quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Aliada de Merkel culpa a Polônia pela SGM

Aliada de Merkel, Steinbach, perde a compostura na culpa pela SGM

BBC, 10 de setembro de 2010

Erika Steinbach (foto) disse que a Polônia mobilizou suas tropas meses antes dos nazistas invadirem em setembro de 1939. Sua afirmação foi criticada por políticos experientes, incluindo a Sra. Merkel. Políticos poloneses condenaram sua posição em relação à guerra, que começou quando a Alemanha invadiu a Polônia em setembro de 1939. A correspondente para assuntos europeus da BBC, Oana Lungescu, diz que a Sra. Steinbach, filha de um oficial do exército alemão que serviu na Polônia ocupada, é uma figura odiada pelos poloneses há muito tempo.


 
Num encontro do Partido Democrata Cristão (CDU) no início desta semana, a Sra. Steinbach disse que a Polônia mobilizou suas tropas em março de 1939, seis meses antes de Hitler invadir o país.  O embaixador polonês na Alemanha comparou sua afirmação a propaganda nazista. Mas, ele disse, as relações atuais entre a Polônia e a Alemanha são muito fortes para serem abaladas.
A Sra. Steinbach disse na quinta-feira que ela não buscaria outro mandato na executiva nacional do CDU.

Um historiador polonês, Tomasz Szarota, chamou suas declarações de “uma tentativa de jogar parcialmente a culpa pelo início da Segunda Guerra Mundial nas costas da Polônia.” E o Ministro do Exterior alemão, Guido Westerwelle, disse que “afirmações ambíguas questionando a pesada responsabilidade da Alemanha pelo início da Segunda Guerra Mundial são inaceitáveis.”  

http://www.bbc.co.uk/news/world-europe-11261985

 
“Eu quero a verdade, nada mais do que isso.”
 

Der Spiegel, 09 de março de 2009


Quando se trata da relação da Alemanha com a Polônia, poucos desempenham um papel principal além de Erika Steinbach. Membro do conservador Democratas Cristãos da Chanceler Ângela Merkel, Steinbach lidera a controvertida Federação dos Exilados, um grupo dedicado a homenagear o sofrimento daqueles alemães que foram expulsos da Polônia e outras partes da Europa Oriental após a Segunda Guerra Mundial.

Spiegel: Sra. Steinbach, como se sente sendo o novo ícone dos conservadores alemães?

Steinbach: Eu sou? Não estava a par disso.

Spiegel: Qual é o teor das cartas e telefonemas recebidos em seu escritório?

Steinbach: Aprovação generalizada – e pedidos para permanecer firme e não desistir. Metade de nossos apoiadores não são exilados. Muitos identificam-se como social democratas, o que me surpreendeu e me gratificou. Mas, mesmo quando o centro para os exilados foi fundado, Peter Glotz, o antigo secretário do Partido Social Democrata (SPD) fez parte dele. Muitas cidades com prefeitos do SPD apóiam nosso projeto.

Spiegel: A sra. tem grande aprovação dos democratas cristão (CDU) e de seu partido irmão bávaro, o CSU. Mas nenhum colega do CDU tem sido mais calado nesta questão: a chanceler. Ângela Merkel te desapontou?

Steinbach: Não. A chanceler apóia firmemente a fundação. Ela é a favor da iniciativa. Tenho uma relação boa e de confiança com Ângela Merkel. Mas ela está numa situação difícil. A chanceler sabe que membros do SPD do gabinete não concordariam com minha indicação (N. do Ed.: para a diretoria de uma fundação comprometida em construir um centro de documentação sobre a expulsão de alemães da Polônia e outros lugares na Europa oriental após a SGM), e que os poloneses se oporiam. Esta é a razão porque ela foi incapaz de colocar a questão na agenda do gabinete. Compreendo isto. Mas minha federação também não queria dar uma de politicamente perseguido. Nosso auto-respeito também está em jogo.

Spiegel: Mas a senhora colocou a chanceler sob pressão política – e a forçou em uma situação difícil de decidir entre a sua Federação dos Exilados e a relação com a Polônia.

Steinbach: O governo alemão estava feliz com a substituição do Primeiro Ministro polonês Jaroslaw Kaczynski de direita por Donald Tusk em novembro de 2007. Tusk é um homem razoável. Encontrei-me com ele duas vezes em discursos de palanque. No entanto, Tusk permanece sob intensa pressão na Polônia. De qualquer forma, não pressionei a chanceler. Ao invés disso, forcei o SPD a revelar como ele se sente sobre a liberdade de decisão de uma organização das vítimas sem fins lucrativos.

Spiegel: A chanceler lhe aconselhou a voltar atrás como a senhora fez semana passada?

Steinbach: Não. Este passo foi dado pelo meu comitê de aconselhamento. A chanceler não interveio. O SPD não me queria. Consequentemente, devido ao acordo de coalizão com o SPD, a chanceler não teve opções deixadas para pressionar pela minha indicação.

Spiegel: A senhora criticou o Ministro do Exterior (Frank-Walter) Steinmeier por não ter saído em sua defesa contra as acusações polonesas, algumas das quais chegaram inclusive a caracterizá-la como uma negadora do Holocausto. Mas a senhora poderia dizer o mesmo da chanceler. Ela não lhe defendeu.

Steinbach: Acontece que também tenho um coração CDU. E o Steinmeier (N. do T.: ele pertence ao SPD e é opositor de Merkel) é o ministro do exterior, o que significa que é o seu trabalho.

Spiegel: Alguns poloneses viram sua renúncia como uma manobra.

Steinbach: Tusk não pacificou os nacionalistas em seu país. Eles não querem o centro de jeito nenhum. Naturalmente, as expulsões de alemães após a SGM é uma memória dolorosa para muitos poloneses. Mas também foi dolorosa para nós alemães, lidando com nosso passado miserável. Isto não é fácil. Os países pós-comunismo não completaram seu processo de auto-descoberta ainda. Eles ainda estão dominados pelo seu trauma e ainda tem problemas econômicos. Para eles, o processo de descobrir sua identidade é um caminho muito longe de estar completado.

Spiegel: A senhora parece estar pedindo muito dos poloneses, quando o assunto é a expulsão. Nós alemães temos, por maioria, concordado em uma interpretação compartilhada de nossa história. Os poloneses ainda estão a um longo caminho deste tipo de consenso histórico. E então a senhora aparece e diz: por favor, reconheçam nossa expulsão alemã.

Steinbach: Mas eu compreendo o sentimento dos poloneses. Nos países pós-comunistas, levará mais 20 anos para as pessoas estarem em paz consigo mesmas. Nós alemães levamos tempo semelhante. Mas se eles nos acusam, como uma organização de direitos das vítimas, de não ter interesse em reconciliação, se não há evidência de simpatia, e se os poloneses constantemente ignoram nossa mão estendida, então eu não sei mais o que fazer. Tudo o que eu digo e faço é interpretado como sendo o oposto. Se eu jogar açúcar em sua torrada, eles dizem que é sal. Os poloneses devem tratar de seus problemas primeiro. Mas eles não têm o direito de se meter nos assuntos domésticos alemães e determinar como devemos homenagear nossas vítimas.

Spiegel: Talvez a senhora seja algumas vezes tão insensível quando envolve assuntos delicados do passado? A senhora é capaz de auto-crítica?

Steinbach: Pergunto-me constantemente o que poderia ajudar a resolver a questão. É claro que a Federação dos Exilados e alguns de seus líderes antigos tem sido alvos favoritos da hostilidade polonesa. Mas não pode ser a responsabilidade de uma organização de direitos das vítimas negar os fatos de sua responsabilidade no sentido de alcançar melhores relações internacionais. A empatia mútua – isto é a solução correta.

Spiegel: Mesmo assim, um daqueles líderes, Herbert Hupka, foi mesmo agraciado com um prêmio na Polônia nos anos 1990.

Steinbach: Ele não estava mais atuando nesta época, e ele foi tornado cidadão honorário de sua cidade. Ao nível municipal, existiam, e ainda existem, boas conexões entre os exilados e os poloneses. Há programas de parceria, e eles promovem festas no verão, vão em peregrinações e participam de serviços religiosos juntos.

Spiegel: O fato da senhora ter votado contra o reconhecimento da linha Oder-Neisse (N. do Ed.: a fronteira entre a Alemanha e Polônia estabelecida após a SGM) no Bundestag em 1991 não encorajou exatamente essa cordialidade.

Steinbach: Meu objetivo na época, junto com outros membros do parlamento era garantir que todas as questões não-respondidas, tais como a restituição, fossem resolvidas simultaneamente com a da fronteira, de modo a estabelecer uma paz permanente. E não fazer isso foi um erro estratégico, como os debates territoriais violentos dos anos recentes têm demonstrado. Na época, também deixamos claro que reconheceríamos a fronteira Oder-Neisse como a fronteira obrigatória sob a lei internacional.

Spiegel: Seu pai era um soldado no exército alemão que ocupou a Plônia. Isto é algo difícil para os poloneses engolirem quando a senhora fala em sua capacidade como chefe da Federação dos Exilados. Isto é claro para a senhora?         

Steinbach: As decisões de governos passados não deveriam ser descarregadas sobre a população civil. Se os soldados não tinham opção, então isto não é certamente diferente para mulheres e crianças.

Spiegel: Aliás, seus pais vieram da Alemanha ocidental.

Steinbach: Meu pai não invadiu a Polônia em 1939. Ele chegou lá mais tarde como soldado na força aérea. Coincidentemente, o lado da família do meu pai é da Silésia, e muitos dos meus tios avós foram expulsos de lá em 1946. Mas os poloneses, é claro, não estão interessados nisto. No final, este tipo de debate é uma tática muito banal de desvio de foco.

Spiegel: A senhora não nasceu no antigo Reich alemão, mas na Polônia ocupada. Não teria tido mais sentido a senhora mesma revelar a história da sua família ao invés de deixar isso para os jornais poloneses? Consequentemente, jornais em Varsóvia estavam afirmando que Steinbach não é uma exilada verdadeira.

Steinbach: minha ancestralidade está documentada no Bundestag alemão. Mas eu devo justificar onde nasci? Isto é irracional e uma desculpa. Os poloneses não estão com medo da reinterpretação da história, mas de serem investigados. Além disso, muitos dos exilados não foram expulsos de antigas partes orientais da Alemanha, mas de países como Hungria, República Tcheca e Iugoslávia. Felizmente, ninguém de nenhum destes países está sendo envolvida.

Spiegel: Os poloneses prestam muita atenção a tudo o que a senhora diz. Por que continua provocando-os? Em uma entrevista, a senhora afirmou que sem Hitler os poloneses não teriam sido capazes de atingir seu objetivo de expulsar os alemães. O Führer como carrasco disposto do sentimento público polonês? A senhora fala sério?

Steinbach: Percorremos um longo caminho, se a verdade é reinterpretado para significar provocação. Acontece que é fato que cartões postais foram usados na Polônia antes do começo da SGM que mostravam as fronteiras do país próximas de Berlim. E políticos poloneses queriam reduzir os “elementos estrangeiros” – que incluíam, além dos alemães, ucranianos e bielorussos – para menos de 1%. São afirmações provadas. Isto não quer dizer que o que Hitler fez foi justificado. Depois dos russos, os poloneses são o povo mais maltratado da Europa. Há um trauma profundo lá, particularmente do dato de que o país foi dividido três vezes em sua história.

Spiegel: Nas quais os alemães estiveram envolvidos.

Steinbach: Sim, nós sempre estivemos envolvidos.

Spiegel: E, após 1945, não foi ideia dos cidadãos de Lviv, na qual era então a Polônia Oriental mas agora pertence à Ucrãnia, serem reassentados em Wroclaw sob as ordens de Stalin.

Steinbach: É claro que não. Sou familiar com o destino dos poloneses orientais queforam expulsos na época, assim como a estória de Zamosc. Apresentamo-la em uma exibição. A Federação dos Exilados também organizou um evento sobre o Levante de Varsóvia, em primeira mão na Alemanha. Mas a reação na Polônia foi: isto é um ultraje. A Federação dos Exilados está levando embora nosso santuário. Poderia ficar de cabeça para baixo, pegando moscas com os pés, mas não faria nada de bom. Por este motivo estou desistindo. Os poloneses primeiro tem que se acalmar. Não posso ajudar nisso. Sou deturpada, deformada e insultada na Polônia. Mas meu bom desejo ainda está lá. Entretanto, estendemos nossas mãos em reconciliação, e fomos atacados em retorno. Após 1965, os poloneses erradicaram a mensagem de seus próprios bispos de suas memórias: “Perdoamos e pedimos perdão.” Isto é trágico.

Spiegel: A senhora exige o reconhecimento do sofrimento dos exilados. Às vezes, parece somo se ninguém a tenha escutado ao longo de 60 anos de história alemã do pós-guerra. Mas nos anos 1950 e 1960, a expulsão dos antigos territórios orientais era o assunto principal nas políticas domésticas alemãs – muito tempo antes da discussão aberta do Holocausto começar.

Steinbach: Havia, de fato, considerável solidariedade com os exilados na época. Mesmo assim, os novos visitantes não eram recebidos de braços abertos. Após 1968, o tratamento da mídia em relação aos exilados começou a deteriorar e, em muitos casos, eles eram literalmente denunciados. Hoje, graças a Deus, isto mudou.

Spiegel: As diferenças entre 1968 e hoje certamente têm a ver com os ataques violentos das organizações de exilados contra a política de (Willy) Brandt para a Europa Oriental. Mas a senhora não pode reclamar hoje que o destino dos exilados é ignorado na mídia. De Günter Grass aos filmes produzidos, a expulsão dos alemães é um assunto ardente.

Steinbach: Nós, como federação, gastamos os últimos 10 anos intensivamente contribuindo e pressionando por este desenvolvimento.

Spiegel: Sra. Steinbach, quando foi a última vez que visitou a Polônia?

Steinbach: A última vez foi quando encontrei Donald Tusk em Grünberg (Zielona Góra). Foi há poucos anos atrás. Ele ainda era membro da oposição na época. Como recepção, queimaram uma imagem minha fora do prédio.

Spiegel: É possível que a senhora não seja diplomática o suficiente para este trabalho?

Steinbach: Acredito que geralmente posso ir direto ao assunto. Quero a verdade, e nada além da verdade. Se eu me expressasse como uma diplomata, não seria ouvida. É claro, quero ser uma porta-voz, alguém que pode ser ouvido, para aqueles que, como resultado de uma restrição política, não pode articular seu destino. Se eu fosse chegada a rodeios, eles diriam: legal, mas chato.    


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