Márcio Sampaio de Castro
Dia 30 de junho de 1863. Faltava pouco para as
comemorações da independência norte-americana. O general Robert E. Lee conduziu
o exército confederado em uma expedição que busca levar a Guerra Civil até as
cercanias de Washington, a capital do país. Seus objetivos eram dar um golpe
decisivo no moral do Exército da União, forçar o governo federal a sentar-se à
mesa de negociações e conseguir uma outra independência: a dos estados do sul
em relação ao restante do país.
Após dois anos de conflitos, Lee, conhecido por
seus inimigos como Raposa Grisalha, colecionava uma sucessão de vitórias sobre
as forças federais nos estados de Maryland e da Virgínia. Ao entrar na
Pensilvânia, em pleno coração do território nortista, mostrava a seus inimigos
que não estava disposto a perder a guerra.
Percebendo o tamanho da ameaça, o governo mobilizou
um exército de 95 mil homens, liderados pelo general George G. Meade, para
caçar e destruir os expedicionários confederados, que contavam com 75 mil
soldados.
Ao raiar do dia 1 de julho, Lee despachou diversas
brigadas para tentar estabelecer contato com o inimigo. Confiante nas vitórias
recentes, o general sulista esperava liquidar seus perseguidores, destruindo de
vez o moral dos unionistas. Nas cercanias da pequena Gettysburg, o contato foi
finalmente estabelecido.
Começa a batalha
Gettysburg era uma pequena cidade interiorana
cercada por morros rochosos e bosques. Ao aproximar-se dela, os confederados
encontraram duas brigadas ianques, como eram chamados pejorativamente os
nortistas por seus inimigos, entrincheiradas em uma faixa de aproximadamente
1,5 quilômetro de elevações ao sul da cidadezinha. As trocas de tiros foram se
sucedendo, enquanto os dois lados mandavam informes aos respectivos comandantes
solicitando reforços. A aproximação da noite trouxe uma pausa para o combate,
mas a escalada de violência que começara de maneira quase casual dava início a
uma das mais importantes e a mais sangrenta batalha da Guerra Civil
norte-americana.
Após as escaramuças do dia anterior terminarem com
a manutenção das tropas federais em suas posições originais, o dia 2 de julho
começava com um impressionante aumento dos efetivos de lado a lado. Morros como
Culps Hill, Cemetery Ridge e Little Round Top eram o objetivo maior dos
atacantes, enquanto as tropas do governo limitavam-se a cavar trincheiras e
sustentar suas posições.
Valendo-se de um comportamento que se transformara
em marca de combate, os sulistas subiam as encostas dos morros urrando. Seu
objetivo era contornar as extremidades das linhas de defesa e surpreender os
inimigos pela retaguarda. Mas, à exceção de alguns combates corpo a corpo, na
maioria das vezes foram repelidos a tiros antes mesmo que pudessem chegar perto
das trincheiras nortistas.
Ao cair da noite, avaliando o resultado dos dois
primeiros dias de batalha, o general Meade resolveu junto com seu Estado-Maior
que a melhor coisa a fazer era manter uma postura defensiva. Um novo fracasso
diante dos rebeldes, que tanto vinham humilhando o exército federal, poderia
ter consequências desastrosas.
Tiro ao alvo
Os planos do general Lee para o dia 3 de julho eram
um pouco mais ambiciosos em comparação ao que seus homens haviam feito até
então. A Raposa Grisalha decidira que enviaria uma poderosa força de
infantaria, com 12 mil homens, comandados pelo general Longstreet, para romper
a linha de defesa inimiga bem no centro. Ao mesmo tempo, despacharia sua
cavalaria para atacar a retaguarda ianque, fazendo um longo contorno a leste de
Gettysburg. O que Lee não sabia era que diversos fatores começavam a conspirar
contra seus objetivos.
Às 13 horas daquele dia, uma gigantesca barragem de
artilharia, composta por 170 canhões, iniciou um ataque que deveria devastar as
defesas unionistas. A enorme coluna de fumaça que se seguiu aos disparos não
permitiu aos observadores confederados perceberem que os projéteis estavam
explodindo bem atrás das trincheiras inimigas. Antes mesmo que os canhões
sulistas silenciassem, os homens de Longstreet iniciaram uma marcha pelos mil
metros que os separavam das trincheiras unionistas. O que se seguiu então foi
uma verdadeira prática de tiro ao alvo, executada inicialmente pelos canhões e,
em seguida, pelos rifles nortistas. Dois em cada três soldados atacantes não
retornaram para suas linhas após a investida.
Quando voltou do ataque malsucedido, o general
George Pickett protagonizou um dos mais célebres diálogos da história da Guerra
Civil. Ao se aproximar do general Lee, ouviu do comandante-em-chefe uma ordem
para reorganizar sua divisão, ao que respondeu: “General Lee, eu não tenho
nenhuma divisão”.
Assim, todos os esforços para humilhar o numeroso,
mas até então desorganizado exército da União, resultaram em um grande
fracasso. A perda de quase um terço de seus efetivos em três dias de batalha
impedia a continuação da expedição em território inimigo.
O dia 4 de julho de 1863 foi marcado por uma
torrencial chuva que caiu sobre a região da Pensilvânia. Debaixo do aguaceiro,
Robert E. Lee montou em seu cavalo e conduziu o exército sulista de volta para
a Virgínia. Em seu íntimo sabia que a tão sonhada independência dos estados
confederados estava mortalmente ameaçada pela derrota em Gettysburg.
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