terça-feira, 29 de maio de 2012

[SGM] "Olho por Olho" - Vingança, Ódio e História

John Sack


Palestra dada no Instituto de Revisão Histórica (IHR) em 2003




Três anos atrás fui convidado para palestrar no Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos. A palestra foi anunciada neste panfleto e também na internet. Mas, então, o Museu do Holocausto a cancelou.

Pelos próximos 45 minutos, direi aqui o que eu planejava dizer no Museu do Holocausto, e então, como eu faria no Museu, permanecerei aqui tanto tempo quanto queiram, respondendo perguntas. A platéia no Museu seria formada por historiadores, a maior parte, e eu teria dito algo como...

Obrigado. Obrigado por me convidar, obrigado por me escutar. O que vou dizer aconteceu cinqüenta anos atrás. E por 50 anos, ninguém, nenhum historiador, ninguém mesmo falou sobre isso em público em qualquer lugar do mundo. Não até agora.

Agora sobre mim, não sou historiador, sou um jornalista. E o que escrevo é o material bruto da história, algo que os historiadores terão - espero - alguma consciência. Vou a lugares. Assisto a eventos. Escuto as pessoas. E então conto as estórias. E começarei dizendo uma agora. Uma estória verdadeira sobre uma adolescente.

Lola

Cabelos loiros, olhos castanhos, muito bonita. No colégio, ela pratica esportes, trapézio, interpreta Branca de Neve e os Sete Anões. Ela é um dos personagens principais. Ela vai para casa. Ela percorre as ruas cantando "On the Good Ship Lollipop..." Não exatamente. Ela está realmente cantando (em inglês com sotaque), "On the Good Ship Lollipop..." Porque ela é uma garota polonesa, e ela está em Bedzin, nos anos 1930. Seu nome é Lola Potok.

E quando ela completou 18 anos, os nazistas invadiram. Lola é colocada em um trem para a cidade de Oswiecim - conhecemo-la como Auschwitz. Seu bebê, com um ano de idade, é retirado de seus braços; ela nunca mais o vê. Ela não é enviada para a câmara de cianeto, mas sua mãe sim. Sua mãe é morta, seu irmão e irmã, primas e sobrinhos são assassinados. Quatorze pessoas.

(Sabem, eu não ia dizer isso no Museu do Holocausto, mas nesta sala eu sei que há pessoas que não acreditam que havia câmaras de gás em Auschwitz. Eu acredito, assim como Lola, que havia câmaras de gás em Auschwitz.)

Sua mãe foi assassinada. Seu irmão e irmã, primas e sobrinhos são assassinados. Quatorze pessoas. O irmão em Auschwitz que ainda está vivo na plataforma de enforcamento diz em Ídiche, "Nem nekumah! Vamos nos vingar!" Então, ele é enforcado.

Vingança

Em janeiro de 1945, Lola escapa. Ela pesa apenas 30 kg. Seus olhos são vazios. Seu cabelo é curto. Suas costas estão machucadas. Sua mão está dilacerada. Ela está usando dois sapatos para pé esquerdo. Todas as pessoas que amava estão mortas, ou ela pensa que estão, e ela está queimando de raiva. Ela quer libertar esse ódio, vomitá-lo sobre os alemães. Um de seus amigos de infância está no governo polonês, e Lola vai até ele e diz, "Quero vingança."

E dois meses depois, a guerra ainda continua, e Lola está agora na Alemanha, a parte ocupada pelos russos e administrada pelos poloneses. Lola está vestindo um uniforme cor oliva. Sua jaqueta tem botões de metal. Na gola, o que os pracinhas americanos chamam de "ovos mexidos". Nos seus ombros há estrelas. Na sua cintura uma Luger. Lola está trabalhando para o governo polonês, ela é comandante de uma prisão para alemães, e ela está tentando fazer vingança pelo Holocausto.

Agora, Lola é uma garota judia. Ela estudou o Torá, e o Torá diz, "Você não deverá se vingar." Lola sabe isso. Ela está desobedecendo. Mas há algum de nós que a condenaria? Algum de nós pode compreendê-la? Eu posso compreendê-la, e posso ter rachmanis, compaixão, por ela.

Encontrei Lola Potok. Foi em abril de 1986. Estou morando em Hollywood. Sou escritor, e tenho um encontro na Paramount Pictures. E a secretária lá, ela está lendo algo que escrevi sobre o Clube dos Garotos Bilionários. Ela me diz, "Gostei. Lembra a minha própria família."

Eu digo, "O Clube dos Garotos Bilionários? Sua família?" diz a secretária, "Sim, todos aqueles assassinos. Minha mãe, Lola, estava em Auschwitz." Eu digo, "Oh." A secretária diz, "E depois daquilo, minha mãe comandou uma prisão cheia de nazistas." Eu digo, "O quê? Ela comandou..." eu digo, "Você sabe que tem um filme lá?" Eu digo, "Você devia contar a Lynda," Lynda é a produtora, a chefe da secretária, mas a secretária me diz, "Sei que há um filme. Não direi a Lynda. Eu mesma quero produzi-lo!"

Diz um ditado em Hollywood: um produtor é alguém, qualquer um, que conhece um escritor. Sou um escritor, a secretária me conhece, e portanto ela é uma produtora. Estamos no negócio juntos. O acordo é, escreverei um artigo numa revista sobre Lola, sua mãe, e a secretária fará um filme sobre ela.

Corte. Dias depois. Hollywood, o Café Moustache. Tenho creme de espinafre. Estou jantando com Lola. Uma mulher elegante. Batom vermelho, delineador preto, como uma femme fatale. Fala cinco línguas fluentemente. Ela tem 66 anos de idade. E Lola começa a me contar sua estória.

Gleiwitz

No final da Segunda Guerra Mundial, ela me diz, está no comando de uma prisão em Gleiwitz, Alemanha. Ela diz que os internos são soldados alemães. Mas ela diz que alguns eram nazistas, mesmo SS, querendo passar por soldados alemães, e Lola estava de olho neles. Procurando por Höss e Hössler, os comandantes de Auschwitz. Procurando por Mengele, o homem que uma vez disse para sua mãe, "Vá para a esquerda, você morrerá"; que disse para Lola, "Vá para a direita, você viverá." E se Lola o encontrar, ela não sabe o que fará. Mas fará alguma coisa.

E Lola me diz: um dia na prisão, Lola encontrou um cara da Gestapo. Gordo, cerca de 40 anos de idade. Sob seu braço, havia uma tatuagem. Dizia A ou B. Era o seu tipo sanguíneo. Todos na Gestapo tinham essa tatuagem. Lola surtou. Ela começou a gritar, "Du schmutziges Schwein! Du verfluchtes Schwein! Du ... Quantos judeus você matou? Ela o esbofeteou. O homem caiu no chão. Ele se ajoelhou diante dela, dizendo, “Gnade! Gnade! Tenha piedade de mim!” e Lola o chutou e continuou o chutando.

Esta é a estória de Lola: há alguém aqui que gosta dela? Eu não gostei. Eu não queria escrevê-la. Achei que era feia. Lola não gostou dela. Ela me disse que sua mãe, se estivesse viva, não gostaria. Sua mãe costumava ler o Torá para ela e dizer-lhe, “Você não deve odiar. Isso somente te magoa. Isto corrói sua alma.”

E Lola disse que após alguns meses em Gleiwitz, ela se lembrou disso. Ela estava na prisão um dia. E havia um guarda judeu lá. Seu rosto estava vermelho. Seus dentes estavam à mostra. Ele estava salivando muito. Feio, feio. O homem tinha um chicote. Ele estava gritando em polonês, “Seu filho da puta.” Ele estava chicoteando um prisioneiro alemão. Lola disse, “Pare.” Lola disse, “Por que você o está chicoteando?” O homem disse, “Bem, os alemães fizeram isso comigo!” Lola disse, “E agora você os odeia?” O homem disse, “Eu os desprezo!” Lola disse, “Bem, se você os despreza, por que você quer se tornar como eles?” Porque para Lola, para Lola, este homem, este judeu, ele olhava, falava, agia como os nazistas que ela conheceu em Auschwitz.

Naquela época, Lola não ligava para os alemães, os prisioneiros alemães. Eles poderiam cair mortos por todos aqueles pelos quais ela se importava. Mas ela me disse que ela se importava com o guarda judeu. Por anos os nazistas o chamaram de porco, cachorro e se agora ele realmente se tornasse um monstro, quem então teria ganho, o judeu ou os nazistas? Assim, de acordo com Lola, ela chamou todos os guardas em seu escritório e disse-lhes que, a partir daquele momento, os alemães seriam tratados como seres humanos. E, a partir de então, Lola me disse, foi o que aconteceu.

Escrevendo a Estória de Lola

Agora, esta estória eu gostei. Se for verdade, é uma estória digna de ser contada. Tinha esse sonho: talvez sérvios e croatas leiam-na, católicos e protestantes irlandeses leiam-na, os Hutus e os Tutsis, os israelenses e os palestinos... Talvez eles leiam, e talvez eles aprendam, como Lola aprendeu, que odiar seus vizinhos pode ou não destruí-los, mas com certeza te destruirá. E talvez essas pessoas parem sua vingança, parem seu genocídio.

Nós judeus sempre dizemos do Holocausto, “Nunca mais. Nunca mais pessoas nos machucarão simplesmente porque somos judeus.” Mas Lola estava aparentemente dizendo, “Sim, e nunca mais eu machucarei um alemão porque ele é um alemão.” Cinquenta anos atrás, Lola estava aparentemente dizendo, “Que haja paz na Terra, e que comece comigo.” Esta estória eu queria muito escrever. Então…

Eu começo entrevistando Lola. Na hospedaria de Seven Ray, em Los Angeles. Em um cemitério judeu em Nova Jersey. Nos Campos Elísios em Paris. Entrevisto Lola com e sem registro por dois anos e meio. Suas memórias correm como água, e ela também me apresenta a outras tantas pessoas, todos judeus: pessoas que conheceu em Gleiwitz, guardas de prisão, mesmo o homem que a indicou comandante em Gleiwitz.

Escrevo um artigo de vinte páginas sobre a vingança de Lola e sua redenção. Lola lê e gosta. A estória aparece na revista California. Lola, com recursos próprios, vai até Washington para promovê-lo na Rádio Nacional Pública. A estória é vendida internacionalmente, e é reimpressa nos Melhores Artigos de Revista em 1988. Temos ofertas para filmes. Bette Midler e Suzanne Somers querem interpretar Lola.

E, então, escrevo uma proposta de livro. Escrevo, “É a redenção de Lola, não a vingança de Lola, é sobre isso que fala o livro.” Irei até a Alemanha. Talvez encontre alguns prisioneiros. Irei à Polônia. Talvez encontre alguns guardas. Escreverei o livro. O título será Lola. E, em agosto de 1988, o editor Henry Holt em Nova York disse, “Okay! Queremos esse texto!” Boas notícias, e telefono para Lola.

E Lola no telefone diz, “Escute, John, não quero que você o escreva.” Digo, “Lola? Lola, esta é a primeira vez que você me diz isso.” Digo, “Lola, assinamos um contrato.” Assinamos um. Lola escreveu, “Garanto-lhe o direito exclusivo de escrever e publicar um livro sobre minha vida.”

Ameaças

Aquela noite, vou para o apartamento de Lola em Hollywood. Alguém aqui já esteve numa reunião de condomínio? Lembram-se da sua primeira noite? Todo mundo gritando e berrando. Você fica sentado lá estupefato. Você pensa, “O que está acontecendo?” Bem, estou no condomínio de Lola. Lola está dizendo, “Olha, John. Não quero que você escreva. Você escreve como um repórter. Se você começar a escrever esse livro, tentarei impedi-lo. Eu o impedirei!”

A filha de Lola está lá. Ela está dizendo, “John, desista disso. Estou implorando a você que desista. John, desista!” Uma outra filha de Lola está lá. Ela é advogada, e diz, “John! Você vai ter um processo instantâneo e muito caro!” A filha diz, “John, quero que você assine essa liberação. John! Assine a liberação!” A outra filha diz, “John! Nos deixe! Vá embora!” Lola diz, “John, saia de nossas vidas!”

Vou embora. Telefono para Lola, mas ela não responde. Escrevo-lhe, mas ela me manda a carta de volta, lacrada, inscrito “recusado”.

E não apenas Lola. O segundo em comando na prisão de Gleiwitz era Moshe, também judeu. Ele não falará comigo. Sua esposa ao telefone diz, “Não te damos permissão para escrever isso.” Digo, “ Eu... Você...” Isto é o que digo, “Eu… você… Ninguém precisa de permissão!” Eu tenho permissão, da Constituição dos Estados Unidos da América. A esposa de Moshe desliga.

E então temos Jadzia, também judia, ela era uma das guardas de Lola em Gleiwitz. Jadzia diz ao telefone, “Nunca estive em Gleiwitz!” Então ela diz, “Sim, estive em Gleiwitz, mas nunca falarei sobre isso!” E então ela fala por uma hora dizendo, “Não sei nada, nada, nada, nada. Nada! Nada!”

As pessoas não falarão comigo. As pessoas dizem para outras pessoas, “Não fale com John Sack.” Pessoas falam comigo, e elas mentem para mim. Pessoas dizem que elas me processarão, elas me destruirão, elas me matarão. Um homem pega minha carteira de motorista, escreve meu endereço nela e diz, “Se você escrever a meu respeito, chamarei a Máfia Israelense.”

Eis uma dica. Nunca diga a um repórter, “É melhor você não escrever sobre isso.” Tenho um contrato com Henry Holt. Fiz uma promessa a Henry Holt. Costumo manter minhas promessas.

Fazendo a Pesquisa

Em abril de 1989, viajo para a Alemanha. Vou para este castelo, este castelo de concreto, alto numa montanha sobre o Reno. São os Arquivos Federais Alemães, e eles têm 40.000 depoimentos de alemães durante a Segunda Guerra Mundial que viveram no que é agora a Polônia . Os depoimentos estão, é claro, em alemão, em escrita alemã, e encontro cinco depoimentos de alemães que estiveram na prisão de Lola.

Vou para outro lugar na Alemanha: um grande saguão medieval, com bandeiras em paredes de pedra. É uma reunião de milhares de pessoas de Gleiwitz. Eles estão bebendo cerveja. Estão comendo salsicha e sauerkraut. Estão cantando e rindo, “Ein prosit, ein prosit…” E estou como uma daquelas meninas das flores. Você sabe, a garota que vai de mesa em mesa vendendo rosas? Dou uma volta perguntando, “Uh, com licença. Alguém aqui esteve na prisão de Gleiwitz?” Sim, eu sou estraga-festas. Eu admito. Mas eventualmente acabei encontrando cinco dos prisioneiros de Lola.

Pego o trem para Gleiwitz. Agora, é Gliwice, Polônia. E atravessando a Berlim oriental comunista, sou preso, tirado do trem, e trancado em uma pequena sala porque tenho comigo uma cópia do livro Die Vertreibung der Deutschen Bevölkerung aus den Gebieten östlich der Oder-Niesse (“A expulsão da população alemã dos territórios orientais do Oder-Niesse,” publicado nos anos 1950 pelo governo de Bonn). Horas mais tarde, sou deixado sair e vou para Gleiwitz/Gliwice às quatro da manhã. É uma cidade de duzentas mil pessoas, quase ninguém fala inglês. Não falo polonês, mas encontro três dos guardas de Lola. Eles lembram dela muito bem.

É 1989, a Polônia ainda é comunista, mas vou para a prisão de Lola, nas celas dos prisioneiros. Digo-lhes “Djien dobre. Bom dia.” Vejo os registros da prisão. Lembram-se quando, de acordo com Lola, ela foi ao governo polonês e disse, “Quero vingança”? Bem, encontrei seu pedido, em sua própria caligrafia. Ela escreveu, “Quero cooperar contra nossos opressores alemães.” Encontro o documento oficial apontando ela comandante de Gleiwitz.

Após isso, vou para a Alemanha mais onze vezes, para a Polônia mais três vezes, para a França, Áustria, Israel, Canadá, e quase todos os Estados Unidos. Através de intérpretes, converso com duzentas pessoas em polonês, russo, dinamarquês e sueco, alemão e holandês, francês e espanhol, Ídiche e hebreu. Deixei de fora o inglês. Consigo trezentas horas de entrevistas gravadas em áudio, e vejo milhares de documentos.

O que aprendo? Bem, Lola estava dizendo a verdade. Ela foi comandante em Gleiwitz. E ela estava em busca de vingança. Ela bateu em alemães em todos os cantos. E como ela disse, ela parou. Lembro-me um dia em 1989, tendo um almoço com um de seus guardas no Hotel Leszny. Estamos comendo wienerschnitzel. E do nada esse cara diz, “Você sabe, Lola parou. Ela nos disse, ‘Parem!’ Ela disse, ‘Nós mostraremos aos alemães que não somos como eles.’”

Os Fatos Aparecem

Então, Lola estava dizendo a verdade. Mas ela não estava dizendo TODA a verdade. Lola havia me dito que as pessoas em sua prisão eram soldados alemães. E sim, vinte deles eram soldados alemães, homens que trabalharam como pintores, jardineiros, e coisas do tipo. Mas havia milhares de prisioneiros lá, e eles eram civis alemães: homens, mulheres e crianças.

Um prisioneiro era um garoto de 14 anos. Ele foi para Gleiwitz vestindo calças pretas de escoteiro. Um homem gritou, “Você está vestindo calças pretas! Você é um fascista!,” e ele perseguiu e o golpeou na Igreja de São Pedro e Paulo, e então levou-o para a prisão de Lola. Vejam, o garoto era completamente inocente. Assim como a maioria das pessoas na prisão de Lola. Eles não pertenciam à Gestapo. Eles não eram da SS. Eles sequer eram nazistas. De um total de cerca de mil prisioneiros, apenas 20 foram acusados disso.

Mas os alemães na prisão de Lola eram surrados e chicoteados. E fico triste em dizer que eles também eram torturados. O garoto escoteiro: os guardas encharcaram seu cabelo escuro de gasolina e atearam fogo. O menino ficou louco. Os homens: eles eram surrados com um Totschläger, um “bastão da morte”. É uma mola de metal longa com uma bola presa na extremidade. Você o usa como se fosse uma raquete de tênis. Seu braço, seu punho, a mola: eles têm o triplo da força na cara de um alemão.

Lola não me disse, mas os alemães em sua prisão estavam morrendo. Encontrei seus certificados de óbito na prefeitura de Gleiwitz. Um dos guardas de Lola me disse, “Sim, os alemães morreriam.” Ele me disse, “Colocava os corpos mortos numa carroça conduzida por cavalos. Cobria os corpos com casca de batata de modo que ninguém visse. Levava até os limites do campo, depois eu jogava as cascas fora, levava os alemães até o cemitério católico. Para as covas coletivas.”

Todos nós sabemos sobre Auschwitz. Mas tenho que lhes dizer, os alemães na prisão de Lola foram tratados de forma pior do que ela foi em Auschwitz. Lola em Auschwitz não foi trancada em uma solitária noite e dia. Ela não foi torturada noite após noite. Ela mesma me disse: “Graças a Deus, ninguém tentou nos estuprar. Os alemães não eram permitidos fazer isso.” Mas tudo isso ocorreu na prisão de Lola em Gleiwitz.

Uma mulher com quem conversei sequer era alemã. Ela era polonesa. Em 1945, ela tinha vinte anos de idade: uma estudante de medicina alta, loira, e bonita. Os guardas da prisão de Lola arrancaram-lhe a roupa e lhe disseram, “Vamos nessa!” Eles a esbofetearam e a esbofeteram, noite após noite, até que ela ficar negra e azul. Uma manhã, ela voltou à sua cela e caiu no chão, soluçando. Sua colega de cela perguntou-lhe, “O que é esta coisa que você está vestindo? Oh, oh, é a sua pele.”

E três metros distante estava o escritório de Lola. Lola com seus metais, galões e estrelas. Uma vez eu perguntei-lhe, “Lola, onde você conseguiu aquele uniforme?,” e Lola me disse, “Bem, os russos devem ter dado a mim.” Isto também não era a estória verdadeira.

Lola pertencia à polícia secreta polonesa. Seu nome estava no Departamento de Segurança de Estado, em polonês Urzad Bezpieczenstwa Publicznego. Os alemães o chamavam a “Gestapo polonesa”. Uma de suas missões era reunir suspeitos nazistas. Mas para todos os fins práticos, se você fosse alemão, você era um suspeito nazista. Logo, a missão era reunir alemães, encarcerá-los, interrogá-los e, se eles confessassem, processá-los.

No Departamento de Segurança do Estado, os postos mais baixos eram preenchidos por poloneses católicos, mas a maioria dos líderes era de judeus poloneses. O chefe do Departamento em Varsóvia era um judeu. (Quando estive na Polônia ele já era falecido, mas encontrei alguns de seus familiares.) Os diretores do Departamento, todos ou quase todos, eram judeus.

Na Silésia, a província onde Lola era comandante, o diretor do Departamento de Segurança de Estado era um judeu. Encontrei-o em Copenhagen, um homenzinho careca. O diretor das prisões também era judeu. Encontrei sua família inteira em Tel-Aviv. O secretário de segurança do Estado era um judeu. Encontrei-o algumas vezes em sua casa em Nova Jersey. E, no Departamento de Segurança do Estado na Silésia em fevereiro de 1945, dos oficiais – não recrutas, não guardas, mas tenentes, capitães e cargos maiores – ¼ eram católicos e ¾ eram judeus.

Solomon Morel

Entrevistei 24 deles. E aprendi que o Departamento de Segurança do Estado administrava 227 prisões para prisioneiros alemães, como o de Lola. Ele também administrava 1.255 campos de concentração, e entrevistei quatro de seus comandantes. Eles também eram judeus. Um era o namorado de Lola, um homem que perdeu no Holocausto sua mãe, seu pai, todos os seus irmãos (ele não tinha irmãs), todos os seus tios e tias, e todos menos um de seus primos. Espero que, como eu, vocês possam ter compaixão por Solomon Morel.

Mas uma noite em fevereiro de 1945, Solomon foi enviado para seu campo de concentração na cidade de Swietochlowice. Ele foi para as barracas dos alemães, e disse, “Meu nome é Capitão Morel. Sou um judeu. Estive em Auschwitz. Jurei que faria vingança contra vocês nazistas.” Eles não eram nazistas, mas Solomon disse, “Agora! Todo mundo! Cantem a Canção de Horst Wessel!” Este era o hino nazista. Ninguém quis cantá-lo. Um garoto, de quatorze anos, sequer sabia o que era ele.

Solomon tinha um porrete. Ele disse, “Cantem-no!” Algumas pessoas começaram, “Die Fahne hoch! Die Reihen fest geschlossen...” “Cantem-no! Cantem-no, eu disse!” Eles começaram a cantar, “Limpem as ruas para os batalhões pardos. Limpem as ruas para os homens da Tropa de Choque.” Solomon tinha todo este ódio dentro dele, e ele o liberou. Ele pegou seu porrete e começou a espancar os alemães até a morte. Neste campo, encontrei a certidão de óbito de 1.583 alemães.

Estatísticas de Mortes

Em outros campos e outras prisões, milhares de civis alemães morreram. Homens, mulheres, crianças, bebês. Eles estavam em berços, mas o médico do campo, Dr. Cedrowski – ele era judeu e esteve em Auschwitz – não aquecia as barracas, e não dava leite aos bebês. Ele dava apenas alguma sopa, e 48 dos 50 bebês morreram.

No total, entre 60.000 e 80.000 alemães morreram. Alguns foram assassinados por judeus, alguns por católicos, e muitos por tifo, disenteria, e inanição, mas 60.000 a 80.000 morreram sob a custódia do Departamento de Segurança do Estado. Agora, alguém, um alemão, me disse uma vez que isto foi outro holocausto. Bem, estou certo que pareceu como um holocausto para os alemães.

Mas não vamos nos esquecer: 60.000 é um por cento do número de judeus que morreram no Holocausto com H maiúsculo. Os judeus não fariam o que os alemães fizeram. Não planejamos exterminar o povo alemão. Não mobilizamos todos os judeus e o estado judeu. (Não havia estado judeu.) Não enviamos os alemães sistematicamente para as câmaras de cianeto.

Mas devemos lembrar que 60.000 a 80.000 civis é mais do que os alemães perderam em Dresden, e mais do que os japoneses perderam em Hiroshima, os americanos em Pearl Harbor, os ingleses na Batalha da Inglaterra, ou os judeus em Belsen ou Buchenwald.

Encobrindo a Verdade

Tudo isso foi encoberto por quase 50 anos. Os judeus que estavam envolvidos não falavam a respeito. Por exemplo, o chefe de polícia na Breslau ocupada, Alemanha, em 1945, escreveu mais tarde um livro sobre o Holocausto. E, ao falar sobre sua época como chefe de polícia em Breslau, tudo o que ele disse foi, “Nos movemos para oeste para Breslau e... de lá para Praga.” Isto é tudo. E os repórteres judeus que sabiam não escreveram sobre o caso. Há um repórter na ativa agora em Nova York que esteve na Polônia logo após a Segunda Guerra Mundial. Ele me disse, “O que quer que seja que os alemães te digam, acredite-me, é verdade.” Mas ele próprio, jamais escreveu sobre o assunto.

A verdade foi encoberta, e estava sendo escondida. Em 1989, fui até o Yad Vashem em Jerusalém, o centro do Holocausto de Israel. Como vocês devem saber, eles têm 50 milhões de documentos lá sobre o Holocausto. Perguntei-lhes, “Bem, o que vocês têm sobre o Departamento de Segurança do Estado?” Nada. Eu digo, “Bem, lá havia comandantes judeus, diretores judeus,...” O gerente do Yad Vashem responde, “Isso parece totalmente fantasioso,” e o diretor dos arquivos me diz, “Impossível! Impossível!”

Negação, negação. Sei que negação é uma coisa muito humana. Mas historicamente, não acho que seja uma característica judaica. Quando Abraão, Isaac e Jacó cometeram o mal, nós judeus não o negamos. Sim, Abraão, o patriarca de nosso povo, pecou. Deus lhe disse para ir a Israel, ao invés de ir para o Egito, e admitimos isso no Livro do Gênesis. Judá (a palavra “judeu” vem de Judá) fez amor com uma prostituta. Admitimos isso no Gênesis. Moisés, mesmo Moisés pecou, e Deus não deixou ele entrar na Terra Prometida. Admitimos isso em Deuterônimo. Salomão – o bom, sábio, Rei Salomão – praticou a maldade. Ele “adorou ídolos”. Não encobrimos. Admitimos isso no Livro dos Reis.

Me parece que esta é a tradição judaica. Como podemos dizer para outras pessoas – para alemães, sérvios, Hutus – “O que você está fazendo está errado,” se nós próprios o fazemos e encobrimos? Gostaria que fosse outra pessoa que estivesse aqui hoje. Abraham Fox. Elie Wiesel. Gostaria que ele ou ela simplesmente dissesse sim, alguns judeus, alguns judeus, cometeram o mal em 1945. Mas quando o establishment judeu não diz, então eu tenho que dizer.

Sou um repórter. Isto é o que os repórteres fazem. Alguém mata 60.000 pessoas, nós denunciamos. Se não denunciarmos, isso pode se tornar comum, ou mais comum do que já é. Mas também sou judeu, e o Torá diz (Leviticus 5:1) que se alguém comete um pecado, e se você sabe e não denuncia, então eu sou culpado também.

Então, comecei a escrever esse livro. O título agora não será Lola. Será Olho por Olho. E na terceira página eu escrevo, “Espero que Olho por Olho seja algo mais do que a estória da vingança judaica: seja a estória da redenção judaica.” Escrevo sobre judeus fazendo vingança, sim. Mas isto é 1/10 de Olho por Olho. A maior parte escrevo...

Escrevo sobre Zlata, Moshe, Mania e Pola. Eles foram judeus que se recusaram a ver, muito menos participar, do trabalho na prisão de Lola. Escrevo sobre Ada, que visitou a prisão uma vez, apenas uma vez, e então fugiu para Israel. Escrevo sobre Shlomo, que esteve no Departamento de Segurança do Estado e, correndo risco de vida, disse as pessoas lá, “vocês têm que parar com isso.”

Escrevo sobre Lola. Escrevo que em Gleiwitz ela finalmente se lembrou como um judeu deve se comportar, e correndo risco de vida, ela conseguiu pão, seu próprio pão tirado de sua casa, e o enviou para prisioneiros alemães. Agora, isto não é algo que Lola me contou. Não, foram os guardas da prisão. Eles disseram que se Lola fosse pega, ela teria ido para a prisão.

E escrevo sobre o Yom Kippur, 1945, Lola – novamente correndo risco de vida – escapa de Gleiwitz, como ela escapou alguns meses antes de Auschwitz, e vai para os Estados Unidos. Quase todos os judeus no Departamento de Segurança do Estado escaparam, correndo risco de vida, em setembro, outubro e novembro de 1945. E escrevo sobre isso também. Eles atravessaram as florestas da Alemanha, ou escalaram a passagem pela Itália. Eles fizeram o que a SS nunca fez: eles desertaram.

Rejeição

Estava chorando enquanto escrevia isto. Meu adiantamento de Henry Holt foi U$ 25.000 e, por três anos, escrevi Olho por Olho. Em setembro de 1991, finalmente o concluí, embalei-o e o enviei para Henry Holt em Nova York. E disse a mim mesmo: “Ok. Está feito. Este é o fim do mistério.”

Não. Porque as pessoas disseram a Henry Holt, “Não o queremos.” Eles não dizem que está errado. Eles sabem que está certo. Eles apenas dizem, “Não não queremos publicá-lo. Guarde os U$ 25.000.” Okay. Meu agente e eu enviamos o manuscrito para outras editoras: para a Harper, para a Scribner – você conhece o nome, nós enviamos – para duas dúzias de outras editoras.

E deixe-me dizer-lhes. As cartas que recebemos dessas pessoas, eram praticamente sinopses. Os editores dizem: “bem escrito,” “extremamente bem escrito”, “deprimente”, “atraente”, “perturbador”, “desalentador”, “chocante”, “surpreendente”, “extraordinário”, “influenciador”, “fiquei colado”, “fiquei surpreendido”, “Amei!” E todos os editores o rejeitaram. A carta da St. Martin Press diz, “Sempre me emocionei com livros do Holocausto, mas não teria problema de diferenciar este livro... de outros livros... na vasta área da literatura.”

Ok. Meu agente e eu concordamos que se não podemos vender um livro, tentaremos revistas. Um dos capítulos é sobre Solomon Morel. Lembram-se? O homem que perdeu sua mãe, pai, todos os seus irmãos, tios e tias no Holocausto. O homem que tinha tanto ódio pelos alemães, ele tinha que colocá-lo para fora, que comandou um campo de concentração em Swietochlowice, e bateu nos alemães até a morte.

Solomon ainda está vivo*. Ele é procurado pela Interpol por crimes contra a humanidade. A Interpol tem permissão internacional para conseguir sua prisão. Mas ele fugiu para Israel. Ele pegou asilo em Tel Aviv, e ninguém na América – nenhum jornal, revista ou rede de TV – jamais revelou isso.

Então, enviamos o capítulo sobre Solomon Morel para a revista Esquire. Fui editor lá, correspondente de guerra no Vietnã, Iraque, Bósnia. A Esquire diz, “Não.” Enviamos para a revista GQ. A GQ diz, “Sim!” O editor diz que é a estória mais importante na história da GQ. Ele mesmo diz que falou para um editor da Esquire em um bar em Greenwich Village “Ha, ha! Você não a tem! Nós temos!”

Por seis semanas, GQ revisa o artigo. Eles não encontram um único erro. Eles me enviam a prova de galé**, provas de página*** e na quarta-feira, as impressoras começam a rodar. E então o telefone toca em minha casa em Rocky Mountains. O editor da GQ diz, “John, esta não é uma chamada boa. Não vamos circulá-lo.” Ele me fala que posso ficar com os U$ 15.000 e vender a estória para qualquer outro.

Então, mais uma vez, meu agente e eu estamos fazendo ligações, enviando faxes, repassando as provas de página da GQ. A revista Harper diz não. A Rolling Stone diz não e “Estou certo que compreenderá.” Mother Jones, aquela grande revista exibicionista (“Extra! Extra! Cigarros fazem mal para você!”) sequer dá uma resposta. A New Yorker (a qual publicou dez artigos meus) se recusa a sequer olhá-lo.

* Em 1998, 2004 e 2005, a Polônia pediu sua extradição para julgamento por crimes contra a humanidade. Todos os pedidos foram recusados pelo governo de Israel. Solomon Morel morreu em 2007 em Israel.
** prova de galé: esboço de prova inicial de uma coluna ou trecho de texto, impresso num longo pedaço de papel.
*** provas de página: provas que são divididas em páginas, mas não precisam ter número de páginas ou cabeçalhos inseridos.

O Ataque Começa

Mas finalmente, finalmente, em março de 1993, a estória de Solomon Morel é publicada no Village Voice. E em novembro, Olho por Olho é publicado pela Basic Books, uma divisão da Harper Collins. Então, graças a Deus, agora tudo acabou. Posso relaxar agora. Não.

Pois um dia depois, há uma ligação para a Basic Books. É do diretor executivo do Congresso Mundial Judaico. Ele diz que quer a imediata retratação, e se ele não a conseguir, ele convocará uma entrevista coletiva amanhã. Ele diz que me denunciará, a Basic Books, e a Harper Collins, e diz “Eles são todos antisemitas.” Bem, não retrataremos, e o Congresso Mundial Judaico não nos denuncia. Mas...

Então, as críticas aparecem. E os críticos dizem que Olho por Olho não é verdade, que o que eu escrevi nunca aconteceu.

Por favor! Muito de Olho por Olho foi checado pela revista California, checado GQ e pela Village Voice, checado por uma mulher que é analista do Inferno. Ela e eu checamos toda e qualquer palavra, mesmo se tivéssemos que telefonar para a Polônia. E quando, após duas semanas, noite e dia, finalmente terminamos, o editor da Voice deu uma entrevista dizendo, “Isto pode ser a estória mais verdadeira na história do jornalismo americano.”

Muito de Olho por Olho foi corroborado pelo Sixty Minutes, que encontrou oito testemunhas que eu não havia achado. Foi corroborado pelo New York Times e pelo Herald Tribune. Historiadores pagos pelos principais jornais da Alemanha visitaram os Arquivos Federais Alemães e escreveram, “Os fatos estão certos,” “Os fatos são duros.”

Mas nos Estados Unidos, uma crítica foi intitulada “Falsa Testemunha”. Uma outra foi chamada de “A Grande Mentira continua”.

O jornal judeu Forward disse, “Sack está claramente escrevendo docudrama,” e disse aos leitores que Lola Potok não era comandante da prisão em Gleiwitz. Bem, a própria Lola me disse, “Eu era comandante,” e 35 outras pessoas, incluindo o atual comandante, incluindo o atual diretor da prisão, disseram sim, Lola era comandante. Tenho o documento que diz “Apontamos a cidadã Lola Potok comandante.” e eu tenho o documento assinado por Lola Potok, comandante. Mas ainda assim a Forward diz, “A impossibilidade disso é arrasadora, mas Sack... parece... esquecido.” Ao ler isto, senti que estava sendo repreendido por Grouxo Marx. Lembram-se? “Em quem você acreditará? Nos seus olhos ou em mim?” Escrevi uma carta para a Forward. Nos últimos sete anos, tive que escrever, na minha conta, umas 1.500 cartas sobre Olho por Olho. E todas estas cartas, somadas, são o dobro do tamanho do livro.

Vocês podem estar pensando. Que tipo de louco eu sou? Por que eu não mando tudo para o inferno? Por que continuo?

Vou dizer-lhes. Há 85.000 livros sobre o Holocausto. E nenhum deles, se você me perguntar, tem uma resposta honesta para a questão, “Como os alemães puderam fazê-lo?” Como puderam os alemães – o povo que nos deu Beethoven, a Nona Sinfonia, o Ode à Alegria, “Alle Menschen werden Brüder”, Todos os homens serão irmãos” – perpetrar o Holocausto?

Este mistério, temos que rsolvê-lo. Temos que fazer isso, ou continuaremos tendo genocídios no Camboja, Bósnia, Zaire. Bem, o que eu relatei em Olho por Olho é que Lola resolveu o problema. Os judeus do Escritório de Segurança do Estado resolveram o problema. Pois em sua agonia, seu desespero, sua insanidade, se vocês quiserem, eles sentiram que se tornaram como os alemães – os nazistas.


Informações sobre o livro:

http://www.johnsack.com/an_eye_for_an_eye_3.htm

3 comentários:

Rafael Vaz disse...

Ate posso concordar com sua teoria, mas afirmar que foi um holocausto alemão, já é demais.
Para chegar perto de um holocausto, deveria ter morrido pelo menos mais de seis milhões de alemães...
Coisa que os judeus nunca fariam...

Emerson Paubel disse...

Caro Rafael, não entendi esse lance de "minha teoria". Esse foi o depoimento do autor do livro. Ele pesquisou o tema profundamente. Não fiz nenhum julgamento do caso. Qualquer tipo de atrocidade contra civis deve ser condenado, não podendo ser utilizada a desculpa da vingança.

Anônimo disse...

Para Rafael

Holocausto foi que Ester fez cfe relatado na Bíblia.

Holocausto foi feito pelo comunismo judaico - eles mesmo confessam ser esta ideologia deles - pelo planeta todo.

Você queria teus 6 milhões ? Pois tens mais de 100 milhões.