quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

[ARM] Destruição hi-tech: Tanques contemporâneos

Carlos Emilio Di Santis Junior

O termo “tanque de guerra”, que designa carros de combate, foi criado pelos ingleses em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, para esconder os planos de desenvolvimento desse tipo de arma que, na época, era uma novidade. Os protótipos dos veículos eram chamados de tanks, para causar a impressão de que se tratava de simples “caixas d·água”.

Os primeiros carros de combate apresentavam muitos problemas, como falhas mecânicas, baixa velocidade e facilidade de atolar nos terrenos. É certo, porém, que sua entrada nos campos de batalha mudaria por completo a forma como a guerra terrestre passou a ser travada desde então.

À medida que os problemas iniciais foram sendo solucionados, o tanque tornou-se mais rápido e potente. A evolução da eletrônica embarcada resultou em índices crescentes de precisão. Hoje, um tanque tem 90% de chance de acertar um outro tanque – mesmo em movimento – logo no primeiro tiro. Os veículos também adquiriram maior mobilidade, o que obrigou o desenvolvimento de armas capazes de destruí-los.

Assim, mísseis guiados começaram a aparecerem em campo, tornando-se um pesadelo para os tanques. Mas isso, por sua vez, levou ao aperfeiçoamento da blindagem. Ou seja, há um contínuo ciclo tecnológico entre os tanques e os sistemas antitanque.

Mísseis

Atualmente, os mísseis antitanque conseguem destruir qualquer modelo. A blindagem passiva, feita com materiais resistentes (como compostos de cerâmica), e a blindagem Chobham já não são capazes de resistir a mísseis pesados como o norte-americano Hellfire. As blindagens desse tipo tornaram-se bastante espessas, levando o peso dos tanques a níveis inaceitáveis – um tanque moderno chega a pesar nada menos que 60 toneladas.

Para superar esses armamentos sem aumentar muito o peso, criou-se nos anos 60 a chamada blindagem reativa, constituída de placas explosivas que detonam quando atingida, no sentido contrário ao curso do projétil, diminuindo em muito sua capacidade de penetração.

Hoje, os tanques mais modernos do mundo são fabricados pelos seguintes países: Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França, Israel e Rússia. Veja a seguir uma descrição dos principais modelos.

Estados Unidos

O principal carro de combate (Main Battle Tank, MBT) dos americanos é o M-1 Abrams, produzido pela Chrysler. O M-1 está em sua versão A-2, que incorpora melhorias em seu sistema de mira computadorizada, blindagem e armamento. É demasiadamente grande e pesado, o que dificulta sua mobilidade. Apesar de os americanos possuírem uma logística espetacular, tiveram dificuldades para transportar seus tanques M-1 para os desertos do Oriente Médio e para os Bálcãs durante a operação da força aliada contra a antiga Iugoslávia. Embora a blindagem do M-1 seja do tipo Chobham, a versão A-2 tem sido reforçada também com blindagem reativa, dada a maior eficiência dos mísseis anticarro atuais.



Peso: 69 t
Altura: 2,4 m
Envergadura: 3,6 m
Comprimento: 7,9 m
Tripulação: 4
Armamento principal: Canhão M256 de 120 mm
Armamento secundário: 2 metralhadoras de 7,62 mm
Velocidade: 72 km/h
Autonomia: 500 km
Potência: 1 500 hp

Alemanha

O tanque atual é o Leopard 2 A-6. Essa versão tem melhorias notáveis, a começar pela nova torre, que é construída com ângulos para aumentar a resistência contra impactos diretos. O canhão é um Rheinmentall GmBH de 120 mm e 55 calibres. Como se pode esperar de um tanque moderno, o Leopard 2 tem um canhão estabilizado e um computador de controle de tiro, que permitem acertar os alvos em movimento no primeiro disparo. Sua blindagem, composta de cerâmica, aço de alta densidade e tungstênio, é bastante eficiente, mas inferior à blindagem Chobham. Uma característica marcante é sua velocidade(75 km/h), um dos melhores desempenhos do mundo.



Peso: 62 t
Altura: 3 m
Envergadura: 3,7 m
Comprimento: 7,7 m
Tripulação: 4
Armamento principal: Canhão L55 de 120 mm
Armamento secundário: 2 metralhadoras de 7,62 mm
Velocidade: 75 km/h
Autonomia: 500 km
Potência: 1 500 hp

Inglaterra

O tanque usado atualmente pelos ingleses é o Challenger 2, desenvolvido pela poderosa empresa Bristish Aerospace (BAE) Systems Land. O Challenger 2 usa uma blindagem Chobham de segunda geração e tem sua torre redesenhada para um perfil mais baixo. Pesa 62 toneladas, o que é uma desvantagem em cenários urbanos. Outro problema é a velocidade máxima, de 59 km/h. Atualmente, existem algumas unidades equipadas com blindagem reativa, notadamente os tanques que estão em serviço nos campos do Afeganistão. Uma característica interessante é a suspensão do tipo hidrogás variável de segunda geração, que proporciona maior conforto para a tripulação em terrenos acidentados.



Peso: 62,5 t
Altura: 3 m
Envergadura: 3,5 m
Comprimento: 8,3 m
Tripulação: 4
Armamento principal: Canhão L30 de 120 mm
Armamento secundário: 2 metralhadoras de 7,62 mm
Velocidade: 59 km/h
Autonomia: 450 km
Potência: 1 200 hp

França

Desde 1992, os franceses usam um dos tanques mais avançados do mundo, o Giat Leclerc. O principal destaque é um canhão de carregamento automático de 120 mm, modelo CN120-26. Esse sistema permitiu reduzir a tripulação para três pessoas, dispensando o soldado que faria o recarregamento manual. A blindagem do Leclerc é secreta, mas sabe-se que é modular, permitindo fácil substituição caso o tanque seja atingido e danificado. O Leclerc tem um sistema TIS de intercâmbio de dados que permite trocar informações com outros veículos e com o comando da missão, aumentando assim a consciência da situação. Tanque pesado (tem 56 toneladas), atinge a velocidade máxima de 70 km/h.



Peso: 56 t
Altura: 2,5 m
Envergadura: 3,6 m
Comprimento: 9,8 m
Tripulação: 3
Armamento principal: Canhão Giat de 120 mm
Armamento secundário: 1 metralhadora de 12,7 mm e 1 de 7,62 mm
Velocidade: 70 km/h
Autonomia: 500 km
Potência: 1 500 HP

Israel

O Exército de Israel, tradicional usuário de equipamentos estrangeiros, desenvolveu um carro de combate com características específicas para as condições do conflito em que opera. Assim surgiu o Merkava, o primeiro tanque de guerra desenvolvido pelo Exército israelense. Desde que entrou em operação, em 1979, ele sofreu diversas modernizações. Hoje as versões mais populares são a MK-3 e a MK-4, sendo o MK-4M Windbreaker o modelo utilizado desde 2011. O MK-4 é conhecido como um dos mais poderosos carros de combate do mundo. A blindagem é secreta e modular, mas, de acordo com especialistas, o tanque israelense está entre os mais resistentes de todos. Além disso, o Merkava tem uma peculiaridade que o torna ainda mais seguro para a tripulação: seu motor é montado na frente do veículo, o que garante uma proteção extra contra impactos frontais.



Peso: 65 t
Altura: 2,7 m
Envergadura:
Comprimento: 7,6 m
Tripulação: 6
Armamento principal: Um Canhão de 120mm L/44 
Armamento secundário: Uma metralhadora de 12,7 mm Browning M2 e duas metralhadoras M249 de 7,62 mm
Velocidade: 64 km
Autonomia: 500 km
Potência: 23 HP

Rússia

Tradicional fabricante de carros de combate, seu principal tanque em serviço é o T-90. Parece um tanque convencional, mas possui avançados sistemas de proteção, como um interferidor infravermelho com quatro receptores de alerta a laser que avisam a tripulação quando o carro está sendo iluminado por um designador de alvo a laser (o que significa que o tanque é um provável alvo de míssil). A blindagem é do tipo ERA reativa, que permite uma redução do peso do veículo sem deixar de proteger a tripulação. O T-90 pesa 46 toneladas, o que favorece sua velocidade, atingindo 65 km/h. Usa um sistema de carregamento automático do canhão que possibilita reduzir para três o número de tripulantes.



Peso: 46,5 t
Altura: 2,2 m
Envergadura: 3,8 m
Comprimento: 9,5 m
Tripulação: 3
Armamento principal: Canhão 2A46 de 125 mm
Armamento secundário: 1 metralhadora de 12,7 mm e 1 de 7,62 mm
Velocidade: 65 km/h
Autonomia: 500 km
Potência: 840 hp

http://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/tanques-modernos.phtml#.WnuH_p3wbct

[SGM] Morte Branca: O maior sniper de todos os tempos


Paula Lepinski


Há 78 anos, cerca de 1,5 milhão de soldados soviéticos iniciaram um ataque às fronteiras da Finlândia. Era o início da Guerra Russo-Finlandesa, também conhecida como Guerra de Inverno (1939-1940). O conflito aconteceu no início da Segunda Guerra, logo após a assinatura do Pacto de Não-Agressão entre Alemanha e URSS e a invasão, conquista e repartição da Polônia por ambos os Estados.

Desconfiando das intenções da Alemanha - uma desconfiança que se mostraria justificável em 1941 -, o Kremlin tentou garantir que as tropas de Hitler fossem incapazes de tomar Leningrado (São Petersburgo). Buscou um acordo com o governo finlandês para anexar tanto as regiões fronteiriças quanto as ilhas do golfo da Finlândia, além de um contrato de 30 anos para instalar uma base naval soviética na Península de Hanko.

A recusa da Finlândia foi o casus belli para o ataque do Exército Vermelho em 30 de novembro de 1939. Em meio a esse confronto, surgiria um herói nacional. Um horripilante herói nacional.

Morte Branca

505 mortos. Esse é o total de baixas registradas e creditadas a Simo Hayha durante os três meses de conflito entre finlandeses e soviéticos, tornando-o o mais letal franco-atirador (ou sniper) de toda a História. Segundo documentos oficiais, foram 259 mortes por fuzil e 246 por armas automáticas.

Antes da guerra, Simo era fazendeiro e caçador. Em 1925, aos 20 anos, juntou-se à Guarda Branca, uma milícia paramilitar, e foi convocado para atuar como franco-atirador do Exército da Finlândia assim que os soviéticos iniciaram o ataque.

Enfrentando temperaturas entre −40 °C −20 °C e vestindo trajes brancos para se camuflar na neve, Simo usava um fuzil M/28-30 e uma metralhadora Suomi KP/-31 para abater soldados do Exército Vermelho. Preferia usar miras de ferro, que eram meras marcas no cano da arma, ao invés das mais modernas miras telescópicas, que podiam denunciar a sua posição ao refletir a luz do sol e obrigá-lo a se expor mais para acertar o alvo.

O grande matador

Outra tática sua era formar montes de neve à sua frente para ter maior camuflagem. Para evitar que a sua respiração quente contra o ar frio fosse vista pelos soviéticos, ele achou uma solução heterodoxa: metia um punhado de neve na boca antes de atirar.

Não demorou para que ficasse conhecido por Morte Branca. Tornou-se manchete dos jornais finlandeses como um mito heroico do país e quase uma assombração para os soviéticos - ainda que, obviamente, isso não tenha sido noticiado na Moscou de Stalin.

No dia 21 de dezembro de 1939, Simo matou 25 soldados russos, o que foi divulgado pelos veículos como “O presente de Natal de Simo Hayha para a Finlândia”.

Eventos tornaram a morte de Simo uma prioridade absoluta do Exército Vermelho. Em 6 de março de 1940, uma semana antes do fim da guerra, Simo foi atingido no rosto por uma tiro de munição explosiva.

Por sorte, sobreviveu. Mas metade da sua mandíbula foi comprometida.

Uma semana depois do ocorrido, o governo finlandês jogou a toalha. Não era possível um pequeno país como a Finlândia resistir ao peso da máquina soviética. A Finlândia assinou Tratado de Moscou no dia 12 de março de 1940, concedendo o território da Carélia Ocidental à URSS, e permitiu a construção da base naval soviética na Península de Hanko.

Relações perigosas

A União Soviética ganhou, mas pagou em sangue: para as 70 mil baixas finlandesas, entre as quais estavam 26 mil mortos, foram 363 mil soviéticas, com 128 mil mortos. Isso não fez bem à reputação do Exército Vermelho, e pesou na decisão de Hitler na hora de rasgar o acordo de paz e invadir a União Soviética em 1941.

Também influenciou a decisão alemã de se aproximar da Finlândia. Na guerra seguinte contra os soviéticos, os finlandeses contaram com o apoio dos nazistas. E perderam.

Porém, a reputação do herói nacional Simo Hayha foi poupada da aliança com o nazismo, cortesia do ferimento dado pelos soviéticos. Sem condições de lutar, o maior sniper de todos os tempos tornou-se caçador de alces e criador de cães.

Em 1998, ao ser perguntado sobre como ele se tornou o melhor atirador de elite que o mundo já tinha visto e se tinha arrependimentos, ele apenas respondeu: “Foi prática. Eu apenas cumpri o meu dever e o que me foi dito para fazer o melhor que eu pude”.

Delenda est Carthago

Patrícia Pereira


De um lado, Cartago, com sua poderosa frota de navios. De outro, Roma, com o mais forte exército de infantaria da época. Na disputa pelo domínio das rotas marítimas do Mediterrâneo, as duas potências enfrentaram-se ao longo de cem anos nas Guerras Púnicas (o nome vem de punici, ou “fenícios”, como os romanos se referiam aos cartagineses). Foram três guerras, todas vencidas por Roma. Mas, por ironia, Cartago conquistou importantes vitórias em terra, enquanto Roma se destacou em vários embates no mar.

Fundada por colonizadores fenícios no norte da África, na atual Tunísia, Cartago controlava o comércio no mar Tirreno, a parte norte do Mediterrâneo. Tudo corria bem até Roma começar a estender seus domínios por toda a Península Itálica. Cedo ou tarde, era inevitável um choque entre as duas potências. E isso aconteceu numa disputa pelo controle da Sicília, dando início à Primeira Guerra Púnica.

O conflito arrastou-se entre 264 e 241 a.C., em combates quase ininterruptos. As primeiras lutas foram em terra, com a vitória de Roma. Os romanos passaram a dominar quase toda a Sicília, mas Cartago ainda controlava o mar. Vieram então as batalhas marítimas, vencidas novamente pelos romanos, graças a uma tática inovadora. Roma não tinha frota nem muita experiência no mar, mas contava com um exército poderoso.


Então, na esquadra construída às pressas para as batalhas, equipou os navios com um dispositivo na proa que permitia que uma ponte fosse levantada e abaixada. Ela se enganchava ao navio inimigo e abria caminho para os legionários invadirem a embarcação rival. “Roma transformou um combate naval em luta de infantaria”, diz Norberto Luiz Guarinello, professor de História Antiga da Universidade de São Paulo (USP).

Encorajada por seus êxitos e disposta a pôr fim à guerra em um só golpe, Roma enviou um forte exército para a África, em 256 a.C. O plano era atacar de surpresa e tomar Cartago. Quase deu certo. Os 15 mil homens, comandados por Régulo, destruíram parte do território adversário e foram em direção à cidade. Mas Cartago, com o auxílio de um general espartano, Xantipo, e um corpo de mercenários, derrotou as tropas de Régulo.

Em 247 a.C., Amílcar Barca assumiu o comando das forças de Cartago e atacou cidades ao sul da Península Itálica. Roma teve de reconstruir sua frota, destruída numa tempestade, mas surpreendeu os cartagineses ao se recompor com 200 navios. Foi o suficiente para recuperar quase todas as posições na Sicília e assumir a supremacia do Mediterrâneo. A Cartago restou apenas assinar um tratado de paz.

Travessia dos Alpes

Com os recursos esgotados e sem o controle das rotas no Mediterrâneo, Cartago mudou de estratégia: voltou-se para a conquista da Península Ibérica, rica em minerais e com boa terra para a agricultura. Mas, por trás do desejo de reerguer sua economia, havia um plano: explorar os minerais que os ibéricos usavam para fabricar armas e, assim, turbinar seu arsenal.

A missão na Espanha foi confiada a Amílcar e, mais tarde, transferida a seu filho, Aníbal Barca. Ao assumir, em 221 a.C., ele começou de imediato a preparar uma nova guerra contra Roma. E para penetrar na Itália, o novo líder cartaginês utilizou uma inesperada rota de ataque. Em vez de seguir pelo mar, marchou pelos Pireneus com seus elefantes e 20 mil homens, entre mercenários e cavaleiros númidas. Atravessou os Alpes, combateu tribos que dominavam a cordilheira e chegou ao Vale do Pó com severas perdas. Mas chegou. “Roma piscou e as tropas de Cartago já estavam na Península Itálica”, diz Guarinello.

Uma após outra, as unidades romanas foram sendo derrotadas. Na batalha do lago Trasimeno, Aníbal criou uma armadilha espetacular: escondeu sua tropa em depressões cobertas pela névoa e atacou o exército romano de surpresa. As tropas inimigas, mais uma vez, foram destruídas.

Ao perder território e aliados, os romanos refugiaram-se nas montanhas, de onde passaram a fazer uma guerra de desgaste, com ataques a batalhões isolados e a divisões responsáveis pelo suprimento de armas e alimento. Os cartagineses dominavam a região, mas decidiram não avançar até Roma. Alguns historiadores, inclusive, apontam que o grande erro de Aníbal foi hesitar em atacar a capital, num momento em que os romanos estavam vulneráveis.

Depois de algum tempo de interrupção nos combates, Roma decidiu enfrentar Cartago e colocou em campo o maior exército de que dispusera até então. Foi na batalha de Canas, na Apúlia, em 216 a.C. Aníbal dispôs suas tropas de forma que o sol nascesse atrás de seus homens e ofuscasse os romanos. Além disso, agrupou a infantaria mais fraca no meio. A poderosa cavalaria númida ficou nos flancos da formação. Ao atacar, os romanos pareciam varrer o exército cartaginês. Mas caíram na armadilha de Aníbal: o centro cartaginês recuou, enquanto a cavalaria atacava a retaguarda romana. Prensados uns contra os outros, os romanos mal conseguiam sacar as espadas. Foi um massacre.

Depois da derrota, os romanos retomaram a tática de vencer pela exaustão. E conseguiram. Com muita tenacidade, venceram na Sicília e na Península Itálica. E deram o golpe final num contra-ataque: uma expedição liderada pelo general Cipião foi mandada à África para atacar Cartago. Aníbal teve de deixar a Itália com seu exército para defender a terra natal. Esse lance final da guerra começou em 204 a.C. e terminou dois anos depois, com a batalha de Zama, a primeira derrota de Aníbal. Ao selar a paz, Cartago pagou caro. Teve de destruir todos os seus navios de guerra.

Cartago destruída

Mesmo tendo perdido sua frota e suas feitorias comerciais no Mediterrâneo, a economia de Cartago dava sinais de recuperação. Do outro lado do mar, Roma temia a prosperidade da cidade rival. No Senado, Catão começava todos os seus discursos com a célebre frase: Delenda est Carthago (Cartago precisa ser destruída). Assim, sem pretexto algum, Roma desafiou novamente seus adversários para a guerra, em 149 a.C.

Os cartagineses haviam aceitado uma série de exigências para impedir o conflito, entre elas, a entrega de todas as armas e barcos. Só optaram pela guerra quando Roma exigiu que destruíssem a própria cidade, pedra por pedra, e se mudassem para uma região 15 quilômetros distante do mar. Aí não teve jeito. A Terceira Guerra Púnica tornou-se inevitável.

Cartago fechou suas muralhas, construiu armas às pressas e resistiu heroicamente durante quatro anos. Depois de lutar casa a casa, sua população percebeu que seria vencida e decidiu atear fogo à cidade. Os romanos tomaram a fortaleza e jogaram sal no solo, para que nada mais fosse cultivado. Os sobreviventes foram vendidos como escravos, e Cartago foi reduzida a província.


Há 33 anos, Roma e Cartago encerravam oficialmente as Guerras Púnicas

Paula Lepinski


As Guerras Púnicas (264 a.C. - 146 a.C.) foram um dos mais brutais confrontos da Antiguidade. Fundada pelos fenícios, Cartago, cidade-estado situada na atual Tunísia, por muito pouco não deu fim a Roma na segunda dessas guerras.

O terceiro e último confronto viria com o grito de guerra Delenda est Cartago ("Cartago deve ser destruída") e terminou com a aniquilação completa da civilização cartaginense. Eles foram apagados da história: a cidade foi queimada, o solo foi salgado e os romanos não deixaram sequer um livro em sua língua. Como não restou ninguém para assinar a rendição, ela não foi assinada. Ou não então: em 1985, 2131 anos depois do fim da guerra, a paz foi finalmente selada entre Roma e Cartago.

Não entre fenícios e romanos há muito relegados às páginas da História, claro.

Em 5 de fevereiro de 1985, um tratado de paz e um pacto de amizade e cooperação foram assinados por Ugo Vertere, então prefeito da Roma e Chedli Klibi, prefeito de Cartago, Tunísia. Essa é descendente da cidade feita pelos romanos sobre as ruínas da primeira Cartago, e depois conquistada por islâmicos, no século 7.


"O Mediterrâneo deve permanecer um porto seguro de paz e bem-estar", afirmou o então presidente da Tunísia, Habib Bourguiba.

(Que já era presidente há 28 anos e, dois depois, seria apeado do poder por ser considerado insano. Provavelmente sem relação nenhuma.)