sexta-feira, 29 de agosto de 2014

As tropas de elite das Forças Armadas do Brasil

As Forças Armadas do Brasil contam com tropas de elite para missões especiais, de alto risco e grau de dificuldade. A seguir, a Marinha, o Exército e a Força Aérea Brasileira elencam algumas de suas principais forças de proteção ao País.
 
 
 
Força Aérea

Dedicada a resgates e operações especiais há 50 anos, a unidade de elite da Força Aérea Brasileira (FAB) atua em ambientes de acidentes, calamidades, locais inóspitos e de difícil acesso. Eles são o Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento (EAS), também conhecido como PARA-SAR, união de PARA, de paraquedismo, e SAR, da sigla em inglês para busca e resgate (Search And Rescue).
 
Entre as muitas histórias de salvamento dos integrantes do EAS, destacam-se as missões de busca após o acidente com as aeronaves da Gol, em 2006, e da Air France, em 2009. Outras missões recentes foram as de socorro às vítimas dos deslizamentos na região serrana do Rio de Janeiro, em 2011, e das enchentes de Santa Catarina em 2008.
 
O PARA-SAR faz parte de um contexto de busca e salvamento, e é uma tropa especializada em operações especiais que participou de eventos como a Copa das Confederações 2013, Rio+20, Copa do Mundo 2014, além de estar presente nos Jogos Olímpicos 2016.
 
Para atuar em situações limite, os militares recebem treinamento especializado, com técnicas de aperfeiçoamento avançadas. Eles passam por cursos de paraquedismo, saltos, busca e resgate, treinamentos em ambientes de água, montanha e selva aprendendo técnicas de socorro pré-hospitalar, além de busca subaquática, salvamento e orientação noturna no mar.
 
A formação para o resgate termina com o aprendizado das técnicas de C-SAR, ou Combat-SAR. Além das dificuldades normais de um resgate, o cenário neste caso é de conflito, quando por exemplo um piloto abatido precisa ser resgatado antes de ser encontrado pelo inimigo. É quando o PARA-SAR deixa de ser somente uma unidade de salvamento para se tornar um grupo de operações especiais. Além de exigir resistência física e psicológica, o curso inclui situações táticas avançadas, como a infiltração em território hostil.
 
O treinamento só acaba depois da conclusão dos sete cursos obrigatórios. O militar que atinge o grau máximo na progressão operacional do Esquadrão recebe o título de “Pastor”. Em 50 anos, apenas 183 homens completaram este ciclo de treinamento e conquistaram o título, uma referência ao cão de caça da raça pastor alemão. De acordo com a tradição, espera-se que o detentor deste nome seja amigo, leal, vigilante e, se necessário, agressivo.
 
Exército
 
Criada em 2002, a Brigada de Operações Especiais (Bda Op Esp) é o escalão responsável pela coordenação e controle das operações especiais na Força Terrestre do Exército Brasileiro. A Bda Op Esp conduz o planejamento, o preparo e o emprego de suas organizações militares (OM) subordinadas, podendo, em algumas ocasiões, integrar tropas de outras Forças Armadas.
 
A Brigada de Operações Especiais compõe a Força de Ação Rápida do Exército Brasileiro. Isso significa que seus soldados estão em permanente estado de alerta, prontos para responder de imediato sempre que o País necessitar.
 
Os militares desta brigada têm uma capacitação técnico-profissional diferenciada, o que amplia significativamente suas possibilidades de emprego. Desta forma, a brigada pode atuar de forma isolada ou em conjunto com as demais Forças Armadas ou policiais, funcionando como um importante instrumento de coordenação das operações especiais no Brasil.
 
No mês de abril deste ano, o Comando de Operações Especiais do Exército Brasileiro reuniu mais de 250 agentes de forças de operações especiais, militares e policiais em um Exercício Conjunto Interagências no Comando de Operações Especiais - Goiânia (GO).
 
O objetivo deste encontro foi promover a integração das instituições que atuaram na prevenção e combate ao terrorismo durante a Copa 2014. Nos cinco dias de exercícios, entre 31 de março e 4 de abril, integrantes das Forças Armadas, da Polícia federal e de policiais civis e militares de 15 estados brasileiros realizaram atividades práticas explorando técnicas, táticas e procedimentos.
 
O Exército Brasileiro conta também com a Brigada de Infantaria Paraquedista, que fica no Rio de Janeiro (RJ). Seu objetivo é enviar forças-tarefa no prazo máximo de 24 horas após o seu acionamento, para qualquer parte do território nacional ou em outras regiões de interesse estratégico no exterior, para:
 
·       Executar operações de combate para destruir e vencer forças inimigas, podendo empregar o lançamento aeroterrestre e/ou o aerotransporte;
 
·       Participar de operações de ampla magnitude integrando forças multinacionais; e
 
·       Conduzir operações de garantia da lei e da ordem.
 
Marinha
 
Desde 1983, o Grupo de Mergulhadores de Combate da Marinha do Brasil (GRUMEC) integra o Comando da Força de Submarinos, participando a partir de então de todas as operações de lançamentos de torpedos e mísseis, exercícios de ataque a navios, operações ribeirinhas na Amazônia e no Pantanal, além de exercícios de retomada de navios, plataformas de petróleo e resgate de reféns.
 
Este profissionais são formados pelo Curso de Mergulhador de Combate, que tem o objetivo de habilitá-los para operar equipamentos de mergulho, armamentos, explosivos, utilizar técnicas e táticas para guerra não convencional e conflitos.
 
Durante o treinamento, são criadas situações específicas para preparar e testar a habilidade dos alunos em suportar situações operacionais de extremo desconforto, em condições psicológicas adversas, avaliando-os com a exposição ao frio, sono escasso, cansaço e ao racionamento de comida e água.
 
A atividade de mergulho de combate exige do militar uma formação continuada, aprimoramento profissional através de cursos complementares e realização de missões e adestramentos para ganho de experiência e maturidade.
 
Em 2013, o GRUMEC participou de treinamento para atuação na Copa das Confederações. A tarefa era tomar o comando de um navio, suspeito de transportar materiais ilícitos. Capuzes, armamentos, voos rasantes, acompanhados de agilidade e efeito surpresa, compuseram o cenário criado pela equipe no dia 23 de maio, na Baía de Guanabara (RJ).
 
De acordo com a Marinha, o GRUMEC pode ser empregado em atividades de retomada e resgate com foco em ações contra-terroristas, de desativação de artefatos explosivos e em operações de interdição marítima. Na Copa das Confederações, eles atuaram no Rio de Janeiro e em Salvador (BA). Cada equipe contou com especialistas nas áreas de mergulho, operações aéreas, comunicações, inteligência, armamento, embarcações e motores e primeiros socorros em combate.
 


A conquista de Dácia, a batalha que levou Roma ao topo

Ernani Fagundes

 
No início do século 2, Trajano tornou-se o primeiro imperador que não nasceu em Roma. Da Espanha, sua terra natal, acompanhou o pai em conquistas nos limites do império, em especial no Oriente Médio. Menino, dormia nos acampamentos e aprendeu que a riqueza romana vinha sobretudo das conquistas militares. Quando chegou ao poder, sabia exatamente o que fazer. Por meio da conquista da Dácia, na atual Romênia (qualquer semelhança do nome com Roma não é coincidência), levou o império à sua máxima extensão. Motivado por duas vitoriosas campanhas militares (101-102 e 105-106) na região, moveu-se por todas as franjas do império e consolidou as fronteiras até a Armênia e a Mesopotâmia.

 
Roma era rica não só por causa dos impostos de suas províncias. Das regiões mais distantes fluíam riquezas, que chegavam à cidade. Além do trigo egípcio, que movimentava as padarias públicas para alimentar 200 mil pobres de graça (o bolsa-família da época), mercadores faziam fortuna com madeira, vidro, mármore, papiro, tecidos, linho, couro, lã e cavalos. Para comprar as mercadorias importadas, os trabalhadores e escravos produziam artesanato, carroças e tecidos, enquanto os camponeses vendiam alimentos. Era uma economia financiada pela guerra. "O ganho econômico era para os romanos parte integrante da guerra vitoriosa e da expansão do poder", afirma o historiador Willian Harris, autor de War and Imperialism in Republic Rome (Guerra e Imperialismo na República Romana).

Para entender por que a conquista da Dácia foi importante, é necessário voltar ao tempo do antecessor de Trajano, Domiciano. Cássio Dio, em A História de Roma, afirma que o antecessor de Trajano era "cruel e traiçoeiro". Até aí, nenhuma novidade - quase todos os imperadores eram descritos dessa forma. Mas Domiciano cometeu um erro que o tornou impopular: elevou os impostos para pagar o aumento de um terço dos salários de seus soldados. "Ele escravizou o próprio império", afirmou Cássio Dio.

Para justificar os gastos e reduzir o prejuízo, Domiciano diminuiu o número de soldados e fez campanhas de saques nas fronteiras do império. Numa delas, contra a Panônia (região ao sul da atual Alemanha), o imperador resolveu pedir auxílio aos dácios.

Naquele momento, o rei dos dácios, Decébalo, que já havia enfrentado Domiciano invadindo terras na fronteiras, aproveitou a oportunidade para fazer um acordo de paz com garantias de posse e poucos tributos. Quando, em 96, Domiciano foi morto por uma conspiração palaciana, Decébalo deu o acordo por encerrado e os dácios violaram a fronteira natural, o rio Danúbio. Trajano foi então convidado pelo Senado a intervir.

Suas campanhas militares são conhecidas pelas figuras da monumental Coluna de Trajano, ainda preservada no centro histórico de Roma. A narrativa no friso em baixo-relevo representa não apenas as batalhas mas também cenas de transferências de tropas, trabalhos em fortificações, sacrifícios e embaixadas e, em alguns casos, episódios que devem ter sido narrados na obra Commentarii, livro escrito pelo próprio Trajano, que não chegou aos dias atuais. Tamanha homenagem em pedra não era por acaso.

O inimigo estava incrustado no alto das montanhas Orastie, numa área de díficil acesso. Para cumprir a tarefa, Trajano, segundo o exagerado Cássio Dio, mobilizou 120 mil homens na campanha (mais de 10% da população da cidade na época). Claro, a força de guerra era bem menor, mas o imperador precisava de homens para carregar provisões, navegadores experientes para atravessar o Mediterrâneo, lançar barcos no Danúbio e construir estradas para levar máquinas de cerco até a fortaleza de Sarmizegetusa Regia, a capital dos bárbaros.

Trajano atravessou o Danúbio com 13 legiões (cerca de 60 mil homens) na localidade de Viminacium e enfrentou o inimigo na Batalha de Tapae, na Transilvânia. "Ele viu muitos feridos em seu próprio lado e as legiões mataram muitos dos inimigos", relata Cássio Dio. Na primavera seguinte, o imperador estava de novo às portas de Sarmizegetusa, e Decébalo pediu paz. "Caído ao chão, fez a reverência. Trajano aceitou, assentou guarnições aqui e ali e retornou à Itália", diz o historiador. A paz durou só 3 anos, tempo para os bárbaros se reagruparem. Nesse período, Trajano mandou construir uma ponte de pedra sobre o Danúbio com 15 m de altura. Era o necessário para atravessar as máquinas de cerco para a decisiva batalha de Sarmizegetusa (leia abaixo), confronto que selou a submissão dos dácios e a morte de Decébalo.


A Batalha de Sarmizegetusa

No cerco, romanos usaram bolas incendiárias


No cerco final, Trajano tinha 18 mil homens contra um número bem menor de dácios, protegidos em cidadelas nas montanhas Orastie. O primeiro ataque dos legionários à fortaleza principal foi repelido pelos dácios com pedras e flechas. Antecessores dos hunos na região, os dácios já conheciam uma arma terrivelmente poderosa, o arco composto. Das muralhas, atiravam com grande precisão a longa distância. Os romanos se valeram de armas de cerco para atacar as muralhas e construíram plataformas para alcançar os muros. Entre as máquinas de guerra, estavam o aríete para derrubar portões e torres de cerco, com proteção para alcançar o topo das muralhas.

Os legionários cercaram a fortaleza de Sarmizegetusa Regia construindo um muro de madeira para impedir fugas e busca de reforços. Entre uma linha e a outra, posicionavam catapultas de torção para atirar pedras. Os romanos também utilizaram bolas incendiárias, o que causou incêndios em toda a cidadela. Para atirar os projéteis, os legionários se valiam do onagro, uma catapulta para flechas, dardos e pedras envolvidas em bolas de tecido embebidas em betume. As tubulações de água que abasteciam a cidadela foram danificadas, obrigando os dácios a se render. Mas algumas fortificações, em outras regiões da Dácia, possuíam água em poços intramuros. Quando isso ocorria, a alternativa era apertar o cerco até que as provisões de alimentos terminassem e os sitiados se rendessem pela fome.

Ao perceber a iminente derrota, Décebalo suicidou-se. Na versão de Cássio Dio, Bicílis, amigo de Decébalo, relatou onde estava escondido o tesouro do rei. Do leito do rio Sergetia, os homens de Trajano retiraram uma fortuna em ouro e prata. A pilhagem financiou a construção da Basílica Ulpia, do Fórum do imperador e do local conhecido como Mercado de Trajano.


 
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