O
Die Welt obteve cópias dos documentos
previamente desconhecidos que foram guardados na casa de um judeu israelense
por um longo tempo. Eventualmente, elas foram parar em um arquivo particular e
agora estão guardadas em um cofre de banco em Tel Aviv. Além das cartas que
Himmler escreveu para sua esposa Margarethe (Marga) de 1927 até cinco semanas
antes de seu suicídio em 1945, há muitas fotografias previamente desconhecidas,
o espólio do filho adotivo de Himmler e outros documentos, tais como livro de
receitas.
De
acordo com a avaliação de especialistas do Arquivo Federal Alemão
(Bundesarchiv) há evidência concreta de que os documentos são autênticos. O
presidente Michel Hollmann disse ao Die Welt: “Estamos certos sobre estes
documentos.” Na opinião da instituição mais importante do mundo que estuda o
legado escrito do Terceiro Reich, ela diz: “Não há razão para duvidar da
autenticidade dos documentos em Tel Aviv.”
Existe
prova conclusiva que rastreia o material até suas origens. As cartas são
frequentemente assinadas como “Dein Heini” (seu Heini) ou “Euer Pappi” (seu
papai) e a caligrafia bate perfeitamente com documentos conhecidos de Himmler. Suas
cartas também complementam exatamente as cartas de sua esposa, que estão
mantidas no Arquivo Federal alemão por muitos anos.
O
historiador e especialista em nazismo berlinense Michael Wildt descreve o
achado como “um corpo denso de documentos privados. Não há nada como isso por
parte de outros membros da liderança nazista.” Adolf Hitler e seu vice oficial
Hermann Göring não deixaram virtualmente nenhum registro pessoal. O ministro da
propaganda Joseph Goebbels, o quarto no escalão, deixou um inventário volumosos
de diários manuscritos e ordens diárias. Mas eles são quase, sem exceção,
material para propaganda futura e não realmente documentos íntimos.
As
centenas de páginas da correspondência particular entre Heinrich Himmler e
Marga parecem ser somente mundanas à primeira vista. Especialmente nos
primeiros anos de sua relação, quando Himmler ainda não fazia parte do alto
escalão nazista, eles escreveram muitas cartas de amor aparentemente comuns.
Mas de vez em quando apareciam sinais do imenso antissemitismo de Himmler e de sua
obcessão nestas primeiras cartas dos anos de 1927 e1928. Os documentos não
mudam a imagem conhecida do reino do terror nazista, mas elas certamente
acrescentam inúmeros detalhes desconhecidos e ajudam a dar uma ideia melhor de
que tipo de pessoa era o líder da SS, sua vida diária e seu círculo de amigos.
Himmler
nasceu em outubro de 1900, como o filho do meio de um professor secundário
bávaro. Como soldado, Himmler tentou desesperadamente servir na frente de
batalha da Primeira Guerra Mundial. Ele nunca conseguiu isso e compensou a “oportunidade
perdida” com um comprometimento radical com os círculos nacionalistas bávaros:
ele se filiou ao partido nazista como membro número 42.404. Durante o golpe do
salão da cervejaria em novembro de 1923[1], Himmler serviu como guarda em um
obstáculo colocado em frente ao Ministério da Guerra bávaro em Munique. Após a
tentativa de golpe falhar, o agrônomo começou a divulgar suas ideias nacionalistas
por meio de um alto-falante. Após o restabelecimento do partido nazista e de
suas subdivisões no começo de 1925, ele tornou-se membro do ramo paramilitar do
NSDAP (SA) mas logo mudou-se para a menor SS, a organização paramilitar de
segurança. Ele se filiou com o número 168.
Como
funcionário integral mal pago, Himmler encontrou a enfermeira divorciada
Margarete Siegroth, que comandava um pequeno asilo em Berlim. Através de suas
cartas para Marga, é possível pela primeira vez compreender como sua relação se
desenvolveu até eventualmente eles se casarem em 3 de julho de 1928. A
correspondência contém muitos detalhes desconhecidos sobre a ascensão de
Himmler como funcionário e porta-voz nazista, assim como sua indicação de
vice-chefe da SS em 1927 a Reichsführer
SS (comandante supremo) em 1929.
Há
grandes lacunas na correspondência nos anos 1930 e o destino destes documentos
é desconhecido. Entretanto, o diário de Marga lança uma luz sobre a vida privada
nada glamorosa da família Himmler.
Himmler manteve praticamente sua família fora dos holofotes públicos. Isto é um
contrate com Hermmann Göring, que casou com a atriz Emmy Sonnemann em 1935 com
grande pompa e Joseph Goebbels, cuja esposa Magda era a “Primeira Dama” da
Alemanha de Hitler.
À
medida em que ficou claro que o Terceiro Reich sofreria uma derrota desastrosa
na Segunda Guerra Mundial, Himmler ainda manteve firme sua crença numa “vitória
final” contra adversários superiores. Ele acreditava nisso mesmo quando tentava
garantir sua sobrevivência entrando em contato confidencialmente com os Aliados
ocidentais.
Mas
isso nunca aconteceu: Himmler fugiu pouco antes da rendição, arrumou um nome
falso e tornou-se prisioneiro de guerra em 20 de maio de 1945, como um soldado
regular. Ele se revelou e cometeu suicídio três dias depois com uma cápsula de
veneno enquanto era revistado em busca de pílulas de suicídio. Neste momento,
os soldados americanos ocupando a casa da família Himmler em Gmund am Tegemsee
já tinham confiscado seus documentos particulares. Quase sete décadas depois
grande parte daquele material está agora acessível ao público pela primeira
vez.
Nota:
[1]
As Origens do NSDAP e o Golpe no Salão da
Cervejaria
Tópicos Relacionados:
Heinrich Himmler: Uma Biografia
SS: Os Cavaleiros Negros do Reich
Nenhum comentário:
Postar um comentário