domingo, 12 de janeiro de 2014

[SGM] Organização da Kriegsmarine (Marinha de Guerra)

Histórico

A Marinha de Guerra alemã não pode ser considerada “tradicional” se for comparada com a britânica, cuja origem remonta ao reinado de Alfredo, o Grande (849 – 901). A Marinha alemã é, inclusive, considerada moderna; foi criada em meados do século XIX.

Os numerosos e pequenos estados, dispersos ao longo do litoral do Mar do Norte e do Báltico, não tinham suficientes recursos para manter uma frota capaz de enfrentar-se a outras grandes potências europeias, e menos se um dos inimigos fosse a Marinha britânica.

Assim, foi preciso contratar navios corsários para combater a pirataria, atrasando ainda mais o desenvolvimento de uma estrutura que pudesse organizar a futura Marinha de Guerra.

Em 1848, a situação começou a mudar quando a Assembleia Nacional alemã (Bundestag) reuniu-se em Frankfurt para criar uma marinha de guerra. No entanto, sua presença na história militar é discreta e essa marinha foi dissolvida em 1852. Um ano depois, foi fundado o almirantado da Real Marinha prussiana, o primeiro órgão com direção independente, mas que ainda desempenhava um papel modesto – não tinha navios de primeira linha e sua principal tarefa era o transporte de tropas.

Após a criação do Império Alemão em 1871, também se constitui a Marinha de Guerra alemã, sob as ordens diretas do imperador. Mas não foi até 1888, com a ascensão de Guilherme II ao trono – um monarca entusiasmado com o poder naval -, que a força passou de ter um punhado de navios de cabotagem a contar com uma grande frota de guerra.

De acordo com o novo empenho expansionista, decidiu-se optar por um modelo parecido ao da Grã-Bretanha, a maior potência marítima da época e futura rival da Alemanha – a maior parte dos especialistas daquela época tinham os olhos postos no apogeu do Império Britânico.

Depois da derrota na Primeira Guerra Mundial e da assinatura do Tratado de Versalhes, o desenvolvimento naval alemão foi interrompido. Mas, em 1921, o novo parlamento, democraticamente eleito, decretou a lei de serviço militar, na qual se inclui a decisão de formar a Marinha Nacional alemã (Reichsmarine).

O Alto Comando, presidido pelo almirante Paul Behnke (substituído em 1924 por Hans Zenker; e este por Erich Raeder, quatro anos depois), tinha de se enfrentar às duras restrições impostas pelo Tratado de Versalhes – que estipulava as restrições impostas às Marinhas de Guerra derrotadas – e pelo Tratado de Washington – que determinava os novos pactos internacionais.

Os termos de Versalhes eram muito rígidos, sobretudo no que se referia à limitação quantitativa da tripulação – limitava-se o número de marinheiros, o que dificultava o cumprimento de todas as tarefas. Desse modo, a Marinha Nacional alemã teve de recrutar marinheiros e oficiais entre os antigos reservistas. Foi a única maneira de contar com homens experientes a um custo razoável. Ao longo da década de 1920, calcula-se que para cada posto da Armada havia cerca de cinquenta candidatos, gerando, entre os selecionados, a ideia de que pertenciam a um grupo de elite.

A Kriegsmarine

Em 24 de março de 1933, o então Chanceler Adolf Hitler obteve plenos poderes do presidente da república, Paul Von Hindenburg, dando lugar à formação do Terceiro Reich. O novo governo realizou imediatamente várias mudanças que afetaram as Forças Armadas.

Em 1935, coincidindo com o fim das sanções do Tratado de Versalhes, a Marinha Nacional alemã converteu-se na Marinha de Guerra (Kriegsmarine).

A mudança indicava, sem dúvida alguma, a intenção política e estratégia do novo regime. A nova lei de serviço militar determinava que o Chanceler e o chefe de Estado também assumiam a chefia das Forças Armadas (Wehrmacht) e da Armada (Reichswehr). Alguns anos depois, Hitler criou em Berlim o Alto Comando das Forças Armadas (OKW, Oberkommando der Wehrmacht), sob o seu comando.

Além disso, mudanças significativas foram realizadas na organização das forças navais. A mais importante foi a eliminação do almirantado anterior e a criação do Alto Comando Naval (OKM, Oberkommando der Kriegsmarine), controlado pelo Comando Supremo da Marinha (ObdM, Oberbefehlshaber der Kriegsmarine).

A partir de sua posse no cargo, no final da década de 1920, o almirante Erich Raeder, promovido a grande almirante em 1939, desempenhou um papel decidivo na nova orientação estratégica da Marinha de Guerra alemã. Hitler – que tinha poucos conhecimentos sobre a guerra em alto-mar – aceitou as propostas de Raeder, mas manteve sua autoridade dentro da instituição.

Bandeira de Guerra das Forças Armadas alemãs (criada por Hitler)
 
O Tratado Naval Anglo-Germânico

Em junho de 1935, o Tratado Naval Anglo-Germânico foi assinado. Tendo renunciado às limitações do Tratado de Versalhes em março, a Alemanha obtinha formalmente o direito de aumentar sua marinha até atingir 35% dos efetivos da Marinha Real britânica. Também se concordou com o renascimento do setor de submarinos. O Tratado foi uma obra-prima de propaganda que anunciava ao mundo que a Alemanha não tinha intenções de desafiar a Grã-Bretanha para outra “corrida naval”. Mas, passados apenas 11 dias da assinatura, o U-1 foi incorporado à esquadra, em Kiel. Por volta de janeiro de 1936, mais onze submarinos haviam sido incorporados – e todos eles já estavam em construção meses antes da assinatura do Tratado.

Teve início a seguir a construção da frota de batalha propriamente dita. Primeiro vieram dois couraçados com três torres de três canhões de 11 polegadas, em vez das duas torres de três canhões de 11 polegadas encontradas nos couraçados-de-bolso. Eles também tinham armamento secundário pesado, de canhões de 5,9 polegadas e podiam alcançar 32 nós. Anunciou-se que deslocavam 26.000 toneladas, mas na verdade ambos deslocavam 32.000 toneladas, grande parte devida à pesada couraça protetora. Foram batizados com os nomes dos cruzadores que o almirante Graf Von Spee venceu a esquadra britânica na cidade chilena de Coronel, em 1914: Scharnhorst e Gneisenau.

Em 1936, iniciou-se a construção dos dois mais poderosos couraçados de que se tem notícia até que a Marinha Imperial japonesa apareceu com os supercouraçados da Classe Yamato: Bismarck e Tirpitz, armados com canhões de 15 polegadas. Uma vez mais, as autoridades alemãs atenuaram seu verdadeiro deslocamento, anunciando 35.000 toneladas para ambos (o Bismarck deslocava 41.700 e o Tirpitz 42.900). Dois outros cruzadores leves, o Leipzig e o Nürnberg, já se haviam unido à frota, e um sexto, o Königsberg, foi lançado ao mar em 1937, juntamente com os dois primeiros cruzadores pesados, o Admiral Hipper e o Blücher, armados com canhões de 8 polegadas.

A Estrutura do Alto Comando Naval (OKM)

Em novembro de 1938, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, a Marinha de Guerra alemã organizou-se da seguinte maneira: sob o comando de Hitler e do marechal de campo Keitel estava o comandante supremo da Marinha e do Alto Comando Naval, o almirante Erich Raeder.

O seguinte oficial na hierarquia do OKW era o comandante em chefe e chefe do Estado Maior naval, o vice-almirante Otto Schniewind. Na figura 1, descreve-se detalhadamente a estrutura do OKM a partir de agosto de 1939.

A segunda cadeia de comando inclui as diferentes regiões navais, representadas pelos comandantes chefes do Mar Báltico e do Mar do Norte, bem como pelos representantes das frotas do Este, sob o comando do almirante Hermann Böhm.

Böhm também comandava os oficiais dos navios de combate, reconhecimento e lanchas torpedeiras, liderados pelo vice-almirante Günther Lütjens, além dos oficiais das lanchas draga-minas e do comandante chefe da frota submarina, o comodoro Karl Dönitz.


Recrutamento

Até em tempos de guerra, a Marinha alemã somente aceitava voluntários que se comprometiam a servir como mínimo quatro anos.

Os suboficiais, no entanto, deviam manter-se ativos durante um período de doze anos. Entre 1935 e 1936, exigia-se que os candidatos tivessem entre 17 e 23 anos, estatura mínima de 1,60 m, fossem alemães e tivessem determinadas características físicas para o serviço militar em alto-mar (tônus muscular e rápida capacidade de reação).

Os recrutas tampouco podiam ter antecedentes criminais e, de acordo com as leis de pureza racial promulgadas pelo regime nazista, deviam ostentar sua ascendência ariana. Valoravam-se os candidatos que tivessem prestado o serviço de trabalho nacional (Reichsarbeitsdienst), mas, se não o tivessem feito, podiam apresentar um documento com as razões que justificavam a falta.

Como era de se esperar, os candidatos tinham de ser solteiros e os menores de 21 anos necessitavam da autorização dos pais. Depois de superar um exame, tinham de esperar que o período de recrutamento se iniciasse.

Classes e Patentes

Classes Inferiores

Em linhas gerais, distinguiam-se em: marinheiros, marinheiros de primeira classe, cabos, cabos de primeira classe e cabos maiores.

Nos graus inferiores, era comum que um marinheiro de tropa fosse promovido primeiro a marinheiro de primeira classe depois de nove meses em serviço. Depois de um ano, convertia-se em cabo e, dois anos depois, em cabo de primeira classe.

A hierarquia foi unificada em 1938. Antes, na Marinha alemã havia o posto de fogoneiro, o mais baixo. Excetuando os suboficiais, os postos menores eram reconhecidos pela denominação terminada em gast (homem), como por exemplo, funkgast (operador de rádio).


 
 


Suboficiais

A introdução de novos dispositivos (armas ou sistemas de governo e comunicação) requeriam a participação de pessoal qualificado, com formação e experiência específicas para a realização das tarefas.

Dividiam-se em dois grupos: suboficiais sem espada e suboficiais com espada.

Os suboficiais sem espada ocupavam-se de diversas tarefas especializadas. Em geral, dividiam-se em três grupos: encarregados das tarefas a bordo; dedicados aos trabalhos administrativos; integrantes da equipe médico-sanitária. O acesso a esse grau obtinha-se após vários anos de serviço, depois que o interessado tivesse concluído o período de formação e demonstrado ter a experiência necessária.

Os suboficiais com espada possuíam um distintivo no antebraço, que formava parte tanto da roupa de trabalho como do uniforme de gala. Na base deste grupo, encontravam-se os sargentos, que se podiam converter em sargentos de primeira classe depois de dois anos de serviço e obter um certificado de aptidões. Os sargentos de primeira classe que tivessem permanecido 11 anos ou mais no cargo, de acordo com seus méritos e formação, podiam chegar a brigadas. Depois estavam os subtenentes. A promoção a esse grau era especial. Em princípio, podiam chegar a esse grau os suboficiais melhor preparados após um ano de serviço e, se superavam a fase de formação, eram imediatamente promovidos.





Oficiais

Na Marinha de Guerra alemã, o termo oficial, derivado do latim officium, aplica-se a partir do grau de tenente. Sua origem remonta à época dos Grandes Eleitores (1620 – 1688), quando os príncipes alemães tinham o privilégio de escolher o imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Naquela época, a patente era aplicada apenas aos exércitos de terra, visto que a força naval era recente na história militar da Alemanha.

Os candidatos que desejavam seguir a carreira de oficial deviam cumprir alguns requisitos mínimos, exigidos também aos marinheiros de qualquer outro posto. Deviam ser alemães e apresentar um certificado que demonstrasse que tinham concluído o Ensino Médio (Abitur, na Alemanha) ou que tinham um grau equivalente reconhecido pelo Estado.

Os candidatos deviam ter, no mínimo, 1,65 m; no máximo, 24 anos de idade; boas condições físicas, sobretudo no que se refere à agudeza visual e predisposição para os esportes. As avaliações dos candidatos eram feitas pelas divisões da Reichsjugend ou pela própria Marinha de Guerra.

Depois de aprovar o teste de aptidão e sua inscrição ter sido aceita, o candidato comprometia-se a permanecer em serviço por tempo ilimitado. No início, devia submeter-se a um período de formação de três meses, durante o qual levaria um distintivo dourado – uma estrela de cinco pontas se fosse um oficial da Marinha de Guerra, ou uma roda dentada se fosse um engenheiro – na manga esquerda do uniforme. Terminado o período de formação, permanecia como cadete a bordo do navio-escola mais um semestre.

Concluída a formação e o estágio em um navio, o cadete podia ser promovido a aspirante de segundo grau (Oberfähnrich), um grau que na prática correspondia ao suboficial maior e que podia chegar a guarda-marinha. Passados dois anos, podia chegar a alferes de fragata (Leutnant).

O alferes de navio (Oberleutnant) era um oficial de primeira classe e usava duas divisas na manga e uma platina (ombreira) prateada, com cordões paralelos trançados e uma estrela. O tenente de navio (Kapitänleutnant) pertencia à categoria de oficiais de segunda classe; levavam três divisas na manga e uma platina prateada com duas estrelas e cordões paralelos trançados.

Os oficiais de terceira classe eram os capitães de corveta (Korvettenkapitän); usavam um distintivo com três divisas na manga e platinas prateadas com cordões trançados. Depois, estavam os capitães de fragata (Fregattenkapitän); tinham quatro divisas na manga e platinas prateadas com um cordão trançado e uma estrela.

A patente mais alta era de capitão do navio (Kapitän zur See); utilizava quatro divisas na manga e platinas prateadas com um cordão trançado e duas estrelas.

Em seguida, os oficiais superiores, começando com o contra-almirante, que usava na manga uma divisa larga e outra mais fina, além de platinas com um cordão trançado prateado e um botão dourado. Ao vice-almirante correspondia uma divisa larga e duas estrelas, além de platinas parecidas, adornadas com uma estrela.

O almirante distinguia-se dos demais pelo galão com uma divisa larga e três estreitas na manga; as platinas eram parecidas com as de seus subordinados imediatos, mas com duas estrelas. A patente de almirante geral, criada em 1936, não era identificada pelos galões – idênticos aos do almirante -, mas pelas três estrelas nas platinas.

Por último, o grande almirante, patente criada em 1939, ostentava divisa larga e quatro estreitas; e nas platinas, em lugar das estrelas, dois sabres de prata cruzados.

O termo comodoro, usado nos informes de guerra, não se refere a uma patente especial, mas ao cargo do máximo responsável por uma unidade naval. Sua função era meramente conjuntural e isso se refletia no distintivo que utilizava na manga do uniforme: uma única divisa.
 
 

 
 
 Fontes:

Construa o Bismarck. © 2012. Salvat do Brasil Ltda.
 
A Marinha alemã: a esquadra de alto mar. Richard Humble. Editora Renes, 1974.

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