sexta-feira, 28 de julho de 2017

[PGM] Qual é a importância da Primeira Guerra Mundial para os dias de hoje?

Fábio Marton


Imagine uma tarde qualquer em Paris, Londres ou Berlim antes da Primeira Guerra, em 1913. Cavalos e carroças dividem a rua com bondes e poucos automóveis. Num café, homens leem jornais e discutem as novidades: aviões e corridas de carros. Desde a queda de Napoleão (quase 100 anos antes), a Europa inteira não se envolve numa guerra de grandes proporções. A África e boa parte da Ásia estão sob domínio dos europeus, e os colonizados são temas da arte moderna, para os quais crítica e público torcem o nariz. Moças em espartilhos e mangas até o punho jogam conversa fiada numa confeitaria, quem sabe sobre o voto feminino — que os homens consideram fútil. A tecnologia dava saltos, mas ainda se vivia sob valores da Era Vitoriana: o futuro seria a “marcha inexorável da civilização ocidental sobre a barbárie”. Essa era de certezas ganhou o nome de Belle Époque, a “bela época”.

Era um mundo no qual “todos sabiam o que glória e honra queriam dizer”, escreveu o historiador Paul Fussel, autor de The Great War and Modern Memory ("A Grande Guerra e a Memória Moderna", sem tradução). Uma sociedade despreparada para a escala e os métodos inéditos de matança, que incluíam metralhadoras, bombas dispensadas de aviões, torpedos de submarinos e, mais que tudo, o tédio aterrador das trincheiras. Com o conflito, seriam perdidas 17 milhões de vidas. “O grande edifício da civilização do século 19 foi demolido nas chamas da grande guerra, quando seus pilares desabaram”, afirmou o historiador Eric Hobsbawn. Para ele, a guerra marca o início do “Curto Século 20”: um período de incerteza violenta, no qual nenhum valor passaria sem ser contestado. Nas páginas a seguir, mostramos como vários aspectos do mundo atual surgiram dessa destruição.

Refresque a memória:

A Primeira Guerra (1914-1918) começa após o assassinato do herdeiro ao trono da Áustria-Hungria. A morte desencadeou uma série de declarações de guerra pautadas por uma política prévia de alianças militares. No lado vencedor, as principais nações eram Reino Unido, Rússia e França — e os EUA, que  entraram no final da guerra. No lado derrotado, os protagonistas eram Alemanha, Império Austro-Húngaro e Império Otomano.


UNIÃO SOVIÉTICA > Como a Guerra ajudou a Revolução Comunista
Derrotas no conflito e falta de apoio popular para mais batalhas contra a revolução foram decisivos

Além de estratégias militares obsoletas — algo que tinha em comum com outros países —, a Rússia padecia do fato de ser um país agrário numa guerra industrial. Seus constantes fracassos no front levaram à imensa revolta que explodiu em fevereiro de 1917. O exército recusou-se a suprimir as manifestações, e o czar Nicolau II abdicou no mês seguinte.  Vladmir Lênin, exilado na Suíça após se envolver em uma revolta similar em 1905, voltou à Rússia em abril com um objetivo. Marxista não ortodoxo, acreditava que era possível se fazer uma revolução do proletariado num país onde os trabalhadores industriais eram minoria. Outros comunistas, incluindo o próprio Marx, achavam que a revolução só poderia acontecer num país capitalista avançado. Mas Lênin conseguiu: em novembro, com o apoio dos Guardas Vermelhos, trabalhadores armados e militares de baixa patente, ele derrubou o governo provisório criado com a queda do czar. Nascia o primeiro estado marxista da história.

A Grande Guerra foi essencial para o sucesso da experiência. Seriam cinco anos de guerra civil até que a resistência fosse contida. Os países capitalistas até tentaram intervir em favor dos russos anticomunistas, mandando mais de 100 mil soldados — mas não havia apoio popular para outra guerra, e eles acabaram se retirando. A União Soviética, assim, sobreviveria, espalhando o comunismo  e liderando um dos dois grandes blocos da divisão geopolítica do século 1920.

ESTADOS UNIDOS > O novo centro do capitalismo
Grande vencedor, país passou de devedor a credor dos europeus


A entrada dos EUA na Guerra foi tardia, mas com consequências imensas. Suas tropas só viram ação em outubro de 1917 e passaram de 1 milhão de soldados apenas no ano seguinte. No entanto, ao declarar guerra à Alemanha, em 6 de abril de 1917, o país quebrava uma tradição de distanciamento em assuntos europeus que vinha desde sua independência. Foi uma intervenção para, nas palavras do então presidente Woodrow Wilson, “tornar o mundo seguro para a democracia”. Ainda hoje, a política externa americana é, em boa parte, guiada por essas palavras. Além disso, a guerra mudou o centro financeiro mundial.

Ao final de 1917, os Estados Unidos haviam emprestado quase US$ 3 bilhões aos governos francês e britânico para a guerra. Passaram de devedores dos europeus a credores do resto do mundo."Como os vencedores europeus estavam profundamente endividados com os EUA, a capital mundial das finanças mudou de Londres para Wall Street", escreve a historiadora Sally Marks.

AERONAVES > Surge o avião como conhecemos
Os bombardeiros deram início ao transporte aéreo


Na prática, quando a Grande Guerra começou, a indústria aeronáutica europeia tinha apenas 6 anos. O Flyer III, dos Irmãos Wright, foi apresentado em 1908 em Paris, e dele nasceu a indústria. No início da guerra, os aviões eram usados apenas para reconhecimento, decolavam desarmados. Os primeiros “bombardeios” consistiram em pilotos carregando pequenas bombas no colo e as atirando com as mãos. Mas a tecnologia avançou muito durante o conflito.

Todo o tipo de configuração foi testado naqueles anos, num desfile de formas malucas que lembra o desenho em que Dick Vigarista perseguia o pombo (inspirado na guerra, aliás). Na tentativa e erro, a forma definitiva foi surgindo: motor na frente e estabilizadores atrás, ao contrário das  primeiras máquinas dos Irmãos Wright ou de Santos Dumont. A velocidade máxima das aeronaves passou de 150 km/h a 230 km/h e, em 1918, bombardeiros carregavam mais de dez vezes o peso de um avião de 1914.

Os grandes bombardeiros, alguns convertidos diretamente em aviões civis, seriam a origem do transporte aéreo. Na década seguinte surgiram os serviços de viagens, principalmente em hidroaviões, já que aeroportos eram raros. Também graças à Guerra, os serviços tinham boa oferta de mão de obra: os veteranos do conflito.

TANQUE > Primo do trator
Como o veículo militar mudou o jeito de fazer guerra e de conduzir  nossa agricultura



O nome “tanque” vem de uma contingência da guerra. Era um jeito de despistar os alemães sobre a real natureza do invento, tentando fazê-lo parecer inofensivo, como um tanque de água. O nome real não pegou: o Comitê de Navios Terrestres foi criado na Inglaterra em 1915, para solucionar o impasse das trincheiras. Resumidamente, o emprego de metralhadoras tornava qualquer avanço de infantaria uma manobra suicida (veja abaixo). Estreando em setembro de 1916, o tanque britânico Mark I foi o primeiro da história. Passava por cima de arame farpado e das trincheiras, indo direto às metralhadoras, que destruía com seus canhões. Isso abria caminho para o avanço da infantaria. Os alemães mantiveram-se céticos e só produziram 20 unidades de seu único modelo, o A7V. Em 1918, pagaram com a derrota.
Uma consequência inesperada do veículo foi incentivar a indústria de tratores. As esteiras dos tanques foram copiadas de implementos agrícolas, mas esses só passariam a ser produzidos em grande número a partir da década de 20, quando a tecnologia, testada no combate, estava madura o suficiente. O trator foi um dos principais instrumentos da chamada Revolução Verde, que aumentou a produtividade e sextuplicou a produção de alimentos no século 20. Se você tem arroz no prato a um preço acessível, de certa forma, deve isso às trincheiras.

Adeus, pombo correio

No início da guerra pilotos recorriam a sinais com as asas ou as mãos, bilhetes jogados de aviões em latas ou sinalizadores (fogos de artifício) para transmitir mensagens. O rádio começou a ser usado em 1914 pelos britânicos, mas, como um aparelho completo não cabia no avião, era instalado apenas o emissor e o piloto mandava coordenadas das posições inimigas, sem receber retorno. Só em 1917 os americanos desenvolveram o rádio de avião, mas poucos puderam ser instalados antes do final do conflito. Esse invento — e a experiência em coordenar um grande número de voos — daria origem ao controle de tráfego aéreo, já no início dos anos 1920.

SUBMARINO > Viagem ao fundo do mar
Avanço militar é relacionado a plataformas de petróleo e sonar


O submarino dos aliados não passava de um veículo de patrulha costeira. O dos alemães era chamado de “navio submarino” (unterseeboot ou u-boat). Isso explica a diferença: apenas este avançava em águas profundas. Os u-boats ficavam invisíveis, emergindo, atacando, e submergindo para a fuga. Até a invenção das cargas de profundidade (bombas antissubmarino), em 1916, os aliados não tinham defesa contra eles. Foram mais de 5 mil navios afundados por torpedos durante a guerra — como os alemães não podiam enfrentar a marinha britânica na superfície, tentaram afundar qualquer navio (a maioria não-militar) que se aproximasse da Grã-Bretanha.

Os submarinos não são apenas um avanço militar. Seu desenvolvimento tornou possível que submersíveis passassem a explorar o fundo do mar. As plataformas de petróleo marítimas ou a exploração oceânica em águas profundas estão relacionadas a esse avanço. Outra criação crucial para a oceanografia também está relacionada aos submarinos: o sonar, a única forma de detectá-los, foi criado pouco antes da guerra e usado já em 1914 para mapear o fundo do oceano. O equilíbrio político durante a Guerra Fria também passou pela capacidade dos veículos: os submarinos nucleares eram uma garantia que, mesmo que uma das potências atacasse primeiro e destruísse todos os mísseis e aviões inimigos, ainda assim sofreria a retaliação atômica.

PROPAGANDA > A arte de demonizar
Têm início as campanhas para jogar a opinião pública contra inimigos do país


As potências centrais iniciaram a guerra, mas não cumpriam bem o papel de vilãs. Na América e Europa, havia muita simpatia por Alemanha e Áustria-Hungria. Embora fossem autoritários, os países não eram ditaduras e gozavam de liberdade de imprensa e grande prosperidade. A Alemanha foi o primeiro país a criar um sistema de seguridade social. Eram lugares vibrantes, sede de progresso científico e cultural. Basta lembrar que o cientista Albert Einstein era um filho do Império Alemão, e Freud, o pai da psicanálise, era austríaco.

Por isso foi necessário um grande esforço para reverter o respeito pelos germânicos da opinião pública. A Primeira Guerra viu a primeira ação massiva de propaganda governamental — no sentido estrito do termo, do governo tentando incutir ideias na população. Buscando recrutar soldados ou conseguir bancar investimentos para a guerra — os war bonds, títulos especiais que poderiam ser descontados anos depois —, a propaganda de ingleses, americanos e franceses transformaram os alemães em animais que pretendiam destruir a civilização. Os germânicos também aderiram à propaganda, em menor grau, geralmente com um tom mais defensivo, lembrando a hipocrisia da nação mais imperialista do mundo — o Reino Unido — posar como defensora da liberdade. Reflexos disso apareceram em governos totalitários ou democracias em guerra por todo o século 20 — como o notório “Brasil: Ame-o ou deixe-o” da época da ditadura militar.

COSTUMES > Depois do horror, a festa
Austeridade da Belle Époque e dos anos de guerra dá lugar a hedonismo e mina a repressão sexual

Bombas não destruíram apenas edifícios vitorianos, mas também o senso de decência da época. A geração dos sobreviventes e dos que eram muito jovens para lutar aderiu ao hedonismo. À austera moralidade da Belle Époque, seguiram-se os roaring twenties, os loucos anos 20, retratados em obras como O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald — ele mesmo, um veterano do confronto. Embalados a álcool (consumido ilegalmente nos EUA), jazz e carros velozes, os jovens passaram a experimentar a mais escandalosa invenção da época: o namoro. Antes, fazia-se a “corte”, com o rapaz se apresentando e pedindo aceitação da família da moça.  A crise dos anos 1930 e a ascensão do fascismo puseram fim à folia, mas a repressão sexual nunca voltaria a ser como antes, e cairia de vez durante a década de 1960.

ARTE > Modernismo vira mainstream
Horror da guerra ajuda a mudar a percepção sobre a arte

Quando Las Demoiselles d’Avignon foi exibida por Picasso em 1916, mesmo os amigos do artista a consideravam uma vergonha. Ao ver a exibição, um crítico parisiense comentou que “os cubistas não querem esperar até o fim da guerra para continuar seu ataque ao bom senso”. Ele não era exceção: o modernismo era visto como uma frivolidade de meia dúzia de malucos antes da Primeira Guerra. A brutalidade do conflito fez com que a violência se incorporasse à arte e tomasse o espaço antes dedicado a celebrar a beleza. Nos anos 1920, artistas como Picasso deixaram de ser malditos para se tornarem figuras centrais. “Para nossa preocupação com velocidade, novidade, fugacidade e o mundo interior – com a vida vivida, como diz o jargão, ‘na via expressa’ –, uma escala inteira de valores teve de ceder lugar e a Grande Guerra é o evento mais significativo nesse desenvolvimento”, afirma o historiador canadense Modris Eksteins em The Rites of Spring: The Great War and The Birth of Modern Age (sem tradução).


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domingo, 23 de julho de 2017

Guerra do Golfo: Mundo em alerta

Adriana Maximiliano


Desde a Antiguidade, o Iraque e o Kuwait faziam parte de um só país – a Mesopotâmia. No fim da I Guerra Mundial, os britânicos, que dominavam a região, dividiram o território. Kuwait foi o nome dado ao pedaço de 17 820 km2, rico em petróleo e com uma ampla saída para o golfo Pérsico. O território maior, com 437 072 km2, virou o Iraque.

 Em 1990, Saddam Hussein, invocou as antigas fronteiras para justificar a invasão do vizinho. Na verdade, tinha US$ 80 bilhões de dívida externa, herdada principalmente da guerra contra o Irã, entre 1980 e 1990. Um milhão de iraquianos havia morrido no conflito, mas o país permanecia como a maior força militar da região.

A produção de petróleo do Kuwait, na época responsável por 10% da produção mundial, foi a gota d’água. A economia iraquiana dependia da indústria petrolífera e a alta produção do vizinho pressionava os preços internacionais para baixo. Em 22 de julho de 1990, o exército iraquiano mobilizou 120 mil soldados nas fronteiras com o Kuwait. Em 2 de agosto, o Iraque invadiu o território vizinho. Era o início do maior conflito bélico do fim do século 20.

Como começou

 1. O Iraque invade o Kuwait à 1h da manhã de 2 de agosto (horário local), com infantaria mecanizada e forças especiais. Helicópteros e barcos atacam a capital, a Cidade do Kuwait. Tropas iraquianas ocupam a cidade e a fronteira com a Arábia Saudita. A ONU exige que o Iraque retire suas tropas. O presidente americano, George Bush, vai à TV e diz que mandará porta-aviões para o golfo Pérsico.
 2. O Conselho de Segurança da ONU aprova o boicote econômico ao Iraque, em 6 de agosto. Aviões F-15 Eagle, da Força Aérea Americana, chegam à Arábia Saudita e soldados são convocados nos EUA. Saddam Hussein declara o Kuwait parte do Iraque. A ONU autoriza a intervenção militar e dá um prazo até janeiro para o exército iraquiano deixar o Kuwait.
 3. Em outubro, Bush decide dobrar o número de militares na Arábia Saudita. Ele diz que os 230 mil homens são suficientes para defender a Arábia Saudita, mas não para atacar os iraquianos. O Iraque envia mais 100 mil homens ao Kuwait. A ONU dá um ultimato a Saddam Hussein para deixar o Kuwait até 15 de janeiro de 1991.
 4. Em janeiro de 1991, o congresso americano autoriza o uso de força para dar fim à ocupação iraquiana no Kuwait.
 5. Dois dias após o prazo da ONU, em 17 de janeiro, começa a operação Tempestade no Deserto às 2h38m (horário de Bagdá), com ataque de helicópteros Apache. Repórteres da CNN narram as explosões, dentro de um hotel na capital.


Os personagens
 George Bush: Antes de ser presidente dos Estados Unidos (1989-1993), foi chefe da CIA e vice de Ronald Reagan. Eleito no período pós-Guerra Fria, Bush teve apoio da URSS e China na guerra contra o Iraque. Aos 66 anos, liderou os países da Coalizão.
 Colin Powell: Chefe de estado-maior das Forças Armadas dos Estados Unidos, foi o comandante operacional das forças da Coalizão no Golfo, aos 53 anos. Seu desempenho na guerra foi tão elogiado que voltou ao poder ao lado de George W. Bush, o filho.
 Tariq Aziz: Ele e Saddam Hussein tornaram-se grandes amigos no partido Baath. Quando o ditador se tornou presidente, Tarik foi seu conselheiro. Aos 54 anos, Ministro do exterior, foi porta-voz do governo iraquiano na Guerra do Golfo.
 Saddam Hussein: Entrou para o Partido Socialista Árabe Baath, aos 19 anos. Participou do golpe que levou o Baath ao poder, em 1968. Chegou à presidência em 1979, aos 42 anos. Declarou guerra ao Irã em 1980 e, dez anos depois, invadiu o Kuwait.

Primeiros combates
 18 de janeiro de 1991: Os primeiros 12 mísseis Scud iraquianos atingem Tel Aviv e Haifa, em Israel.
 21 de janeiro de 1991: O primeiro balanço da guerra é divulgado: o Iraque foi alvo de 8 mil vezes bombardeios em 5 dias de operação
 25 de janeiro de 1991: O Iraque despejando 10 milhões de barris de petróleo kuwaitiano no golfo Pérsico.
 26 de janeiro de 1991: Caças F-111 atacam tanques de petróleo no Iraque e no Kuwait.
 1 de fevereiro de 1991: Mísseis Tomahawk destróem base aérea em Bagdá.
 11 de fevereiro de 1991: 20 mil soldados iraquianos morreram em ataques aéreos.
 13 de fevereiro de 1991: Bombardeio em Bagdá destrói 3 pontes e mata 400 pessoas.
 23 de fevereiro de 1991: Tropas iraquianas prevendo a invasão, queimam 640 poços de petróleo no Kuwait.
 24 de fevereiro de 1991: Início dos ataque de infantaria. 80 mil soldados, apoiados por tanques invadem o Kuwait.
 25 de fevereiro de 1991: Um Scud atinge Dhahran, na Arábia Saudita, mata 28 americanos e deixa 98 feridos.

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quinta-feira, 20 de julho de 2017

Reconquista: A queda do Islã na Península Ibérica

Cristiano Dias


O Sol nem havia se levantado e o calor já anunciava outro dia quente. O verão na Andaluzia sempre foi seco e interminável. De seu acampamento, às margens do rio Guadalete, Tariq Ibn Ziyad, um oficial muçulmano a serviço do governador de Tânger, viu surgir no horizonte uma multidão de soldados. Cerca de 40 mil homens do exército cristão visigodo comandado por Rodrigo, duque da Bética e homem-chave do maior reino germânico do Ocidente, se aproximavam. Era 19 de julho de 711 e seus milhares de soldados em breve travariam uma batalha que mudaria para sempre a história da península Ibérica.

A visão de Tariq mostrava-se aterradora. Os visigodos pareciam monstros. Enfiados em gigantescas armaduras e enfileirados disciplinadamente ao longo das colinas, somavam mais de dois cavaleiros para cada guerreiro árabe, que não empunhava nada além da espada e de sua fé no Corão. A seu favor, tinha uma tropa descansada, que entraria em combate contra um inimigo que marchara por dois meses para a batalha. Tariq sabia disso e não permitiu que os cristãos descansassem. Ainda pela manhã, deu a ordem de ataque. O que se viu a seguir foi uma lenta carnificina. Em menos de uma semana, os árabes, mais leves e ágeis, passaram pelo fio da espada a nata do exército visigodo. Ao fim de cada dia, havia tantos corpos pelo campo de batalha que ficava impossível identificar os mortos. O banho de sangue foi interrompido quando as tropas cristãs perceberam que seu líder desaparecera, provavelmente entre os milhares de cadáveres. Sem Rodrigo, a Batalha de Guadalete terminou com suas tropas fugindo apavoradas.

Antes do término do ano, os árabes conquistariam Córdoba e a capital, Toledo, sem encontrar maiores resistências. Em 712, caiu Sevilha. No ano seguinte, foi a vez de Huelva, Faro, Beja e Mérida. Em 714, Burgos, Leão, Viseu, Évora, Santarém, Coimbra e Lisboa. Em 716, Braga, Porto e toda a Catalunha estavam sob o domínio de Alá. Em pouco tempo, os muçulmanos varreram a península Ibérica. Cada vez mais confinados ao norte, os cristãos tentavam sobreviver à onda de ataques. Do outro lado, animados pela facilidade das vitórias, os mouros passaram a lutar além dos Pirineus, em território francês. Finalmente, em 732, foram vencidos em Poitiers pelo franco Carlos Martel. Mas, se a derrota impediu o avanço do islã ao norte da Europa, não significou o fim de sua influência no sul. Até 737 os árabes tomariam Arles, Avignon, Lyon e o vale do Ródano e ficariam na península e parte da Europa por um longo período.

Herdeiros de Maomé

Maomé morreu em 632, depois de unificar os povos da península Arábica. Como foi possível transformar um pais de nômades na maior potência do planeta em pouco mais de 100 anos? Os historiadores concordam que o fator principal para a expansão fulminante foi a decadência dos grandes impérios – bizantino, persa e romano –, já pulverizados em vários reinos germânicos. “Em todos esses lugares, a peste e a fome dizimavam populações inteiras, que recebiam os árabes como salvadores da pátria”, diz Albert Hourani, autor de Uma História dos Povos Árabes.

“Quando chegaram à Espanha, os árabes encontraram o reino visigodo no caos. Entre 707 e 709, houve uma seca sem precedentes, que arrasou as colheitas e espalhou a fome. Além disso, a enorme colônia judaica estava sendo perseguida. Assim, camponeses e judeus receberam os mouros de braços abertos”, afirma o historiador espanhol José Manuel González Vesga, autor de Breve Historia de España (sem tradução).

Depois de serem recebidos como libertadores, era hora de botar ordem na casa, o que demorou outro meio século. De 711 a 756, o poder árabe na península Ibérica foi exercido por dezenas de emires, a maioria escolhida pelos árabes instalados na península. Na prática, isso significava que o poder central, por mais poderoso que fosse, perdia a força com a longa distância.
A falta de unidade racial e religiosa dentro das fronteiras do califado foi a maior responsável por sua ruína. Judeus, cristãos, eslavos, ninguém se adaptou à tradicional organização familiar muçulmana, especialmente à poligamia e ao direito de herança. Além disso, rivalidades internas desataram uma guerra civil dentro da Andaluzia árabe que fragmentou o califado em dezenas de pequenos reinos, conhecidos como taifas.

Não foi à toa que, a partir de 1031, com o desmembramento do califado, os cristãos começaram a ganhar terreno na península Ibérica. Com exceção de Barcelona, retomada em 801, e Porto e Braga, em 868, todas as outras grandes vitórias cristãs ocorreram após a queda do califa de Córdoba. Como Coimbra, recuperada em 1064. Madrid, em 1083. Toledo, em 1085. Zaragoza, em 1118. Sevilha, em 1248.

Granada, Última fronteira

Apesar das vitórias, os cristãos demoraram mais 200 anos para terminar o serviço. Só conseguiram depois de resolver as divergências internas. Em 1469, Fernando de Aragão se casou com Isabel de Castela, e a coroa espanhola foi unificada. A situação dos árabes estava insustentável. Eles se confinava na cidade de Granada. Era pouco provável que conseguissem suportar a pressão de uma Espanha unida.

Depois de uma longa trégua, a guerra recomeçou em 1482, com as tropas de Fernando conquistando pequenas localidades próximas à última capital árabe da península. Em 1490, o rei armou seu acampamento nos arredores de Granada. Em seguida, ordenou a de-vastação de vários campos cultivados perto de suas muralhas e esperou o inverno chegar. Fernando sabia que seria muito arriscado lançar um ataque contra as 1.030 torres que protegiam Granada. Daí veio a ideia de cortar os suprimentos e fazer com que a fome se incumbisse de derrotar o inimigo.


Percebendo que os espanhóis não atacariam, Abu Boabdil Abdullah, rei dos mouros, ordenou uma série de ataques provocativos para fustigar uma reação dos soldados de Fernando. Mandou que fossem arremessadas lanças no acampamento espanhol com insultos amarrados na ponta. Como nada dava certo, orientou seus homens a desafiar individualmente os cavaleiros de Fernando para duelos. Durante algum tempo, os espanhóis perderam boa parte dos homens nesses combates, até que Fernando proibiu sua tropa de aceitá-los.

Em julho de 1491, um acidente quase matou a família real espanhola. A noite, a rainha Isabel deixou que um lampião caísse e queimasse sua tenda. O vento espalhou o fogo e logo o acampamento inteiro estava em chamas. Os árabes tentaram se aproveitar do caos nas linhas inimigas, atacando com a infantaria. O resultado foi desastroso para o rei mouro, Boabdil. Com boa parte de seu exército fora de combate e apenas 300 cavalos vivos – dos 7 mil iniciais –, ele viu Fernando avançar em direção à muralha.

Os espanhóis cortaram toda a comunicação da cidade e impediam a chegada de reforços. Sem comida, não existia outra saída senão a rendição. Em 25 de novembro, assinaram-se os termos. Os mouros teriam direito a manter sua fé e quem quisesse ganharia uma passagem de volta para a África. Em troca, a cidade deveria ser entregue. Em 2 de janeiro de 1492, Fernando e Isabel marcharam triunfantes pelas ruas do último bastião árabe na Espanha. 

O homem que reconquistou Portugal


Dom Afonso Henriques nasceu em 1109, em terras já chamadas de Condado Portucalense, nome dado à cidade de Portucale (hoje Porto). Depois de ser fustigada pelos árabes, a região passou a ser disputada por outros reinos cristãos mais importantes, como Leão, Galícia e Castela. O pontapé inicial para a autonomia do condado aconteceu no momento em que o infante completou 14 anos. Foi quando Afonso Henrique começou a atazanar a vida de seus vassalos espanhóis. Ao assumir o controle do condado, ele se recusou a prestar vassalagem aos reis vizinhos. Com suas tropas, lutou contra todos eles e ainda teve tempo para guerrear contra os árabes. Em 1139, saiu vitorioso na Batalha de Ouriques, derrotando cinco reis mouros de uma só vez – o que rendeu à bandeira de Portugal o desenho de cinco escudos em forma de cruz. Com o vento soprando a favor, no ano seguinte resolveu se proclamar rei de Portugal, deixando de usar o tratamento de infante. Depois de conquistar Leiria, Santarém, Lisboa e quase todo o Alentejo, em 1179 foi reconhecido pelo papa Alexandre III como rei de Portugal e vassalo apenas da Santa Igreja.

El Cid, cavaleiro lendário


Rodrigo Días nasceu no vilarejo de Vivar, nos arredores de Burgos, em 1043. Desde cedo, frequentou a corte do rei Sancho II de Castela, onde carregava o estandarte real. Logo ganhou fama em duelos, o que lhe valeu o apelido de Campeador. Os inimigos mouros o chamavam de sidi (“senhor”), e foi como El Cid que o primeiro herói espanhol entrou para os livros de história. A boa vida de Cid na corte castelhana acabou com a morte do rei e amigo Sancho. Seu sucessor, Afonso VII, não ia com a cara do Campeador e decidiu desterrá-lo. El Cid perambulou então por vários reinos oferecendo seus serviços. Lutou ao lado de árabes e cristãos, multiplicando sua fama a cada vitória. Um dia, cansado de lutar para os outros, formou uma pequena tropa e conquistou Valencia, que governou em nome dos reis castelhanos. Lá, venceu os árabes seguidas vezes em combates, mantendo a cidade sob a bandeira cristã até a sua morte, em 1099. Sua história inspirou o mais antigo épico espanhol, o Poema de Mío Cid, escrito no século 12. De autoria desconhecida, o texto foi responsável por disseminar a lenda de El Cid por toda a Espanha como um cavaleiro obstinado e invencível.


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terça-feira, 18 de julho de 2017

Guerra Civil Espanhola: Esquerda vs direita

Reinaldo José Lopes


É cômodo dizer que uma guerra era inevitável, depois de ter ocorrido. No entanto, o caso do conflito que dividiu a Espanha, a partir de julho de 1936, foi um desastre há muito anunciado. Por várias décadas, não existiu entendimento na política espanhola, e o quadro só piorou no início de 1930. O grande problema era a polarização: o país tinha se dividido no campo ideológico. Direita e esquerda viam-se em posições irreconciliáveis. Cada lado se considerava o verdadeiro representante do que a Espanha deveria ser, situação que levou vários historiadores a usar a expressão “duas Espanhas”. Aliás, “duas” é pouco. É mais correto falar em inúmeras “Espanhas”, porque diversos grupos disputavam o poder. Havia, por exemplo, dois movimentos monarquistas; organizações totalitaristas como a Falange, inspiradas no fascismo e no nazismo; vários partidos socialistas e comunistas; e – fenômeno típico do país – muitos anarquistas, que desprezavam a ordem política tradicional.

Mais soldados em ação

A divisão, porém, era mais profunda: estendia-se pelas regiões industrializadas, como o norte e a Catalunha (onde a maioria do povo era favorável à República e pendia para a esquerda), e áreas rurais e tradicionalistas, como a Andaluzia e a Galícia, com grande massa de camponeses explorados pelos senhores de terras e da Igreja.

Some-se a isso um panorama internacional também polarizado, no qual os países democráticos (como a própria Espanha, a França e o Reino Unido) estavam se tornando minoria diante de ditaduras de direita ou de esquerda (Alemanha, Itália e União Soviética). O desastre começou quando o primeiro governo republicano foi formado, após a abdicação do rei Afonso XIII, em outubro de 1931. Dominado por socialistas e liberais esquerdistas, suas primeiras medidas foram expulsar os jesuítas do país e tirar das mãos da Igreja o sistema educacional, o que enfureceu os conservadores. Além disso, o governo priorizou a regularização das condições de trabalho no campo e a reforma agrária – um golpe doloroso para os latifundiários. 

As medidas de orientação esquerdista não duraram muito. No fim de 1933, novas eleições levaram ao poder uma coalizão de centro-direita, que desfez ou minimizou boa parte das últimas reformas. No ano seguinte, rebeldes anarquistas e operários levantaram-se contra o governo nas Astúrias e na Catalunha. As rebeliões foram reprimidas pelo exército, mas outros levantes, incluindo ataques ao clero católico, continuaram durante os meses seguintes, até que as urnas recolocaram no poder as forças liberais e de esquerda, com a Frente Popular, em fevereiro de 1936.

Uma série de assassinatos políticos de ambos os lados manteve as tensões. Muitos dos principais militares espanhóis, que não simpatizavam com o novo rumo que a República havia tomado, foram mandados para comandos distantes – como aconteceu com o próprio Francisco Franco, enviado para as ilhas Canárias. Ao lado de outros generais poderosos e da direita, Franco planejou um golpe militar contra a República, incitando rebeliões em quartéis de todo o país. O plano entrou em ação em 18 de julho de 1936, mas falhou em boa parte da Espanha. O que deveria ter sido um pronunciamento (nome dado pelos espanhóis a um golpe militar) começou a se transformar em uma guerra civil.


O caminho da guerra

 14 de abril de 1931: Depois da vitória de líderes republicanos em uma eleição geral, o rei Afonso XIII abdica do trono.
 9 de dezembro de 1931: Niceto Alcalá-Zamora é eleito presidente e Manuel Azaña torna-se primeiro-ministro.
 23 de janeiro de 1932: Alcalá-Zamora assina um decreto, acabando com a ordem dos jesuítas na Espanha.
 Outubro de 1934: Mineiros das Astúrias revoltam-se e são reprimidos pelo general Francisco Franco.
 16 de fevereiro de 1936: Alcalá-Zamora convoca novas eleições, vencidas pela Frente Popular (de esquerda).
 7 de abril de 1936: O Congresso destitui Alcalá-Zamora do cargo. Manuel Azaña assume a presidência.
 Maio - julho de 1936: Assassinatos com motivação política e greves tomam conta do país.


A Guerra Civil Espanhola (1936-1939)


Em 1936, a Espanha estava politicamente dividida em dois campos: A Frente Nacionalista e a Frente Republicana. A Frente Nacionalista era um partido conservador, com ideias nacionalistas e fascistas, ao passo que a Frente Popular pertencia ao partido Republicano, com ideais socialistas, comunistas e anarquistas. Devido à oposição entre os dois lados, o monumental conflito deixou um rastro de sangue da matança entre espanhóis e tornou-se a precursora da Segunda Guerra Mundial.

O conflito começou em 1936 com a vitória da Frente Popular nas eleições. A Frente Nacionalista acreditava que a Frente Popular estava tentando iniciar uma revolução comunista. A Frente Popular temia um golpe de estado da Frente Nacionalista. Os temores da Frente Nacionalista foram redobrados em virtude da participação de anarquistas da Frente Popular. Em geral eles eram mais contidos, mas dessa vez resolveram apoiar a Frente Popular porque o partido havia prometido libertar todos os seus presos políticos.

A Frente Popular tomou o controle do novo governo, mas suas ações eram duvidosas. Devido à dissensão reinante entre a maioria – que incluía diferentes ideologias: republicanos, socialistas, comunistas e anarquistas – as reformas prometidas demoravam a ser implementadas. De repente, o povo resolveu começar a implementar as reformas por suas próprias mãos: a coletivização das terras e fábricas, às vezes por meio de violência. Os líderes comunitários e os industriais, que não tinham nenhuma confiança na determinação da Frente Popular para manter a ordem, estavam amedrontados. Milícias trabalhistas e nacionalistas competiam. O caos se instalava no país.

O assassinato do deputado e líder da direita monarquista, José Calvo Sotelo, por milícias republicanas, provocou o início da guerra civil, em 13 de julho de 1936. O golpe de estado aconteceu em 17 de julho de 1936, quando Franco, general do exército, tomou o controle do exército espanhol em Marrocos. O governo tentou uma reconciliação e propôs um acordo, mas não foi bem sucedido porque nem o lado republicano nem o nacionalista queriam ceder.
Algumas regiões rapidamente caíram em mãos nacionalistas comandadas por Franco: Navarra, Castilha, Galícia, partes da Andalucía e Aragon. Madri, Valencia e Barcelona permaneceram em mãos republicanas. Após uma semana, a Espanha estava dividida em duas áreas iguais: uma em mãos nacionalistas, a outra sob controle republicano. Os Republicanos mantiveram controle das regiões mais ricas e industrializadas.

A guerra civil tornou-se um dos primeiros frutos do que seria a Segunda Guerra Mundial: o exército nacionalista era apoiado por dois países poderosos, a Alemanha e a Itália; eles forneciam armas aos Nacionalistas. Já os Republicanos receberam o apoio da União Soviética. A ajuda da Alemanha e da Itália permitiu que as tropas de Franco passassem o Estreito de Gibraltar em 5 de agosto para se juntar ao resto do exército. Eles avançaram para o norte. Os Republicanos contra-atacaram formando colunas que avançavam em territórios nacionalistas: a mais famosa delas foi a “Coluna Durruti”, composta por soldados e anarquistas liderados pelo General Durruti.

Franco chegou aos portões de Madri, mas preferiu desviar suas tropas para o sul para ajudar insurgentes em Alcazar. Quando ele retornou aos portões de Madri em novembro de 1936, os Republicanos tiveram tempo de organizar suas defesas. A luta foi acirrada, mas a cidade estava bem protegida e em março de 1937, Franco teve que admitir que havia falhado.

Ele não sabia lidar com o fracasso, então decidiu derrubar a resistência republicana no País Basco e nas Astúrias. A luta prosseguiu para a região de Santander, que caiu em 26 de agosto. As Astúrias capitularam em 17 de outubro, tornando as forças nacionalistas as líderes de toda a costa Atlântica. 


Dentre as contra-ofensivas das tropas republicanas, duas foram memoráveis. A primeira foi na cidade de Teruel, que foi responsável por uma das mais acirradas lutas de toda a Guerra Civil. Nela, os republicanos tomaram a cidade das mãos dos nacionalistas nos primeiros dias de 1937, mas perderam o controle em menos de um mês. A outra foi a batalha de Ebro, que começou em 25 de julho de 1938, mas que também foi uma campanha fracassada.

Por isso, a Catalunha foi facilmente conquistada pelos Nacionalistas em fevereiro de 1939. Pouco tempo depois, Madri também foi conquistada pelos Nacionalistas. Em 1º de abril de 1939, Franco declara o fim da guerra.


Franquismo

Cláudio Fernandes


O franquismo, assim como o salazarismo em Portugal, foi uma modalidade de fascismo praticada na Espanha que faz referência à figura do general Francisco Franco (1892-1975), que esteve no poder desse país de 1939 a 1975, quando morreu. O franquismo é um termo usado para definir tanto o modo de se fazer política de Francisco Franco quanto o culto à sua personalidade.

O general Franco passou a destacar-se como figura pública na Espanha a partir do momento em que a República Espanhola, que havia sido instituída logo no início da década de 1930, passou a ser contestada por setores conservadores e por militares ligados a esses setores. A contestação dava-se pelo fato principal de ser a república eminentemente de esquerda, controlada pela Frente Popular.
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Em julho de 1936, Franco e outros membros do exército que eram simpatizantes do fascismo, desenvolvido na Itália, e do nazismo, desenvolvido na Alemanha, como Gonzalo Queipo de Llano, Emilio Mola e José Sanjturjo, articularam um golpe contra o governo de esquerda. Como esse governo era apoiado pela URSS, de Stálin, e Franco e os demais fascistas eram apoiados por Hitler, Mussoloni e Oliveira Salazar, de Portugal, logo se instalou uma guerra civil na Espanha que duraria até o ano de 1939.

Em meio a essa guerra, no ano de 1937, os nazistas que apoiavam Franco bombardearam a cidade de Guernica com o objetivo de testar seu maquinário militar que seria utilizado na Segunda Guerra Mundial. A vitória das forças fascistas espanholas lideradas pelo general Franco consolidou-se em 1939, ano em que se iniciou o segundo conflito mundial. Com o fim da Segunda Guerra em 1945, o fascismo tornou-se um modelo político desprestigiado, entretanto, Franco e outros líderes, como Salazar, continuaram a ostentar o seu poder autoritário. Da década de 1940 à década de 1970, o governo de Franco procurou engendrar, tal como tipicamente se fazia nos regimes fascistas, uma máquina de propaganda para enaltecer a figura do ditador. Associada a essa máquina de propaganda, uma manipulação da memória histórica da nação espanhola também foi gestada. A pesquisadora Janete Abraão, em seu ensaio “O dois de maio, a 'Guerra de Independência e a Memória manipulada durante a Guerra Civil e o Franquismo'”, acentuou bem a forma como o franquismo usou a memória da luta da Espanha contra o imperialismo napoleônico do início do século XIX a seu favor:

Cabe afirmar que o mito da 'Espanha indomável' de 1808, que se opõe à dominação estrangeira, teve enorme repercussão durante o regime franquista (1939-1975). Mas há que se levar em consideração o fato de que, o franquismo, não fez senão capitalizar, em seu interesse, o discurso romântico nacionalista, tradicionalista e católico de fins do século XIX, com toda a sua carga emocional. Foi nesse sentido que o franquismo relacionou o Dois de Maio de 1808 ao Dezoito de Julho de 1936. Dessa forma, a historiografia de cunho franquista não duvidou em afirmar que os acontecimentos históricos de maior transcendência para a 'pátria espanhola' eram a 'Guerra de Independência' (1808-1814) e a “Guerra de Libertação” (1936-1939).”[1]

Dessa forma, o franquismo procurou instituir uma imagem particular da história espanhola ajustada ao seu interesse. Essa perspectiva só foi revista e discutida após a morte de Franco e o processo de redemocratização da Espanha, que só se deu a partir de 1978.

Nota:

[1] Abrão, Janete. “O dois de maio, a 'Guerra de Independência e a Memória manipulada durante a Guerra Civil e o Franquismo'”. In: Abrão, Janete (org.) Espanha: política e cultura. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010. p. 25


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