Esta
foi a segunda grande mentira de nossas vidas na juventude. A primeira foi que a
Irlanda enfrentou uma ameaça séria de invasão pela Alemanha, que foi a semente
de uma falsidade ainda maior – que em 1940 Hitler queria invadir a
Grã-Bretanha. Mas ele não queria. Ele, de fato, admirava o Império Britânico,
por causa de sua inerente presunção de superioridade racial. Sabemos dos
diários de Lorde Halifax, o ministro do exterior britânico, que Hitler ofereceu
termos que não envolviam o controle alemão da Grã-Bretanha. Churchill recusou
permitir que estes termos fossem lidos ao Gabinete, e eles ainda permanecem
prudentemente escondidos sob o manto do sigilo absoluto.
Ao
invés disso, a determinação de Churchill em manter a Grã-Bretanha em guerra
revelou-se meramente em uma derrota continental de seu exército no mito
duradouro de que em 1940, a Grã-Bretanha enfrentava uma luta pela
sobrevivência.[2]
Mas
o líder naval, Almirante Raeder, repetidamente proibiu que sua equipe
planejasse uma invasão da Grã-Bretanha. E longe de querer continuar a guerra,
em junho de 1940, Hitler ordenou que 20 divisões de seu exército fossem
desmobilizadas no sentido de recuperar a economia alemã. A “frota de invasão”
que os nazistas começaram a montar naquele verão era tão capaz de invadir a
Grã-Bretanha quanto o Havaí. Era uma guerra por ilusão: sua proposta era fazer
com que a Grã-Bretanha se sentasse à mesa de negociação.
Esta
“frota” consistia de 1900 barcaças de canal, somente um terço das quais eram
motorizadas, para serem alinhadas ao longo do canal, em grupos de três, por
cerca de 380 rebocadores. Estas barcaças tinham pequenas quilhas, proas contundentes
e pequenos lemes com apenas dois metros de altura
livre: a distância entre a água e
a parte superior do casco. Elas teriam
sido mesmo afundadas durante uma travessia direta do Canal da Mancha, um
trajeto violento e raso ligando o violento Mar do Norte ao Atlântico. Mas uma
invasão não teria sido direta. As barcaças, com suas tripulações mal treinadas,
teriam sido capazes somente de fazer três nós, a partir dos três “centros” de
invasão: Rotterdam, Le Havre e Boulogne. Estes portos estão, respectivamente, de
quaisquer praias de desembarque, na melhor das hipóteses, 320 km e 60 horas, 160
km e 30 horas e 80 km e 15 horas, com soldados enjoados empilhados em barcaças
apertadas sem banheiro ou água. Qual exército estaria preparado para lutar após
uma viagem como esta? E, além disso, havia os 55.000 cavalos que a Wehrmacht
precisaria, já que seu transporte ainda não era mecanizado.
Se tudo corresse
bem, e este é um termo relativo, a primeira “onda” consumiria 10 dias para
desembarcar, com as que operam para e destes três portos distantes, exigindo marés que teriam de obedecer
às exigências do Fuehrer, ao
invés dos velhos lobos do mar, em
comboio, muitas vezes, à noite, e sempre sem luzes de navegação.
Por que sem
luzes? Ah, a Marinha
Real. É aqui que o assunto torna-se
totalmente fantasmagórico. Em agosto de 1940, a Frota doméstica britânica
SOZINHA consistia de 140 destróieres, 40 cruzadores e fragatas, cinco
encouraçados e dois porta-aviões.
A marinha alemã total, a
Kriegsmarine, consistia de apenas 7 destróieres, um cruzador com motores não
confiáveis, dois cruzadores em operação, sem porta-aviões, encouraçados ou
cruzadores de batalha: o Bismarck e o Tirpitz ainda estavam em construção e o
Gneisenau e o Scharnhorst foram danificados e estavam fora de ação até o
próximo inverno.
E
a Luftwaffe? Bem, ela não tinha nenhuma aeronave transportadora de
torpedos, enquanto que a Grã-Bretanha tinha dois (o Beaufort e o Swordfish,
ambos mais tarde mostrando seu poderio ao desabilitar importantes navios
alemães), e bombardeio aéreo em mar aberto de navios armados é incrivelmente
difícil, mesmo para bombardeios de mergulho: as miras do Stuka eram calibradas
para alvos estacionários. Tudo bem, mas a costa britânica não estava indefesa
em 1940? Não – além de um grande exército britânico intocado, duas novas
divisões canadenses bem equipadas chegaram naquele verão, assim como 200.000
fuzis importados dos EUA.
Isto não diminui o valor da causa
aliada, ou a decisão posterior de aproximadamente 7.000 desertores do Exército
em pegar novamente em armas contra um dos regimes mais tirânicos da história.
Contudo, quase tudo o que as pessoas
acreditaram sobre as intenções de Hitler em relação à Grã-Bretanha em 1940 – e ainda
continuam acreditando – foi um mito criado por Churchill, que provavelmente ele
próprio acreditava. Considere todos os fatos acima, e então considere como o
mito tem perdurado, apesar deles. Faz você pensar, não?
Notas
[1] Éamon de Valera (1882 – 1975) foi
uma das figuras políticas dominantes na Irlanda no século XX. Ele foi um dos
líderes da Guerra de Independência da Irlanda contra a Grã-Bretanha e era um
político conservador que acreditava que a Igreja Católica e a família eram os
elementos centrais da identidade irlandesa. De Valera era a favor da
neutralidade em relação à guerra na Europa, mas pressão popular obrigou o
governo irlandês a ceder tropas para a Grã-Bretanha.
[2] Churchill estava tão obstinado em
destruir Hitler que mandou seu serviço secreto forjar um suposto mapa do
continente americano sob o controle alemão no sentido de puxar os EUA para a
guerra. Ver tópico “O Mapa Secreto de Hitler que colocou
os EUA na guerra”.
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Um comentário:
Ainda que houvesse fundamentos em tais especulações, é preciso ponderar que o regime nazista era um mal em si mesmo, que tinha que ser necessariamente combatido e derrotado. Teria sido estupidez das potências ocidentais prosseguir no apaziguamento e permitir que o III Reich sobrevisse, sacrificando toda a europa no altar do anticomunismo, com enorme sofrimento para muitas populações, só para que os nazistas prosseguissem na sua obra inumana, e se tornassem ainda mais perigosos.
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