domingo, 30 de novembro de 2014

[SGM] Tudo o que sabemos sobre as intenções de Hitler foi um mito criado por Churchill

Kevin Myers, 19/06/2012

 
É bom que o governo vá perdoar os milhares de desertores do Exército que foram convocados para as forças britânicas durante a Segunda Guerra Mundial. É claro, nenhum exército pode permitir a deserção; entretanto, estes homens não foram levados à corte marcial, mas foram submetidos a uma exclusão do emprego público que privou-lhes de seu direito constitucional devido ao processo. Além disso, a vasta maioria deles desertou de junho de 1941 em diante, quando a possibilidade teórica de uma invasão alemã já havia desvanecido, e após o governo De Valera ter violado, ao decidir reter os voluntários indefinidamente, os termos originais do alistamento (entre um e dois anos) pelo qual a maioria havia assinado em 1940.[1] Os homens que desertaram o fizeram depois de perceber que haviam sido enganados e terem se tornado servos, apenas cortando relva no Pântano de Allen.

Esta foi a segunda grande mentira de nossas vidas na juventude. A primeira foi que a Irlanda enfrentou uma ameaça séria de invasão pela Alemanha, que foi a semente de uma falsidade ainda maior – que em 1940 Hitler queria invadir a Grã-Bretanha. Mas ele não queria. Ele, de fato, admirava o Império Britânico, por causa de sua inerente presunção de superioridade racial. Sabemos dos diários de Lorde Halifax, o ministro do exterior britânico, que Hitler ofereceu termos que não envolviam o controle alemão da Grã-Bretanha. Churchill recusou permitir que estes termos fossem lidos ao Gabinete, e eles ainda permanecem prudentemente escondidos sob o manto do sigilo absoluto.

Ao invés disso, a determinação de Churchill em manter a Grã-Bretanha em guerra revelou-se meramente em uma derrota continental de seu exército no mito duradouro de que em 1940, a Grã-Bretanha enfrentava uma luta pela sobrevivência.[2]

Mas o líder naval, Almirante Raeder, repetidamente proibiu que sua equipe planejasse uma invasão da Grã-Bretanha. E longe de querer continuar a guerra, em junho de 1940, Hitler ordenou que 20 divisões de seu exército fossem desmobilizadas no sentido de recuperar a economia alemã. A “frota de invasão” que os nazistas começaram a montar naquele verão era tão capaz de invadir a Grã-Bretanha quanto o Havaí. Era uma guerra por ilusão: sua proposta era fazer com que a Grã-Bretanha se sentasse à mesa de negociação.

Esta “frota” consistia de 1900 barcaças de canal, somente um terço das quais eram motorizadas, para serem alinhadas ao longo do canal, em grupos de três, por cerca de 380 rebocadores. Estas barcaças  tinham pequenas quilhas, proas contundentes e pequenos lemes com apenas dois metros de altura livre: a distância entre a água e a parte superior do casco. Elas teriam sido mesmo afundadas durante uma travessia direta do Canal da Mancha, um trajeto violento e raso ligando o violento Mar do Norte ao Atlântico. Mas uma invasão não teria sido direta. As barcaças, com suas tripulações mal treinadas, teriam sido capazes somente de fazer três nós, a partir dos três “centros” de invasão: Rotterdam, Le Havre e Boulogne. Estes portos estão, respectivamente, de quaisquer praias de desembarque, na melhor das hipóteses, 320 km e 60 horas, 160 km e 30 horas e 80 km e 15 horas, com soldados enjoados empilhados em barcaças apertadas sem banheiro ou água. Qual exército estaria preparado para lutar após uma viagem como esta? E, além disso, havia os 55.000 cavalos que a Wehrmacht precisaria, já que seu transporte ainda não era mecanizado.

Se tudo corresse bem, e este é um termo relativo, a primeira “onda” consumiria 10 dias para desembarcar, com as que operam para e destes três portos distantes, exigindo marés que teriam de obedecer às exigências do Fuehrer, ao invés dos velhos lobos do mar, em comboio, muitas vezes, à noite, e sempre sem luzes de navegação.

Por que sem luzes? Ah, a Marinha Real. É aqui que o assunto torna-se totalmente fantasmagórico. Em agosto de 1940, a Frota doméstica britânica SOZINHA consistia de 140 destróieres, 40 cruzadores e fragatas, cinco encouraçados e dois porta-aviões.

A marinha alemã total, a Kriegsmarine, consistia de apenas 7 destróieres, um cruzador com motores não confiáveis, dois cruzadores em operação, sem porta-aviões, encouraçados ou cruzadores de batalha: o Bismarck e o Tirpitz ainda estavam em construção e o Gneisenau e o Scharnhorst foram danificados e estavam fora de ação até o próximo inverno.

E  a Luftwaffe? Bem, ela não tinha nenhuma aeronave transportadora de torpedos, enquanto que a Grã-Bretanha tinha dois (o Beaufort e o Swordfish, ambos mais tarde mostrando seu poderio ao desabilitar importantes navios alemães), e bombardeio aéreo em mar aberto de navios armados é incrivelmente difícil, mesmo para bombardeios de mergulho: as miras do Stuka eram calibradas para alvos estacionários. Tudo bem, mas a costa britânica não estava indefesa em 1940? Não – além de um grande exército britânico intocado, duas novas divisões canadenses bem equipadas chegaram naquele verão, assim como 200.000 fuzis importados dos EUA.

Isto não diminui o valor da causa aliada, ou a decisão posterior de aproximadamente 7.000 desertores do Exército em pegar novamente em armas contra um dos regimes mais tirânicos da história.

Contudo, quase tudo o que as pessoas acreditaram sobre as intenções de Hitler em relação à Grã-Bretanha em 1940 – e ainda continuam acreditando – foi um mito criado por Churchill, que provavelmente ele próprio acreditava. Considere todos os fatos acima, e então considere como o mito tem perdurado, apesar deles. Faz você pensar, não?


Notas

[1] Éamon de Valera (1882 – 1975) foi uma das figuras políticas dominantes na Irlanda no século XX. Ele foi um dos líderes da Guerra de Independência da Irlanda contra a Grã-Bretanha e era um político conservador que acreditava que a Igreja Católica e a família eram os elementos centrais da identidade irlandesa. De Valera era a favor da neutralidade em relação à guerra na Europa, mas pressão popular obrigou o governo irlandês a ceder tropas para a Grã-Bretanha.

[2] Churchill estava tão obstinado em destruir Hitler que mandou seu serviço secreto forjar um suposto mapa do continente americano sob o controle alemão no sentido de puxar os EUA para a guerra. Ver tópico “O Mapa Secreto de Hitler que colocou os EUA na guerra”.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Ainda que houvesse fundamentos em tais especulações, é preciso ponderar que o regime nazista era um mal em si mesmo, que tinha que ser necessariamente combatido e derrotado. Teria sido estupidez das potências ocidentais prosseguir no apaziguamento e permitir que o III Reich sobrevisse, sacrificando toda a europa no altar do anticomunismo, com enorme sofrimento para muitas populações, só para que os nazistas prosseguissem na sua obra inumana, e se tornassem ainda mais perigosos.