Tiago Cordeiro
Em junho de 1940, a Inglaterra estava sozinha
contra Hitler. Com a Europa Ocidental nas mãos do Führer, os Estados Unidos
ainda fora do conflito e a União Soviética comprometida com um acordo de
não-agressão assinado em agosto de 1939, não havia ninguém capaz de apoiar os
britânicos. A Alemanha tinha a maior Força Aérea do mundo e estava estimulada
pela vitória acachapante na França. Por outro lado, os britânicos tinham aviões
mais bem armados e uma tradição de impedir o acesso de todo e qualquer invasor desde
1066 – naquele ano, o duque da Normandia, Guilherme I, venceu a Batalha de
Hastings e, por alguns meses apenas, tirou a Inglaterra dos ingleses pela
última vez.
Em 1940, na batalha aérea entre alemães e
britânicos, centros ingleses importantes foram fortemente bombardeados, e o
país chegou perto da derrota. Mas, lentamente, a Inglaterra retomou seu espaço
graças ao estoicismo de seu povo e também ao domínio de uma invenção recente: a
tecnologia do radar. Iniciado em 10 de julho de 1940, o ataque germânico perdeu
força em 31 de outubro de 1940, e foi definitivamente encerrado em maio de
1941. Ao fim de 11 meses de suplício, a Inglaterra estava arrasada, mas de pé.
Ao mobilizar a Força Aérea alemã, a Luftwaffe,
apenas um mês depois da derrota da França, Hitler queria aproveitar o caos
aliado para destruir as defesas aéreas britânicas e, assim, facilitar uma
invasão por terra – ou, quem sabe, forçar os britânicos a pedir trégua. A
partir do litoral noroeste francês, da Holanda e da Noruega, 4 mil homens partiram
em 2,8 mil aeronaves rumo à Inglaterra. Na linha de frente iam dois grupos
aéreos, a Luftflotte 2 e a Luftflotte 3, que tinham sido decisivos na condução
das blitzkrieg em solo continental. Mas agora a luta seria diferente. Pela
primeira vez desde o começo da guerra, as aeronaves alemãs não iriam apenas
apoiar as forças em terra. A batalha inteira estava nas mãos delas e de seu
comandante Hermann Göring.
A Real Força Aérea (RAF) britânica tinha perdido
mais de mil aviões na França e na Noruega. Isso representava dois terços de
todas as novas aeronaves construídas desde o começo da guerra, em 1939. O
grande trunfo aliado era o sistema de radares mais desenvolvido do mundo,
coordenado pelo marechal-chefe-do-ar Hugh Dowding, o chefe do Comando de Caça
da RAF. Com os radares, não era mais necessário fazer longos vôos de
reconhecimento. Bastava aguardar o momento certo e agir diretamente contra o
inimigo, no local em que ele estivesse. Os alemães, por sua vez, estavam muito
mal municiados pelo serviço de informações. Eles subestimaram o poder real de
fogo dos ingleses, e durante o conflito chegaram a atacar vários aeroportos que
sequer eram usados para o esforço de guerra. Quando o confronto aberto começou,
a gigante Luftwaffe estava míope – e não sabia disso.
Primeiros ataques
A Batalha da Grã-Bretanha teve cinco fases bem
distintas. Na primeira, que durou de 10 de julho a 8 de agosto, forças alemãs
fizeram incursões sobre a costa sul inglesa. Bombardeiros de mergulho agiram
contra navios mercantes do Canal da Mancha e atacaram algumas cidades costeiras
na faixa de Dover a Plymouth. Foi um mau começo para os ingleses. Os caças
alemães atuavam em formações de quatro aeronaves, com duas à frente e outras na
retaguarda, enquanto os ingleses mantinham uma estrutura de batalha mais
antiquada e contraproducente, em que dois aviões faziam a defesa de apenas um.
Mas, depois de duas semanas de sucesso alemão, o mau tempo provocou uma trégua
de cinco dias. Foi o suficiente para a RAF se reorganizar. Em agosto, os alemães
haviam perdido 217 aviões, contra apenas 96 dos inimigos. A Luftwaffe começava
a perceber que alguns de seus artefatos, como o caça Messerschmitt Bf110 e o
bombardeiro de mergulho Junker 87, eram lentos demais para batalhas aéreas. Os
ingleses, por sua vez, corriam para alterar suas formações de guerra.
No segundo momento da batalha, os alemães tentaram
reduzir a frota inimiga com combates no ar, caça contra caça. As perdas
britânicas foram consideráveis: 286 aviões, contra 208 da rival. Mas, pela
segunda vez, o tempo fechado forçou uma pausa de uma semana. Ao final dessa
fase, os ingleses marcaram pontos na guerra psicológica. Depois de um
bombardeio acidental no subúrbio de Londres, os britânicos reagiram com um
ataque rápido a Berlim na noite de 25 de agosto. Os alemães, que consideravam
sua capital inacessível ao inimigo, assustaram-se. No mesmo dia, iniciaram uma
terceira onda de ataques. Dessa vez, os alvos eram generalizados: caças no ar,
mas também bases em terra, civis e militares. Foi aí que as falhas na
inteligência alemã provocaram um erro comprometedor: o sistema de radares
ingleses estava por um fio, mas os germânicos não perceberam. Impressionados
com a perda de 378 aviões, mudaram mais uma vez a estratégia, para alívio de
seus adversários.
Alvos civis
Mais uma vez, a iniciativa de alterar os rumos do
conflito partiu dos alemães. A partir de 7 de setembro, começou a blitz contra
as cidades. Os céus de Londres ficaram inundados por 300 bombardeiros
germânicos, escoltados por 600 caças. Apesar da demora em reagir, a RAF
conseguiu conter esse primeiro movimento, a um custo de 28 caças abatidos. Os
alemães, por sua vez, perderam 41 aviões. E a capital acabou o dia com 450
mortos e 1,3 mil feridos. Novos ataques ocorreram nos dias seguintes, até que,
a 15 de setembro, uma grande vitória britânica fez com que os alemães
percebessem, pela primeira vez, que a Inglaterra não se renderia. Os pilotos
germânicos, que desde julho ouviam de seus comandantes que a RAF estava por um
fio, estavam exaustos.
No dia 18, os britânicos tomaram a iniciativa pela
primeira vez e afastaram os inimigos das proximidades da capital. Começava
então a quinta e última fase da batalha, marcada pelo domínio inglês e pelo
recuo das forças de Göring. Até 31 de outubro, cada avião germânico que se
atreveu a sobrevoar o território britânico foi perseguido. Apesar de incursões
eventuais estenderem-se até maio, Hitler já havia desistido da Inglaterra.
Quando agia, dava preferência a alvos civis – em 29 de dezembro, por exemplo, 3
mil pessoas foram mortas em Londres. Até o fim da Segunda Guerra, a Luftwaffe
jamais seria a mesma. Enquanto o Führer começava a se voltar para o Leste
Europeu, Winston Churchill utilizava-se da vitória para conseguir que os
Estados Unidos se envolvessem mais no conflito.
A batalha da Grã-Bretanha
Quem: Alemanha x Inglaterra
Quando: 10 de julho a 31 de outubro de 1940
Onde: Inglaterra
Forças: Inglaterra: 1,8 mil aeronaves e 3 mil pilotos
/ Alemanha: 2,8 mil aeronaves e 4 mil pilotos
Baixas: 1,7 mil aviões e 3 mil pilotos alemães. Do lado
inglês, caíram 1,5 mil aviões e 2 mil tripulantes. Entre os civis, 27,5 mil
britânicos morreram e 32 mil ficaram feridos.
Resultado: Vitória da Inglaterra
Tópicos Relacionados
Nenhum comentário:
Postar um comentário