reparações para todas as outras cláusulas do Tratado de Versalhes. No final, todos os problemas econômicos da Alemanha nos anos 1920 e 1930 eram explicados pelas cláusulas punidoras de Versalhes.

Mas isto é um mito, argumenta Taylor, que os problemas econômicos da Alemanha eram devidos apenas a causas externas. As dificuldades econômicas entre as guerras foram devidos aos defeitos da política doméstica alemã.

Na opinião de Taylor, a Alemanha entre as guerras teve um de seus grandes políticos em Gustav Stresemann. Stresemann sabia que a Alemanha precisava de uma Europa em paz para sua recuperação, e a recuperação tornaria seu país forte o suficiente para revisar o Tratado de Versalhes. Em meados dos anos 1920, Stresemann, MacDonald e o ministro do exterior francês Briand trabalharam juntos por um tempo para pacificar a Europa, para normalizar os antagonismos entre as Potências. Pela primeira vez após 1917, diz Taylor, com o Tratado de Locarno todos os lados pareciam satisfeitos. Locarno deu à Europa um pouco de paz e esperança. Foi o maior e único triunfo da política de “apaziguamento”. É claro, essa paz foi mais uma ilusão do que uma realidade. O apaziguamento não era possível até que a França se sentisse completamente tranquilizada e a Alemanha totalmente satisfeita.

Hitler destruiu a ordem política de Locarno dez anos depois com a reocupação da Renânia. Hitler chegou ao poder graças às intrigas políticas dos poderes políticos conservadores. Fatores diferentes ajudaram no crescimento da popularidade do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, mas Von Papen e Hindenburg cometeram o erro crucial de apontar Hitler como Chanceler com a intenção de usá-lo temporariamente, enquanto os conservadores ganhavam poder político suficiente para governar sozinhos. Ninguém esperava que Hitler lançaria algumas “mudanças revolucionárias” tanto internas quanto externas. Taylor argumenta que Hitler tornou-se gradualmente um ditador e a única mudança política que ele promoveu foi a transformação do sistema político alemão da democracia para a ditadura. Em sua política externa, não havia nada de “revolucionário”. Nos assuntos estrangeiros, ele simplesmente continuou a política de seus predecessores: libertar a Alemanha das restrições do tratado de paz, restaurar o grande exército alemão e tornar a Alemanha uma grande potência continental como já havia sido antes.

Na política externa, Hitler agiu de acordo com as circunstâncias – sem um plano, sem um grande projeto. Ele tinha em sua mente as simples verdades do alemão comum e agia de acordo com elas. Taylor diz que Hitler foi “um intelecto poderoso, porém não instruído.” Sua política externa era um “eco” das conversas em qualquer café austríaco ou cervejaria alemã. Em seu esboço de política externa havia somente um elemento de pensamento sistemático, e não era original – sua visão era “continental”. Suas ambições eram restritas à Europa, mais precisamente, à Europa oriental. Ele queria o leste de volta à Alemanha – Áustria, polônia, Ucrânia e os espólios de Brest-Litovsk. De acordo com Taylor, a expansão oriental era a proposta primária da política de Hitler, senão a única. O “terrível” literalismo era a força impulsionadora em suas ações políticas e intenções. Hitler colocou em movimento a política “urbana”, ele estava alcançando as crenças vagas do alemão comum e estava fazendo isso pacientemente e com nervos de aço, agindo com passos curtos e esperando seus adversários perderem o controle e cometer erros. “Talvez”, escreve Taylor, “esta espera não tenha sido a princípio consciente ou deliberada. Os grandes estadistas são aqueles que não sabem o que estão fazendo.”

Hitler escancarou a fraqueza de seus adversaries quando ele abandonou em 1933 a Conferência de Desarmamento Mundial em Genôva. Como aconteceu muito frequentemente nos anos vindouros, esta ação não teve consequências. Isto deu-lhe uma garantia de que estava livre para blefar e verificar as reais intenções dos Aliados toda vez que a ocasião permitisse.

De acordo com Taylor, os primeiros sucessos de Hitler na política externa foram o Pacto de Não-Agressão com a Polônia em 1934. Este acordo deu-lhe segurança para manobrar a França e a Inglaterra no futuro. Hitler tratou com muito cuidado o fracasso da Liga das Nações em resolver o problema da agressão italiana na Abissínia. Isto mostrou-lhe que a comunidade internacional não tinha nenhum prestígio para intervir em casos de violação de obrigações internacionais coletivas. Assim, em 1935, ele reocupou a Renânia. Em resposta, os franceses não fizeram praticamente nada, nem a Grã-Bretanha, Polônia ou outro país. A reocupação da Renânia, diz Taylor, anulou o sistema de Versalhes. A Alemanha estava livre para rearmar-se e o sistema internacional voltou à familiar anarquia dos anos pré-guerra. Ora, diz Taylor, a anarquia internacional torna a guerra possível, mas não lhe dá certeza de ocorrer. Em 1935, ainda havia ceticismo que a Alemanha causaria guerra; de fato, os europeus esperavam um possível conflito no Mediterrâneo entre França e Itália. “As guerras quando vêm,” diz Taylor, “são sempre diferentes da guerra que é esperada. A vitória vai para o lado que cometeu menos erros, não para aquele que supunha estar certo.” No período pré-Segunda Guerra Mundial, Hitler estava do lado que cometeu menos erros.        

Após a reocupação da Renânia, não havia nenhum sério incentivo para o rearmamento na França e Grã-Bretanha. As razões gerais para isto eram três – os ingleses e franceses ainda não acreditavam que a política de “apaziguamento” era um fracasso, eles não queriam uma nova guerra e os problemas econômicos preveniram quaisquer planos para gastos militares. A Alemanha iniciou alguma militarização, mas não era tão grande quanto as pessoas pensam. A opinião popular é que a Alemanha era o único país (exceto a União Soviética) que gozava que pleno emprego após 1935 e isto era devido ao rearmamento. Na realidade, o sucesso econômico foi devido à abordagem heterodoxa de Hitler na economia que permitiu ao governo gastar dinheiro em projetos públicos apesar da Depressão. De fato, isto é uma expressão típica do capitalismo de estado autocrático que, por um período particular, é muito eficiente em facilitar o revigoramento da economia através de medidas de incentivo, tais como controle centralizado das indústrias e manipulação estatal ativa de preços e investimentos.

Assim, de acordo com Taylor, o espaço entre as duas guerras mundiais foi estendido por precisamente mais dois anos. “O período pós-guerra terminou quando a Alemanha reocupou a Renânia em 7 de março de 1936, o período de pré-guerra começou quando ela anexou a Áustria em 13 de março de 1938.”

Taylor insiste que o período do pré-guerra começou sem um plano. De acordo com ele, o popular “Memorando Hossbach”, que foi apresentado nos julgamentos de Nuremberg, e que serviu de evidência principal para a estratégia de política externa de Hitler, não era nada mais do que um encontro de conferência documentado na Chancelaria em 1937, no qual Hitler esperava convencer seus ministros conservadores (entre eles somente Göring era nazista) a apoiar seu programa de aumento de armamentos contra os escrúpulos financeiros do Ministro da Economia Schacht.

O “Memorando Hossbach” não era realmente um plano de ação. O Anschluss em março de 1938 veio, contra os objetivos expressos no memorando, antes da “planejada” destruição da Tchecoslováquia. As políticas de Hitler em relação à Áustria não tinham sido diferentes da abordagem evolutiva tradicional alemã de esperar que os alemães austríacos se fundissem com a pátria étnica sem nenhum apoio externo. Mas as circunstancias permitiram uma invasão alemã precoce. Após o Anschluss, “a geografia e a política automaticamente colocaram a Tchecoslováquia na agenda,” não os pontos no memorando.

A Tchecoslováquia era um país da Europa central, composto de minorias nacionais e cercado de vizinhos não amigáveis (exceto a Romênia). A destruição do Estado Tcheco foi fácil – seus aliados França e Rússia Soviética não tiveram coragem de defendê-lo, a Grã-Bretanha estava convencida de que o risco de sua destruição era menor comparando com a possibilidade da segunda grande guerra. Hitler ocupou a terra dos Sudetos, onde a minoria alemã vivia, com a benção da Grã-Bretanha e da França em Munique. A última etapa desta ordem de passos curtos mas altamente eficientes era a cidade livre de Danzig e do Corredor Polonês que dividia a Alemanha da Prússia Oriental. Danzig marca o começo real da Segunda Guerra Mundial na interpretação de Taylor.

Acima de tudo, o que podemos concluir a partir do livro de Taylor? Quais foram as origens da Segunda Guerra Mundial?

Primeiro, a semente da discórdia plantada em Versalhes. O tratado que objetivava criar uma ordem segura pós-guerra mundial revelou-se um completo fiasco. Ele foi esboçado sem o consentimento das nações derrotadas, não foi um acordo coletivo e, de fato, era um compromisso dos medos franceses com a opinião pública dos países vencedores. O sistema de Versalhes foi incrivel e injustificadamente cruel com a maior nação na Europa, a Alemanha, e com isto produziu constante situação de instabilidade. Durante os anos interguerras, todo político europeu sabia que Versalhes foi um erro, mas ninguém estava certo como corrigi-lo sem colocar em risco os outros países ou perder o status internacional de seu país.

Segundo, os franceses e os britânicos tinham diferentes conceitos sobre a ordem do mundo do pós-guerra. A França estava engajada em ações que supostamente deveriam garantir sua segurança, mas ela nunca estava satisfeita; a Grã-Bretanha se importava com sua tranquilidade e preferia a paz. A França estava obcecada por questões de segurança, mas ela não foi capaz de resistir à ameaça alemã sem o apoio da Inglaterra; no outro lado, a Grã-Bretanha sabia que a Alemanha tinha o direito de buscar justiça e sinceramente acreditava que uma vez que suas exigências fossem satisfeitas ela seria pacificada. A Grã-Bretanha olhava a França como o principal obstáculo contra a recuperação alemã e, consequentemente, como o principal perturbador da paz. Era impensável à Grã-Bretanha apoiar a França militarmente ao invés de acalmar toda a razão para um conflito aberto.

Terceiro, durante o período entre guerras, a Alemanha experimentou um número de turbilhões políticos e econômicos e para todos eles, justificadamente ou não, Versalhes foi a razão alegada. A radicalização da sociedade alemã produziu i movimento extremista nazista e tornou possível o regime nazista. O ambiente político na Alemanha e fora dela cedo ou tarde produziria um político rude e sangue-frio que cortaria o nó górdio do sistema de Versalhes. Este político era Hitler. Ele foi um lunático, que acreditava que qualquer objetivo que o homem alcançasse seria devido à sua originalidade e brutalidade (Gordon W. Prange, ed. Hitler's Words, Washington, D.C., 1944, p.8). Ele era uma pessoa destituída de dúvidas, suas ações criminosas tinham uma “fundação de concreto” em sua filosofia anti-semita e ele estava livre de restrições morais. Tal pessoa não pode ser inteligente o suficiente para criar um plano para domínio mundial, ele pode apenas mostrar os defeitos do sistema internacional. A opinião de Taylor é exatamente esta: Hitler foi o produto de um mundo corrompido, e a responsabilidade pelo início da Segunda Guerra Mundial não deveria ser colocada apenas nos ombros de uma pessoa, como já havia acontecido em 1917.

 
http://www.themontrealreview.com/2009/The-origins-of-the-Second-World-War.php

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Rumo a uma Política Externa Sionista Cristã

Philip Giraldi, 14/02/2013


Os países frequentemente se definem pelo que eles acreditam ser verdade. Quando realidade e crença discordam com aquela definição podemos muito bem nos referir como um “mito nacional”. Nos Estados Unidos, muitos acreditam que existe uma separação constitucionalmente estabelecida entre religião e governo. Na prática, contudo, esta separação jamais realmente existiu, exceto que os americanos são livres para praticar qualquer religião que eles escolham ou mesmo nenhuma. A religião dominante da nação, o Cristianismo, moldou de fato a política governamental em muitas áreas importantes desde a fundação da república. A isenção de impostos para as igrejas poderia ser um exemplo de legislação favorecendo a religião organizada enquanto que no século XIX os governos de um número de estados americanos tinham cláusulas religiosas escritas em suas constituições e também coletavam impostos de dízimos para apoiar a dominação cristã local. A prática só terminou com a aprovação da décima quarta emenda em 1868.

O Sionismo Cristão não é uma religião per se, mas ao invés disso um conjunto de crenças baseadas em interpretações de partes específicas da Bíblia – notavelmente o Livro das Revelações e partes de Ezequiel, Daniel e Isaías – que falam do retorno dos judeus para a Terra prometida, uma pré-condição para a Segunda Vinda de Cristo. A crença de que Israel é essencial para o processo levou à fusão do Cristianismo com o Sionismo, portanto o nome do movimento.

O significado político deste ponto de vista é enorme, significando que uma grande parte dos cristãos promove uma política externa irreal baseada numa interpretação controversa da Bíblia, a qual abraça com fervor considerável. O Sionismo Cristão por definição consiste de cristãos (normalmente evangélicos protestantes) que acreditam que uma vez que as condições sejam satisfeitas para a Segunda Vinda de Jesus Cristo, todos os crentes verdadeiros serão conduzidos ao Paraíso, apesar dos detalhes da sequência de eventos e o tempo serem questionáveis. Muitos sionistas cristãos acreditam que a Segunda Vinda acontecerá logo, dentro de uma geração após o retorno dos judeus à Terra Santa, de modo que eles apoiam o governo e o povo de Israel completa e incondicionalmente em tudo o que eles fazem, para incluir a realização da profecia através do encorajamento da expansão por força na Judéia histórica, que incluiria o que resta do lado ocidental palestino.

Outro aspecto do Sionismo Cristão é a crença de alguns que o fim dos tempos, como eles se referem, será precedido por um governo mundial (convenientemente visto como as Nações Unidas) e anos de guerra e tumulto com uma gigante batalha final colocando as forças do bem contra as forças do mal, na qual todos os malfeitores serão destruídos e os direitos serão triunfantes. A batalha supostamente deverá acontecer em Armageddon, um local desconhecido no Oriente Médio que alguns acreditam ser derivado do nome da antiga capital hitita Megiddo.  

Que os sionistas cristãos acreditam que o retorno de Cristo é iminente e que haverá grandes guerras e uma batalha final no Oriente Médio precedendo-o pareceria irrelevante para a maioria de nós, mas isso tem, neste caso real, consequências mundiais, pois temos seu envolvimento na política americana e, em particular, em alguns aspectos da política externa americana. Cristãos evangélicos começaram a se mobilizar e tornar-se uma força política poderosa no final dos anos 1970 e início dos anos 1980 em reação à ação da administração de Jimmy Carter em desafiar o status de tributação das escolas cristãs independentes.

Muita da agenda inicialmente apoiada dos sionistas cristãos era sectária, refletido em sua aparente antipatia em relação ao catolicismo, que eles descrevem como uma “prostituta da Babilônia” e em sua crença de que o Papa é o Anti-Cristo, ou social, tal como sendo anti-aborto e hostil aos direitos homossexuais, mas também sempre houve desde o início um horror ao “Comunismo Ateu” e uma identificação com Israel. Era sempre mantido que Israel deveria ser protegido acima e além dos interesses da política externa americana na região do Oriente Médio. Através da criação de organizações como a poderosa Cristãos Unidos por Israel (CUFI), com dois milhões de membros e liderada pelo pastor John Hagee, este foco em Israel tem obtido um mecanismo para unir os evangélicos e fornecer-lhes os meios e direção para pressionar o congresso para continuar os altos níveis de ajuda para Israel e também resistir a quaisquer tentativas de desafiar o apoio às políticas de Israel. Este mecanismo foi mais recentemente observado em ação em 28 de janeiro quando 200 líderes da CUFI viajaram até Washington com todas as despesas pagas por um “doador anônimo” para pressionar seus senadores contra a confirmação de Chuck Hagel como Secretário da Defesa. Hagel foi criticado por não ser totalmente apoiador de Israel e hesitante em entrar em guerra contra o Irã pelo interesse de Israel.

Apesar de ser uma organização que se define como cristã, a CUFI apoia a Guerra contra o Irã como um precursor de um conflito global total. Hagee explica: “Os EUA devem se unir a Israel num ataque preventivo contra o Irã para satisfazer o plano de Deus para Israel e o Ocidente... um confronto bíblico profetizado do fim dos tempos com o Irã, que conduzirá ao Êxtase, Aflição e à Segunda Vinda de Cristo.”  

A maioria dos evangélicos, mesmo se eles não compartilhem da agenda detalhada da CUFI, favorece Israel e tem os inimigos de Israel como seus próprios. Este foco em Israel vindo de possivelmente 60 milhões de evangélicos é visto mais poderosamente no Partido Republicano, que incorpora em suas próprias visões, mas isso também tem certo apelo entre os democratas. É concentrado em um número de estados sulistas e fronteiriços, o Cinturão Bíblico, que tem significado que poucos congressistas daqueles estados se sentem predispostos a questionar o que Israel faz. De fato, eles fazem o contrário e frequentemente ovacionam seu amor por Israel, que pode ser ou não genuíno. Alguns congressistas, incluindo o antigo porta-voz da Casa, Dick Armey, do Texas, abraça a agenda total do Armageddon, levando-nos a pensar por que alguém votaria em um político que deseja fervorosamente trazer o fim do mundo.

Este bloco poderoso de sentimento pró-Israel fornece um passe livre para os assentamentos ilegais israelenses e também para a política externa brutal de Tel Aviv com seus vizinhos, que tem prejudicado outros interesses americanos na região. Isso também significa que qualquer consideração dos árabes como partes prejudicadas no rebuliço do Oriente Médio é raramente expressa, apesar de que muitos dos árabes que são vítimas das políticas centradas em Israel são, de fato, vítimas de cristãos.

John Hagee disse falsamente que o Corão conclama todos os mulçumanos a matar cristãos e judeus. A identificação persistente de mulçumanos como inimigos de Israel e também como apoiadores do terrorismo por evangélicos em geral e sionistas cristãos em particular tem levado a um crescimento natural da islamofobia nos estados Unidos. Este preconceito surge da percepção de que o Islã faz parte integral dos problemas do mundo árabe, levando a uma rebelião infeliz naqueles americanos, incluindo congressistas como Peter King e Michelle Bachmann, que acreditam que o Islã é uma religião má e que os mulçumanos deveriam ser monitorados pelas autoridades e mesmo negados de ter alguns direitos civis básicos, ou deportados porque eles não são confiáveis. Em virtude dos armageddonistas acreditarem que haverá um confronto final com as forças do mal, tem sido necessário identificar o inimigo e aquele inimigo é, frequentemente, caracterizado como mulçumano. Hagee construiu este conflito contra o mundo mulçumano como uma resistência futura às investidas satânicas se opondo ao final dos tempos.

Neoconservadores, que geralmente poderiam ser descritos como não-religiosos, rapidamente identificaram as vantagens derivadas de ligar sua causa com a dos evangélicos e estabelecer laços fortes durante a administração Reagan. Israel também reconheceu os benefícios de uma relação próxima e continuada com os sionistas cristãos, mesmo que os líderes de Israel quase que certamente façam cara feia neste caso, achando que a escatologia do retorno de Cristo invejosa para todos os judeus, mas aqueles que se converterem também morrerão e irão para o inferno quando o mundo acabar. Quando grupos como a CUFI organizam suas peregrinações em massa para visitar Israel, eles gastam todo seu tempo em Israel, frequentemente se recusando a visitar os principais sítios cristãos em terras árabes e nunca se encontrando com os cristãos palestinos, que eles não reconhecem como correligionários. Quando os sionistas cristãos se reúnem em Jerusalém eles frequentemente encontram com líderes israelenses, como o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que muitas vezes fala com eles.

Alguns líderes evangélicos, incluindo John Hagee, também tem se beneficiado da relação diretamente de outras formas. O governo israelense presenteou Hagee com um jato executivo, completo com tripulação, para tornar sua evangelização mais confortável. Tem sido sugerido, é claro, que a ajuda americana e contribuições de caridade livres de impostos para Israel são assim redirecionados para apoiar aqueles grupos que inevitavelmente estão desejosos de fornecer ainda mais ajuda até que o poço de Washington finalmente seque.

Portanto, a questão é que o envolvimento do sionismo cristão na política americana em favor da relação de Washington com Israel não tem servido a qualquer interesse nacional americano, a menos que pensemos que Israel e os EUA são essencialmente a mesma forma de governo, o que é insustentável. Pelo contrário, a política sionista cristã tem sido um grande responsável pelo apoio à política externa obtusa dos EUA na região do Oriente Médio e também em outros países mulçumanos, uma política que tem contribuído para pelo menos quatro guerras em quanto torna o mundo um lugar mais perigoso para se viver para todos os americanos. O sionismo cristão promoveu uma política externa que serve apenas a um interesse restrito paroquial que, ironicamente, é pretendido fazer qualquer coisa para trazer o fim do mundo, possivelmente uma vitória para cavalheiros como o pastor John Hagee, se sua interpretação da Bíblia é correta, mas inegavelmente um desastre para o resto de nós.

http://original.antiwar.com/giraldi/2013/02/13/towards-a-christian-zionist-foreign-policy/

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O Holocausto na Vida Americana

domingo, 24 de fevereiro de 2013

[POL] Nazismo, Fascismo e Marxismo: Qual a Diferença?


 
Comunismo, fascismo e nazismo são três ideias para um sistema de governo. Países diferentes usaram estes três sistemas como suas formas de governo. Algumas pessoas pensavam que eles eram bons sistemas de governo, enquanto outras pensavam o contrário. O que havia de tão diferente em relação a estas três ideologias? O quão eram semelhantes? Por que estas ideologias foram aceitas, e depois rejeitadas, por tantas pessoas?

Para saber o que são o socialismo e o fascismo, vamos começar examinando alguns exemplos históricos de cada um. Os Estados fascistas incluíam a Alemanha de Hitler, a Itália de Mussolini, o Japão de Tojo, a Espanha de Franco, o Chile de Pinochet e, provavelmente, a Argentina de Peron. Se olharmos para cada um destes casos, observaremos algumas diferenças. Por exemplo, o fascismo hitlerista era racista, enquanto o de Mussolini não. O fascismo de Mussolini envolvia nacionalismo imperialista, enquanto que o de Franco não. O que une estes casos concretos em um grupo de sistemas semelhantes pode ser visto em uma definição comum de fascismo: “Um sistema de governo com poder extremamente centralizado, não permitindo oposição ou críticas, controlando todos os assuntos da Nação (industrial, comercial, etc.).” (American College Dictionary, New York: Random House, 1957)

Os Estados socialistas incluíam URSS, China Comunista, Suécia, Cuba, Coréia do Norte e um punhado de regimes menores na Europa Oriental, África Oriental e Sudeste da Ásia. Novamente, existe uma dificuldade em determinar que fator tinham ou têm estes Estados em comum. Assim, alguns regimes socialistas, como o da Suécia, são eleitos democraticamente, enquanto outros, como o da URSS e o da China foram resultado de revoluções populares violentas. Outros ainda foram produto de golpes militares (Cuba, Etiópia, Vietnã) ou invasão (Bloco Oriental da Europa). A peculiaridade comum para todos eles é fornecida pela definição de socialismo: “uma teoria ou sistema de organização social que defende a propriedade e controle dos meios de produção, capital, terras, etc., pela comunidade como um todo.” (American College Dictionary)

O conceito de socialismo está entre nós desde o século XIX. O significado original de socialismo era sinônimo do que chamamos coletivismo hoje: uma sociedade na qual a riqueza é igualmente distribuída e a propriedade é de uso comum. Neste tipo de socialismo, não há propriedade privada. Karl Marx escolheu este conceito de socialismo, mudou a unidade da propriedade das comunidades para cooperativa dos trabalhadores, adicionou ateísmo e chamou o resultado de comunismo. Ele então usou a palavra “socialismo” para se referir ao Socialismo de Estado, uma fase intermediária entre o capitalismo e o comunismo. Em sua forma final, significa que a comunidade (geralmente expressa como o governo da comunidade) controla todo aspecto da economia. Portanto, todas as terras, fábricas, maquinário agrícola, etc. são de propriedade coletiva ao invés de privada. Entretanto, há vários tipos de socialismo.

Socialismo Soviético

O Socialismo Soviético era baseado nas ideias de Marx. Ele era um crítico do sistema capitalista, especialmente o sistema capitalista nascido da revolução industrial, vendo-o como um sistema que explora os trabalhadores e beneficia a aristocracia.

Socialismo e comunismo eram frequentemente vistos como sendo a mesma coisa no final do século XVIII. Entretanto, Marx e Engels perceberam que o socialismo era um estágio que levava ao comunismo. Ainda existem diferenças de classes no socialismo e eles acreditavam que o comunismo seria o último estágio de uma sociedade sem diferenças de classes, liberdade para todos e sem governo. Marx também acreditava que um sistema dessa natureza, levado ao seu nível mais extremo, eliminaria as ideias de religião e Estado. Ele acreditava que os trabalhadores, através da revolução, poderiam assumir o controle da riqueza e alcançar o sonho do comunismo. A diferença básica entre socialismo e comunismo é que o primeiro defende melhoramentos sociais gradativos enquanto que o segundo defende uma revolução seguida de uma ditadura do proletariado.

Fascismo

Fascismo é algo completamente diferente. O fascismo apareceu na Itália com Benito Mussolini durante a Primeira Guerra Mundial. Ele vê tanto o capitalismo quanto o comunismo como incorretos. Enquanto o comunismo é a ideologia que em que, teoricamente, existe liberdade total para todas as pessoas e nenhum tipo de governo ou classes sociais, a ideologia do fascismo defende o controle do governo sobre a sociedade, mais especificamente sobre as corporações. Embora exista a propriedade privada dos meios de produção, é o governo quem dita as regras do modo como ela irá funcionar, ao invés das leis de mercado. O fascismo também possui uma forte componente de nacionalismo, exaltando as qualidades do povo (não raça) e patriotismo.

O Nazismo, ou Nacional Socialismo, é basicamente a versão alemã do fascismo italiano, um sistema totalitário político e social que não possui elementos do socialismo marxista – a organização da economia nazista era basicamente capitalista, apesar das demandas da economia não serem totalmente reguladas pelo mercado, e sim por um plano quadrienal governamental, nos moldes do stalinismo. Em comum com o fascismo, o poder era altamente centrado na figura do Líder (Führer), que ditava as diretrizes gerais do rumo que a sociedade deveria seguir. Em contraste com o fascismo, contudo, o nazismo tinha um elemento racial em sua ideologia, fazendo com que ele seja classificado como um fenômeno especificamente alemão.   

Socialismo Democrático

O socialismo democrático é o oposto dos sistemas totalitários, quando se leva em consideração a questão da “liberdade”. Este sistema não é baseado na ideia de Marx de revolução proletária e ditadura. Sob o socialismo democrático, os direitos humanos e a liberdade política são respeitados pelo governo. Em termos econômicos, o governo controla a economia, inclusive participando de empreendimentos ou sendo proprietário de empresas, mas permite, igualmente, a propriedade privada e os meios de produção privados, mas estes podem ser tomados (nacionalizados) caso seja do interesse público. Isto é o que acontece, por exemplo, nos países escandinavos. As altas taxas de impostos permitem que exista um acesso universal aos serviços públicos e uma pobreza quase inexistente. Este modelo, que funcionou maravilhosamente bem durante décadas, apresentou nos últimos anos desgaste devido às últimas crises econômicas mundiais e ao problema da imigração crescente de povos de regiões mais pobres da Europa e do resto do mundo para os países que adotaram este modelo.

Social Democracia

O socialismo europeu ocidental é definido como “social democracia”, que não é propriamente socialismo, mas ao invés disso, uma combinação de políticas democráticas e economia de mercado capitalista, na qual aos direitos econômicos são dados a mesma proeminência que os direitos políticos. Este sistema tem alguns casos de indústrias estatais (geralmente de infraestrutura, tal como transportes, correios, energia elétrica, etc.), mas a preferência é deixar que empresas privadas façam a maior parte do trabalho. Como a economia capitalista é mantida, isto tende a criar alguma desigualdade social, porém, isto é minimizado por políticas sociais governamentais e pela presença de sindicatos fortes.

Nazismo x Marxismo

O Marxismo, que se interessa somente por trabalho e capital, parece refazer o homem, destituindo-o de cultura ou valor pessoal e transformando-o num autômato. É mecânico e não tem qualquer simpatia pela natureza humana, qualquer coisa com valor intrínseco ou duradouro como música, literatura, moralidade, religião, educação, etc., todas elas são abastardadas e difamadas, corrompidas e destruídas. O Marxismo equivale a desenvolvimento impedido.

Diferentemente do Marxismo, o Nacional Socialismo é ligado à psique individualista do homem ocidental. O Nacional Socialismo é a síntese do nacionalismo e do socialismo, as aspirações individualistas do povo europeu branco combinadas ao interesse coletivo racial. A cidadania era regulada estritamente de acordo com princípios raciais; de fato, havia dois tipos de pessoas – cidadãos e estrangeiros – e os direitos de cidadania tinham que ser conseguidos atingindo a fase adulta e provando ser um membro produtivo da comunidade nacional (Volksgemeineschaft). O Marxismo é o oposto; é a antítese da Civilização Ocidental. Antes de mais nada, o individualismo e o coletivismo são, pela suas próprias naturezas, incompatíveis. Eles existem sob tensão; sua existência lado a lado dentro da mesma sociedade leva inevitavelmente ao conflito.

O “Socialismo”, da ideologia nacional socialista, é definido a partir da palavra “social”, significando principalmente “igualdade social”. Um socialista é alguém que serve ao bem comum sem dispensar sua individualidade ou personalidade ou o produto de sua eficiência pessoal.

O termo “socialista” não tem nada a ver com o Socialismo Marxista.  O Marxismo é anti-propriedade; o verdadeiro socialismo não é. O Marxismo não dá nenhum valor ao esforço individual da eficiência; o verdadeiro Socialismo valoriza o indivíduo e o encoraja na eficiência individual, ao mesmo tempo em que mantém seus interesses ligados àqueles da comunidade. Todas as grandes invenções, descobertas, realizações foram produtos de um cérebro individual.

Igualitarismo dentro do grupo é frequentemente um facilitador importante de uma estratégia evolutiva grupal, pois ele une a submissão de indivíduos de posição inferior. Enquanto o movimento nacional socialista manteve uma estrutura hierárquica social ocidental, as características coesivas e altruístas do nacional socialismo podem ter sido facilitadas por um significativo grau de igualitarismo. Houve tentativas reais de aumentar o status e os rendimentos econômicos dos camponeses no Serviço Agrícola da Juventude Hitlerista, e divisões de classes e barreiras sociais foram quebradas dentro do movimento da Juventude Hitlerista até certo grau, resultando que crianças de classes mais baixas e operárias fossem capazes de alcançar postos de liderança.

O conflito entre Nacional Socialismo e Marxismo vai mais longe, além das questões econômicas ou políticas. È um conflito espiritual; as duas doutrinas são completamente contrárias tanto filosoficamente quanto ideologicamente. Eles são sistemas totalmente diferentes de pensamento. Na raiz deste conflito está a eterna luta entre o Ariano e o Judeu.

O estudo do professor Kevin B. MacDonald (professor de psicologia na Universidade Estadual da Califórnia) é um exame histórico fascinante das estratégias evolutivas grupais desenvolvidas por povos diferentes adaptando-se a ambientes radicalmente diferentes; ele usa os judeus como exemplo – discute suas relações com outros povos e examina o judaísmo como um exemplo de estratégia evolutiva de grupo hiper-coletivista em contraste com a nossa tendência hiper-individualista.    

O Nacional Socialismo desenvolveu-se no contexto do conflito grupal entre judeus e não-judeus. Basicamente, o nacional socialismo objetivava o desenvolvimento de um grupo coesivo. Havia uma ênfase na imposição do comportamento abnegado e altruísmo do grupo interior combinado com hostilidade ao grupo exterior.

O professor MacDonald explica desta forma:

“A teoria eventualmente desenvolvida aqui considera três componentes, todos envolvendo fatores ambientais e culturais: (1) os judeus são biologicamente predispostos a ser superiores nos traços psicológicos conduzindo-os em direção de estruturas coletivistas sociais e etnocentrismo; (2) os judeus organizaram-se como povo durante sua estadia no Egito e utilizaram esta experiência como base para interpretar sua história e construir sua estratégia evolutiva grupal; (3) o judaísmo foi profundamente influenciado pela invenção de uma classe sacerdotal (tribal) com uma motivação poderosa para manter a integridade do grupo.”

As culturas coletivistas dão grande ênfase nos objetivos e nas necessidades internas do grupo ao invés dos direitos e interesses individuais. As normas internas e a obrigação de cooperar e suprimir objetivos individuais em relação aos coletivos são uma conquista superior. As culturas coletivistas desenvolvem uma “união inquestionável” ao grupo interno, incluindo a percepção de que as normas internas são universalmente válidas (uma forma de etnocentrismo), obediência automática às autoridades internas e o desejo de lutar e morrer pelo grupo. Estas características dão geralmente associadas com a desconfiança e má vontade de cooperar com grupos externos. Nas culturas coletivistas, a moralidade é conceituada como aquela que beneficia o grupo e a agressão e exploração de grupos externos são aceitáveis. Tais povos são inclinados a uma série de traços que os predispõem a formar estratégias evolutivas de interesses grupais: grupos consanguíneos estendidos, organização social patricentrista, casamentos endógamos, etnocentrismo, xenofobia e particularismo moral.

A Civilização Ocidental, por outro lado, é a expressão da ideia social como manifestada na mente do homem ariano, uma combinação de livre empresa, liberdade pessoal e responsabilidade individual dentro de uma rede cooperativa maior – o contrato social. A ideia social assim concebida é uma ideia puramente ariana e nenhum outro povo pode igualá-la; sua abertura, sua “ética igualitária”, entretanto, torna-a vulnerável à infiltração e destruição. Assim, para os nacional-socialistas, por séculos os arianos permitiram a entrada dos judeus, então o poder judaico cresceu – geralmente na forma de intermediários entre os dominados e os dominadores. O ariano enfurece-se e expulsa o judeu, e o círculo se repete. Em cada caso, a resposta ariana foi coletiva e guiada por uma autoridade central. Exemplos incluem o Catolicismo Corporativista no final do Império romano e a Inquisição espanhola do século XV. O surgimento do Nacional Socialismo na Alemanha foi a última manifestação deste conflito eterno entre dois sistemas de pensamento diferentes, o ariano e o judeu.                  

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

[PGM] A Estória da Fábrica de Cadáveres da PGM

Joachim Neander, Universidade de Bremen (Alemanha)

Randal Marlin, Carleton University (Canadá)

 

 
Estórias de atrocidade, como um meio de incitar as pessoas à guerra, têm sido empregadas de forma bem sucedida pelo menos desde os tempos das Cruzadas da Idade Média até os dias atuais. O incitamento ao ódio abre caminho para a guerra e no combate diminui o nível de inibição para matar. O soldado que mata um inimigo se sente bem com a possibilidade de livrar o mundo de um monstro, não de um ser humano. A Primeira Guerra Mundial chegou na época quando o orgulho nacionalista e o fervor patriótico estavam no auge, e as ambições imperialistas colidiam. A devoção ao país, Pátria, “La Patrie” era tal que muitos não tinham remorso em subordinar as regras éticas comuns às necessidades dominantes daquele objeto de devoção.

A platéia-alvo deve acreditar que as estórias são verdadeiras e, em relação a isso, ajuda muito se as estórias forem fatos reais. Mas a credibilidade das estórias, e a extensão que elas reverberam na imaginação e estimulam o horror e a revolta são o que interessam para influenciar os alvos.

Pela sua magnitude, impacto e durabilidade, uma estória de atrocidade da Primeira Guerra Mundial se sobressai em relação às outras. Referimo-nos à estória da Planta de Utilização de Corpos, usada para demonizar os alemães. (Para abreviar, chamaremo-la estória da “Fábrica de Cadáveres” daqui por diante.) De acordo com a estória, usada para sustentar e intensificar uma guerra em curso, os alemães estavam cozinhando seus próprios soldados mortos para obter produtos úteis – comida de porco, fertilizante, glicerina, lubrificantes e, não menos importante, sabão.

No fundo aqui, mas para não ser esquecido, são as questões éticas relacionadas com a história do pós-guerra dessa falsidade. Como um importante fator para a demonização dos alemães, a estória compartilha responsabilidade em alguma medida com os duros termos do Tratado de Versalhes e os pagamentos de reparações, plantando as sementes para a guerra futura. A negação oficial britânica da estória em 1925 mais tarde levou ao ceticismo quando relatórios sobre o Holocausto surgiram no início da Segunda Guerra Mundial.     

A âncora principal para a estória veio com a publicação simultânea nas mídias de Northcliffe (em especial o Times e o Daily Mail, ambos datados de 17 de abril de 1917) do que pretendia ser uma tradução de um jornal belga de língua francesa de um suposto relato de testemunha de uma Fábrica de Cadáveres, justaposto a uma tradução de um jornal respeitado de Berlim, o Lokal-Anzeiger, parecendo corroborar o relato em língua francesa. Um menção breve da “admissão” do jornal alemão foi feita por um colunista no Times do dia anterior, mas o impacto total veio com a justaposição do texto longo em língua francesa com o texto de fonte alemã em 17 de abril de 1917. Aqui estão trechos do Times deste dia:

Tomamos conhecimento há muito tempo que os alemães retiram seus mortos da linha de combate, colocam-nos em embrulhos com três ou quatro corpos amarrados com arame metálico e então despacham esses horríveis embrulhos para a retaguarda.

A fábrica principal (das Fábricas de Cadáveres)... foi construída a 1.000 jardas da linha ferroviária conectando St. Vith, próximo da fronteira belga, com Gerolstein, no desolado e pouco freqüentado distrito de Eifel, a sudoeste de Coblentz...

A fábrica é invisível da linha ferroviária. Está instalada no interior das florestas do país, com uma alta densidade de árvores ao redor dela. Arames farpados cercam-na. Uma trilha dupla leva até ela. As obras têm cerca de 700 pés de comprimento por 110 pés de largura, e a linha ferroviária percorre-as completamente.

Os trens chegam cheios de corpos empilhados, que são descarregados pelos trabalhadores que vivem nas obras. Os homens vestem macacões e máscaras com óculos de mica. Eles estão equipados com varas longas curvas e puxam as pilhas de corpos para uma esteira interminável, que os agarram com ganchos enormes, presos a intervalos de 2 pés. Os corpos são transportados nesta esteira interminável para um compartimento estreito e longo, onde eles passam por um banho que os desinfeta. Eles então atravessam uma câmara de secagem e finalmente são transportados a um digestor ou caldeira grande, na qual eles são lançados por um equipamento que os retira da esteira. No digestor, eles permanecem por seis ou oito horas, e são tratados por vapor, que os fraciona enquanto eles são mexidos pela maquinaria.

A partir deste tratamento, são obtidos muitos produtos. As gorduras são quebradas em estearina, uma espécie de sebo, e óleos, que exigem ser redestilados antes que possam ser usados. O processo de destilação é continuado pela fervura do óleo com carbonato de soda, e uma parte dos produtos resultantes é usada pelos fabricantes de sabão alemães...

 Já em 1915, boatos do front sobre a estória da Fábrica de Cadáveres parecem ter circulado em Londres, mas sem crédito geral ou espalhado. Mesmo antes disso houve uma estória de primeira página em um diário de Madrid, La Correspondencia de España, reportando na primeira página de sua edição de 23 de novembro de 1914 que os alemães estavam fazendo uso de alto-fornos na Bélgica para o propósito de cremar os seus mortos. A fonte dada para a estória era o Daily Mail de Lorde Northcliff.

Em 19 de junho de 1916, o Ha-Herut de Jerusalém, o jornal da minoria judaica na cidade – na época ainda a Palestina Turca, informou seus leitores sobre os boatos de que os alemães estavam transportando os corpos de seus soldados mortos para grandes crematórios, atrás das linhas de batalha, onde eles eram incinerados. Mas ele também citou uma agência de notícias alemã que “não havia base nestes boatos”. É importante salientar que nesta época a incineração de corpos humanos encontrava oposição grande na sociedade cristã como sendo “pagã” e “contra todas as tradições”. O simples relato como fato dos alemães cremarem seus soldados teria sido o suficiente para deixá-los com má reputação. No mesmo ano, o cartunista holandês Louis Raemaekers representou corpos alemães presos informalmente juntos em pacotes de quatro, com destino incerto.

Houve, ainda, uma estória publicada no North China Herald (3 de março de 1917), relatando que o embaixador alemão, Almirante Von Hintze, “triunfantemente disse que eles estavam produzindo glicerina a partir de soldados mortos”... A possibilidade da propaganda britânica ter instigado essa notícia deve ser considerada. Os alemães na China, na época, tinham outros problemas devido à deterioração rápida das relações sino-alemãs por causa da declaração de guerra submarina indiscriminada em 1º. De fevereiro de 1917, que teve sérias conseqüências para a economia chinesa e a segurança da frota mercante chinesa.

Uma fonte diferente para a origem da estória da Fábrica de Cadáveres foi dada pelo repórter Walter Littlefield do New York Times, que obteve de um correspondente desconhecido de um “bem conhecido” jornal sem nome de Amsterdã, o qual obteve o texto completo alemão da ordem militar do dia da Sexta Divisão Bávara de Reserva, datada de 21 de dezembro de 1916, que diz:

É necessário novamente prestar atenção para o fato de que quando os corpos são entregues para os Estabelecimentos de Utilização de Cadáveres detalhes devem acompanhar como as unidades militares que eles vieram, a data da morte, doenças e informações relacionadas a epidemias. (NYT, 29 de novembro de 1925)

Estas versões iniciais ajudaram a circular a idéia da Fábrica de Cadáveres, mas elas careciam de evidência concreta. Foi isto o que a imprensa de Northcliff apresentou aos seus leitores. A âncora para a credibilidade veio da justaposição do que foi apresentado como a admissão oficial alemã da existência da Fábrica de Cadáveres, junto com uma descrição completa de tal fábrica por uma suposta testemunha.

O que era tão convincente nas publicações de Northcliff de 17 de abril de 1917? A resposta é que o jornal belga de língua francesa, Indépendance Belge de 10 de abril de 1917 deu tal detalhe, uma descrição longa e crua do interior de uma destas instalações como a impressão de alguém que esteve lá. A suposta “testemunha” testemunhou ter visto corpos sendo descarregados dos trens, e evaporadas. Mais importante, o Indépendance Belge não apresentou a estória como se fosse sua, mas atribuída a um outro jornal, La Belgique, descrito como sendo publicado em Leiden, na Holanda, assim tornando a verificação difícil, mas não impossível. Nenhuma data é dada para quando o La Belgique supostamente publicou o artigo. Sozinha, a estória seria dificilmente convincente a um leitor mais culto.

O jornal alemão em questão, o Lokal-Anzeiger também datado de 10 de abril de 1917 trouxe um relato do correspondente de guerra Karl Rosner quando ele viajou próximo da frente norte de Reims, França. O relato foi detalhado em 5 de abril. No final de seu relatório, ele chamou a atenção em poucas linhas para um “estabelecimento de utilização de carcaça” (Kadaververwertungsanstalt) que ele viu e pode sentir o cheiro à distância. Nos jornais de Northcliffe esta longa palavra alemã foi mal traduzida como “Estabelecimento de Exploração de Cadáveres”. A palavra “Kadaver”, a primeira parte da palavra, é reservada para carcaças de animais no linguajar comum alemão assim como no vocabulário militar, enquanto que “Leiche” se refere a um corpo humano.

A palavra “Kadaver” não era somente uma má tradução do Times e do Daily Mail. De menor importância, mais ainda significativo, foi a má tradução da palavra alemã “Leim”. Esta palavra significa “cola” em alemão. Rosner reportou ter experimentado “um pesado cheiro no ar, como se cola estivesse sendo queimada.” Isto faria muito sentido se cavalos mortos estivessem sendo fervidos. Na época, o uso de cavalos para fazer cola era difundido. Uma tradução acurada teria alertado as pessoas sobre as carcaças de cavalos e não os cadáveres de pessoas, sendo utilizados na planta industrial. O “leim” alemão parece com o “Lime” (cal) inglês e era fácil introduzir aquela palavra similar como uma “tradução”. A palavra “lime” teria parecido perfeitamente lógica para os leitores, dado que cal viva era freqüentemente usada para desinfetar corpos.

O que propomos mostrar é que a imprensa de Northcliffe não foi vítima de má tradução inocente, mas deliberadamente inventou esta estória enganosa, em conjunto com os propagandistas britânicos e belgas em Londres. No decorrer do tempo, a estória da Fábrica de Cadáveres tornou-se mais e mais uma “lenda urbana” e desenvolveu vida própria. Era contada e recontada nas trincheiras e nos lares. O soldado aliado morto era adicionado às “fontes”. Cientistas discutiam detalhes técnicos e a lucratividade das fábricas de cadáveres alemãs, e artistas expressavam o nojo e horror nos cartazes de publicidade. Nos EUA e Europa Oriental, “sabão” tornou-se mais e mais um “produto” principal das fábricas. Isto certamente tinha razões diferentes. Quando os EUA entraram na Guerra, o sabão de repente tornou-se um artigo raro (como pode ser visto nos jornais que incessantemente pediam para economizer o produto), a falta do qual foi sentida por todos, enquanto que na Europa oriental havia uma tradição folclórica de assustar crianças traquinas com “um homem que faria delas sabão.”            

Com o início da Segunda Guerra Mundial, a estória da fábrica de cadáveres reapareceu como boato de uma “fábrica de sabão” nos guetos da Polônia ocupada, de onde ele se espalhou como um incêndio. Em meados de 1942, alcançou o interior do Reich. Em agosto do mesmo ano, ele cruzou os mares em direção da Grã-Bretanha e dos EUA como uma parte integral das notícias sobre o extermínio nazista dos judeus. A mídia americana ansiosamente abordou a questão e alimentou seus leitores e ouvintes com estórias sobre fábricas, nas quais os alemães transformavam suas vítimas em sabão e outros produtos vitais. A incrível semelhança com as fábricas de cadáveres da Primeira Guerra Mundial, entretanto, fez com que os líderes desprezassem as notícias como sendo propaganda judaico-polonesa: “Ninguém queria ser enganado pela segunda vez em apenas uma geração.” (Laqueur, 1982). Entre os historiadores do Holocausto há pouca dúvida que a estória da Fábrica de Cadáveres contribuiu para o fato deplorável que decisões que poderiam ter resgatado muitas vidas judias foram tomadas hesitantemente, e geralmente muito tarde.

Após a derrota da Alemanha, “sabão judaico”, junto com “abajures” alegadamente feitos de carne judaica (um boato de Buchenwald, espalhado pela mídia americana e soviética após o fim da guerra como “fato”) tornaram-se os ícones do Holocausto. Como “produtos finais” da Solução Final da Questão Judaica e alegadamente produzidos pelos alemães em escala industrial, eles contribuíram consideravelmente para a imagem do Holocausto na percepção do público, especialmente nos EUA e Israel. Não devemos nos surpreender, portanto, que em 1989 um pesquisador israelense que acreditava nas fábricas de cadáveres da Primeira Guerra Mundial não eram meramente um engodo propagandístico e achava que elas de fato existiram e serviram como modelo para Auschwitz, Belzec e Treblinka.                    

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Aliada de Merkel culpa a Polônia pela SGM

Aliada de Merkel, Steinbach, perde a compostura na culpa pela SGM

BBC, 10 de setembro de 2010

Erika Steinbach (foto) disse que a Polônia mobilizou suas tropas meses antes dos nazistas invadirem em setembro de 1939. Sua afirmação foi criticada por políticos experientes, incluindo a Sra. Merkel. Políticos poloneses condenaram sua posição em relação à guerra, que começou quando a Alemanha invadiu a Polônia em setembro de 1939. A correspondente para assuntos europeus da BBC, Oana Lungescu, diz que a Sra. Steinbach, filha de um oficial do exército alemão que serviu na Polônia ocupada, é uma figura odiada pelos poloneses há muito tempo.


 
Num encontro do Partido Democrata Cristão (CDU) no início desta semana, a Sra. Steinbach disse que a Polônia mobilizou suas tropas em março de 1939, seis meses antes de Hitler invadir o país.  O embaixador polonês na Alemanha comparou sua afirmação a propaganda nazista. Mas, ele disse, as relações atuais entre a Polônia e a Alemanha são muito fortes para serem abaladas.
A Sra. Steinbach disse na quinta-feira que ela não buscaria outro mandato na executiva nacional do CDU.

Um historiador polonês, Tomasz Szarota, chamou suas declarações de “uma tentativa de jogar parcialmente a culpa pelo início da Segunda Guerra Mundial nas costas da Polônia.” E o Ministro do Exterior alemão, Guido Westerwelle, disse que “afirmações ambíguas questionando a pesada responsabilidade da Alemanha pelo início da Segunda Guerra Mundial são inaceitáveis.”  

http://www.bbc.co.uk/news/world-europe-11261985

 
“Eu quero a verdade, nada mais do que isso.”
 

Der Spiegel, 09 de março de 2009


Quando se trata da relação da Alemanha com a Polônia, poucos desempenham um papel principal além de Erika Steinbach. Membro do conservador Democratas Cristãos da Chanceler Ângela Merkel, Steinbach lidera a controvertida Federação dos Exilados, um grupo dedicado a homenagear o sofrimento daqueles alemães que foram expulsos da Polônia e outras partes da Europa Oriental após a Segunda Guerra Mundial.

Spiegel: Sra. Steinbach, como se sente sendo o novo ícone dos conservadores alemães?

Steinbach: Eu sou? Não estava a par disso.

Spiegel: Qual é o teor das cartas e telefonemas recebidos em seu escritório?

Steinbach: Aprovação generalizada – e pedidos para permanecer firme e não desistir. Metade de nossos apoiadores não são exilados. Muitos identificam-se como social democratas, o que me surpreendeu e me gratificou. Mas, mesmo quando o centro para os exilados foi fundado, Peter Glotz, o antigo secretário do Partido Social Democrata (SPD) fez parte dele. Muitas cidades com prefeitos do SPD apóiam nosso projeto.

Spiegel: A sra. tem grande aprovação dos democratas cristão (CDU) e de seu partido irmão bávaro, o CSU. Mas nenhum colega do CDU tem sido mais calado nesta questão: a chanceler. Ângela Merkel te desapontou?

Steinbach: Não. A chanceler apóia firmemente a fundação. Ela é a favor da iniciativa. Tenho uma relação boa e de confiança com Ângela Merkel. Mas ela está numa situação difícil. A chanceler sabe que membros do SPD do gabinete não concordariam com minha indicação (N. do Ed.: para a diretoria de uma fundação comprometida em construir um centro de documentação sobre a expulsão de alemães da Polônia e outros lugares na Europa oriental após a SGM), e que os poloneses se oporiam. Esta é a razão porque ela foi incapaz de colocar a questão na agenda do gabinete. Compreendo isto. Mas minha federação também não queria dar uma de politicamente perseguido. Nosso auto-respeito também está em jogo.

Spiegel: Mas a senhora colocou a chanceler sob pressão política – e a forçou em uma situação difícil de decidir entre a sua Federação dos Exilados e a relação com a Polônia.

Steinbach: O governo alemão estava feliz com a substituição do Primeiro Ministro polonês Jaroslaw Kaczynski de direita por Donald Tusk em novembro de 2007. Tusk é um homem razoável. Encontrei-me com ele duas vezes em discursos de palanque. No entanto, Tusk permanece sob intensa pressão na Polônia. De qualquer forma, não pressionei a chanceler. Ao invés disso, forcei o SPD a revelar como ele se sente sobre a liberdade de decisão de uma organização das vítimas sem fins lucrativos.

Spiegel: A chanceler lhe aconselhou a voltar atrás como a senhora fez semana passada?

Steinbach: Não. Este passo foi dado pelo meu comitê de aconselhamento. A chanceler não interveio. O SPD não me queria. Consequentemente, devido ao acordo de coalizão com o SPD, a chanceler não teve opções deixadas para pressionar pela minha indicação.

Spiegel: A senhora criticou o Ministro do Exterior (Frank-Walter) Steinmeier por não ter saído em sua defesa contra as acusações polonesas, algumas das quais chegaram inclusive a caracterizá-la como uma negadora do Holocausto. Mas a senhora poderia dizer o mesmo da chanceler. Ela não lhe defendeu.

Steinbach: Acontece que também tenho um coração CDU. E o Steinmeier (N. do T.: ele pertence ao SPD e é opositor de Merkel) é o ministro do exterior, o que significa que é o seu trabalho.

Spiegel: Alguns poloneses viram sua renúncia como uma manobra.

Steinbach: Tusk não pacificou os nacionalistas em seu país. Eles não querem o centro de jeito nenhum. Naturalmente, as expulsões de alemães após a SGM é uma memória dolorosa para muitos poloneses. Mas também foi dolorosa para nós alemães, lidando com nosso passado miserável. Isto não é fácil. Os países pós-comunismo não completaram seu processo de auto-descoberta ainda. Eles ainda estão dominados pelo seu trauma e ainda tem problemas econômicos. Para eles, o processo de descobrir sua identidade é um caminho muito longe de estar completado.

Spiegel: A senhora parece estar pedindo muito dos poloneses, quando o assunto é a expulsão. Nós alemães temos, por maioria, concordado em uma interpretação compartilhada de nossa história. Os poloneses ainda estão a um longo caminho deste tipo de consenso histórico. E então a senhora aparece e diz: por favor, reconheçam nossa expulsão alemã.

Steinbach: Mas eu compreendo o sentimento dos poloneses. Nos países pós-comunistas, levará mais 20 anos para as pessoas estarem em paz consigo mesmas. Nós alemães levamos tempo semelhante. Mas se eles nos acusam, como uma organização de direitos das vítimas, de não ter interesse em reconciliação, se não há evidência de simpatia, e se os poloneses constantemente ignoram nossa mão estendida, então eu não sei mais o que fazer. Tudo o que eu digo e faço é interpretado como sendo o oposto. Se eu jogar açúcar em sua torrada, eles dizem que é sal. Os poloneses devem tratar de seus problemas primeiro. Mas eles não têm o direito de se meter nos assuntos domésticos alemães e determinar como devemos homenagear nossas vítimas.

Spiegel: Talvez a senhora seja algumas vezes tão insensível quando envolve assuntos delicados do passado? A senhora é capaz de auto-crítica?

Steinbach: Pergunto-me constantemente o que poderia ajudar a resolver a questão. É claro que a Federação dos Exilados e alguns de seus líderes antigos tem sido alvos favoritos da hostilidade polonesa. Mas não pode ser a responsabilidade de uma organização de direitos das vítimas negar os fatos de sua responsabilidade no sentido de alcançar melhores relações internacionais. A empatia mútua – isto é a solução correta.

Spiegel: Mesmo assim, um daqueles líderes, Herbert Hupka, foi mesmo agraciado com um prêmio na Polônia nos anos 1990.

Steinbach: Ele não estava mais atuando nesta época, e ele foi tornado cidadão honorário de sua cidade. Ao nível municipal, existiam, e ainda existem, boas conexões entre os exilados e os poloneses. Há programas de parceria, e eles promovem festas no verão, vão em peregrinações e participam de serviços religiosos juntos.

Spiegel: O fato da senhora ter votado contra o reconhecimento da linha Oder-Neisse (N. do Ed.: a fronteira entre a Alemanha e Polônia estabelecida após a SGM) no Bundestag em 1991 não encorajou exatamente essa cordialidade.

Steinbach: Meu objetivo na época, junto com outros membros do parlamento era garantir que todas as questões não-respondidas, tais como a restituição, fossem resolvidas simultaneamente com a da fronteira, de modo a estabelecer uma paz permanente. E não fazer isso foi um erro estratégico, como os debates territoriais violentos dos anos recentes têm demonstrado. Na época, também deixamos claro que reconheceríamos a fronteira Oder-Neisse como a fronteira obrigatória sob a lei internacional.

Spiegel: Seu pai era um soldado no exército alemão que ocupou a Plônia. Isto é algo difícil para os poloneses engolirem quando a senhora fala em sua capacidade como chefe da Federação dos Exilados. Isto é claro para a senhora?         

Steinbach: As decisões de governos passados não deveriam ser descarregadas sobre a população civil. Se os soldados não tinham opção, então isto não é certamente diferente para mulheres e crianças.

Spiegel: Aliás, seus pais vieram da Alemanha ocidental.

Steinbach: Meu pai não invadiu a Polônia em 1939. Ele chegou lá mais tarde como soldado na força aérea. Coincidentemente, o lado da família do meu pai é da Silésia, e muitos dos meus tios avós foram expulsos de lá em 1946. Mas os poloneses, é claro, não estão interessados nisto. No final, este tipo de debate é uma tática muito banal de desvio de foco.

Spiegel: A senhora não nasceu no antigo Reich alemão, mas na Polônia ocupada. Não teria tido mais sentido a senhora mesma revelar a história da sua família ao invés de deixar isso para os jornais poloneses? Consequentemente, jornais em Varsóvia estavam afirmando que Steinbach não é uma exilada verdadeira.

Steinbach: minha ancestralidade está documentada no Bundestag alemão. Mas eu devo justificar onde nasci? Isto é irracional e uma desculpa. Os poloneses não estão com medo da reinterpretação da história, mas de serem investigados. Além disso, muitos dos exilados não foram expulsos de antigas partes orientais da Alemanha, mas de países como Hungria, República Tcheca e Iugoslávia. Felizmente, ninguém de nenhum destes países está sendo envolvida.

Spiegel: Os poloneses prestam muita atenção a tudo o que a senhora diz. Por que continua provocando-os? Em uma entrevista, a senhora afirmou que sem Hitler os poloneses não teriam sido capazes de atingir seu objetivo de expulsar os alemães. O Führer como carrasco disposto do sentimento público polonês? A senhora fala sério?

Steinbach: Percorremos um longo caminho, se a verdade é reinterpretado para significar provocação. Acontece que é fato que cartões postais foram usados na Polônia antes do começo da SGM que mostravam as fronteiras do país próximas de Berlim. E políticos poloneses queriam reduzir os “elementos estrangeiros” – que incluíam, além dos alemães, ucranianos e bielorussos – para menos de 1%. São afirmações provadas. Isto não quer dizer que o que Hitler fez foi justificado. Depois dos russos, os poloneses são o povo mais maltratado da Europa. Há um trauma profundo lá, particularmente do dato de que o país foi dividido três vezes em sua história.

Spiegel: Nas quais os alemães estiveram envolvidos.

Steinbach: Sim, nós sempre estivemos envolvidos.

Spiegel: E, após 1945, não foi ideia dos cidadãos de Lviv, na qual era então a Polônia Oriental mas agora pertence à Ucrãnia, serem reassentados em Wroclaw sob as ordens de Stalin.

Steinbach: É claro que não. Sou familiar com o destino dos poloneses orientais queforam expulsos na época, assim como a estória de Zamosc. Apresentamo-la em uma exibição. A Federação dos Exilados também organizou um evento sobre o Levante de Varsóvia, em primeira mão na Alemanha. Mas a reação na Polônia foi: isto é um ultraje. A Federação dos Exilados está levando embora nosso santuário. Poderia ficar de cabeça para baixo, pegando moscas com os pés, mas não faria nada de bom. Por este motivo estou desistindo. Os poloneses primeiro tem que se acalmar. Não posso ajudar nisso. Sou deturpada, deformada e insultada na Polônia. Mas meu bom desejo ainda está lá. Entretanto, estendemos nossas mãos em reconciliação, e fomos atacados em retorno. Após 1965, os poloneses erradicaram a mensagem de seus próprios bispos de suas memórias: “Perdoamos e pedimos perdão.” Isto é trágico.

Spiegel: A senhora exige o reconhecimento do sofrimento dos exilados. Às vezes, parece somo se ninguém a tenha escutado ao longo de 60 anos de história alemã do pós-guerra. Mas nos anos 1950 e 1960, a expulsão dos antigos territórios orientais era o assunto principal nas políticas domésticas alemãs – muito tempo antes da discussão aberta do Holocausto começar.

Steinbach: Havia, de fato, considerável solidariedade com os exilados na época. Mesmo assim, os novos visitantes não eram recebidos de braços abertos. Após 1968, o tratamento da mídia em relação aos exilados começou a deteriorar e, em muitos casos, eles eram literalmente denunciados. Hoje, graças a Deus, isto mudou.

Spiegel: As diferenças entre 1968 e hoje certamente têm a ver com os ataques violentos das organizações de exilados contra a política de (Willy) Brandt para a Europa Oriental. Mas a senhora não pode reclamar hoje que o destino dos exilados é ignorado na mídia. De Günter Grass aos filmes produzidos, a expulsão dos alemães é um assunto ardente.

Steinbach: Nós, como federação, gastamos os últimos 10 anos intensivamente contribuindo e pressionando por este desenvolvimento.

Spiegel: Sra. Steinbach, quando foi a última vez que visitou a Polônia?

Steinbach: A última vez foi quando encontrei Donald Tusk em Grünberg (Zielona Góra). Foi há poucos anos atrás. Ele ainda era membro da oposição na época. Como recepção, queimaram uma imagem minha fora do prédio.

Spiegel: É possível que a senhora não seja diplomática o suficiente para este trabalho?

Steinbach: Acredito que geralmente posso ir direto ao assunto. Quero a verdade, e nada além da verdade. Se eu me expressasse como uma diplomata, não seria ouvida. É claro, quero ser uma porta-voz, alguém que pode ser ouvido, para aqueles que, como resultado de uma restrição política, não pode articular seu destino. Se eu fosse chegada a rodeios, eles diriam: legal, mas chato.    


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