domingo, 13 de maio de 2012

Revisionismo para o nosso tempo

Murray N. Rothbard

Este artigo foi originalmente publicado no Rampart Journal of Individualist Thought, Spring 1966.

O revisionismo tem a função geral de trazer a verdade histórica para um público que foi alienado pela propaganda e mentiras da guerra.

O revisionismo, como aplicado à Segunda Guerra Mundial e suas origens (assim como para as guerras anteriores), tem a função geral de trazer a verdade histórica para o público americano e mundial que foi alienado pela propaganda e mentiras da guerra. Isto, por si só, é uma virtude. Mas algumas verdades da história, é claro, devem ser apenas de interesse antiquário, com pouca relevância para o pensamento atual. Isto não é verdade para o revisionismo da Segunda Guerra Mundial, que tem um significado crítico para o mundo moderno.

A menor das lições que o revisionismo pode ensinar já foi extensamente aprendida: que a Alemanha e o Japão não foram as únicas "nações agressoras", amaldiçoadas do nascimento até a ameaça da paz do mundo. As grandes lições devem ser, infelizmente, ainda aprendidas.

Os EUA estão novamente sendo sujeitos àquele "complexo de medo e alarme" (na brilhante frase de Garet Garrett) que dirigiu-nos, e o mundo ocidental, em duas outras guerras desastrosas em nosso século. Mais uma vez, o público americano está sendo sujeito a aproximadamente uma barreira unânime de propaganda de guerra e histeria, de modo que somente os racionais conseguem manter suas cabeças no lugar. Mais uma vez, encontramos que surgiu em cena um Inimigo, um Malvado, com as mesmas características do malvado que conhecemos antes; um Inimigo monolítico, diabólico, que, gerações atrás em alguns "textos sagrados", decidiu (por razões que permanecem obscuras) "conquistar o mundo".

Desde então, o Inimigo, de maneira obscura, secreta, diabólica, "planejou", de forma conspiradora, conquistar o mundo, construindo uma vasta e poderosa máquina militar, e também estabelecendo uma quinta coluna internacional poderosa e "subversiva", cuja função como um exército de fantoches simples, agentes do quartel-general do Inimigo, é realizar espionagem, sabotagem, ou qualquer ato para "desestabilizar" outros países. O Inimigo, então, é "monolítico", governado somente e estritamente a partir do topo, por uns poucos mestres, e é dominado sempre pela simples proposta da conquista do mundo. O modelo para se ter em mente é o Dr. Fu Manchu, aqui tratado como um bicho-papão internacional.

O Inimigo, então, diz a propaganda de guerra, é guiado por um único objetivo: a conquista do mundo. Ele nunca sofre de tais emoções como o medo - medo de que nós o ataquemos - ou a crença de que está agindo em sua defesa, ou sem auto-estima e o desejo de salvar sua imagem diante de si próprio assim como diante dos outros. Ele não possui nem qualidades humanas como razão.

Não, há apenas outra emoção que pode balançá-lo: a força superior que o forçará a "retroceder". Isto porque, mesmo sendo um Fu Manchu, ele é parecido com o Malvado no filme do faroeste: ele encolherá diante do Mocinho se este for forte, armado até os dentes, resoluto em seus objetivos, etc. Por isso, o complexo de medo e alarme: medo do plano definitivo e implacável do Inimigo; estado de atenção para o enorme poder militar da América e sua intromissão no mundo, para "conter", "recuar", etc., o Inimigo, ou para "libertar" as "nações oprimidas".

Agora, o revisionismo nos ensina que isto é um mito completo, tão prevalente antigamente quanto agora sobre Hitler e sobre os japoneses, sendo uma malha de falácias do começo ao fim. Toda palavra nesta evidência torturante é tanto completamente falsa quanto não totalmente verdade. Se as pessoas pudessem aprender sobre essa fraude intelectual sobre a Alemanha de Hitler, então elas começariam a fazer perguntas, e procurar perguntas, sobre a versão atual da Terceira Guerra Mundial do mesmo mito. Nada impediria a atual fuga precipitada para a guerra mais rápida, ou mais seguramente levar as pessoas a começar a raciocinar sobre política externa novamente, após uma longa orgia de emoções e clichés.

O mesmo mito é agora baseado nas mesmas velhas falácias. E isto é visto pelo uso crescente pelos Velhos Guerreiros do "mito de Munique": a acusação continuamente repetida que foi o "apaziguamento" do "agressor" em Munique que "alimentou" sua "agressão" (novamente, a comparação com o Fu Manchu, ou "Besta Selvagem") e que fez com que o "agressor", entorpecido por suas conquistas, lançar a Segunda Guerra Mundial. Este mito de Munique tem sido usado como um dos argumentos principais contra qualquer tipo de negociações racionais com as nações comunistas, e a estigmatização da menor busca por um acordo como "apaziguamento". É por esta razão que o magnífico As Origens da Segunda Guerra Mundial, de A.J.P. Taylor, recebeu provavelmente as críticas mais distorcidas e frenéticas nas páginas do National Review.

É hora dos americanos aprenderem: os Malvados (Nazistas ou Comunistas) podem necessariamente não querer ou desejar a guerra, ou desejar conquistar o mundo (sua esperança para "conquistar" pode ser estritamente ideológica e não militar); que os Malvados podem também temer a possibilidade de uso do nosso enorme poder militar e postura agressiva em atacá-los; que tanto os Malvados quanto os Mocinhos podem ter interesses em comum que tornam a negociação possível (por exemplo, que nenhum deles quer ser aniquilado por armas nucleares); que nenhuma organização é um "monolito" e que "agentes" são freqüentemente apenas aliados ideológicos que podem fazer e dividir com seus supostos "mestres"; e que, finalmente, podemos aprender as lições mais profundas de todas: que a política doméstica de um governo não é em geral referência para a política externa.

Ainda estamos, na última análise, sofrendo da desilusão de Woodrow Wilson: que "democracias" ipso facto jamais provocarão guerras, e que "ditaduras" são sempre propensas a se engajar numa guerra. Muito do que podemos fazer ou fazemos são tão abomináveis quanto os programas domésticos da maioria dos ditadores (e certamente dos nazistas e dos comunistas), mas isto não tem necessariamente relação com suas políticas externas: de fato, muitas ditaduras são passivas e estáticas na história, e, contrariamente ao que se pensa, muitas democracias conduziram e promoveram guerras. O Revisionismo pode, de uma vez por todas, ser capaz de destruir este mito Wilsoniano.

Há somente uma única diferença real entre a capacidade de uma democracia e uma ditadura em provocar uma guerra: as democracias invariavelmente promovem uma propaganda de guerra enganosa, para conduzir e persuadir a população. As democracias que provocam guerras precisam produzir muito mais propaganda para convencer seus cidadãos e, simultaneamente, camuflar suas políticas muito mais intensamente numa retórica moral hipócrita para enganar os eleitores. A falta de necessidade para isto nas ditaduras freqüentemente torna suas políticas parecer superficialmente de enfrentamento, e isto é uma das razões porque eles tiveram uma "imprensa ruim" neste século.

A tarefa do revisionismo tem sido penetrar fundo nessas superficialidades e aparências em direção das realidades objetivas abaixo - realidades que mostram, certamente neste século, os EUA, a Grã-Bretanha e a França - as três grandes "democracias" - serem piores do que em quaisquer outros três séculos em fomentar e provocar guerras agressivas. A consciência dessa verdade seria de importância incalculável na cena atual.

http://mises.org/daily/2592

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