A.
D. Harvey
History Today, Vol. 59 nº 7 jul/2009
Em
julho de 2009 foi lembrado o assassinato de Engelbert Dollfuss, um dos
ditadores da Europa do século XX menos conhecidos, porém mais intrigantes. Em
25 de julho de 1934, menos de um mês após a “Noite das Longas Facas”, quando
Hitler executou sumariamente a liderança das tropas de assalto que o ajudaram a
chegar ao poder, grupos nazistas lançaram um golpe de estado na Áustria. Na
região sul do país, a luta continuou por quase uma semana. Em Viena, os
nazistas que invadiram os escritórios do Chanceler em Ballhausplatz se renderam
poucas horas depois, mas não antes de Dollfuss, atingido com um tiro no peito
nos primeiros minutos após a rebelião, ter sido permitido afogar-se em seu
próprio sangue.
Engelbert
Dollfuss tornou-se Chanceler da Áustria em maio de 1932, cinco meses após o seu
quadragésimo aniversário, após servir por quase um ano como ministro da
agricultura. Ele tinha uma maioria parlamentar de apenas um e, em outubro de
1932, ele reativou o Ato de Permissão de Economia de Guerra de 1917 de modo que
ele poderia governar por decreto. Sempre mais interessado em reformas sociais
do que na democracia, o primeiro decreto de Dollfuss sob o Ato de 1917 foi
tornar os acionistas do maior banco da Áustria, o Creditanstalt, responsáveis pelas perdas do banco insolvente.
Em
março de 1933, os três presidentes do Parlamento austríaco renunciaram para
votar em uma divisão; foi percebido somente após suas renúncias que sem um
presidente não havia nenhum método constitucional de conduzir as atividades
parlamentares.
Dollfuss
anunciou imediatamente que ele governaria sem parlamento e proibindo
manifestações públicas. Em maio de 1933, ele uniu seu Partido Social Cristão e
outros grupos nacionalistas com milícias organizadas de ex-combatentes
conhecidas como Heimwehr, para criar a Frente Patriótica (Vaterländische Front). Ele também baniu o Partido Comunista. Em
junho de 1933, ele baniu o Partido Nazista também. No núcleo de seu programa
estava a manutenção da independência da república austríaca; os nazistas da
Áustria exigiam a união com a Alemanha sob a liderança de Adolf Hitler. Talvez
um tipo de rival no simbolismo para a suástica nazista, Dollfuss começo a
promover o uso da “Cruz da Muleta”, ou “Cruz de Jerusalém” (Krückenkreuz) como
símbolo nacional, uma cruz branca com pedaços transversais no final de cada
braço, delineado em vermelho. As eleições locais foram canceladas e uma
concordata foi assinada com o papado dando mais independência à hierarquia
católica na Áustria. Em outubro de 1933, Dollfuss sobreviveu a uma tentativa de
assassinato: um projétil de pistola que atingiu seu peito foi defletida por uma
caixa de rapé em seu bolso, provocando somente um arranhão e uma contusão; um
segundo projétil atingiu seu braço.
Bandeira fascista austríaca
Em
fevereiro de 1934, um levante descoordenado de milícias socialistas em Linz,
Steyr e Viena, em resposta à tomada de poder por Dollfuss, levou ao bombardeio
com artilharia dos condomínios dos trabalhadores. Somente um par de canhões de
pequeno diâmetro foi utilizado e cerca de seis insurgentes foram mortos com o
bombardeio. Oito insurgentes foram julgados subsequentemente e executados por
rebelião armada. Mas o espetáculo de um político de extrema direita que
governava por decreto empregando artilharia contra lares e famílias de
trabalhadores esquerdistas causou furor e terror nas capitais da Europa. O
próximo passo de Dollfuss foi banir todos os partidos políticos na Áustria,
exceto sua Frente Patriótica.
Apesar
deste currículo pouco lisonjeiro, Dollfuss tinha pouco em comum com seus
contemporâneos Mussolini e Hitler. Ele também diferia deles por ter uma origem
social mais sombria e na trajetória de sua ascensão ao poder. Parte da lenda de
Hitler e Mussolini era a humildade de suas origens; respeitáveis, mas na parte
inferior da classe média baixa. Dollfuss era filho de um camponês.
Diferentemente de Mussolini e Hitler, ele era adotado, criado em um lar cujo
chefe da família não era seu pai. Trabalhador árduo, ao invés de estudante
talentoso, ele foi educado em um Seminário e eventualmente foi para a
Universidade de Viena para estudar teologia no sentido tornar-se padre.
Achando-se mais interessado em estudos sociais, em 1914 Dollfuss voltou-se para
o Direito. Ele também começou a lecionar em cursos noturnos voltados para
operários. Então veio a Primeira Guerra Mundial. Com estatura insuficiente para
o Exército, Dollfuss foi recusado para qualquer serviço militar por causa de
sua fragilidade física, mas ele agora tornou-se um oficial do Landwehr (algo como Exército
Territorial, com qualificações inferiores ao Exército regular). Ele acabou
tornando-se um excelente oficial, foi condecorado oito vezes e, incomum para um
oficial sem nenhuma experiência em combate, promovido a Tenente (Oberleutnant).
Após
a guerra, ele terminou sua graduação em Direito (especializando-se em economia
agrícola), continuando seus estudos por alguns meses em Berlim. Lá, ele
conheceu a filha de um latifundiário alemão e a levou para Viena como sua
noiva. Eles tiveram três filhos, o primeiro tendo falecido ainda na infância.
Dollfuss conseguiu emprego na administração de agricultura em sua província
natal da Áustria Baixa, tornando-se diretor da Câmara de Agricultura em 1927.
Ele representou a república austríaca em congressos internacionais em Roma em
1928 e em Bucareste em 1929. Sua reputação crescente levou à sua indicação como
presidente do Departamento Ferroviário em outubro de 1930 e como Ministro da
Agricultura no governo federal cinco meses depois. Um autodidata intelectual
como Hitler, pintor e bibliófilo, e Mussolini, o jornalista, sua ascensão
profissional foi de uma origem pouco promissora até uma carreira mais
distintamente convencional.
A
Áustria foi uma das nações mais traumatizadas pela Primeira Guerra Mundial. Em
1914, ela representava o núcleo de um império multicultural, indo de umas
poucas centenas de quilômetros da fronteira com a França até bem no interior do
Leste Europeu onde hoje é a Ucrânia. O desmembramento do Império Habsburgo
separou as províncias que se tornaram a república austríaca da Boêmia, a
principal região industrial do antigo império e da Hungria, uma principal fonte
de alimentos. Viena, uma capital agitada com uma população de mais de dois
milhões de habitantes, tornou-se uma metrópole sem interior, sem função e sem
empregos suficientes para sua população.
Inicialmente,
os austríacos, sendo alemães étnicos, esperavam a união com a Alemanha, mas
isto foi vetado pela Grã-Bretanha, França e Itália, os vitoriosos da Europa na
guerra. Um plebiscito extraoficial em Vorarlberg, a província mais ocidental,
optou esmagadoramente pela união com a Suíça, mas o governo suíço recusou o
resultado. Unidas somente pela língua, as províncias da Áustria tinham pouco
espírito de identidade cultural. A cidade e província de Salzburgo não tinha
sido território Habsburgo até o início do século XIX, tendo previamente sido um
principado eclesiástico do Sacro Império Romano.
A
nova nação foi criada, ou melhor imposta, nas circunstâncias econômicas e
constitucionais pouco familiares da era pós-Primeira Guerra Mundial sob o
acompanhamento de crises esporádicas de violência e banhos de sangue. Dollfuss
foi um daqueles que lutaram para ajudar a construí-la. A realização da qual ele
era mais orgulhoso como administrador agrícola na Áustria Baixa foi o
estabelecimento de um esquema de seguro social para trabalhadores agrícolas,
mas ele também planejou um aumento de 60% na produção de laticínios. Num certo
sentiso, ele conseguiu ficar imune à política altamente polarizada da capital.
Ernst Starhemberg, líder do Heimwehr de extrema direita, e logo um aliado-chave
do Chanceler, mais tarde afirmou que ele encontrou-se com Dollfuss somente duas
vezes antes de 1932.
A
relação de Dollfuss com Starhemberg pode ser vista como típica ou mesmo como
definidora de sua ditadura. Apesar dos títulos aristocráticos terem sido
abolidos no início republicano da nova Áustria, Starhemberg era um príncipe, da
mesma família de Ernst Starhemberg que comandou a defesa de Viena contra os
turcos em 1683 e foi um dos homens mais ricos e com melhores conexões do país.
Apesar de ter nascido somente em 1899, ele lutou nos estágios finais da
Primeira Guerra Mundial, servindo, como Dollfuss, no front italiano. Em 1930,
ele foi brevemente Ministro do Interior, mas renunciou após o Heimwehr ter
conseguido apenas 6% dos votos nas eleições daquele ano. Tirando o fato de ser
autoritário e antissocialista, ele tinha poucas convicções políticas firmes,
havia flertado com a ideia de união com a Alemanha e, como deve ter sido óbvio
pata Dollfuss, ele não era particularmente brilhante. Mesmo assim, estes dois
homens logo estavam familiares um com o outro, usando seus nomes e a forma
familiar “você” para se dirigir um ao outro que era normalmente empregada
somente entre parentes e crianças na fase escolar. Dollfuss indubitavelmente
via o Heimwehr como sendo útil ao regime, uma contraparte aos camisas negras de
Mussolini e às tropas de assalto de Hitler. Ele foi ativo em desbaratar a
revolta socialista em 1934 e foi em parte ao reconhecimento de sua lealdade que
Starhemberg foi indicado vice-chanceler da república em maio daquele ano. No
mesmo mês, foi promulgada a nova constituição na qual as eleições seriam na
base de pertencer a sete estados ou setores econômicos, por exemplo, agricultura,
indústria ou serviço público: na prática, um sistema que favorecia os patrões
ao invés dos empregados. É fácil detectar um cálculo cínico na relação de
Dollfuss com Starhemberg e em sua falsidade constitucional e é verdade que ele
era um praticante da “arte do possível”, mas seus contemporâneos não o viam
como cínico ou manipulador ou um viciado em poder. Dollfuss não era um tipo
super-homem messiânico e magnético como Mussolini ou Hitler. Ele também era um
tipo diferente de líder: aqueles que o conheciam afirmavam que ele era calmo,
generoso, razoável, sincero que trilhou seu caminho não pela sua inteligência
excepcional nem charme, mas por sua devoção ao seu país. Ele gostava de
Starhemberg porque ele achava que o príncipe era parecido com ele.
Em
quase todos os sentidos Dollfuss oferece um contraste com os outros ditadores.
Hitler e Mussolini foram cabos na guerra, mas seus postos inferiores eram mais
uma questão de um ligeiro suplemento para o seu pagamento do que
responsabilidade, enquanto que Dollfuss consumiu quatro anos ordenando a homens
que caminhassem para sua morte e liderando o caminho. Enquanto Hitler e
Mussolini somente gostavam das pessoas que poderiam dominar, Dollfuss não se
incomodava em conviver com pessoas de sua classe ou aqueles, como Starhemberg,
supostamente superiores por nascimento. Diferentemente de Hitler, ele era
casado e diferentemente de Mussolini ele era fiel à sua esposa. Em contraste
com Hitler, um não-fumante, ele fumava 40 cigarros por dia. Mussolini, apoiando
e projetando seu queixo com um narcisismo ridículo, proferindo suas banalidades
com a idiotice de um gramofone com defeito, foi um dos oradores menos atraentes
na história da política italiana. Hitler discursava com um sotaque regional
forte que o fazia parecer à maioria dos alemães um comediante de palco e
reforçava o efeito com linguagem corporal que parece se opor ao que é
recomendado em qualquer livro sobre o assunto. Salazar em Portugal e Franco na
Espanha tinham ambos vozes chiadas. Dollfuss parecia perfeitamente normal. Ele
também tinha uma face juvenil e agradável e um corpo proporcionalmente perfeito[1].
Mas,
apesar de sua fragilidade física, não havia nada de frágil em relação à figura
política de Dollfuss. Ele era um Chanceler que havia sido um oficial do
Exército, um homem decidido a fazer qualquer coisa que seu dever o exigisse.
Ele falou abertamente ao adido britânico em Viena da “luta pela independência
da Áustria na qual ele estava envolvido com a Alemanha de Hitler” e em 1934
havia a perspectiva que ele poderia consolidar de vez seu poder na Áustria e
sobreviver às tentativas da agora ilegal organização nazista austríaca de forçar
a união com a Alemanha. Hitler ainda estava fraco. Ele nem mesmo ousou enviar
suas tropas ao distrito desmilitarizado da Renânia antes de 20 meses após a
morte de Dollfuss e quando ele eventualmente anexou a Áustria, em 1938, o
avanço triunfal do novo Exército alemão através da fronteira deixou em seu
rastro uma ninhada de tanques quebrados e, em muitos casos, obsoletos.
Havia
tanto antissemitismo na república austríaca quanto no inteiro Império Habsburgo
– em outras palavras, muito. Dollfuss encontrou-se com poucos judeus, mas no
seminário e entre os líderes camponeses da Baixa Áustria ele encontrou-se com
muitos antissemitas desinformados. Apesar dele estar provavelmente ciente que a
demissão de funcionários públicos conhecidos por serem socialistas estava sendo
usada como um pretexto para dispensar judeus que não tinham nenhum tipo de
conexão socialista, Dollfuss simplesmente não estava interessado em copiar o
programa antissemita de Hitler. Houve menos quebra de vidros e violência na
Áustria do que na Alemanha Nazista, mesmo se houvesse alguns tiroteios, e seria
errado sugerir que o regime de Dollfuss poderia tornar-se mais duro à medida
que o tempo passasse se ele achasse isso necessário. Foi a sua devoção ao
Catolicismo assim como seu comprometimento com uma Áustria não dominada
politicamente pela maioria protestante dos alemães da região norte que era a
base da determinação de Dollfuss em manter seu país fora do controle de Hitler,
mas seu catolicismo era uma religião de ordem, obrigação e disciplina, apesar de ser tão autoritário quanto o Nacional
Socialismo de Hitler. Segue-se, portanto, que foi precisamente porque ele era
católico que ele não poderia ter abraçado a eugenia racial do Terceiro Reich.
Sua
estratégia-chave para manter a independência da Áustria era aliança com outros
regimes autoritários que pareciam não apoiar os desenvolvimentos políticos na
Alemanha Nazista, especialmente a Itália e a Hungria. As semelhanças
superficiais entre os regimes nazista e fascista da Itália não recomendavam
neste estágio as atividades de Hitler a Mussolini – muito pelo contrário – e a
Áustria era o único vizinho da Hungria contra o qual o governo húngaro não
fazia exigências territoriais exorbitantes e inconsistentes.
Miklós
Horthy, o Regente da Hungria (governante ou tirano seria uma tradução mais
precisa) foi comandante da frota da Marinha de Guerra Austro-Húngara na
Primeira Guerra Mundial e ainda aparecia em público com seu uniforme de
almirante austríaco: sua casa estava cheia de relíquias dos Habsburgos e seus
filhos brincavam com Starhemberg quando este ainda era uma criança. Horthy
tinha uma atração sentimental com a Áustria que não era em geral compartilhada
por seus compatriotas e muitos preferiam falar alemão ao invés do húngaro. As
populações da Hungria, Áustria e Itália eram predominantemente católicas apesar
de Mussolini ser ateu e detestar o papado, enquanto Horthy e seu virulento
antissemita Primeiro Ministro Gyula Gömbös eram (na tradição dos heróis
nacionais húngaros como Gabor Bethlen e Lajos Kossuth) protestantes. Não era o
caso de regimes católicos autoritários aliando-se contra o nazismo, mas
vizinhos mais fracos aliando-se contra a Alemanha. A aliança ítalo-húngara foi
encerrada em um encontro em Roma em março de 1934.
Jamais
saberemos como esta coalizão anti-Hitler teria funcionado se Dollfuss não fosse
assassinado quatro meses depois. A condenação da Liga das Nações à invasão da
Itália da Etiópia e o apoio militar mais tarde dado por Hitler e Mussolini a
Franco na Guerra Civil Espanhola inevitavelmente colocou ambos como aliados. O
antissemitismo de Gömbös (os judeus na Hungria não tinham o domínio no sistema
bancário e nas profissões liberais como a propaganda nazista alardeava que eles
tinham na Alemanha) conduziu-o gradativamente a favor de uma cooperação com os
nazistas: Horthy, que ele havia ajudado a chegar ao poder em 1919, tinha-o como
um extremista perigoso. Quando Gömbös morreu de insuficiência renal em uma
clínica de Munique em outubro de 1936, Hitler seguiu o cortejo fúnebre até a
estação ferroviária e enviou Göring, o número dois do regime então,
representá-lo no funeral de Budapeste.
Dollfuss
gostava de vestir deu uniforme do Landwehr com todas as suas medalhas, mas a
Áustria tinha apenas um décimo da população da Alemanha e era a base industrial
mais fraca de todas as nações da Europa Central e não havia como o país
tornar-se forte militarmente para resistir a uma invasão alemã. Por outro lado,
eventos que aconteceram nas mãos de Hitler de forma notável entre 1934 e 1938 e
se Dollfuss ainda estivesse no poder talvez as coisas poderiam ter evoluído de
forma diferente, pois Dollfuss, apesar das desvantagens de seu histórico e de
sua psique de Tom Thumb[2], foi bem sucedido em tudo que tentou; Hitler não.
Hitler
esperava que os nazistas pudessem avançar na Áustria nas eleições e com a
indicação de simpatizantes aos ministérios no governo, mas Mussolini impediu
isso quando eles se encontraram em Veneza em junho de 1934. Logo em seguida,
Theodor Habicht, que apesar de ser alemão era o líder dos nazistas austríacos,
informou Berlim que o Exército estava planejando um golpe de Estado e pediu
permissão aos nazistas austríacos para participar. De fato, não havia nenhum
golpe planejado, mas em 25 de julho de 1934 os nazistas austríacos vestiram
uniformes militares e atacaram a Chancelaria em Viena. Os golpistas alcançaram
Dollfuss quando este tentava fugir e um deles, Otto Planetta, um ex-soldado do
regimento Landwehr de Dollfuss atirou duas vezes com uma pistola. Uma bala
passou de raspão pela garganta de Dollfuss e a outra o atingiu no peito,
alcançando a espinha e paralisando suas pernas. Ninguém mais foi ferido na
Chancelaria e apesar dos golpistas terem rejeitado um pedido de ajuda a um
médico ou padre, não houve nenhuma tentativa de um “tiro de misericórdia”. Eventualmente,
dois policiais capturados foram liberados para prestar socorro médico. As
últimas palavras de Dollfuss foram dirigidas a eles: “Companheiros, vocês são
tão bons para mim, por que os outros não são como vocês? Eu queria apenas paz. Nunca
ataquei; queríamos apenas nos defender. Que Deus os
perdoe. Dê minhas lembranças a minha esposa e filhos.” Ele morreu logo após as
4 horas da tarde, cerca de três horas após ter sido atingido. Os nazistas que
ocuparam a Chancelaria se renderam poucas horas depois.
Em
Rabenstein na província meridional austríaca da Carintía, insurgentes nazistas
resistiram até 30 de julho quando então fugiram em direção da fronteira com a
Iugoslávia. Eventualmente, eles chegaram à Alemanha pelo mar. Habicht foi
dispensado, com a aprovação de Hitler, apesar de mais tarde ele tornar-se
prefeito de Wittenberg na Saxônia. Ele foi morto em ação enquanto comandava um
batalhão na frente oriental em janeiro de 1944.
Notas:
[1]
Mesmo Dollfuss sendo um ditador – no sentido correto da palavra – o autor do
texto tenta neste trecho suavizar sua imagem, ao compará-lo com os “diabólicos”
Hitler e Mussolini, dando a impressão dele ser um “bom tirano”. Caso tivesse se
consolidado no poder, não há motivos para imaginar que Dollfuss não seguiria a
cartilha de todo líder fascista da época, até porque na Áustria havia um
antissemitismo latente. Franco também não escapa dos comentários irônicos, já
que contou com a ajuda de Hitler e Mussolini na Guerra Civil Espanhola e
permitiu que voluntários espanhóis combatessem ao lado dos alemães na campanha
da Rússia. Essa é uma tendência normal nos textos relativos à Segunda Guerra
Mundial, exagerar nos estereótipos, opondo os “bons” aos “maus”, no sentido de
reforçar as qualidades dos primeiros e ridicularizar as características dos
segundos. Qualquer um que se opusesse a Hitler é retratado de forma
benevolente, mesmo sendo tão ruim quanto o primeiro, como foi o caso de Stalin
e, caso mais emblemático, o de Dollfuss, que morreu assassinado por
simpatizantes nazistas. Até Ernst Röhm, uma figura deplorável até dentro do
partido nazista (sodomista e violento) tornou-se mártir em boa parte da
bibliografia.
[2]
Tom Thumb é um personagem dos quadrinhos da Marvel Comics. Ele é anão,
inventor, cientista e aventureiro e apesar de possuir um grande nível de
inteligência, não tem superpoderes.
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Um comentário:
Dolfuss foi, sim, um "bom tirano", que buscou preservar a independência da Áustria contra o imperialismo alemão, e lutou contra o nazismo. Otto Maria Carpeaux, judeu austríaco convertido ao catolicismo, havido apoiado Dolfuss na sua defesa do país, porquea independência da Áustria era indispensável para conter o avaço imperialista alemão, como esclareceu Carpeaux numa entrevista de 1949:
— É verdade que o chanceler Dollfuss tinha grande apreço pelo seu livro “A Missão Europeia da Áustria”?
“A Missão Europeia da Áustria” é um pequeno livro em que a tese política daqueles dias — a necessidade europeia da independência austríaca, força de equilíbrio da Europa — se defendeu, não como slogan, mas com argumentos históricos, sociológicos, culturais. A necessidade da independência austríaca, então desprezada pelos "realistas" que não deram importância a país tão pequeno, revelou-se logo depois: a anexação da Áustria pela Alemanha, em março de 1938, fechou o círculo em torno da Tchecoslováquia, o que produziu Munique, o que separou do Ocidente a Polônia, o que isolou no continente a França etc., etc. A luta pela independência austríaca, de 1934 a 1938, retardou durante quatro anos a agressão geral à Europa. Os outros não souberam aproveitar esse tempo. Mas nós, cumprindo nosso dever, lutávamos. Lutávamos sob as ordens de Dollfuss, que era bem mais do que "meio fascista". Mas nem todos teriam falado tão alto como eu, lá na Áustria e aqui no Brasil. Quando Álvaro Lins me apresentou ao público brasileiro, disse uma verdade ao assinalar: "Sobre esta base da independência da Áustria é que o chanceler Dollfuss e o escritor Otto Maria Carpeaux sempre se entenderam; quanto aos problemas sociais, ao contrário, nunca puderam se entender". E sabe você o que significava então inspirar esta frase e as alusões anti-alemãs do artigo? Isto em 1941, quando eu estava aqui como exilado, sem papéis, o DIP vigilante e o embaixador da Alemanha todo poderoso? Falei assim na Áustria, até minha fuga precipitada e perigosa, no dia 15 de março de 1938, depois de ter estado escondido durante quatro dias. Falei assim na Bélgica, como redator de um jornal de Antuérpia, em 1938/1939, enquanto os agentes da Gestapo me perseguiam e a Europa muniquizada nada queria ouvir daqueles "problemas sociais". Falei assim aqui no Rio, desde 1941, escrevendo contra o fascismo alemão, o italiano e o espanhol (e meu primeiro artigo na “Revista do Brasil” foi contra Vichy).
http://acervo.revistabula.com/posts/entrevistas/a-primeira-entrevista-no-brasil-de-otto-maria-carpeaux
Quanto à questão de Röhm ser um pervetido, difícil dizer que era mais do que Reydrich (espancador de mulheres), Streicher (pervertido sexual), Goebbels (molestador inveterado de atrizes), von Schirach (bissexual), Göring (morfinômano) e tantos outros luminares nazistas.
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