sábado, 10 de janeiro de 2015

O Pequeno Ditador da Áustria: Engelbert Dollfuss

A. D. Harvey

History Today, Vol. 59 nº 7 jul/2009




Em julho de 2009 foi lembrado o assassinato de Engelbert Dollfuss, um dos ditadores da Europa do século XX menos conhecidos, porém mais intrigantes. Em 25 de julho de 1934, menos de um mês após a “Noite das Longas Facas”, quando Hitler executou sumariamente a liderança das tropas de assalto que o ajudaram a chegar ao poder, grupos nazistas lançaram um golpe de estado na Áustria. Na região sul do país, a luta continuou por quase uma semana. Em Viena, os nazistas que invadiram os escritórios do Chanceler em Ballhausplatz se renderam poucas horas depois, mas não antes de Dollfuss, atingido com um tiro no peito nos primeiros minutos após a rebelião, ter sido permitido afogar-se em seu próprio sangue.

Engelbert Dollfuss tornou-se Chanceler da Áustria em maio de 1932, cinco meses após o seu quadragésimo aniversário, após servir por quase um ano como ministro da agricultura. Ele tinha uma maioria parlamentar de apenas um e, em outubro de 1932, ele reativou o Ato de Permissão de Economia de Guerra de 1917 de modo que ele poderia governar por decreto. Sempre mais interessado em reformas sociais do que na democracia, o primeiro decreto de Dollfuss sob o Ato de 1917 foi tornar os acionistas do maior banco da Áustria, o Creditanstalt, responsáveis pelas perdas do banco insolvente.

Em março de 1933, os três presidentes do Parlamento austríaco renunciaram para votar em uma divisão; foi percebido somente após suas renúncias que sem um presidente não havia nenhum método constitucional de conduzir as atividades parlamentares.

Dollfuss anunciou imediatamente que ele governaria sem parlamento e proibindo manifestações públicas. Em maio de 1933, ele uniu seu Partido Social Cristão e outros grupos nacionalistas com milícias organizadas de ex-combatentes conhecidas como Heimwehr, para criar a Frente Patriótica (Vaterländische Front). Ele também baniu o Partido Comunista. Em junho de 1933, ele baniu o Partido Nazista também. No núcleo de seu programa estava a manutenção da independência da república austríaca; os nazistas da Áustria exigiam a união com a Alemanha sob a liderança de Adolf Hitler. Talvez um tipo de rival no simbolismo para a suástica nazista, Dollfuss começo a promover o uso da “Cruz da Muleta”, ou “Cruz de Jerusalém” (Krückenkreuz) como símbolo nacional, uma cruz branca com pedaços transversais no final de cada braço, delineado em vermelho. As eleições locais foram canceladas e uma concordata foi assinada com o papado dando mais independência à hierarquia católica na Áustria. Em outubro de 1933, Dollfuss sobreviveu a uma tentativa de assassinato: um projétil de pistola que atingiu seu peito foi defletida por uma caixa de rapé em seu bolso, provocando somente um arranhão e uma contusão; um segundo projétil atingiu seu braço.

Bandeira fascista austríaca

Em fevereiro de 1934, um levante descoordenado de milícias socialistas em Linz, Steyr e Viena, em resposta à tomada de poder por Dollfuss, levou ao bombardeio com artilharia dos condomínios dos trabalhadores. Somente um par de canhões de pequeno diâmetro foi utilizado e cerca de seis insurgentes foram mortos com o bombardeio. Oito insurgentes foram julgados subsequentemente e executados por rebelião armada. Mas o espetáculo de um político de extrema direita que governava por decreto empregando artilharia contra lares e famílias de trabalhadores esquerdistas causou furor e terror nas capitais da Europa. O próximo passo de Dollfuss foi banir todos os partidos políticos na Áustria, exceto sua Frente Patriótica.

Apesar deste currículo pouco lisonjeiro, Dollfuss tinha pouco em comum com seus contemporâneos Mussolini e Hitler. Ele também diferia deles por ter uma origem social mais sombria e na trajetória de sua ascensão ao poder. Parte da lenda de Hitler e Mussolini era a humildade de suas origens; respeitáveis, mas na parte inferior da classe média baixa. Dollfuss era filho de um camponês. Diferentemente de Mussolini e Hitler, ele era adotado, criado em um lar cujo chefe da família não era seu pai. Trabalhador árduo, ao invés de estudante talentoso, ele foi educado em um Seminário e eventualmente foi para a Universidade de Viena para estudar teologia no sentido tornar-se padre. Achando-se mais interessado em estudos sociais, em 1914 Dollfuss voltou-se para o Direito. Ele também começou a lecionar em cursos noturnos voltados para operários. Então veio a Primeira Guerra Mundial. Com estatura insuficiente para o Exército, Dollfuss foi recusado para qualquer serviço militar por causa de sua fragilidade física, mas ele agora tornou-se um oficial do Landwehr (algo como Exército Territorial, com qualificações inferiores ao Exército regular). Ele acabou tornando-se um excelente oficial, foi condecorado oito vezes e, incomum para um oficial sem nenhuma experiência em combate, promovido a Tenente (Oberleutnant).

Após a guerra, ele terminou sua graduação em Direito (especializando-se em economia agrícola), continuando seus estudos por alguns meses em Berlim. Lá, ele conheceu a filha de um latifundiário alemão e a levou para Viena como sua noiva. Eles tiveram três filhos, o primeiro tendo falecido ainda na infância. Dollfuss conseguiu emprego na administração de agricultura em sua província natal da Áustria Baixa, tornando-se diretor da Câmara de Agricultura em 1927. Ele representou a república austríaca em congressos internacionais em Roma em 1928 e em Bucareste em 1929. Sua reputação crescente levou à sua indicação como presidente do Departamento Ferroviário em outubro de 1930 e como Ministro da Agricultura no governo federal cinco meses depois. Um autodidata intelectual como Hitler, pintor e bibliófilo, e Mussolini, o jornalista, sua ascensão profissional foi de uma origem pouco promissora até uma carreira mais distintamente convencional.

A Áustria foi uma das nações mais traumatizadas pela Primeira Guerra Mundial. Em 1914, ela representava o núcleo de um império multicultural, indo de umas poucas centenas de quilômetros da fronteira com a França até bem no interior do Leste Europeu onde hoje é a Ucrânia. O desmembramento do Império Habsburgo separou as províncias que se tornaram a república austríaca da Boêmia, a principal região industrial do antigo império e da Hungria, uma principal fonte de alimentos. Viena, uma capital agitada com uma população de mais de dois milhões de habitantes, tornou-se uma metrópole sem interior, sem função e sem empregos suficientes para sua população.

Inicialmente, os austríacos, sendo alemães étnicos, esperavam a união com a Alemanha, mas isto foi vetado pela Grã-Bretanha, França e Itália, os vitoriosos da Europa na guerra. Um plebiscito extraoficial em Vorarlberg, a província mais ocidental, optou esmagadoramente pela união com a Suíça, mas o governo suíço recusou o resultado. Unidas somente pela língua, as províncias da Áustria tinham pouco espírito de identidade cultural. A cidade e província de Salzburgo não tinha sido território Habsburgo até o início do século XIX, tendo previamente sido um principado eclesiástico do Sacro Império Romano.

A nova nação foi criada, ou melhor imposta, nas circunstâncias econômicas e constitucionais pouco familiares da era pós-Primeira Guerra Mundial sob o acompanhamento de crises esporádicas de violência e banhos de sangue. Dollfuss foi um daqueles que lutaram para ajudar a construí-la. A realização da qual ele era mais orgulhoso como administrador agrícola na Áustria Baixa foi o estabelecimento de um esquema de seguro social para trabalhadores agrícolas, mas ele também planejou um aumento de 60% na produção de laticínios. Num certo sentiso, ele conseguiu ficar imune à política altamente polarizada da capital. Ernst Starhemberg, líder do Heimwehr de extrema direita, e logo um aliado-chave do Chanceler, mais tarde afirmou que ele encontrou-se com Dollfuss somente duas vezes antes de 1932.

A relação de Dollfuss com Starhemberg pode ser vista como típica ou mesmo como definidora de sua ditadura. Apesar dos títulos aristocráticos terem sido abolidos no início republicano da nova Áustria, Starhemberg era um príncipe, da mesma família de Ernst Starhemberg que comandou a defesa de Viena contra os turcos em 1683 e foi um dos homens mais ricos e com melhores conexões do país. Apesar de ter nascido somente em 1899, ele lutou nos estágios finais da Primeira Guerra Mundial, servindo, como Dollfuss, no front italiano. Em 1930, ele foi brevemente Ministro do Interior, mas renunciou após o Heimwehr ter conseguido apenas 6% dos votos nas eleições daquele ano. Tirando o fato de ser autoritário e antissocialista, ele tinha poucas convicções políticas firmes, havia flertado com a ideia de união com a Alemanha e, como deve ter sido óbvio pata Dollfuss, ele não era particularmente brilhante. Mesmo assim, estes dois homens logo estavam familiares um com o outro, usando seus nomes e a forma familiar “você” para se dirigir um ao outro que era normalmente empregada somente entre parentes e crianças na fase escolar. Dollfuss indubitavelmente via o Heimwehr como sendo útil ao regime, uma contraparte aos camisas negras de Mussolini e às tropas de assalto de Hitler. Ele foi ativo em desbaratar a revolta socialista em 1934 e foi em parte ao reconhecimento de sua lealdade que Starhemberg foi indicado vice-chanceler da república em maio daquele ano. No mesmo mês, foi promulgada a nova constituição na qual as eleições seriam na base de pertencer a sete estados ou setores econômicos, por exemplo, agricultura, indústria ou serviço público: na prática, um sistema que favorecia os patrões ao invés dos empregados. É fácil detectar um cálculo cínico na relação de Dollfuss com Starhemberg e em sua falsidade constitucional e é verdade que ele era um praticante da “arte do possível”, mas seus contemporâneos não o viam como cínico ou manipulador ou um viciado em poder. Dollfuss não era um tipo super-homem messiânico e magnético como Mussolini ou Hitler. Ele também era um tipo diferente de líder: aqueles que o conheciam afirmavam que ele era calmo, generoso, razoável, sincero que trilhou seu caminho não pela sua inteligência excepcional nem charme, mas por sua devoção ao seu país. Ele gostava de Starhemberg porque ele achava que o príncipe era parecido com ele.

Em quase todos os sentidos Dollfuss oferece um contraste com os outros ditadores. Hitler e Mussolini foram cabos na guerra, mas seus postos inferiores eram mais uma questão de um ligeiro suplemento para o seu pagamento do que responsabilidade, enquanto que Dollfuss consumiu quatro anos ordenando a homens que caminhassem para sua morte e liderando o caminho. Enquanto Hitler e Mussolini somente gostavam das pessoas que poderiam dominar, Dollfuss não se incomodava em conviver com pessoas de sua classe ou aqueles, como Starhemberg, supostamente superiores por nascimento. Diferentemente de Hitler, ele era casado e diferentemente de Mussolini ele era fiel à sua esposa. Em contraste com Hitler, um não-fumante, ele fumava 40 cigarros por dia. Mussolini, apoiando e projetando seu queixo com um narcisismo ridículo, proferindo suas banalidades com a idiotice de um gramofone com defeito, foi um dos oradores menos atraentes na história da política italiana. Hitler discursava com um sotaque regional forte que o fazia parecer à maioria dos alemães um comediante de palco e reforçava o efeito com linguagem corporal que parece se opor ao que é recomendado em qualquer livro sobre o assunto. Salazar em Portugal e Franco na Espanha tinham ambos vozes chiadas. Dollfuss parecia perfeitamente normal. Ele também tinha uma face juvenil e agradável e um corpo proporcionalmente perfeito[1].

Mas, apesar de sua fragilidade física, não havia nada de frágil em relação à figura política de Dollfuss. Ele era um Chanceler que havia sido um oficial do Exército, um homem decidido a fazer qualquer coisa que seu dever o exigisse. Ele falou abertamente ao adido britânico em Viena da “luta pela independência da Áustria na qual ele estava envolvido com a Alemanha de Hitler” e em 1934 havia a perspectiva que ele poderia consolidar de vez seu poder na Áustria e sobreviver às tentativas da agora ilegal organização nazista austríaca de forçar a união com a Alemanha. Hitler ainda estava fraco. Ele nem mesmo ousou enviar suas tropas ao distrito desmilitarizado da Renânia antes de 20 meses após a morte de Dollfuss e quando ele eventualmente anexou a Áustria, em 1938, o avanço triunfal do novo Exército alemão através da fronteira deixou em seu rastro uma ninhada de tanques quebrados e, em muitos casos, obsoletos.

Havia tanto antissemitismo na república austríaca quanto no inteiro Império Habsburgo – em outras palavras, muito. Dollfuss encontrou-se com poucos judeus, mas no seminário e entre os líderes camponeses da Baixa Áustria ele encontrou-se com muitos antissemitas desinformados. Apesar dele estar provavelmente ciente que a demissão de funcionários públicos conhecidos por serem socialistas estava sendo usada como um pretexto para dispensar judeus que não tinham nenhum tipo de conexão socialista, Dollfuss simplesmente não estava interessado em copiar o programa antissemita de Hitler. Houve menos quebra de vidros e violência na Áustria do que na Alemanha Nazista, mesmo se houvesse alguns tiroteios, e seria errado sugerir que o regime de Dollfuss poderia tornar-se mais duro à medida que o tempo passasse se ele achasse isso necessário. Foi a sua devoção ao Catolicismo assim como seu comprometimento com uma Áustria não dominada politicamente pela maioria protestante dos alemães da região norte que era a base da determinação de Dollfuss em manter seu país fora do controle de Hitler, mas seu catolicismo era uma religião de ordem, obrigação e disciplina, apesar  de ser tão autoritário quanto o Nacional Socialismo de Hitler. Segue-se, portanto, que foi precisamente porque ele era católico que ele não poderia ter abraçado a eugenia racial do Terceiro Reich.

Sua estratégia-chave para manter a independência da Áustria era aliança com outros regimes autoritários que pareciam não apoiar os desenvolvimentos políticos na Alemanha Nazista, especialmente a Itália e a Hungria. As semelhanças superficiais entre os regimes nazista e fascista da Itália não recomendavam neste estágio as atividades de Hitler a Mussolini – muito pelo contrário – e a Áustria era o único vizinho da Hungria contra o qual o governo húngaro não fazia exigências territoriais exorbitantes e inconsistentes.

Miklós Horthy, o Regente da Hungria (governante ou tirano seria uma tradução mais precisa) foi comandante da frota da Marinha de Guerra Austro-Húngara na Primeira Guerra Mundial e ainda aparecia em público com seu uniforme de almirante austríaco: sua casa estava cheia de relíquias dos Habsburgos e seus filhos brincavam com Starhemberg quando este ainda era uma criança. Horthy tinha uma atração sentimental com a Áustria que não era em geral compartilhada por seus compatriotas e muitos preferiam falar alemão ao invés do húngaro. As populações da Hungria, Áustria e Itália eram predominantemente católicas apesar de Mussolini ser ateu e detestar o papado, enquanto Horthy e seu virulento antissemita Primeiro Ministro Gyula Gömbös eram (na tradição dos heróis nacionais húngaros como Gabor Bethlen e Lajos Kossuth) protestantes. Não era o caso de regimes católicos autoritários aliando-se contra o nazismo, mas vizinhos mais fracos aliando-se contra a Alemanha. A aliança ítalo-húngara foi encerrada em um encontro em Roma em março de 1934.

Jamais saberemos como esta coalizão anti-Hitler teria funcionado se Dollfuss não fosse assassinado quatro meses depois. A condenação da Liga das Nações à invasão da Itália da Etiópia e o apoio militar mais tarde dado por Hitler e Mussolini a Franco na Guerra Civil Espanhola inevitavelmente colocou ambos como aliados. O antissemitismo de Gömbös (os judeus na Hungria não tinham o domínio no sistema bancário e nas profissões liberais como a propaganda nazista alardeava que eles tinham na Alemanha) conduziu-o gradativamente a favor de uma cooperação com os nazistas: Horthy, que ele havia ajudado a chegar ao poder em 1919, tinha-o como um extremista perigoso. Quando Gömbös morreu de insuficiência renal em uma clínica de Munique em outubro de 1936, Hitler seguiu o cortejo fúnebre até a estação ferroviária e enviou Göring, o número dois do regime então, representá-lo no funeral de Budapeste.                            
         
Dollfuss gostava de vestir deu uniforme do Landwehr com todas as suas medalhas, mas a Áustria tinha apenas um décimo da população da Alemanha e era a base industrial mais fraca de todas as nações da Europa Central e não havia como o país tornar-se forte militarmente para resistir a uma invasão alemã. Por outro lado, eventos que aconteceram nas mãos de Hitler de forma notável entre 1934 e 1938 e se Dollfuss ainda estivesse no poder talvez as coisas poderiam ter evoluído de forma diferente, pois Dollfuss, apesar das desvantagens de seu histórico e de sua psique de Tom Thumb[2], foi bem sucedido em tudo que tentou; Hitler não.

Hitler esperava que os nazistas pudessem avançar na Áustria nas eleições e com a indicação de simpatizantes aos ministérios no governo, mas Mussolini impediu isso quando eles se encontraram em Veneza em junho de 1934. Logo em seguida, Theodor Habicht, que apesar de ser alemão era o líder dos nazistas austríacos, informou Berlim que o Exército estava planejando um golpe de Estado e pediu permissão aos nazistas austríacos para participar. De fato, não havia nenhum golpe planejado, mas em 25 de julho de 1934 os nazistas austríacos vestiram uniformes militares e atacaram a Chancelaria em Viena. Os golpistas alcançaram Dollfuss quando este tentava fugir e um deles, Otto Planetta, um ex-soldado do regimento Landwehr de Dollfuss atirou duas vezes com uma pistola. Uma bala passou de raspão pela garganta de Dollfuss e a outra o atingiu no peito, alcançando a espinha e paralisando suas pernas. Ninguém mais foi ferido na Chancelaria e apesar dos golpistas terem rejeitado um pedido de ajuda a um médico ou padre, não houve nenhuma tentativa de um “tiro de misericórdia”. Eventualmente, dois policiais capturados foram liberados para prestar socorro médico. As últimas palavras de Dollfuss foram dirigidas a eles: “Companheiros, vocês são tão bons para mim, por que os outros não são como vocês? Eu queria apenas paz. Nunca ataquei; queríamos apenas nos defender. Que Deus os perdoe. Dê minhas lembranças a minha esposa e filhos.” Ele morreu logo após as 4 horas da tarde, cerca de três horas após ter sido atingido. Os nazistas que ocuparam a Chancelaria se renderam poucas horas depois.

Em Rabenstein na província meridional austríaca da Carintía, insurgentes nazistas resistiram até 30 de julho quando então fugiram em direção da fronteira com a Iugoslávia. Eventualmente, eles chegaram à Alemanha pelo mar. Habicht foi dispensado, com a aprovação de Hitler, apesar de mais tarde ele tornar-se prefeito de Wittenberg na Saxônia. Ele foi morto em ação enquanto comandava um batalhão na frente oriental em janeiro de 1944.

Notas:

[1] Mesmo Dollfuss sendo um ditador – no sentido correto da palavra – o autor do texto tenta neste trecho suavizar sua imagem, ao compará-lo com os “diabólicos” Hitler e Mussolini, dando a impressão dele ser um “bom tirano”. Caso tivesse se consolidado no poder, não há motivos para imaginar que Dollfuss não seguiria a cartilha de todo líder fascista da época, até porque na Áustria havia um antissemitismo latente. Franco também não escapa dos comentários irônicos, já que contou com a ajuda de Hitler e Mussolini na Guerra Civil Espanhola e permitiu que voluntários espanhóis combatessem ao lado dos alemães na campanha da Rússia. Essa é uma tendência normal nos textos relativos à Segunda Guerra Mundial, exagerar nos estereótipos, opondo os “bons” aos “maus”, no sentido de reforçar as qualidades dos primeiros e ridicularizar as características dos segundos. Qualquer um que se opusesse a Hitler é retratado de forma benevolente, mesmo sendo tão ruim quanto o primeiro, como foi o caso de Stalin e, caso mais emblemático, o de Dollfuss, que morreu assassinado por simpatizantes nazistas. Até Ernst Röhm, uma figura deplorável até dentro do partido nazista (sodomista e violento) tornou-se mártir em boa parte da bibliografia.

[2] Tom Thumb é um personagem dos quadrinhos da Marvel Comics. Ele é anão, inventor, cientista e aventureiro e apesar de possuir um grande nível de inteligência, não tem superpoderes.


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Um comentário:

Anônimo disse...

Dolfuss foi, sim, um "bom tirano", que buscou preservar a independência da Áustria contra o imperialismo alemão, e lutou contra o nazismo. Otto Maria Carpeaux, judeu austríaco convertido ao catolicismo, havido apoiado Dolfuss na sua defesa do país, porquea independência da Áustria era indispensável para conter o avaço imperialista alemão, como esclareceu Carpeaux numa entrevista de 1949:

— É verdade que o chanceler Dollfuss tinha grande apreço pelo seu livro “A Missão Europeia da Áustria”?

“A Missão Europeia da Áustria” é um pequeno livro em que a tese política daqueles dias — a necessidade europeia da independência austríaca, força de equilíbrio da Europa — se defendeu, não como slogan, mas com argumentos históricos, sociológicos, culturais. A necessidade da independência austríaca, então desprezada pelos "realistas" que não deram importância a país tão pequeno, revelou-se logo depois: a anexação da Áustria pela Alemanha, em março de 1938, fechou o círculo em torno da Tchecoslováquia, o que produziu Munique, o que separou do Ocidente a Polônia, o que isolou no continente a França etc., etc. A luta pela independência austríaca, de 1934 a 1938, retardou durante quatro anos a agressão geral à Europa. Os outros não souberam aproveitar esse tempo. Mas nós, cumprindo nosso dever, lutávamos. Lutávamos sob as ordens de Dollfuss, que era bem mais do que "meio fascista". Mas nem todos teriam falado tão alto como eu, lá na Áustria e aqui no Brasil. Quando Álvaro Lins me apresentou ao público brasileiro, disse uma verdade ao assinalar: "Sobre esta base da independência da Áustria é que o chanceler Dollfuss e o escritor Otto Maria Carpeaux sempre se entenderam; quanto aos problemas sociais, ao contrário, nunca puderam se entender". E sabe você o que significava então inspirar esta frase e as alusões anti-alemãs do artigo? Isto em 1941, quando eu estava aqui como exilado, sem papéis, o DIP vigilante e o embaixador da Alemanha todo poderoso? Falei assim na Áustria, até minha fuga precipitada e perigosa, no dia 15 de março de 1938, depois de ter estado escondido durante quatro dias. Falei assim na Bélgica, como redator de um jornal de Antuérpia, em 1938/1939, enquanto os agentes da Gestapo me perseguiam e a Europa muniquizada nada queria ouvir daqueles "problemas sociais". Falei assim aqui no Rio, desde 1941, escrevendo contra o fascismo alemão, o italiano e o espanhol (e meu primeiro artigo na “Revista do Brasil” foi contra Vichy).

http://acervo.revistabula.com/posts/entrevistas/a-primeira-entrevista-no-brasil-de-otto-maria-carpeaux

Quanto à questão de Röhm ser um pervetido, difícil dizer que era mais do que Reydrich (espancador de mulheres), Streicher (pervertido sexual), Goebbels (molestador inveterado de atrizes), von Schirach (bissexual), Göring (morfinômano) e tantos outros luminares nazistas.