quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

[SGM] Morte Branca: O maior sniper de todos os tempos


Paula Lepinski


Há 78 anos, cerca de 1,5 milhão de soldados soviéticos iniciaram um ataque às fronteiras da Finlândia. Era o início da Guerra Russo-Finlandesa, também conhecida como Guerra de Inverno (1939-1940). O conflito aconteceu no início da Segunda Guerra, logo após a assinatura do Pacto de Não-Agressão entre Alemanha e URSS e a invasão, conquista e repartição da Polônia por ambos os Estados.

Desconfiando das intenções da Alemanha - uma desconfiança que se mostraria justificável em 1941 -, o Kremlin tentou garantir que as tropas de Hitler fossem incapazes de tomar Leningrado (São Petersburgo). Buscou um acordo com o governo finlandês para anexar tanto as regiões fronteiriças quanto as ilhas do golfo da Finlândia, além de um contrato de 30 anos para instalar uma base naval soviética na Península de Hanko.

A recusa da Finlândia foi o casus belli para o ataque do Exército Vermelho em 30 de novembro de 1939. Em meio a esse confronto, surgiria um herói nacional. Um horripilante herói nacional.

Morte Branca

505 mortos. Esse é o total de baixas registradas e creditadas a Simo Hayha durante os três meses de conflito entre finlandeses e soviéticos, tornando-o o mais letal franco-atirador (ou sniper) de toda a História. Segundo documentos oficiais, foram 259 mortes por fuzil e 246 por armas automáticas.

Antes da guerra, Simo era fazendeiro e caçador. Em 1925, aos 20 anos, juntou-se à Guarda Branca, uma milícia paramilitar, e foi convocado para atuar como franco-atirador do Exército da Finlândia assim que os soviéticos iniciaram o ataque.

Enfrentando temperaturas entre −40 °C −20 °C e vestindo trajes brancos para se camuflar na neve, Simo usava um fuzil M/28-30 e uma metralhadora Suomi KP/-31 para abater soldados do Exército Vermelho. Preferia usar miras de ferro, que eram meras marcas no cano da arma, ao invés das mais modernas miras telescópicas, que podiam denunciar a sua posição ao refletir a luz do sol e obrigá-lo a se expor mais para acertar o alvo.

O grande matador

Outra tática sua era formar montes de neve à sua frente para ter maior camuflagem. Para evitar que a sua respiração quente contra o ar frio fosse vista pelos soviéticos, ele achou uma solução heterodoxa: metia um punhado de neve na boca antes de atirar.

Não demorou para que ficasse conhecido por Morte Branca. Tornou-se manchete dos jornais finlandeses como um mito heroico do país e quase uma assombração para os soviéticos - ainda que, obviamente, isso não tenha sido noticiado na Moscou de Stalin.

No dia 21 de dezembro de 1939, Simo matou 25 soldados russos, o que foi divulgado pelos veículos como “O presente de Natal de Simo Hayha para a Finlândia”.

Eventos tornaram a morte de Simo uma prioridade absoluta do Exército Vermelho. Em 6 de março de 1940, uma semana antes do fim da guerra, Simo foi atingido no rosto por uma tiro de munição explosiva.

Por sorte, sobreviveu. Mas metade da sua mandíbula foi comprometida.

Uma semana depois do ocorrido, o governo finlandês jogou a toalha. Não era possível um pequeno país como a Finlândia resistir ao peso da máquina soviética. A Finlândia assinou Tratado de Moscou no dia 12 de março de 1940, concedendo o território da Carélia Ocidental à URSS, e permitiu a construção da base naval soviética na Península de Hanko.

Relações perigosas

A União Soviética ganhou, mas pagou em sangue: para as 70 mil baixas finlandesas, entre as quais estavam 26 mil mortos, foram 363 mil soviéticas, com 128 mil mortos. Isso não fez bem à reputação do Exército Vermelho, e pesou na decisão de Hitler na hora de rasgar o acordo de paz e invadir a União Soviética em 1941.

Também influenciou a decisão alemã de se aproximar da Finlândia. Na guerra seguinte contra os soviéticos, os finlandeses contaram com o apoio dos nazistas. E perderam.

Porém, a reputação do herói nacional Simo Hayha foi poupada da aliança com o nazismo, cortesia do ferimento dado pelos soviéticos. Sem condições de lutar, o maior sniper de todos os tempos tornou-se caçador de alces e criador de cães.

Em 1998, ao ser perguntado sobre como ele se tornou o melhor atirador de elite que o mundo já tinha visto e se tinha arrependimentos, ele apenas respondeu: “Foi prática. Eu apenas cumpri o meu dever e o que me foi dito para fazer o melhor que eu pude”.

Nenhum comentário: