quarta-feira, 30 de maio de 2012

A Segunda Guerra foi tão inútil quanto a Guerra do Iraque?

Peter Hitchens

Daily Mail, 19 de abril de 2008


Ao escrever isso, sinto-me como um traidor. A Segunda Guerra Mundial foi minha religião pela maior parte da minha vida.

Bravos, sozinhos, feridos, desafiadores, nós britânicos a ganhamos por nosso próprio mérito contra o inimigo mais malvado e poderoso que se pode imaginar.

Nascido 6 anos após o seu término, senti-me como se a tivesse vivido, como meus pais enfaticamente a viveram, com alguma bravura e muito sacrifício em ambos os casos.

Com meus soldadinhos de brinquedo, tanques e metralhadoras, derrotei os nazistas diariamente no chão do meu quarto.

Me perdi nos livros com títulos despreocupados como "Homens de Glória", com seus relatos revigorantes, tocantes de atos de incrível bravura por pessoas comuns que poderiam ter sido meus vizinhos.

Li aventuras imaginárias do ás de bombardeiro da RAF Matt Braddock na crença de que as estórias eram verdadeiras, e sem me preocupar sobre o que acontecia com suas bombas quando chegavam ao solo. Hoje, eu me preocupo.

Após isto, vieram todos aqueles filmes patrióticos que enriqueceram a imagem da decência, coragem discreta e humor auto-zombeteiro que eu pensava ser a essência britânica.

Está foi nossa melhor hora. Era a medida contra a qual tudo mais deveria ser medido.

Logo, foi muito difícil para mim desde que as dúvidas começaram. Eu não queria realmente saber se era exatamente como isso. Mas isso acabou exercendo uma pressão sobre mim.

Quando morei na Rússia no final da era Soviética, encontrei um país que fez muito mais na guerra do que nós.

Eu mesmo empreguei um veterano fantástico do Exército Vermelho para me ajudar a organizar o escritório lá: um velho senhor honesto, totalmente confiável como a geração do meu pai, exceto que ele era russo e um estalinista convicto que fez trabalhos estranhos para a KGB.

Eles tinham seus filmes de guerra também. E suas cicratizes honrosas.

E eles estavam tão convencidos de que ganharam a guerra sozinhos quanto nós.

Eles lembram o Dia D como um evento ordinário e nunca ouviram falar de El Alamein.

Uma vez, me peguei pensando: "Eles estão usando a guerra como uma forma de consolo contra seu declínio nacional, e está claro que eles estão perdendo sua disputa com a América."

E então me toquei que isto poderia ser uma descrição do meu próprio país.

Quando morei na América, onde descobri que a Segunda Guerra Mundial, na visão deles, se centrava mais no Pacífico, e em qualquer caso não significava metade do que a Guerra Civil e a Guerra do Vietnã significou, levei um segundo choque, uma lição de história não pedida.

Agora, vem outra. Em uma recente visita aos EUA, comprei dois novos livros que vão fazer uma porção de pessoas ficar zangadas.

Eu os li, incapaz de desviar os olhos, parecido como tentar desviar os olhos de uma cena de acidente, em um tipo de escuridão deprimente.

Eles são uma reação ao uso - em minha visão, abuso - da Segunda Guerra Mundial para justificar a Guerra do Iraque.

Nos disseram que a guerra de 1939-45 foi uma boa guerra, lutamos para superar um tirano perverso, que a guerra no Iraque seria a mesma coisa, e que aquelas pessoas que se opunham eram parecidas com os apaziguadores de 1938.

Bem, não me senti como Neville Chamberlain (um homem que ainda desprezo) quando argumentei contra a Guerra do Iraque. E ainda não me sinto.

Alguns daqueles que se opuseram à Guerra do Iraque perguntam uma questão perturbadora.

As pessoas que nos venderam o Iraque o fizeram como se eles fossem os atuais Churchills. Eles estavam errados.

Naquele caso, como podemos estar certos que a guerra de Churchill foi uma boa guerra?

E se os Homens de Glória não precisassem morrer ou arriscar suas vidas? E se a coisa toda foi um desperdício mal calculado de vidas e recursos que destruiu a Grã-Bretanha como uma grande potência e tornou-a em um prisioneiro falido dos EUA?

Divertido o bastante, estas questões ecoam igualmente desconfortáveis como fui freqüentemente perguntado por leitores aqui.

A versão moderada é: "Quem realmente ganhou a guerra, desde que a Inglaterra está sujeita agora à União Européia comandada pela Alemanha?"

A outra é uma que ouvi de um número crescente de veteranos de guerra contemplando a paisagem da Grã-Bretanha de grosseria e desordem e relembrando os sacrifícios que eles fizeram por isso: "Por que nos importamos?"

Não continue lendo se isso abala o seu universo.

Os dois livros, a serem publicados logo neste país, são "Churchill, Hitler e a Guerra Desnecessária" de Patrick Buchanan e "Fumaça Humana" (Human Smoke) de Nicholson Baker.

Eu conheço Pat Buchanan e o respeito, mas nunca gostei de sua simpatia pelo "Primeiro, a América", o movimento que tentou manter os EUA fora da Segunda Guerra Mundial.

Quanto a Nicholson Baker, ele se tornou famoso somente porque seu romance erótico, Vox, foi dado de presente a Bill Clinton por Monica Lewinsky.

Fumaça Humana não é um romance, mas uma série de itens factuais arrumados deliberadamente para destruir a estória aceita da guerra, e tem recebido tratamento generoso da mídia americana, especialmente do New York Times.

Baker é um pacifista, uma posição idiota aberta somente a cidadãos de países livres com grandes armadas.

Ele selecionou com cuidado para defender sua posição, mas muitos dos fatos aqui, especialmente sobre Winston Churchill e o entusiasmo inicial da Grã-Bretanha no bombardeio de alvos civis, estragou a visão oficial.

Aqui está Churchill, em um artigo de jornal de 1920, supostamente criticando a "confederação sinistra" da judiaria internacional.

Eu digo "supostamente" porque não vi o original. Também digo isso porque sou relutante em acreditar nisso, assim como sou relutante em acreditar em outra informação de Baker que sugere que Franklin Roosevelt estava envolvido em um esquema para limitar o número de judeus na Universidade de Harvard.

Tais coisas hoje encerrariam a carreira política em um instante.

Muitos acreditam que a guerra de 1939-45 foi lutada para salvar os judeus de Hitler. Nenhum fato suporta essa crença.

Se a guerra salvou quaiquer judeus, foi por acidente.

Sua deflagração parou nos trens "Kindertransport" resgatando crianças judias do Terceiro Reich. Ignoramos relatórios confiáveis de Auschwitz e nos recusamos a bombardear a ferrovia que chegava lá.

Baker é também inteligente em mostrar que a decisão de Hitler de exterminar os judeus da Europa veio somente após a guerra estar totalmente lançada, e que antes disso, apesar do seu tratamento dos judeus ser revoltante e homicida, ele parou bem aquém do extermínio em massa industrializado.

A implicação disto, que o Holocausto foi o resultado da guerra, e não a causa dela, é especialmente perturbadora.

Uma porção de pessoas terão problema também com o conhecimento do que Churchill disse de Hitler em 1937, quando a natureza de seu regime era bem conhecida: "Um funcionário altamente competente, ponderado, bem informado com maneiras agradáveis, um sorriso irresistível, e poucos têm sido pouco afetados pelo seu magnetismo sutil pessoal."

Três anos depois, uma visão semi-oficial, ainda muito acreditada, era que Hitler era o demônio na forma humana e mais ou menos insano.

Buchanan é, por sua vez, mais prejudicial. Ele retrata Churchill como um homem que amava a guerra para seu próprio lucro, e a preferia em lugar da paz.

Quando a Primeira Guerra Mundial começou em 1914, dois observadores, Margot Asquith e David Lloyd George, descreveram Churchill como "radiante, sua face brilhando, seu jeito interessado.. você pode ver que ele era um homem realmente feliz."

Churchill também é acertado diretamente no pescoço por Buchanan por ter desmantelado as forças armadas britânicas no período entre-guerras.

Foi Churchill que, como Chanceler do Exchequer*, exigiu cortes profundos na Marinha Real em 1925, de modo que quando ele adotou o rearmamento como sua causa dez anos depois, foi contra suas própria decisão infeliz que ele lutou.

* N. do T.: O Exchequer é um departamento governamental do Reino Unido responsável pelo gerenciamento e coleta de impostos e outras rendas governamentais.

Bem, todo país precisa de homens que gostam de guerra, se é para enfrentar e lutar quando necessário. E todos nós cometemos enganos, que são esquecidos se então conseguimos uma coisa espetacularmente certa, como Churchill fez.

Os americanos podem gostar ou abandonar as opiniões do Sr. Buchanan sobre se eles deveriam ter permanecido fora, mas os EUA fez muito bem numa guerra na qual a Inglaterra e a Rússia fizeram a maior parte da luta, enquanto Washington apenas colheu (e continua colhendo) a maior parte dos benefícios.

Analisando o resumo frígido de Buchanan, encontrei-me envolto por muitas perguntas.

A Primeira e Segunda Guerras Mundiais, como Buchanan diz, são realmente apenas um conflito.

Fomos à guerra contra o Kaiser em 1914 principalmente porque temíamos ser ultrapassados pelos alemães como grande potência naval. Ainda que um dos principais resultados da guerra foi que ficamos tão fracos que fomos ultrapassados pelos EUA.

Fomos também forçados, pela pressão americana, a terminar nossa aliança naval com o Japão, que protegeu nosso Império no Extremo Oriente durante a guerra de 1914-1918.

Esta decisão, mais do que qualquer outra, nos custou aquele Império. Ao tornar o Japão nosso inimigo, mas sem a força naval ou militar para proteger nossas possessões, garantimos que seríamos páreo fácil em 1941.

Após a queda de Singapura em 1942, nossa força e reputação na Ásia terminaram de vez e nossa despedida da Índia inevitável.

Pior ainda é a análise de Buchanan de como entramos na guerra.

Sempre achei que o momento que deveríamos ter parado Hitler foi quando ele reocupou a Renânia em 7 de março de 1936. Mas Buchanan mostra que ninguém estava interessado em tal ação naquela época. Ninguém? Sim.

Isto inclui Churchill., que disse insensatamente em 13 de março: "Ao invés de retaliar por uma força armada, como teria sido feito pela geração anterior, a França optou pelo caminho apropriado e ordenado de apelar para a Liga das Nações."

Então, ele mesmo clamou de forma emocionada a "Herr Hitler" para fazer a coisa decente e desistir.

Buchanan não acha que a Inglaterra e França poderiam ter salvo a Tchecoslováquia em 1938, e suspeito que ele está certo.

Mas este é um assunto menor diante do seu exame clínico da garantia inglesa em ajudar a Polônia em março de 1939. Hitler viu nossa posição como um blefe vazio, e o enfrentou.

Os poloneses foram esmagados e assassinados, e seu país varrido do mapa. A derrota final de Hitler deixou eventualmente a Polônia sob o jugo soviético por duas gerações.

Embarcamos então em uma guerra que nos custou nosso Império, muitos de nossos melhores mercados de exportação, o que foi deixado de nossa supremacia naval, e a maior parte de nossa riqueza nacional - alegremente tomada de nós por Roosevelt em retorno aos suprimentos do Lend-Lease.

Como resultado direto, dispensamos a presença de um Mercado Comum que havia sido nossa independência nacional.

Deveríamos ter sido mais sábios e se comportar como os EUA, ficando de fora e esperando Hitler e Stalin se aniquilarem?

Hitler realmente queria mesmo uma guerra contra a Inglaterra ou acabar com o Império Britânico?

O país mais interessado em desmontar nosso Império era os EUA. Hitler nunca construiu uma marinha de superfície verdadeiramente capaz de desafiar a nossa e, para nossa sorte, ele deixou para muito tarde a construção de submarinos para nos matar de fome.

Ele foi derrotado por pouco na Batalha da Inglaterra, mas como teríamos temido se, um ano depois, ele tivesse usado as forças que ele usou na Rússia para nos atacar?

Mas ele não o fez. Seu "plano" de invadir a Inglaterra, a famosa "Operação Leão Marinho", era apenas um esboço, rapidamente abandonado.

Pode ser verdade que ele não estava muito interessado em lutar ou nos invadir? Seus assessores sempre ficavam perplexos pela sua admiração do Império Britânico, sobre o qual ele falaria por horas.

É claro, ele era um ditador cruel. Mas assim também era Joseph Stalin, que mais tarde tornou-se nosso honrado aliado, sustentado com armas britânicas, bajulado por nossa imprensa e políticos, incluindo o próprio Churchill.

Por volta de 1940, Stalin de fato havia matado mais pessoas do que Hitler e havia invadido quase número idêntido de países.

Quase declaramos guerra a ele em 1940 e ele ordenou aos comunistas britânicos para subverter nosso esforço de guerra contra os nazistas durante a Batalha da Inglaterra.

E, em aliança com Hitler, ele abasteceu a Luftwaffe com muito do combustível e recursos que ela precisava para bombardear Londres.

Não é simples, não? Analise o século XX e verá a Inglaterra repetidamente lutando contra a Alemanha, a um custo colossal.

Ninguém pode duvidar do valor e sacrifício envolvidos.

Mas no final, a Alemanha domina a Europa por trás da cortina de fumaça da União Européia; nosso Império e nosso domínio dos mares se foi, lutamos com todos os tipos de problemas de uma grande civilização em declínio, e nosso amigo especial,os EUA, nos superou alegremente para sempre. Mas nós ganhamos a guerra.

http://www.dailymail.co.uk/news/article-560700/Was-World-War-Two-just-pointless-self-defeating-Iraq-asks-Peter-Hitchens.html#ixzz1wPH8lFx9

[SGM] "Não culpem Hitler sozinho pela Segunda Guerra"

Eric Magnolis, 07/09/2009


A História é a propaganda dos vitoriosos. Realmente, Adolf Hitler da Alemanha tem recebido toda a culpa pelo início da Segunda Guerra na Europa, o conflito mais mortal da história no qual 50 milhões morreram.

É interessante que o septuagésimo aniversário da Segunda Guerra tenha aberto velhas feridas e iniciado uma batalha terrível de palavras entre a Rússia e seus vizinhos não muito queridos, Ucrânia, Polônia e os Estados Bálticos. Os últimos dois acusam Moscou de tê-los traído em 1939, ao tornar-se aliada da Alemanha Nazista.

A Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) recentemente acusou a URSS e a Alemanha "igualmente pela Segunda Guerra Mundial." (http://eurodialogue.org/OSCE-Resolution-Equating-Stalinism-With-Nazism-Enrages-Russi ). Após 70 anos, já era tempo.

"Uma mentira descarada," respondeu raivosamente o presidente da Rússia, Dimitry Medvedev. O custo da guerra da União Soviética foi 25 milhões de mortos. Os russos estão totalmente certos em acreditar que foram eles, não os EUA e o Império Britânico, que derrotaram a Alemanha de Hitler. Os russos lutaram com incrível heroismo, sofreram baixas e danos inimagináveis, e varreram a Alemanha Nazista. Os Aliados tiveram um importante, mas comparativamente menos importante, papel na Europa contra uma Alemanha já derrotada e arruinada.

Sublinhando a reabilitação de Stalin por Moscou, Medvedev diz que o ditador soviético salvou a Europa de Hitler e rejeita todas as tentativas de igualá-lo ao ditador alemão.

Mas os fatos nos mostram dados diferentes. Stalin foi um assassino em massa pior do Hitler num fator de três ou quatro. Stalin era também um estrategista, líder guerreiro e diplomata mais esperto que Hitler, que arrastou a Alemanha para uma guerra que ela possivelmente não ganharia e para a qual estava pouco preparada.

O primeiro-ministro Vladimir Putin admite que o Pacto Molotov-Ribbentrop de 1939 que dividiu a Polônia entre Alemanha e a União Soviética, entregando os Estados Bálticos e a Bessarábia da Romênia para os soviéticos, foi "imoral".

Mas Putin corretamente diz que o Pacto de Munique de 1938 assinado pela Inglaterra e França com Hitler, no qual retornava a região étnica dos Sudetos para o controle da Alemanha-Áustria foi igualmente imoral. Ele lembrou do papel decisivo da Polônia no retalhamento da Tchecoslováquia. Ele acusou os críticos da Europa oriental de "colaboradores do fascismo."

Interessantemente, sabemos que Hitler estava determinado a desfazer os efeitos perniciosos dos tratados de "paz" pós-Primeira Guerra Mundial, os quais cruelmente desmembraram o Reich alemão, e os Impérios Austro-Húngaro e Otomano. Ele estava decidido a restabelecer as fronteiras de 1914.

Mas é pouco compreendido que Stalin também estava envolvido numa retificação histórica e geográfica. Ele queria apagar os efeitos do Tratado de Brest-Litovsk de 1918, imposto à Rússia derrotada e em revolução pelas Potências Centrais lideradas pela Alemanha.

O tratado draconiano retirou um quarto da população e indústria da Rússia, e envolveu vastas extensões de territórios dominados pela Rússia: Polônia, Estados Bálticos, Belarus, Ucrânia, Criméia, Bessarábia e Finlândia. Como Hitler, Stalin estava determinado a reconquistar os territórios perdidos. Isto, ele largamente fez de 1920 a 1939. O pacto Molotov-Ribbentrop era o ato final na restauração do velho Império Tzarista.

Um livro fascinante, O Grande Culpado, de Victor Suvorov, pseudônimo de um desertor da inteligência militar soviética (GRU), faz novas revelações explosivas sobre o papel de Stalin em iniciar a Segunda Guerra Mundial. Meus velhos amigos na KGB desprezam a GRU. Mas foi a GRU que conseguiu agentes de nível 2-3 na Casa Branca de Roosevelt e configurou a política estrangeira de guerra da América.




O argumento de Suvorov é simples. Stalin inteligentemente jogou Hitler na guerra ao oferecer a partilha da Polônia. Este ato, Stalin sabia, faria com que Inglaterra e França declarassem guerra à Alemanha. Stalin esperava colher os pedaços que sobrassem do conflito.

Stalin também sabia que a Alemanha não era páreo para a União Soviética. Hitler tinha somente 3.332 tanques, a maioria dos quais eram veículos leves armados com metralhadoras ou canhões de 20mm. Ao contrário de nossas imagens de uma blitzkrieg motorizada, 75% do transporte alemão era feito por cavalos(!) (pense no valor e na quantidade de vagões que são necessários para alimentar 750.000 cavalos). A Wehrmacht não tinha uniformes de inverno. O Alto-Comando Alemão esperava ganhar a guerra contra a Rússia em somente três meses - antes que o inverno chegasse.

Mais imprtante, a Alemanha não tinha matérias-primas exceto o carvão. Suas raras reservas de petróleo vinham da Romênia e Rússia. A Alemanha tinha petróleo suficiente para uma campanha de dois meses contra a União Soviética. Ela não tinha lubrificantes de motor compatíveis para o clima rigoroso de inverno de dezenas de graus abaixo de zero da Rússia.

Ao escavar os aruivos da GRU, Suvorov garante que na primavera de 1941, Stalin estava decidido a lançar 170 divisões, 24.000 tanques e milhares de aviões numa blitzkrieg surpresa contra a Europa Ocidental, apoiado por montanhas de munições e mais exércitos reservas da Ásia e do Oriente distante. O primeiro alvo era Ploesti, Romênia, a única fonte de petróleo da Alemanha. A Alemanha era também a única fonte de petróleo da Itália. A perda de Ploesti teria nocauteado ambas as potências do Eixo.

O Exército da Rússia e a Força Aére foram colocadas em formações ofensivas vulneráveis na nova fronteira teuto-soviética. Stalin ordenou que todas as 1.000 casamatas defensivas da formidável Linha Stalin, que faziam a defesa da fronteira ocidental da URSS, fossem destruídas.

Mas Hitler atacou primeiro. Sabendo da ameaça soviética, Hitler secretamente armou seus exércitos e atacou em 22 de junho de 1941. A Operação Barbarossa pegou os russos de surpresa: aviões no solo, tanques nos carros de transporte, munições ainda fechadas. As forças terrestres soviéticas foram rapidamente envolvidas, cortadas e destruídas em números gigantescos. Tivessem eles estado posicionados em posições defensivas atrás da Linha Stalin, esta vitória não teria acontecido.

A propaganda soviética mais tarde tentou encobrir o plano de Stalin de ataque à Europa, dizendo que suas forças eram antiquadas e despreparadas e os generais incompetentes. Esta visão ainda prevalece hoje.

Não mais, diz Suvorov. Sua visão deixará os historiadores ortodoxos enfurecidos. Eu li atentamente a análise militar de Suvorov. Para mim, como um veterano analista militar, seus números parecem confirmar que Stalin estava prestes a atacar quando Hitler atacou-o preventivamente.

Em 1945, o Exército Vermelho tomou metade da Europa. Mas, pensa Suvorov, se Hitler não tivesse atacado primeiro em 1941, o exército de 30 milhões de Stalin, alimentado por uma produção industrial gigantesca, teria sobrepujado toda a Europa em 1941 numa blitz surpresa.

A conclusão não declarada de Suvorov: Hitler salvou a Europa Ocidental de Stalin. Ele diz, com menos confiança, que a ofensiva de Hitler contra a Rússia levou à inevitável dissolução da União Soviética em 1991 - e o término real da Segunda Guerra Mundial.

Na visão do autor, se a Polônia tivesse devolvido a cidade alemã de Danzig para a Alemanha, a guerra poderia ter sido evitada. O Império Britânico colapsou por causa de sua decisão de ir à guerra contra a Alemanha em 1939 pela Polônia, uma nação que não poderia defender-se.

Tudo isso é uma grande heresia. Precisamos afastar as nuvens prolongadas da propaganda de guerra e começar a compreender o que realmente aconteceu.

http://www.ericmargolis.com/political_commentaries/dont-blame-hitler-alone-for-world-war-ii.aspx

terça-feira, 29 de maio de 2012

GUERRA ASSIMÉTRICA

Gen Ex CARLOS ALBERTO PINTO SILVA
BRASÍLIA - DF, 18 Set 2007
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES
 
 
Guerra Assimétrica não é somente a guerra do fraco contra o forte: é a introdução de um elemento de ruptura, tecnológico, estratégico ou tático, um elemento que muda a idéia preconcebida; é a utilização de um ponto fraco do adversário. Não existe, pois, conflito armado assimétrico somente pela desigualdade entre os adversários, senão quando os adversários adotam formas de combate diferentes em sua concepção e desenvolvimento.

Em termos operacionais, então, a assimetria (entendida como desbalanceamento) “deriva-se de uma força empregando novas capacidades, que o oponente não percebe, nem compreende, nem espera: capacidades convencionais que sobrepujam as do adversário ou que representam novos métodos de ataque e defesa”.

É a guerra da infantaria realmente leve, que possa se mover para mais longe e mais rapidamente por terra que o inimigo, que tenha um repertório tático completo (não apenas manter o contato e solicitar apoio de fogo), que possa lutar com suas próprias armas (ao invés de depender de armas de apoio) e que se mantenha com o mínimo de apoio logístico.

A convicção moral e a eficiência militar convencional sozinhas não nos permitirão compreender e combater a ameaça que ataca a sociedade e as suas estruturas operacionais. Portanto, é essencial uma definição diferente de nível de adestramento e unidades com pessoal treinado e equipado para adaptação a novas tarefas operacionais inopinadas.

Derrotar estas novas ameaças exige a adequação de nossos sistemas decisórios para operações e a reorganização de nossas estruturas para as necessidades da Inteligência (obtenção e consolidação). Requer equipes híbridas de pensadores, cientistas e profissionais militares escolhidos, trabalhando juntos sob pressão. Depende de combinar a atuação das diversas agências de inteligência, com acesso ao ambiente operacional, considerando isto como assunto de interesse nacional.
 
REFLEXÕES SOBRE O EMPREGO DA FORÇA TERRESTRE NA GUERRA ASSIMÉTRICA

1. Não existe inimigo emassado, contra o qual possamos aplicar todo o poder de combate que a FTer pode dispor. A FTer não poderá ser empregada para romper um inexistente desdobramento inimigo, destruir ou neutralizar forças inimigas e dominar um terreno chave, materializando objetivos em um determinado espaço geográfico.

2. O emprego do fogo em massa, ou a ação contundente, rápida e profunda das formações blindadas perdem protagonismo.

3. A atuação da FTer será fundamental na luta contra um inimigo que empregue o procedimento do tipo guerrilha, contudo contra a subversão e o terrorismo seu papel haverá de ser de apoio às atividades das Forças de Segurança Pública.

4. Devemos considerar a possibilidade de que a FTer, além de ter as capacidades militares clássicas, deve adquirir outras, mais “civis”, que a permita adaptar-se à conjuntura da Guerra de Quarta Geração ou Assimétrica.

5. Na conjuntura da Guerra de Quarta Geração ou Assimétrica, trata-se de resolver situações sociais e culturais complexas em um ambiente hostil, as quais requerem uma preparação e métodos de execução diferentes dos que tradicionalmente têm sido empregados.

6. Combate e Manobra
- Isolar o inimigo eletronicamente e fisicamente.
- Realizar patrulhas, infiltrações, emboscadas, cercos etc.
- Máximo protagonismo de armas inteligentes de precisão.
 
7. Defesa Aérea
A utilização pelos terroristas de aeronaves (e mísseis) que explodem contra um objetivo de alto valor psicológico, nos leva à necessidade de estabelecer normas para Defesa Aérea que estabeleçam as formas de localização, acompanhamento, controle e, se for o caso, derrubada dessas armas.

8. Apoio de Fogo
No combate assimétrico, as ações de fogo haverão de ser: de precisão, seletivas, e, fundamentalmente, efetuadas de plataformas aéreas, tripuladas ou não, utilizando projéteis guiados.

9. Inteligência de Combate
Potencializar todos os órgãos de informações, tanto civis como militares, com maior protagonismo da contra-inteligência, inteligência cultural e atividades de obtenção através de fontes humanas e de sinais.

10. Comunicações
Com três componentes:
- Informações Públicas
- Operações Psicológicas
- Comando e Controle
  1. Guerra Eletrônica
  2. Segurança das Comunicações
  3. Dissimulação

11. Mobilidade, contramobilidade e proteção
As atividades associadas à mobilidade, contramobilidade e proteção têm escassas possibilidades de emprego no conflito assimétrico. Assim, as ações se concentram, fundamentalmente, no flanqueamento de obstáculos, constituídos por massas de minas em pontos de passagem obrigatórios e em zonas semeadas por armadilhas explosivas, e no desbloqueio de ruas, pontes, túneis, etc. O trabalho da FTer não será normalmente em apoio a sua própria manobra, senão em benefício da população civil mediante a construção e reconstrução da infra-estrutura danificada ou destruída pela ação do inimigo.

CONCLUSÃO

O Exército deverá antecipar os prováveis conflitos do milênio, por meio de análise de trabalhos publicados e de estudos prospectivos. Em função desses prováveis conflitos – tipologia e características – serão estabelecidas e desenvolvidas as doutrinas e as tecnologias pertinentes.

A preparação para a defesa da soberania deve receber a mais alta prioridade, mesmo que, dentro das hipóteses consideradas, seja estimada como remota, pois a eficiência alcançada é a base para o desenvolvimento de qualquer outra preparação específica.

As missões de combate, tal como estão concebidas, não garantem o êxito das operações em um conflito assimétrico.

Conflitos assimétricos passarão a ser a norma e não a exceção.

Na Guerra de Quarta Geração, o Estado perde o monopólio sobre a guerra. Em todo o mundo os militares se encontram combatendo oponentes não estatais. Quase em toda a parte o Estado está perdendo.

Para o nosso Exército, a Guerra de Quarta Geração ou Assimétrica representa duas vertentes importantes: como protagonistas, desenvolvendo essa Guerra (Força de Resistência) ou como uma Força Convencional, combatendo uma Força que empregue este tipo de ação militar. Para estas duas opções se faz necessária a devida preparação, aí incluída a Doutrina que nos orientará para o preparo e o emprego de nossas Forças.

Temos ainda que pensar na adaptação desses conceitos para a nossa realidade. Podemos analisar sob este prisma ações possíveis em áreas internas de nosso país, onde, seja pela forma de operar ou pelos meios de combate utilizados, as Forças de Segurança Pública não tenham capacidade de vencer. Ou, ainda, as Operações de Paz, onde o Brasil por seus objetivos de Política Externa está cada vez mais envolvido e comprometido, gerando, para o campo militar, possibilidades de emprego em ambientes operacionais desconhecidos e de enfrentamento com inimigos dos quais não tem nenhuma informação antecipada.

“As forças lutam como são adestradas".

A doutrina deve preparar as forças singulares com uma atitude pronta para lidar eficaz e rapidamente com a incerteza. Deve possuir um conceito operacional que inclua mais do que guerra convencional.

A doutrina do Exército deve tratar a assimetria como uma via de dois sentidos. A assimetria nada mais é do que mudar o nível de incerteza, ou de surpresa, para um novo nível que envolve estilos, meios e até fins. Todos os conflitos assimétricos exibem uma grande disparidade de vontade.

Toda a força militar competente se adapta. A adaptação é crítica para o êxito militar, uma vez que a guerra, assimétrica ou não, trata com a incerteza.

Fazer mudanças em técnicas e procedimentos para que sejam eficazes em toda a força exige experimentação, treinamento e disseminação. Essas ações são partes da natureza adaptável do combate.

Não devemos reescrever a Doutrina do Exército, apenas adaptar suas Forças para executarem a doutrina de novas maneiras.
 

[SGM] "Olho por Olho" - Vingança, Ódio e História

John Sack


Palestra dada no Instituto de Revisão Histórica (IHR) em 2003




Três anos atrás fui convidado para palestrar no Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos. A palestra foi anunciada neste panfleto e também na internet. Mas, então, o Museu do Holocausto a cancelou.

Pelos próximos 45 minutos, direi aqui o que eu planejava dizer no Museu do Holocausto, e então, como eu faria no Museu, permanecerei aqui tanto tempo quanto queiram, respondendo perguntas. A platéia no Museu seria formada por historiadores, a maior parte, e eu teria dito algo como...

Obrigado. Obrigado por me convidar, obrigado por me escutar. O que vou dizer aconteceu cinqüenta anos atrás. E por 50 anos, ninguém, nenhum historiador, ninguém mesmo falou sobre isso em público em qualquer lugar do mundo. Não até agora.

Agora sobre mim, não sou historiador, sou um jornalista. E o que escrevo é o material bruto da história, algo que os historiadores terão - espero - alguma consciência. Vou a lugares. Assisto a eventos. Escuto as pessoas. E então conto as estórias. E começarei dizendo uma agora. Uma estória verdadeira sobre uma adolescente.

Lola

Cabelos loiros, olhos castanhos, muito bonita. No colégio, ela pratica esportes, trapézio, interpreta Branca de Neve e os Sete Anões. Ela é um dos personagens principais. Ela vai para casa. Ela percorre as ruas cantando "On the Good Ship Lollipop..." Não exatamente. Ela está realmente cantando (em inglês com sotaque), "On the Good Ship Lollipop..." Porque ela é uma garota polonesa, e ela está em Bedzin, nos anos 1930. Seu nome é Lola Potok.

E quando ela completou 18 anos, os nazistas invadiram. Lola é colocada em um trem para a cidade de Oswiecim - conhecemo-la como Auschwitz. Seu bebê, com um ano de idade, é retirado de seus braços; ela nunca mais o vê. Ela não é enviada para a câmara de cianeto, mas sua mãe sim. Sua mãe é morta, seu irmão e irmã, primas e sobrinhos são assassinados. Quatorze pessoas.

(Sabem, eu não ia dizer isso no Museu do Holocausto, mas nesta sala eu sei que há pessoas que não acreditam que havia câmaras de gás em Auschwitz. Eu acredito, assim como Lola, que havia câmaras de gás em Auschwitz.)

Sua mãe foi assassinada. Seu irmão e irmã, primas e sobrinhos são assassinados. Quatorze pessoas. O irmão em Auschwitz que ainda está vivo na plataforma de enforcamento diz em Ídiche, "Nem nekumah! Vamos nos vingar!" Então, ele é enforcado.

Vingança

Em janeiro de 1945, Lola escapa. Ela pesa apenas 30 kg. Seus olhos são vazios. Seu cabelo é curto. Suas costas estão machucadas. Sua mão está dilacerada. Ela está usando dois sapatos para pé esquerdo. Todas as pessoas que amava estão mortas, ou ela pensa que estão, e ela está queimando de raiva. Ela quer libertar esse ódio, vomitá-lo sobre os alemães. Um de seus amigos de infância está no governo polonês, e Lola vai até ele e diz, "Quero vingança."

E dois meses depois, a guerra ainda continua, e Lola está agora na Alemanha, a parte ocupada pelos russos e administrada pelos poloneses. Lola está vestindo um uniforme cor oliva. Sua jaqueta tem botões de metal. Na gola, o que os pracinhas americanos chamam de "ovos mexidos". Nos seus ombros há estrelas. Na sua cintura uma Luger. Lola está trabalhando para o governo polonês, ela é comandante de uma prisão para alemães, e ela está tentando fazer vingança pelo Holocausto.

Agora, Lola é uma garota judia. Ela estudou o Torá, e o Torá diz, "Você não deverá se vingar." Lola sabe isso. Ela está desobedecendo. Mas há algum de nós que a condenaria? Algum de nós pode compreendê-la? Eu posso compreendê-la, e posso ter rachmanis, compaixão, por ela.

Encontrei Lola Potok. Foi em abril de 1986. Estou morando em Hollywood. Sou escritor, e tenho um encontro na Paramount Pictures. E a secretária lá, ela está lendo algo que escrevi sobre o Clube dos Garotos Bilionários. Ela me diz, "Gostei. Lembra a minha própria família."

Eu digo, "O Clube dos Garotos Bilionários? Sua família?" diz a secretária, "Sim, todos aqueles assassinos. Minha mãe, Lola, estava em Auschwitz." Eu digo, "Oh." A secretária diz, "E depois daquilo, minha mãe comandou uma prisão cheia de nazistas." Eu digo, "O quê? Ela comandou..." eu digo, "Você sabe que tem um filme lá?" Eu digo, "Você devia contar a Lynda," Lynda é a produtora, a chefe da secretária, mas a secretária me diz, "Sei que há um filme. Não direi a Lynda. Eu mesma quero produzi-lo!"

Diz um ditado em Hollywood: um produtor é alguém, qualquer um, que conhece um escritor. Sou um escritor, a secretária me conhece, e portanto ela é uma produtora. Estamos no negócio juntos. O acordo é, escreverei um artigo numa revista sobre Lola, sua mãe, e a secretária fará um filme sobre ela.

Corte. Dias depois. Hollywood, o Café Moustache. Tenho creme de espinafre. Estou jantando com Lola. Uma mulher elegante. Batom vermelho, delineador preto, como uma femme fatale. Fala cinco línguas fluentemente. Ela tem 66 anos de idade. E Lola começa a me contar sua estória.

Gleiwitz

No final da Segunda Guerra Mundial, ela me diz, está no comando de uma prisão em Gleiwitz, Alemanha. Ela diz que os internos são soldados alemães. Mas ela diz que alguns eram nazistas, mesmo SS, querendo passar por soldados alemães, e Lola estava de olho neles. Procurando por Höss e Hössler, os comandantes de Auschwitz. Procurando por Mengele, o homem que uma vez disse para sua mãe, "Vá para a esquerda, você morrerá"; que disse para Lola, "Vá para a direita, você viverá." E se Lola o encontrar, ela não sabe o que fará. Mas fará alguma coisa.

E Lola me diz: um dia na prisão, Lola encontrou um cara da Gestapo. Gordo, cerca de 40 anos de idade. Sob seu braço, havia uma tatuagem. Dizia A ou B. Era o seu tipo sanguíneo. Todos na Gestapo tinham essa tatuagem. Lola surtou. Ela começou a gritar, "Du schmutziges Schwein! Du verfluchtes Schwein! Du ... Quantos judeus você matou? Ela o esbofeteou. O homem caiu no chão. Ele se ajoelhou diante dela, dizendo, “Gnade! Gnade! Tenha piedade de mim!” e Lola o chutou e continuou o chutando.

Esta é a estória de Lola: há alguém aqui que gosta dela? Eu não gostei. Eu não queria escrevê-la. Achei que era feia. Lola não gostou dela. Ela me disse que sua mãe, se estivesse viva, não gostaria. Sua mãe costumava ler o Torá para ela e dizer-lhe, “Você não deve odiar. Isso somente te magoa. Isto corrói sua alma.”

E Lola disse que após alguns meses em Gleiwitz, ela se lembrou disso. Ela estava na prisão um dia. E havia um guarda judeu lá. Seu rosto estava vermelho. Seus dentes estavam à mostra. Ele estava salivando muito. Feio, feio. O homem tinha um chicote. Ele estava gritando em polonês, “Seu filho da puta.” Ele estava chicoteando um prisioneiro alemão. Lola disse, “Pare.” Lola disse, “Por que você o está chicoteando?” O homem disse, “Bem, os alemães fizeram isso comigo!” Lola disse, “E agora você os odeia?” O homem disse, “Eu os desprezo!” Lola disse, “Bem, se você os despreza, por que você quer se tornar como eles?” Porque para Lola, para Lola, este homem, este judeu, ele olhava, falava, agia como os nazistas que ela conheceu em Auschwitz.

Naquela época, Lola não ligava para os alemães, os prisioneiros alemães. Eles poderiam cair mortos por todos aqueles pelos quais ela se importava. Mas ela me disse que ela se importava com o guarda judeu. Por anos os nazistas o chamaram de porco, cachorro e se agora ele realmente se tornasse um monstro, quem então teria ganho, o judeu ou os nazistas? Assim, de acordo com Lola, ela chamou todos os guardas em seu escritório e disse-lhes que, a partir daquele momento, os alemães seriam tratados como seres humanos. E, a partir de então, Lola me disse, foi o que aconteceu.

Escrevendo a Estória de Lola

Agora, esta estória eu gostei. Se for verdade, é uma estória digna de ser contada. Tinha esse sonho: talvez sérvios e croatas leiam-na, católicos e protestantes irlandeses leiam-na, os Hutus e os Tutsis, os israelenses e os palestinos... Talvez eles leiam, e talvez eles aprendam, como Lola aprendeu, que odiar seus vizinhos pode ou não destruí-los, mas com certeza te destruirá. E talvez essas pessoas parem sua vingança, parem seu genocídio.

Nós judeus sempre dizemos do Holocausto, “Nunca mais. Nunca mais pessoas nos machucarão simplesmente porque somos judeus.” Mas Lola estava aparentemente dizendo, “Sim, e nunca mais eu machucarei um alemão porque ele é um alemão.” Cinquenta anos atrás, Lola estava aparentemente dizendo, “Que haja paz na Terra, e que comece comigo.” Esta estória eu queria muito escrever. Então…

Eu começo entrevistando Lola. Na hospedaria de Seven Ray, em Los Angeles. Em um cemitério judeu em Nova Jersey. Nos Campos Elísios em Paris. Entrevisto Lola com e sem registro por dois anos e meio. Suas memórias correm como água, e ela também me apresenta a outras tantas pessoas, todos judeus: pessoas que conheceu em Gleiwitz, guardas de prisão, mesmo o homem que a indicou comandante em Gleiwitz.

Escrevo um artigo de vinte páginas sobre a vingança de Lola e sua redenção. Lola lê e gosta. A estória aparece na revista California. Lola, com recursos próprios, vai até Washington para promovê-lo na Rádio Nacional Pública. A estória é vendida internacionalmente, e é reimpressa nos Melhores Artigos de Revista em 1988. Temos ofertas para filmes. Bette Midler e Suzanne Somers querem interpretar Lola.

E, então, escrevo uma proposta de livro. Escrevo, “É a redenção de Lola, não a vingança de Lola, é sobre isso que fala o livro.” Irei até a Alemanha. Talvez encontre alguns prisioneiros. Irei à Polônia. Talvez encontre alguns guardas. Escreverei o livro. O título será Lola. E, em agosto de 1988, o editor Henry Holt em Nova York disse, “Okay! Queremos esse texto!” Boas notícias, e telefono para Lola.

E Lola no telefone diz, “Escute, John, não quero que você o escreva.” Digo, “Lola? Lola, esta é a primeira vez que você me diz isso.” Digo, “Lola, assinamos um contrato.” Assinamos um. Lola escreveu, “Garanto-lhe o direito exclusivo de escrever e publicar um livro sobre minha vida.”

Ameaças

Aquela noite, vou para o apartamento de Lola em Hollywood. Alguém aqui já esteve numa reunião de condomínio? Lembram-se da sua primeira noite? Todo mundo gritando e berrando. Você fica sentado lá estupefato. Você pensa, “O que está acontecendo?” Bem, estou no condomínio de Lola. Lola está dizendo, “Olha, John. Não quero que você escreva. Você escreve como um repórter. Se você começar a escrever esse livro, tentarei impedi-lo. Eu o impedirei!”

A filha de Lola está lá. Ela está dizendo, “John, desista disso. Estou implorando a você que desista. John, desista!” Uma outra filha de Lola está lá. Ela é advogada, e diz, “John! Você vai ter um processo instantâneo e muito caro!” A filha diz, “John, quero que você assine essa liberação. John! Assine a liberação!” A outra filha diz, “John! Nos deixe! Vá embora!” Lola diz, “John, saia de nossas vidas!”

Vou embora. Telefono para Lola, mas ela não responde. Escrevo-lhe, mas ela me manda a carta de volta, lacrada, inscrito “recusado”.

E não apenas Lola. O segundo em comando na prisão de Gleiwitz era Moshe, também judeu. Ele não falará comigo. Sua esposa ao telefone diz, “Não te damos permissão para escrever isso.” Digo, “ Eu... Você...” Isto é o que digo, “Eu… você… Ninguém precisa de permissão!” Eu tenho permissão, da Constituição dos Estados Unidos da América. A esposa de Moshe desliga.

E então temos Jadzia, também judia, ela era uma das guardas de Lola em Gleiwitz. Jadzia diz ao telefone, “Nunca estive em Gleiwitz!” Então ela diz, “Sim, estive em Gleiwitz, mas nunca falarei sobre isso!” E então ela fala por uma hora dizendo, “Não sei nada, nada, nada, nada. Nada! Nada!”

As pessoas não falarão comigo. As pessoas dizem para outras pessoas, “Não fale com John Sack.” Pessoas falam comigo, e elas mentem para mim. Pessoas dizem que elas me processarão, elas me destruirão, elas me matarão. Um homem pega minha carteira de motorista, escreve meu endereço nela e diz, “Se você escrever a meu respeito, chamarei a Máfia Israelense.”

Eis uma dica. Nunca diga a um repórter, “É melhor você não escrever sobre isso.” Tenho um contrato com Henry Holt. Fiz uma promessa a Henry Holt. Costumo manter minhas promessas.

Fazendo a Pesquisa

Em abril de 1989, viajo para a Alemanha. Vou para este castelo, este castelo de concreto, alto numa montanha sobre o Reno. São os Arquivos Federais Alemães, e eles têm 40.000 depoimentos de alemães durante a Segunda Guerra Mundial que viveram no que é agora a Polônia . Os depoimentos estão, é claro, em alemão, em escrita alemã, e encontro cinco depoimentos de alemães que estiveram na prisão de Lola.

Vou para outro lugar na Alemanha: um grande saguão medieval, com bandeiras em paredes de pedra. É uma reunião de milhares de pessoas de Gleiwitz. Eles estão bebendo cerveja. Estão comendo salsicha e sauerkraut. Estão cantando e rindo, “Ein prosit, ein prosit…” E estou como uma daquelas meninas das flores. Você sabe, a garota que vai de mesa em mesa vendendo rosas? Dou uma volta perguntando, “Uh, com licença. Alguém aqui esteve na prisão de Gleiwitz?” Sim, eu sou estraga-festas. Eu admito. Mas eventualmente acabei encontrando cinco dos prisioneiros de Lola.

Pego o trem para Gleiwitz. Agora, é Gliwice, Polônia. E atravessando a Berlim oriental comunista, sou preso, tirado do trem, e trancado em uma pequena sala porque tenho comigo uma cópia do livro Die Vertreibung der Deutschen Bevölkerung aus den Gebieten östlich der Oder-Niesse (“A expulsão da população alemã dos territórios orientais do Oder-Niesse,” publicado nos anos 1950 pelo governo de Bonn). Horas mais tarde, sou deixado sair e vou para Gleiwitz/Gliwice às quatro da manhã. É uma cidade de duzentas mil pessoas, quase ninguém fala inglês. Não falo polonês, mas encontro três dos guardas de Lola. Eles lembram dela muito bem.

É 1989, a Polônia ainda é comunista, mas vou para a prisão de Lola, nas celas dos prisioneiros. Digo-lhes “Djien dobre. Bom dia.” Vejo os registros da prisão. Lembram-se quando, de acordo com Lola, ela foi ao governo polonês e disse, “Quero vingança”? Bem, encontrei seu pedido, em sua própria caligrafia. Ela escreveu, “Quero cooperar contra nossos opressores alemães.” Encontro o documento oficial apontando ela comandante de Gleiwitz.

Após isso, vou para a Alemanha mais onze vezes, para a Polônia mais três vezes, para a França, Áustria, Israel, Canadá, e quase todos os Estados Unidos. Através de intérpretes, converso com duzentas pessoas em polonês, russo, dinamarquês e sueco, alemão e holandês, francês e espanhol, Ídiche e hebreu. Deixei de fora o inglês. Consigo trezentas horas de entrevistas gravadas em áudio, e vejo milhares de documentos.

O que aprendo? Bem, Lola estava dizendo a verdade. Ela foi comandante em Gleiwitz. E ela estava em busca de vingança. Ela bateu em alemães em todos os cantos. E como ela disse, ela parou. Lembro-me um dia em 1989, tendo um almoço com um de seus guardas no Hotel Leszny. Estamos comendo wienerschnitzel. E do nada esse cara diz, “Você sabe, Lola parou. Ela nos disse, ‘Parem!’ Ela disse, ‘Nós mostraremos aos alemães que não somos como eles.’”

Os Fatos Aparecem

Então, Lola estava dizendo a verdade. Mas ela não estava dizendo TODA a verdade. Lola havia me dito que as pessoas em sua prisão eram soldados alemães. E sim, vinte deles eram soldados alemães, homens que trabalharam como pintores, jardineiros, e coisas do tipo. Mas havia milhares de prisioneiros lá, e eles eram civis alemães: homens, mulheres e crianças.

Um prisioneiro era um garoto de 14 anos. Ele foi para Gleiwitz vestindo calças pretas de escoteiro. Um homem gritou, “Você está vestindo calças pretas! Você é um fascista!,” e ele perseguiu e o golpeou na Igreja de São Pedro e Paulo, e então levou-o para a prisão de Lola. Vejam, o garoto era completamente inocente. Assim como a maioria das pessoas na prisão de Lola. Eles não pertenciam à Gestapo. Eles não eram da SS. Eles sequer eram nazistas. De um total de cerca de mil prisioneiros, apenas 20 foram acusados disso.

Mas os alemães na prisão de Lola eram surrados e chicoteados. E fico triste em dizer que eles também eram torturados. O garoto escoteiro: os guardas encharcaram seu cabelo escuro de gasolina e atearam fogo. O menino ficou louco. Os homens: eles eram surrados com um Totschläger, um “bastão da morte”. É uma mola de metal longa com uma bola presa na extremidade. Você o usa como se fosse uma raquete de tênis. Seu braço, seu punho, a mola: eles têm o triplo da força na cara de um alemão.

Lola não me disse, mas os alemães em sua prisão estavam morrendo. Encontrei seus certificados de óbito na prefeitura de Gleiwitz. Um dos guardas de Lola me disse, “Sim, os alemães morreriam.” Ele me disse, “Colocava os corpos mortos numa carroça conduzida por cavalos. Cobria os corpos com casca de batata de modo que ninguém visse. Levava até os limites do campo, depois eu jogava as cascas fora, levava os alemães até o cemitério católico. Para as covas coletivas.”

Todos nós sabemos sobre Auschwitz. Mas tenho que lhes dizer, os alemães na prisão de Lola foram tratados de forma pior do que ela foi em Auschwitz. Lola em Auschwitz não foi trancada em uma solitária noite e dia. Ela não foi torturada noite após noite. Ela mesma me disse: “Graças a Deus, ninguém tentou nos estuprar. Os alemães não eram permitidos fazer isso.” Mas tudo isso ocorreu na prisão de Lola em Gleiwitz.

Uma mulher com quem conversei sequer era alemã. Ela era polonesa. Em 1945, ela tinha vinte anos de idade: uma estudante de medicina alta, loira, e bonita. Os guardas da prisão de Lola arrancaram-lhe a roupa e lhe disseram, “Vamos nessa!” Eles a esbofetearam e a esbofeteram, noite após noite, até que ela ficar negra e azul. Uma manhã, ela voltou à sua cela e caiu no chão, soluçando. Sua colega de cela perguntou-lhe, “O que é esta coisa que você está vestindo? Oh, oh, é a sua pele.”

E três metros distante estava o escritório de Lola. Lola com seus metais, galões e estrelas. Uma vez eu perguntei-lhe, “Lola, onde você conseguiu aquele uniforme?,” e Lola me disse, “Bem, os russos devem ter dado a mim.” Isto também não era a estória verdadeira.

Lola pertencia à polícia secreta polonesa. Seu nome estava no Departamento de Segurança de Estado, em polonês Urzad Bezpieczenstwa Publicznego. Os alemães o chamavam a “Gestapo polonesa”. Uma de suas missões era reunir suspeitos nazistas. Mas para todos os fins práticos, se você fosse alemão, você era um suspeito nazista. Logo, a missão era reunir alemães, encarcerá-los, interrogá-los e, se eles confessassem, processá-los.

No Departamento de Segurança do Estado, os postos mais baixos eram preenchidos por poloneses católicos, mas a maioria dos líderes era de judeus poloneses. O chefe do Departamento em Varsóvia era um judeu. (Quando estive na Polônia ele já era falecido, mas encontrei alguns de seus familiares.) Os diretores do Departamento, todos ou quase todos, eram judeus.

Na Silésia, a província onde Lola era comandante, o diretor do Departamento de Segurança de Estado era um judeu. Encontrei-o em Copenhagen, um homenzinho careca. O diretor das prisões também era judeu. Encontrei sua família inteira em Tel-Aviv. O secretário de segurança do Estado era um judeu. Encontrei-o algumas vezes em sua casa em Nova Jersey. E, no Departamento de Segurança do Estado na Silésia em fevereiro de 1945, dos oficiais – não recrutas, não guardas, mas tenentes, capitães e cargos maiores – ¼ eram católicos e ¾ eram judeus.

Solomon Morel

Entrevistei 24 deles. E aprendi que o Departamento de Segurança do Estado administrava 227 prisões para prisioneiros alemães, como o de Lola. Ele também administrava 1.255 campos de concentração, e entrevistei quatro de seus comandantes. Eles também eram judeus. Um era o namorado de Lola, um homem que perdeu no Holocausto sua mãe, seu pai, todos os seus irmãos (ele não tinha irmãs), todos os seus tios e tias, e todos menos um de seus primos. Espero que, como eu, vocês possam ter compaixão por Solomon Morel.

Mas uma noite em fevereiro de 1945, Solomon foi enviado para seu campo de concentração na cidade de Swietochlowice. Ele foi para as barracas dos alemães, e disse, “Meu nome é Capitão Morel. Sou um judeu. Estive em Auschwitz. Jurei que faria vingança contra vocês nazistas.” Eles não eram nazistas, mas Solomon disse, “Agora! Todo mundo! Cantem a Canção de Horst Wessel!” Este era o hino nazista. Ninguém quis cantá-lo. Um garoto, de quatorze anos, sequer sabia o que era ele.

Solomon tinha um porrete. Ele disse, “Cantem-no!” Algumas pessoas começaram, “Die Fahne hoch! Die Reihen fest geschlossen...” “Cantem-no! Cantem-no, eu disse!” Eles começaram a cantar, “Limpem as ruas para os batalhões pardos. Limpem as ruas para os homens da Tropa de Choque.” Solomon tinha todo este ódio dentro dele, e ele o liberou. Ele pegou seu porrete e começou a espancar os alemães até a morte. Neste campo, encontrei a certidão de óbito de 1.583 alemães.

Estatísticas de Mortes

Em outros campos e outras prisões, milhares de civis alemães morreram. Homens, mulheres, crianças, bebês. Eles estavam em berços, mas o médico do campo, Dr. Cedrowski – ele era judeu e esteve em Auschwitz – não aquecia as barracas, e não dava leite aos bebês. Ele dava apenas alguma sopa, e 48 dos 50 bebês morreram.

No total, entre 60.000 e 80.000 alemães morreram. Alguns foram assassinados por judeus, alguns por católicos, e muitos por tifo, disenteria, e inanição, mas 60.000 a 80.000 morreram sob a custódia do Departamento de Segurança do Estado. Agora, alguém, um alemão, me disse uma vez que isto foi outro holocausto. Bem, estou certo que pareceu como um holocausto para os alemães.

Mas não vamos nos esquecer: 60.000 é um por cento do número de judeus que morreram no Holocausto com H maiúsculo. Os judeus não fariam o que os alemães fizeram. Não planejamos exterminar o povo alemão. Não mobilizamos todos os judeus e o estado judeu. (Não havia estado judeu.) Não enviamos os alemães sistematicamente para as câmaras de cianeto.

Mas devemos lembrar que 60.000 a 80.000 civis é mais do que os alemães perderam em Dresden, e mais do que os japoneses perderam em Hiroshima, os americanos em Pearl Harbor, os ingleses na Batalha da Inglaterra, ou os judeus em Belsen ou Buchenwald.

Encobrindo a Verdade

Tudo isso foi encoberto por quase 50 anos. Os judeus que estavam envolvidos não falavam a respeito. Por exemplo, o chefe de polícia na Breslau ocupada, Alemanha, em 1945, escreveu mais tarde um livro sobre o Holocausto. E, ao falar sobre sua época como chefe de polícia em Breslau, tudo o que ele disse foi, “Nos movemos para oeste para Breslau e... de lá para Praga.” Isto é tudo. E os repórteres judeus que sabiam não escreveram sobre o caso. Há um repórter na ativa agora em Nova York que esteve na Polônia logo após a Segunda Guerra Mundial. Ele me disse, “O que quer que seja que os alemães te digam, acredite-me, é verdade.” Mas ele próprio, jamais escreveu sobre o assunto.

A verdade foi encoberta, e estava sendo escondida. Em 1989, fui até o Yad Vashem em Jerusalém, o centro do Holocausto de Israel. Como vocês devem saber, eles têm 50 milhões de documentos lá sobre o Holocausto. Perguntei-lhes, “Bem, o que vocês têm sobre o Departamento de Segurança do Estado?” Nada. Eu digo, “Bem, lá havia comandantes judeus, diretores judeus,...” O gerente do Yad Vashem responde, “Isso parece totalmente fantasioso,” e o diretor dos arquivos me diz, “Impossível! Impossível!”

Negação, negação. Sei que negação é uma coisa muito humana. Mas historicamente, não acho que seja uma característica judaica. Quando Abraão, Isaac e Jacó cometeram o mal, nós judeus não o negamos. Sim, Abraão, o patriarca de nosso povo, pecou. Deus lhe disse para ir a Israel, ao invés de ir para o Egito, e admitimos isso no Livro do Gênesis. Judá (a palavra “judeu” vem de Judá) fez amor com uma prostituta. Admitimos isso no Gênesis. Moisés, mesmo Moisés pecou, e Deus não deixou ele entrar na Terra Prometida. Admitimos isso em Deuterônimo. Salomão – o bom, sábio, Rei Salomão – praticou a maldade. Ele “adorou ídolos”. Não encobrimos. Admitimos isso no Livro dos Reis.

Me parece que esta é a tradição judaica. Como podemos dizer para outras pessoas – para alemães, sérvios, Hutus – “O que você está fazendo está errado,” se nós próprios o fazemos e encobrimos? Gostaria que fosse outra pessoa que estivesse aqui hoje. Abraham Fox. Elie Wiesel. Gostaria que ele ou ela simplesmente dissesse sim, alguns judeus, alguns judeus, cometeram o mal em 1945. Mas quando o establishment judeu não diz, então eu tenho que dizer.

Sou um repórter. Isto é o que os repórteres fazem. Alguém mata 60.000 pessoas, nós denunciamos. Se não denunciarmos, isso pode se tornar comum, ou mais comum do que já é. Mas também sou judeu, e o Torá diz (Leviticus 5:1) que se alguém comete um pecado, e se você sabe e não denuncia, então eu sou culpado também.

Então, comecei a escrever esse livro. O título agora não será Lola. Será Olho por Olho. E na terceira página eu escrevo, “Espero que Olho por Olho seja algo mais do que a estória da vingança judaica: seja a estória da redenção judaica.” Escrevo sobre judeus fazendo vingança, sim. Mas isto é 1/10 de Olho por Olho. A maior parte escrevo...

Escrevo sobre Zlata, Moshe, Mania e Pola. Eles foram judeus que se recusaram a ver, muito menos participar, do trabalho na prisão de Lola. Escrevo sobre Ada, que visitou a prisão uma vez, apenas uma vez, e então fugiu para Israel. Escrevo sobre Shlomo, que esteve no Departamento de Segurança do Estado e, correndo risco de vida, disse as pessoas lá, “vocês têm que parar com isso.”

Escrevo sobre Lola. Escrevo que em Gleiwitz ela finalmente se lembrou como um judeu deve se comportar, e correndo risco de vida, ela conseguiu pão, seu próprio pão tirado de sua casa, e o enviou para prisioneiros alemães. Agora, isto não é algo que Lola me contou. Não, foram os guardas da prisão. Eles disseram que se Lola fosse pega, ela teria ido para a prisão.

E escrevo sobre o Yom Kippur, 1945, Lola – novamente correndo risco de vida – escapa de Gleiwitz, como ela escapou alguns meses antes de Auschwitz, e vai para os Estados Unidos. Quase todos os judeus no Departamento de Segurança do Estado escaparam, correndo risco de vida, em setembro, outubro e novembro de 1945. E escrevo sobre isso também. Eles atravessaram as florestas da Alemanha, ou escalaram a passagem pela Itália. Eles fizeram o que a SS nunca fez: eles desertaram.

Rejeição

Estava chorando enquanto escrevia isto. Meu adiantamento de Henry Holt foi U$ 25.000 e, por três anos, escrevi Olho por Olho. Em setembro de 1991, finalmente o concluí, embalei-o e o enviei para Henry Holt em Nova York. E disse a mim mesmo: “Ok. Está feito. Este é o fim do mistério.”

Não. Porque as pessoas disseram a Henry Holt, “Não o queremos.” Eles não dizem que está errado. Eles sabem que está certo. Eles apenas dizem, “Não não queremos publicá-lo. Guarde os U$ 25.000.” Okay. Meu agente e eu enviamos o manuscrito para outras editoras: para a Harper, para a Scribner – você conhece o nome, nós enviamos – para duas dúzias de outras editoras.

E deixe-me dizer-lhes. As cartas que recebemos dessas pessoas, eram praticamente sinopses. Os editores dizem: “bem escrito,” “extremamente bem escrito”, “deprimente”, “atraente”, “perturbador”, “desalentador”, “chocante”, “surpreendente”, “extraordinário”, “influenciador”, “fiquei colado”, “fiquei surpreendido”, “Amei!” E todos os editores o rejeitaram. A carta da St. Martin Press diz, “Sempre me emocionei com livros do Holocausto, mas não teria problema de diferenciar este livro... de outros livros... na vasta área da literatura.”

Ok. Meu agente e eu concordamos que se não podemos vender um livro, tentaremos revistas. Um dos capítulos é sobre Solomon Morel. Lembram-se? O homem que perdeu sua mãe, pai, todos os seus irmãos, tios e tias no Holocausto. O homem que tinha tanto ódio pelos alemães, ele tinha que colocá-lo para fora, que comandou um campo de concentração em Swietochlowice, e bateu nos alemães até a morte.

Solomon ainda está vivo*. Ele é procurado pela Interpol por crimes contra a humanidade. A Interpol tem permissão internacional para conseguir sua prisão. Mas ele fugiu para Israel. Ele pegou asilo em Tel Aviv, e ninguém na América – nenhum jornal, revista ou rede de TV – jamais revelou isso.

Então, enviamos o capítulo sobre Solomon Morel para a revista Esquire. Fui editor lá, correspondente de guerra no Vietnã, Iraque, Bósnia. A Esquire diz, “Não.” Enviamos para a revista GQ. A GQ diz, “Sim!” O editor diz que é a estória mais importante na história da GQ. Ele mesmo diz que falou para um editor da Esquire em um bar em Greenwich Village “Ha, ha! Você não a tem! Nós temos!”

Por seis semanas, GQ revisa o artigo. Eles não encontram um único erro. Eles me enviam a prova de galé**, provas de página*** e na quarta-feira, as impressoras começam a rodar. E então o telefone toca em minha casa em Rocky Mountains. O editor da GQ diz, “John, esta não é uma chamada boa. Não vamos circulá-lo.” Ele me fala que posso ficar com os U$ 15.000 e vender a estória para qualquer outro.

Então, mais uma vez, meu agente e eu estamos fazendo ligações, enviando faxes, repassando as provas de página da GQ. A revista Harper diz não. A Rolling Stone diz não e “Estou certo que compreenderá.” Mother Jones, aquela grande revista exibicionista (“Extra! Extra! Cigarros fazem mal para você!”) sequer dá uma resposta. A New Yorker (a qual publicou dez artigos meus) se recusa a sequer olhá-lo.

* Em 1998, 2004 e 2005, a Polônia pediu sua extradição para julgamento por crimes contra a humanidade. Todos os pedidos foram recusados pelo governo de Israel. Solomon Morel morreu em 2007 em Israel.
** prova de galé: esboço de prova inicial de uma coluna ou trecho de texto, impresso num longo pedaço de papel.
*** provas de página: provas que são divididas em páginas, mas não precisam ter número de páginas ou cabeçalhos inseridos.

O Ataque Começa

Mas finalmente, finalmente, em março de 1993, a estória de Solomon Morel é publicada no Village Voice. E em novembro, Olho por Olho é publicado pela Basic Books, uma divisão da Harper Collins. Então, graças a Deus, agora tudo acabou. Posso relaxar agora. Não.

Pois um dia depois, há uma ligação para a Basic Books. É do diretor executivo do Congresso Mundial Judaico. Ele diz que quer a imediata retratação, e se ele não a conseguir, ele convocará uma entrevista coletiva amanhã. Ele diz que me denunciará, a Basic Books, e a Harper Collins, e diz “Eles são todos antisemitas.” Bem, não retrataremos, e o Congresso Mundial Judaico não nos denuncia. Mas...

Então, as críticas aparecem. E os críticos dizem que Olho por Olho não é verdade, que o que eu escrevi nunca aconteceu.

Por favor! Muito de Olho por Olho foi checado pela revista California, checado GQ e pela Village Voice, checado por uma mulher que é analista do Inferno. Ela e eu checamos toda e qualquer palavra, mesmo se tivéssemos que telefonar para a Polônia. E quando, após duas semanas, noite e dia, finalmente terminamos, o editor da Voice deu uma entrevista dizendo, “Isto pode ser a estória mais verdadeira na história do jornalismo americano.”

Muito de Olho por Olho foi corroborado pelo Sixty Minutes, que encontrou oito testemunhas que eu não havia achado. Foi corroborado pelo New York Times e pelo Herald Tribune. Historiadores pagos pelos principais jornais da Alemanha visitaram os Arquivos Federais Alemães e escreveram, “Os fatos estão certos,” “Os fatos são duros.”

Mas nos Estados Unidos, uma crítica foi intitulada “Falsa Testemunha”. Uma outra foi chamada de “A Grande Mentira continua”.

O jornal judeu Forward disse, “Sack está claramente escrevendo docudrama,” e disse aos leitores que Lola Potok não era comandante da prisão em Gleiwitz. Bem, a própria Lola me disse, “Eu era comandante,” e 35 outras pessoas, incluindo o atual comandante, incluindo o atual diretor da prisão, disseram sim, Lola era comandante. Tenho o documento que diz “Apontamos a cidadã Lola Potok comandante.” e eu tenho o documento assinado por Lola Potok, comandante. Mas ainda assim a Forward diz, “A impossibilidade disso é arrasadora, mas Sack... parece... esquecido.” Ao ler isto, senti que estava sendo repreendido por Grouxo Marx. Lembram-se? “Em quem você acreditará? Nos seus olhos ou em mim?” Escrevi uma carta para a Forward. Nos últimos sete anos, tive que escrever, na minha conta, umas 1.500 cartas sobre Olho por Olho. E todas estas cartas, somadas, são o dobro do tamanho do livro.

Vocês podem estar pensando. Que tipo de louco eu sou? Por que eu não mando tudo para o inferno? Por que continuo?

Vou dizer-lhes. Há 85.000 livros sobre o Holocausto. E nenhum deles, se você me perguntar, tem uma resposta honesta para a questão, “Como os alemães puderam fazê-lo?” Como puderam os alemães – o povo que nos deu Beethoven, a Nona Sinfonia, o Ode à Alegria, “Alle Menschen werden Brüder”, Todos os homens serão irmãos” – perpetrar o Holocausto?

Este mistério, temos que rsolvê-lo. Temos que fazer isso, ou continuaremos tendo genocídios no Camboja, Bósnia, Zaire. Bem, o que eu relatei em Olho por Olho é que Lola resolveu o problema. Os judeus do Escritório de Segurança do Estado resolveram o problema. Pois em sua agonia, seu desespero, sua insanidade, se vocês quiserem, eles sentiram que se tornaram como os alemães – os nazistas.


Informações sobre o livro:

http://www.johnsack.com/an_eye_for_an_eye_3.htm

segunda-feira, 28 de maio de 2012

[ARM] O Bombardeiro Invisível de Hitler

Daily Mail, 8 de julho de 2009


Com suas linhas leves e elegantes, este poderia ser um protótipo para algum futuro sucessor para o bombardeiro invisível.

Mas essa asa voadora foi na verdade projetada pelos nazistas 30 anos antes que os americanos desenvolvessem com sucesso a tecnologia de invisibilidade a radar.

Agora, uma equipe de engenharia reconstruiu o Horten Ho-229 a partir da planta original, com resultados surpreendentes.

Ele era mais rápido e mais eficiente que qualquer outra aeronave do período e suas propriedades de invisibilidade funcionavam contra o radar.

Especialistas estão convencidos agora que, se fosse dado um pouco mais de tempo, a entrada em operação dessa aeronave teria alterado o curso da guerra.




Construída e testada originalmente em vôo em março de 1944, ela foi projetada com um alcance e velocidade maiores do que qualquer outro avião previamente construído e foi a primeira aeronave a usar a tecnologia da invisibilidade, agora utilizada pelos EUA em seus bombardeiros B-2.

Felizmente, os engenheiros de Hitler construíram somente três protótipos, testados para serem arrastados atrás de um planador e não foram capazes de construí-los em escala industrial antes da invasão das forças aliadas.

Dos tanques Panzer até o foguete V-2, há muito tempo reconhece-se que a inteligência tecnológica da Alemanha durante os anos de guerra estava muito à frente da dos Aliados.

Mas em 1943, o alto-comando nazista temia que a Guerra estava virando contra a Alemanha e houve um desespero em crier novas armas para ajudar a mudar a maré.

Os bombardeiros nazistas estavam sofrendo muito diante da velocidade e manobrabilidade do Spitfire e outros caças aliados.

Hitler também estava desesperado em criar um bombardeiro com alcance e capacidade de atingir os Estados Unidos.




Em 1943, o chefe da Luftwaffe, Hermann Goering, exigiu que os projetistas criassem um bombardeiro que alcançassem sua exigência de “1.000, 1.000, 1.000” – um que carregasse 1.000 kg por 1.000 km voando a 1.000 km/h.

Dois irmãos pilotos na faixa dos trinta anos, Reimar e Walter Horten, sugeriram um desenho em “asa voadora” que eles haviam trabalhado por anos.

Eles estavam convencidos que com seu arrasto e falta de resistência ao vento tal avião encontraria as exigências de Goering.

A construção de um protótipo começou em Göttingen na Alemanha em 1944.

A fuselagem central era feita de tubo de aço soldado, e foi projetada para ser alimentada por um motor BMW 003.



A inovação mais importante foi a idéia de Reimar Horten de revesti-lo em uma mistura de pó de carvão vegetal e resina de madeira.

Ele pensava que as ondas eletromagnéticas do radar seriam absorvidas e, em conjunção com as superfícies esculpidas da aeronave, ela seria quase invisível para os detectores de radar.

Isto era o mesmo método eventualmente usado pelos Estados Unidos em sua primeira aeronave invisível no início dos anos 1980, o F-117A Nighthawk.

Após a guerra, os americanos capturaram o protótipo do Ho-229 junto com seus desenhos de projeto e usaram alguns de seus avanços tecnológicos para ajudar em seus próprios projetos.

Mas especialistas sempre duvidaram das afirmações que o Horten poderia de fato funcionar como uma aeronave invisível.

Os irmãos Horten

Agora, usando os desenhos originais e o único protótipo sobrevivente, a Northrop-Grumman (a empresa de defesa por trás do B-2) construiu uma réplica em escala natural do Horten-229.

Isso consumiu 2.500 homem-hora e U$ 250.000,00 e, apesar de a réplica não poder voar, ela foi testada com radar colocando-a em um poste articulado de 15,3 metros e exposta a ondas eletromagnéticas.

A equipe demonstrou que, apesar de a aeronave não ser completamente invisível ao tipo de radar usado na guerra, ela seria invisível e rápida o suficiente para garantir que alcançaria Londres antes que os Spitfires pudessem ser acionados para interceptá-lo.

“Se os alemães tivessem tido tempo para desenvolver estas aeronaves, elas bem poderiam ter tido um impacto,” diz Peter Murton, especialista aeronáutico do Museu Imperial de Guerra em Duxford, no distrito de Cambridge.

“Teoricamente, a asa voadora era um projeto de aeronave muito eficiente que minimizava o arrasto. Esta é uma das razões por que ela poderia alcançar altas velocidades em mergulho e planagem e tinha um longo alcance incrível.”

A pesquisa foi filmada para um documentário posterior do canal da National Geographic.


http://www.dailymail.co.uk/news/article-1198112/Sleek-swift-deadly--Hitlers-stealth-bomber-turned-tide-Britain.html#ixzz1wAvc4DUq

Documentário da National Geographic:



domingo, 27 de maio de 2012

[POL] "Mein Kampf é o explosivo, estamos retirando o pavio."

Der Speigel, 23/05/2012


O polêmico Mein Kampf de Hitler tem sido uma zona proibida entre as editoras alemãs. Mas um instituto histórico de Munique está agora publicando a primeira edição acadêmica do livro desde a Segunda Guerra Mundial. Em uma entrevista para a Spiegel, o responsável pelo projeto, Christian Hartmann, discute por quê isso é tanto controverso como necessário.




Spiegel: Com 12 milhões de cópias, o polêmico Mein Kampf de Hitler figura entre os maiores best-sellers da história. O texto é também disponível gratuitamente online. O que o senhor espera alcançar publicando uma edição acadêmica anotada?

Hartmann: Vemos a nós mesmos como uma equipe anti-bomba. "Mein Kampf" é o velho projétil de artilharia, e estamos removendo o pavio. A idéia é desmistificar o livro com uma nova introdução e especialmente com comentários acadêmicos inseridos. Isto remove o valor simbólico do livro e o torna o que ele realmente é: um registro histórico, e nada mais.

Spiegel: Wolfgang Benz, o historiador e antigo chefe do Centro para Pesquisa em Antisemitismo (ZfA) na Universidade Técnica de Berlim, acredita que esta edição anotada é desnecessária, pois ele vê o livro de Hitler como contendo nada mais do que "clichés pessoais odiosos sem qualquer critério."

Hartmann: Eu vejo de uma forma completamente diferente. Este livro é de significado chave para entender as políticas de Hitler. Nele, ele ele faz um balanço de sua situação depois de uma vida bastante agitada até aquele ponto. Ler este livro deixa pouco apoio à teoria de um ditador fraco. De fato, é perturbador ver o quão precisamente Hitler implementou o que ele escreveu aqui nos anos subseqüentes.

Spiegel: O senhor acha que é essencial para os alemães lê-lo agora, 67 anos após o fim da guerra?

Hartmann: Queremos estabelecer um debate intelectual dinâmico. Ao fazer isso, não estamos simplesmente confrontando a sociedade com material bruto, como alguns fazem. Esclarecemos de onde as idéias políticas de Hitler vieram, quão verdadeiras ou falsas elas são, e qual o significado que elas tiveram nas políticas e ideologias nazistas. Estamos revelando, por exemplo, os contrastes entre as teorias raciais de Hitler e as descobertas em genética humana.

Spiegel: O Estado da Bavária manteve os direitos de "Mein Kampf" desde o final da Segunda Guerra e, apesar de o livro não ser oficialmente proibido na Alemanha, a Bavária não permitiu a sua publicação desde então. Mesmo assim, qualquer um que quiser ler o texto original pode simplesmente baixá-lo de um servidor em outro país ou comprá-lo de um sebo. O quão perigoso é este livro hoje?

Hartmann: Partes dele são muito perigosas, se somente expressam antisemitismo. E há, por outro lado, muita agitação - contra o parlamentarismo, contra a monarquia, a classe média e a Igreja. Além disso, é óbvio que não é a primeira vez que Hitler está sendo publicado. A publicação terá um impacto relativamente limitado.

Spiegel: Foram as décadas de proibição de publicação deste livro na Alemanha que acabou causando o interesse nele hoje em dia?

Hartmann: Nas palavras de Wolf Biermann: "Queremos exatamente as coisas que estamos proibidos de ter." O livro é, certamente, de alto valor simbólico. Além disso, a força de ocupação americana sabia o que estava fazendo quando proibiu este livro. Na época, era uma coisa completamente certa a fazer.

Spiegel: Mesmo se milhões de alemães já o tenham tido em suas cabeceiras?

Hartmann: Mas eles sabiam que não poderiam deixar o "Mein Kampf" "voando" por aí. Aquela geração foi altamente suscetível à esta linguagem e a esta retórica. A situação atual é completamente diferente.

Spiegel: Em uma parte do "Mein Kampf" lemos: "Exemplos do Ovo de Colombo aparecem ao nosso redor às centenas de milhares; mas observadores como Colombo são raros." Como tal contra-senso pode ter tido sucesso?

Hartmann: Hitler era auto-didata e, falando estilisticamente, o livro é fundamentalmente defeituoso. Sua atmosfera é estúpida, opressiva e inferior. Mas ninguém deve subestimar a inteligência de Hitler, assim como a história do Nacional Socialismo tem sido uma história de subestimação. O livro também contém observações perspicazes. E é um livro que foi mesmo mais importante para seu autor do que para seus leitores. É nele que Hitler desenvolveu a visão que ele mais tarde materializaria. Ele era um revolucionário, um pensador pragmático e um estadista, todos em uma única pessoa - o que é, incidentemente, um fenômeno histórico raro.

Spiegel: Apesar de ter abandonado os estudos, Hitler alude a Schopenhauer e Goethe em seu livro. Ele o escreveu sozinho?

Hartmann: Ele provavelmente não teve qualquer ajuda direta, e aparentemente datilografou o manuscrito sozinho. Hitler tinha lido muito, a maioria de fontes secundárias. Ele tinha poucas idéias originais; sua originalidade está no modo de combinar o que ele selecionava de sua leitura, da efervescência dos séculos XIX e XX.

Spiegel: No final da Segunda Guerra, o livro havia vendido 12 milhões de cópias. Casais recebiam uma cópia gratuitamente quando casavam. Mas quantas pessoas realmente o leram?

Hartmann: Esta pergunta é discutida até hoje. A velha geração de historiadores é mais céptica neste ponto, enquanto pesquisas mais recentes tentam provar que as pessoas realmente o consumiram, através de números de vendas e empréstimos de bibliotecas. Eu não acredito nisso. Qualquer pessoa que o folheie percebe o quão pesado e tedioso ele é. O leitor médio dificilmente passa das 30 páginas.

Spiegel: Ideólogos líderes no partido nazista, tais como Alfred Rosenberg e Joseph Goebbels, não se interessaram tanto pelo "Mein Kampf", segundo seus próprios diários. Por que, então, o livro é considerado ter tido um papel fundamental para o partido?

Hartmann: No começo, os principais líderes no partido nazista tinham idéias diferentes do que significava o Nacional Socialismo. No final, foi Hitler que prevaleceu. E este livro contém seu programa, mais ou menos formulado abertamente. Não foi por nada que o Primeiro-Ministro Winston Churchill mais tarde disse que este livro, mais do que qualquer outro, merecia ser estudado com cuidado pelos políticos aliados e líderes militares após Hitler assumir o poder.

Spiegel: O livro foi também traduzido para outras línguas a partir de 1933. Qual foi seu impacto no estrangeiro?

Hartmann: Limitado. Os nazistas também alteraram essas edições. Por exemplo, ataques contra o grande arquinimigo da Alemanha foram diminuídos na versão francesa do livro.

Spiegel: Além da sua edição acadêmica do "Mein Kampf", há também planos de ensinar livro nas escolas. Isto imediatamente provocou protestos da associação de professores na Bavária, que dizem que é como tentar proteger as crianças do alcoolismo permitindo-lhes que experimentem bebidas alcoólicas. O senhor compartilha dessa idéia?

Hartmann: Ele é um documento-chave do Nacional Socialismo e, a partir dele, qualquer um pode aprender as distorções e mentiras que Hitler usava. Lidar com esta história tem sido rotina nas escolas alemãs por anos. O "Mein Kampf" não vai virar de cabeça para baixo a educação.


http://www.spiegel.de/international/germany/german-historian-discusses-new-scholarly-edition-of-hitler-s-mein-kampf-a-834560.html

sexta-feira, 25 de maio de 2012

[ARM] Tanque Leopard

O “Leopard” (ou Leopard 1) é um carro de combate com projeto e produção alemãs que entrou em serviço em 1965 e foi usado como tanque de batalha principal (MBT, sigla em inglês) da Alemanha e outros países, como Austrália, Canadá, Brasil e Chile.

O projeto do Leopard iniciou como uma colaboração entre a Alemanha e a França em novembro de 1956 para desenvolver um tanque moderno, o Padrão Panzer” para substituir os tanques M47 e M48 Patton de origem norte-americana da Bundeswehr, os quais haviam sido entregues à Alemanha Ocidental após a formação de seu novo exército e que rapidamente tornaram-se obsoletos. Entretanto, a parceria entre os dois países terminou e, em 25 de julho de 1957, as especificações detalhadas foram feitas.

O novo projeto precisava pesar não mais do que 30 toneladas métricas, ter uma razão potência-peso de 30 HP/ton, ser capaz de resistir a impactos de canhões de 20 mm com alta taxa de tiro em todos os lados do veículo, assim como operar em teatros contaminados por armas químicas e radiações nucleares, o padrão então reconhecido para testes com as forças do Pacto de Varsóvia. Além disso, o principal armamento tinha de ser um canhão de 105 mm de calibre (o novo canhão inglês L7A3 de 105 mm foi o selecionado), carregando pelo menos tantos cartuchos quantos os especificados para os tanques americanos. A mobilidade foi priorizada, enquanto que o poder de tiro ficou em segundo plano; a blindagem foi vista como menos essencial, já que se acreditava não haver proteção real contra as armas de carga de depressão (hollow charges). No total foram produzidas 6.485 unidades, das quais 4.744 eram tanques de combate e 1.741 variações anti-aéreas, não incluindo 80 veículos protótipos e pré-série.

Desde 1990 o Leopard 1 foi relegado a papéis secundários na maioria dos exércitos. No exército alemão, o uso do Leopard 1 MBT foi descontinuado em 2003, enquanto que os veículos derivados ainda estão em atividade. Os MBTs Leopard 2 assumiram o papel de carros-chefes de combate.

Especificações Técnicas
  • Peso = 42,2 toneladas
  • Comprimento = 9,54/8,29 m (canhão expandido/retraído)
  • Largura = 3,37 m
  • Altura = 2,39/2,70 m (torre rotatória/absoluta)
  • Tripulação = 4 (comandante, piloto, artilheiro e operador de rádio/carregador)
  • Alcance Operacional = 600 km (em estradas)/450 km (em terreno acidentado)
  • Velocidade = 65 km/h
  • Armamento Primário = canhão raiado inglês L7A3 L/52 105 mm
  • Armamento Secundário = 2 metralhadoras MG-3 de 7,62 mm (co-axial e escotilha do comandante)


 Leopard 1

O Leopard 2 é um MBT alemão desenvolvido pela empresa Krauss-Maffei no início dos anos 1970 e entrando em serviço em 1979. O Leopard 2 substituiu o seu antecessor Leopard 1 como o carro-chefe de combate do exército alemão. Várias versões têm servido as forças armadas da Alemanha e outros dez países europeus, assim como outras nações. Mais de 3.840 destes veículos foram produzidos desde aquela data.

Há duas linhas principais de desenvolvimento do tanque, os modelos até o Leopard 2A4 que possui chassis de tiro móvel de perfil vertical, e a linha “melhorada”, chamada Leopard 2A5 e as versões mais novas, que tem chassis de tiro móvel em forma de flecha com outros melhoramentos. Todos os modelos possuem sistemas de controle de tiro digitais com localizadores a laser, um canhão principal giro-estabilizado, uma metralhadora coaxial e equipamentos de rastreamento e visão noturna avançados (os primeiros veículos usavam um sistema de TV com baixo nível de luminosidade; o sensoriamento térmico foi introduzido mais tarde). O tanque tem a habilidade de alcançar alvos móveis enquanto se desloca por terreno acidentado. Ele pode se deslocar sob água com uma profundidade de até 4 metros usando um sistema de renovação de ar ou 1,2 metro sem qualquer preparação; também pode escalar obstáculos verticais acima de um metro de altura. O tanque é alimentado por um motor a diesel V12 que produz 1.500 HP (ou 1.103 kW).

O Leopard 2, algumas vezes chamado informalmente A0 para diferencia-lo das versões posteriores, foi a primeira série a ser produzida. Os veículos foram manufaturados de outubro de 1979 até março de 1982, ao todo 380 peças. Destas, 209 foram construídas pela Krauss-Maffei e 171 pela MaK. O equipamento básico consistia de sistemas eletro-hidráulicos WNA-H22, um computador de controle de tiro, um localizador a laser, um sensor de vento, um telecópio de uso geral EMES 15, um periscópio de panorama PERI R17, uma mira de torre FERO Z18 e um computador de controle para a torre móvel.

Duzentos destes veículos possuíam um realçador de luz baixa (PZB 200) ao invés de sensoriamento térmico. Dois chassis serviram como veículos de treino de direção.

O primeiro cliente externo foi a Holanda, a qual recebeu 445 veículos entre julho de 1981 e julho de 1986. A Holanda mais tarde revendeu 114 destes para a Áustria e 80 para o Canadá em 2007, outros 52 para a Noruega e finalmente 37 para Portugal. A Suécia também adquiriu 280 Leopards, 160 2A4s dos estoques alemães, designados “Stridsvagn 121” e “122”, em configuração similar ao Leopard 2A5. A Espanha primeiro arrendou e depois comprou 108 unidades do modelo 2A4, para logo em seguida substituí-los. A Suíça comprou 380 peças entre 1987 e 1993. Outros países também usaram essa versão do tanque, inclusive Polônia, Dinamarca, Finlândia, Grécia, Turquia e Chile. A Alemanha colocou em campo cerca de 2.125 peças do Leopard 2 em suas várias versões. O projeto também foi testado pela Inglaterra nos anos 1980, que acabou optando pelo Challenger 2. O exército australiano avaliou o Leopard 2 como um substituto para seus antigos Leopard 1, mas acabou ficando com o M1A1 Abrams norte-americano.

Especificações Técnicas
  • Peso = 62,3 toneladas
  • Comprimento = 9,97 m (canhão expandido)
  • Largura = 3,75 m
  • Altura = 3 m
  • Tripulação = 4 (comandante, piloto, artilheiro e operador de rádio/carregador)
  • Alcance Operacional = 550 km (combustível interno)
  • Velocidade = 72 km/h
  • Armamento Primário = canhão de alma lisa Rheinmetall L55 120 mm/42 cartuchos
  • Armamento Secundário = 2 metralhadoras MG-3A1 de 7,62 mm/4.750 cartuchos

Leopard 2

Exército Popular Nacional - NVA

“Com o fim do NVA… morreu o último e verdadeiro Exército Alemão.”

Ex-inspetor do Bundeswehr, citado no livro German Military Cufftitles, 1784 – Present (Faixas Decorativas Militares Alemãs de Borda de Manga).


Origem

No final da Segunda Guerra Mundial, os Aliados e a URSS dividiram grande parte do mundo entre si. A Alemanha não foi exceção. O país foi dividido em quatro zonas de ocupação (figura 1), que mais tarde evoluíram para dois países separados e crescentemente antagonistas: a Alemanha Ocidental (República Federal Alemã), aliada dos EUA, e a Alemanha Oriental (República Democrática Alemã), aliada da URSS. Ambos os lados enganaram os acordos de cessar-fogo que impediam que as duas Alemanhas desenvolvessem forças armadas. Com a ajuda dos soviéticos, a Alemanha Oriental formou grupos policiais de vários tipos – terra, ar, água e outros – para burlar essas restrições. No início dos anos 1950, estes grupos policiais expandiram-se para o tamanho de pequenos exércitos, cada qual com suas próprias funções administrativas e militares.


Figura 1


A criação do NVA em 1 de março de 1956, seis meses após a formação da Bundeswehr na Alemanha Ocidental, seguiu anos de preparação durante os quais antigos oficiais da Wehrmacht e veteranos comunistas da Guerra Civil Espanhola ajudaram a organizar e treinar unidades paramilitares da Polícia Popular*. O Partido Socialista (SED) queria romper com o passado e criar um “Exército Popular” e lembrou-se das “guerras populares” na história alemã, tais como a Guerra dos Camponeses em 1525 e a Revolução de 1848. Mesmo assim, o NVA manteve o tradicional uniforme cinzento e os rituais de juramento para as cores do regimento. Por outro lado, a doutrina e estrutura do NVA foram fortemente influenciadas pelas forças armadas da URSS, assim misturando elementos das mais inovadoras e bem sucedidas escolas militares numa força que, pelo seu tamanho, foi considerada uma das mais bem preparadas e profissionais do mundo.

Durante seus primeiros anos, cerca de 27% dos oficiais do corpo do NVA haviam servido na Wehrmacht. Dos 82 postos de alto comando, 61 eram mantidos por ex-oficiais da Wehrmacht. O conhecimento militar e experiência de combate destes veteranos foram indispensáveis nos primórdios do NVA, apesar de por volta dos anos 1960, a maioria destes homens já terem se aposentado. Analogamente, a Bundeswehr estabeleceu suas bases na experiência de oficiais da Wehrmacht, que inicialmente constituíram a maioria dos postos do oficialato.

Nos primeiros seis anos, o NVA foi uma força de voluntários. A Alemanha Ocidental, por outro lado, reintroduziu o serviço militar obrigatório em 1956. O alistamento foi finalmente introduzido em 1962, e a força do NVA aumentou para cerca de 170.000 soldados.

Como os partidos comunistas de outros países, o Partido da Unidade Socialista da Alemanha, ou SED, garantiu o controle através da indicação de membros partidários leais para altas posições e organizando intensa educação política em todos os postos. A proporção de membros do SED no corpo de oficiais aumentou consideravelmente no início dos anos 1960, eventualmente alcançando quase 95% do corpo de oficiais.

O NVA descrevia-se como o “instrumento de poder da classe trabalhadora”. De acordo com sua doutrina, o NVA protegia a paz e garantia os objetivos do socialismo pela manutenção de uma intimidação convincente contra a agressão imperialista. A filosofia do NVA, inscrita em sua bandeira, era “Para a Proteção do Poder dos Trabalhadores e Camponeses”.

Um dos maiores problemas da Alemanha Oriental em seus anos iniciais era o êxodo em massa de cidadãos para a Alemanha Ocidental. Em 1961, 207 mil pessoas abandonaram o país, e uma grande proporção deles era jovem, membros da sociedade bem educados e melhor produtivos. Para parar com isso, o governo usou 32.000 soldados do NVA para construir o Muro de Berlim, iniciando em 13 de agosto de 1961. Após construir o muro, o alistamento dói regularizado. Temia-se que o alistamento levaria a maiores deserções, mas o muro resolveu o problema. Em 24 de janeiro de 1962, o Ato de Serviço Nacional exigia 18 meses de serviço militar para todos os homens de 18 a 26 anos. Em 1987, o NVA contava com um efetivo de 175.300 homens, sendo que 54% eram alistados. Vale lembrar, contudo, que estas forças estavam subordinadas às forças soviéticas estacionadas na Alemanha Oriental, que eram de 380 mil organizados em 20 divisões de infantaria e uma de força aérea. Para contrabalançar a OTAN, os soviéticos colocaram essas tropas na RDA para garantir a segurança interna e manter os alemães orientais afastados da ideia de um levante contra o Comunismo.

O NVA jamais entrou em combate, apesar de ter dado suporte na repressão da Primavera de Praga em 1968. Foi a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que tropas alemãs marcharam em solo estrangeiro. Além disso, oficiais da NVA serviam freqüentemente como consultores de guerra na África. Quando a União Soviética preparou a ocupação da Tchecoslováquia, o governo da RDA originalmente planejou usar a 7ª. Divisão Panzer e a 11ª. Divisão de Infantaria Motorizada para apoiar a intervenção, porém o medo da reação internacional à preparação de tropas alemãs fora da Alemanha pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra causou preocupação. Ao invés disso, o NVA forneceu ajuda logística quando as tropas da URSS avançaram pela Tchecoslováquia e permaneceram na fronteira prontas para intervir no caso do Exército soviético não conseguir reprimir os rebeldes. No outono de 1981, o NVA preparou-se para intervir na Polônia em apoio a uma possível invasão russa, mas a declaração de lei marcial impediu a crise.

O NVA permaneceu em estado de alerta em diversas ocasiões, inclusive na construção do Muro de Berlim em 1961, na Crise dos Mísseis Cubanos em 1962, na intervenção da Tchecoslováquia pelo Pacto de Varsóvia em 1968 e, pela última vez, no outono de 1989 para reprimir protestos civis dentro do país.

Em 1988, a Marinha Popular teve um breve confronto hostil com as forces navais polonesas em uma disputa de fronteira marítima; em negociações subsequentes, cerca de dois terços da área disputada foram cedidos À RDA.

O NVA foi finalmente dissolvido em 1990. Suas instalações e equipamentos foram assumidos pela Bundeswehr. A maioria das instalações foi fechada e os equipamentos ou foram vendidos ou doados a outros países. A maior parte dos 36.000 oficiais e subalternos foi demitida: somente 3.200 foram mantidos pela Bundeswehr após uma redução de posto, o que gerou muitos protestos.

Até 1 de março de 2005, o tempo de serviço no NVA foi contado como “serviço em força estrangeira”. Daqui para adiante deverá ser conhecido como “serviço fora da Bundeswehr”.

* A Polícia Popular (Volkspolizei) era equipada com artilharia e treinada como unidade militar. Diferentemente dos oficiais das forças armadas, um oficial da Volkspolizei tinha que ser membro do partido socialista. A VP foi criada após a Segunda Guerra Mundial e abolida após a reunificação alemã.

Desfile Militar do Exército da RDA.


Último desfile do NVA em 1990


Organização

O NVA era composto de quatro ramos principais:

• As Forças Terrestres (Landstreitkräfte) com um efetivo de 120.000 soldados.

• A Marinha Popular (Volksmarine) com um efetivo de 16.300 soldados.

• A Defesa/Força Aérea (Luftstreitkräfte) com um efetivo de 39.000 soldados.

• Tropas de Fronteira da RDA (Grenztruppen der DDR), consistindo de 50.000 homens.

Em tempo de guerra, a mobilização das reservas do NVA teria aproximadamente dobrado sua força. As autoridades também tinham à sua disposição as tropas de segurança interna do Ministério do Interior (a Polícia Popular Guarnecida, ou Kasernierte Volkspolizei) e o Ministério para Segurança Interna (o Regimento de Sentinela Felix Dzerzhinsky) junto com os 210.000 membros auxiliares do partido, ou “Grupos de Combate da Classe Operária” (Kampfgruppen der Arbeiterklasse), que estavam disponíveis em tempos de guerra.

O maior nível de liderança no NVA era o Ministro de Defesa Nacional (Ministerium für Nationale Verteidigung), localizado em Strausberg, próximo de Berlim Oriental. A administração do NVA foi dividida nos seguintes comandos:

• O Kommando Landstreitkräfte (KdoLaSK) baseado em Geltow, próximo a Postdam.

• O Kommando Luftstreitkräfte und Luftverteidigungskräfte (KdoLSK/LV) localizado em Srausberg.

• O Kommando Volksmarine (KdoVM) localizado em Rostock.

• O Kommando der Grenztruppen (KdoGT) baseado em Pätz, próximo a Berlim.

Exército

Organização: 120.000 soldados, 60% convocados. 2 divisões blindadas, 4 divisões de infantaria motorizada, 2 brigadas de mísseis superfície-superfície, 10 regimentos de artilharia, 1 regimento anti-aéreo, 8 regimentos de defesa aérea, 1 regimento aerotransportado, 2 batalhões anti-tanque, e outras unidade de apoio.

Equipamento: a maior parte do equipamento do NVA tinha origem soviética, apesar de alguns itens terem vindo da Tchecoslováquia ou qualquer outro lugar do Pacto de Varsóvia. Por exemplo, AK-47, AK-74, lançadores múltiplos de foguetes de 122 mm, tanques T-72, vários tipos de veículos de transporte blindados, peças de artilharia maciça variando de 85 a 240 mm, armamento anti-tanque tão pesado quanto 100 mm e várias plataformas de defesa aérea.

Unidades Especiais:

Wachregiment Friedrich Engels. Melhor conhecido e mais visível das três unidades de Guarda, especificamente encarregadas da segurança e serviços de elite em Berlim, incluindo a cerimônia de “Mudança de Guarda”.

NVA Wachregiment. Unidade de Guarda mais antiga (1962), encarregada da segurança e serviços de elite fora da capital.

Conjunto Erich Weinert. Grupo de entretenimento das forças armadas.

Escola de Música Estudantil/Militärmusikschüler. Programa de 3 anos para músicos da banda militar.

Paraquedistas/Fallschirmjäger. Tinha como missão fornecer capacidade de assalto aéreo.

Tropas de Construção/Bausoldaten. Tinha como função fornecer mão de obra para as forças armadas. Na verdade, o serviço nesta unidade era visto como forma de punição àqueles que se recusaram a servir nas forças armadas regulares.

Força Aérea

Organização: 39.000 soldados, 38% convocados (taxa mais alta de oficiais e Oficiais não-comissionados para alistados em relação aos outros ramos militares).

Equipamentos: 171 aeronaves de combate, incluindo os MIG-17, 21 e 23. Durante os anos 1980, a RDA adquiriu um número de caças sofisticados MIG-29 da URSS. 39 aviões de transporte, incluindo o Antonov 26 e TU-134, 111 helicópterosm incluindo o Mi-24 de ataque, e os transportes armados e desarmados Mi-8.

Defesa Aérea: tropas formavam 67% da força aérea. A Defesa Aérea também controlava 300 aeronaves MIG, incluindo o MIG-23 e 217 regimentos de superfície-ar com os SA-2, mais 2 regimentos de radar.

Marinha

Organização: 16.300 marinheiros, 50% convocados.

Equipamentos: 131 navios de superfície (maior: fragata), 48 navios auxiliaries, 12 veículos anfíbios.

Unidades Especiais:

Operações anfíbias. A Marinha utilizava os regimentos de infantaria motorizada 28º. e 29º, que eram treinados especialmente neste tipo de operação e utilizando os veículos de transporte blindados BTR-60PB.

Patrulha da Guarda Costeira/Grenzbrigadeküste. Tinha como função complementar as atividades da Guarda de Fronteira no patrulhamento das águas costeiras da RDA; como parte da Marinha, não deve ser confundida com a Polícia Marítima. Tinha um efetivo de 2.750 homens e era dividida em 8 grupos de patrulha a barco.

Ramo de Aviação Aérea. Fornecia suporte tático aero para operações da frota com a Marinha soviética, incluindo guerra anti-submarina. Era formada por 1 esquadrão de caças-bombardeiros a jato e 1 esquadrão de helicópteros.

Tropas de Fronteira

O objetivo básico das Tropas de Fronteira era prevenir que cidadãos e funcionários públicos, inclusive militares, fugissem do país. Também poderia servir como primeira linha de fogo no caso de um ataque das forças da OTAN. Eram divididas em três centros de comando: Norte, Centro e Sul. As tropas eram arranjadas em regimentos em torno destes centros.

Organização: 50.000 homens, 50% convocados.

Equipamentos: típico armamento de um regimento de infantaria motorizada, com um complemento de artilharia e apoio aéreo de helicópteros.


Postos do NVA



Bandeiras


Brasão do NVA
Bandeira do NVA



Bandeira da Marinha


Uniformes

Exército

Os uniformes do NVA variaram de acordo com a época; as primeiras túnicas eram semelhantes àquelas usadas pela Wehrmacht na Segunda Guerra Mundial. Da metade dos anos 1970 até 1990, os oficiais e outras posições vestiram túnicas de gabardine na cor cinza pedra com cadarço de lá branca costurada em torno das golas e mangas, incluindo as costuras das calças; culotes (usados em paradas) não tinham o cadarço. Oficiais não-comissionados temporários e outros soldados alistados, incluindo convocados, vestiam túnicas de lã em cor cinza pedra, com calças de lã sem o cadarço. De 1956 a 1982, as túnicas de parada tinham litzen decorativos nas mangas.

Cores das unidades do NVA (Waffenfarben), usadas nas platinas:

• Defesa Aérea: azul

• Força Aérea: azul

• Artilharia: vermelho

• Guardas da Fronteira: verde

• Defesa Civil: violeta

• Tropas de Construção: oliva

• Engenharia: preto

• Infantaria Motorizada: branco

• Marinha: azul marinho

• Patrulha da Guarda Costeira: verde

• Unidades Blindadas: rosa

• Paraquedistas: laranja

• Sinalizadores: amarelo

• STASI: marrom avermelhado.

A figura 2 a seguir mostram os uniformes padrão do Exército do NVA. 

Figura 2

Marinha

Oficiais e aspirantes a oficial vestiam túnicas de gabardine azul marinho com botões dourados com um desenho de âncora e calças azul marinho sem cadarço. Alistados de postos mais baixos vestiam um uniforme de peças azul e branca, determinadas pela estação e tipo de função.

Figura 3

Força Aérea

O mesmo uniforme do exército, exceto as insígnias e a cor do cadarço (azul).



Ex-Combatentes da Wehrmacht no NVA

A lista abaixo inclui os Almirantes e Generais que foram condecorados com a Cruz Alemã (Deutsche Kreuz) pela Wehrmacht durante a Segunda Guerra, sendo a data de condecoração colocada entre parêntesis.

 • Major-General Rudolf Bamler (12/03/1942)

 • Major-General Bernhard Bechler (28/01/1943)

 • Major-General Dr. rer. pol. Otto Korfes (11/01/1942)

 • Major-General Arno von Lenski (21/01/1943)

 • Tenente-General Vincenz Müller (26/01/1942)

 • Major-General Hans Wulz (25/01/1943)

A lista abaixo mostra os Almirantes e Generais que foram agraciados com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro pela Wehrmacht durante a Segunda Guerra, sendo a data de condecoração colocada entre parêntesis.

 • Major-General Wilhelm Adam (17/12/1942)

 • Major-General Dr. rer. pol. Otto Korfes (22/01/1943)

 • Tenente-General Vincenz Müller (7/04/1944)

Utilização de material do NVA após 1991

O NVA foi, em relação aos seus equipamentos e treinamento, um dos exércitos mais poderosos do Pacto de Varsóvia. Ele foi aprovisionado com um grande número de sistemas modernos de armamento, a maioria de origem soviética, dos quais uma pequena parte foi devolvida à URSS em 1990.

O equipamento restante e materiais eram muito essenciais. Grande quantidade de peças de reposição, suprimentos médicos, equipamentos para guerra atômica, biológica e química, dispositivos de treinamento e simuladores, etc. tiveram que ser colocados à disposição.

Uma das primeiras medidas realizadas após a reunificação foi a procura e devolução de armas pelos membros dispensados do NVA. O Departamento Federal Material Depot Service Gesellschaft (MDSG) ficou responsável em assumir a custódia e armazenamento destes equipamentos. O MDSG empregava 1.820 pessoas que trabalhavam para a Bundeswehr, mas acabou sendo privatizado em 1994. A menos que esse material fosse dado sem custos a beneficiários nos novos Estados federais ou outros departamentos, para museus ou a nações amigas no contexto de ajuda para o Terceiro Mundo, ele foi destruído.

Os materiais herdados do NVA foram:

• 767 aeronaves (helicópteros, aviões de combate), 24 dos quais eram MiG-29s.

• 208 navios

• 2.761 tanques

• 133.900 veículos motorizados

• 2.199 peças de artilharia

• 1.376.650 armas de fogo

• 303.690 toneladas de munição

• 14.335 toneladas de combustível e material de limpeza.

Fontes:
Wikipedia