George
Sylvester Viereck
Revista
Liberty, julho de 1932.
“Quando
assumir o poder na Alemanha, interromperei o pagamento ao estrangeiro e
eliminarei o Bolchevismo em casa.”
Adolf
Hitler bebeu sua xícara como se não fosse chá, mas o sangue do bolchevismo.
“O
Bolchevismo,” continuou o chefe dos camisas pardas, os fascistas alemães,
olhando para mim raivosamente, “é nossa grande ameaça. Mate o bolchevismo na
Alemanha e você restaurará 70 milhões de pessoas ao poder. A França deve sua
força não ao seu exército, mas às forças do bolchevismo e apatia em nosso meio.”
“O
Tratado de Versalhes e o Tratado de Saint Germain são mantidos vivos pelo
bolchevismo na Alemanha. O Tratado de Paz e o Bolchevismo são duas cabeças de
um único monstro. Devemos decapitá-las.”
Quando
Adolf Hitler anunciou este programa, o advento do Terceiro Império que ele
proclama parecia ainda estar no final da tempestade. Então, veio eleição após
eleição. E o poder de Hitler cresceu. Mesmo incapaz de desalojar Hindenburg da
presidência, Hitler hoje comanda o maior partido na Alemanha. A menos que
Hindenburg tome medidas ditatoriais, ou algum desenvolvimento inesperado altere
completamente todos os cálculos atuais, o partido de Hitler organizará o
Reichstag e dominará o governo. A luta de Hitler não era contra Hindenburg, mas
contra o Chanceler Bruening. É duvidoso se o sucessor de Bruening possa sustentar-se
sem o apoio dos Nacional-Socialistas.
Muitos
do que votaram para Hindenburg estavam, de fato, com Hitler, porém certo senso
de lealdade enraizado os impeliu mesmo assim ao voto para o velho
marechal-de-campo. A menos que da noite para o dia surja uma nova liderança,
não há ninguém na Alemanha, com exceção de Hindenburg, que possa derrotar
Hitler – e Hindenburg está com 85 anos! Tempo e resistência obstinada por parte
de Hitler, exceto por um erro pessoal ou desistência nas fileiras do partido,
tiram-lhe a oportunidade de tornar-se o Mussolini da Alemanha.
O
Primeiro Império alemão chegou ao fim quando Napoleão forçou o imperador
austríaco a render-se à sua coroa imperial. O Segundo Império chegou ao fim
quando Guilherme II, sob o conselho de Hindenburg, refugiou-se na Holanda. O
Terceiro Império está emergindo sorrateiramente mas de forma decidida, apesar
de dispensar cetros e coroas.
Encontrei
Hitler não em seu quartel-general, a Casa Parda em Munique, mas em uma
residência particular – a morada de um ex-almirante da marinha Alemã. Discutimos
o destino da Alemanha entre xícaras de chá.
“Por
que,” perguntei a Hitler, “você se autodenomina um nacional socialista, já que
seu programa partidário é a antítese do que se costuma chamar socialismo?”
“Socialismo,”
ele respondeu, colocando energicamente sobre a mesa sua xícara de chá, “é a
ciência de lidar com a prosperidade coletiva. Comunismo não é socialismo. Marxismo não é socialismo. Os
marxistas roubaram o termo e distorceram seu significado. Tenho obrigação de
tirar o socialismo dos socialistas.”
“Socialismo
é uma instituição antiga ariana e germânica. Nossos ancestrais alemães
mantiveram certas terras em comum. Eles cultivaram a ideia da riqueza comum. O
marxismo não tem o direito de se disfarçar como socialismo. O socialismo,
diferentemente do marxismo, não abole a propriedade privada. Diferentemente do
marxismo, ele não significa a negação da individualidade, e, diferentemente do
marxismo, ele é patriótico.”
“Talvez
tivéssemos nos autodenominado Partido Liberal. Escolhemos nos chamar
Nacional-Socialistas. Não somos internacionalistas. Nosso socialismo é
nacional. Exigimos o cumprimento das necessidades justas das
classes produtivas pelo Estado com base na solidariedade racial. Para nós,
Estado e Raça são um só.”
O
próprio Hitler não é um tipo puramente germânico. Seu cabelo negro trai
ancestrais alpinos. Por anos ele recusou ser fotografado. Esta era parte de sua
estratégia – ser conhecido apenas de seus amigos de modo que, na hora da crise,
ele poderia aparecer aqui, lá e acolá sem ser detectado. Hoje, ele não poderia
mais passar despercebido pelo mais desconhecido vilarejo na Alemanha. Sua
aparência contrasta fortemente com a agressividade de suas opiniões. Nenhum reformador
moderado jamais afundou o navio do Estado ou cortou gargantas políticas.
“Quais,”
continuei meu interrogatório, “são os fundamentos de sua plataforma?”
“Acreditamos
em uma mente sã em um corpo são. O corpo político deve ser escutado se a alma
for saudável. Saúde moral e física são sinônimos.” “Mussolini,” interrompi, “me
disse a mesma coisa.” Hitler sorriu.
“Favelas,”
ele acrescentou, “são responsáveis por nove décimos, álcool por um décimo, de
toda a depravação humana. Nenhuma pessoa saudável é marxista. Pessoas saudáveis
reconhecem o valor da personalidade. Combatemos as forças do desastre e da
degeneração. A Baviera é comparativamente saudável porque não é completamente
industrializada. Entretanto, toda a Alemanha, incluindo a Baviera, está
condenada a intensificar o industrialismo devido à pequenez de nosso
território. Se desejamos salvar a Alemanha, devemos manter a fé de nossos camponeses.
Para isso acontecer necessita-se espaço para respirar e espaço para trabalhar.”
“Onde
o senhor encontrará espaço para trabalhar?”
“devemos
manter nossas colônias e expandir para o leste. Houve uma época quando
poderíamos compartilhar a dominação mundial com a Inglaterra. Hoje, somente
podemos esticar nossas pernas apertadas para o Leste. O Báltico é
necessariamente um lago alemão.”
“Não
é possível,” perguntei, “para a Alemanha reconquistar o mundo economicamente
sem expandir seu território?”
Hitler
balançou sua cabeça negativamente.
“O
imperialismo econômico, como o imperialismo militar, depende do poder. Não pode
haver comércio mundial em larga escala sem poder mundial. Nosso povo ainda não
aprendeu a pensar em termos de poder mundial e comércio mundial. Contudo, a
Alemanha não pode expandir comercial ou territorialmente até que ela recupere o
que ela perdeu e até que ela se encontre.”
“Estamos
na posição de um homem que teve sua casa queimada. Ele deve ter um teto sobre
sua cabeça antes que possa pensar mais ambiciosamente. Conseguimos criar um
abrigo emergencial que nos mantém fora da chuva. Não estamos preparados para um
vendaval. Contudo, infortúnios têm se abatido sobre nós. A Alemanha tem vivido
uma série de catástrofes nacionais, morais e econômicas.”
“Nosso
sistema partidário desmoralizado é um sintoma de nosso desastre. As maiorias
parlamentares seguem as conveniências do momento. O governo parlamentarista
permite a abertura dos portões ao Bolchevismo.”
“Diferentemente
de outros militaristas alemães, o senhor não concorda com uma aliança com a
União Soviética?”
Hitler
evitou uma resposta direta a esta questão. Ele desviou novamente recentemente
quando a Liberty pediu-lhe para responder uma afirmação de Trotsky de que sua
chegada ao poder na Alemanha envolveria uma luta de vida e morte entre a
Europa, liderada pela Alemanha, e a Rússia Soviética:
Pode não servir a Hitler atacar o Bolchevismo na
Rússia. Ele pode mesmo buscar uma aliança com o bolchevismo como sua última
cartada, se ele reconhecer que está perdendo o jogo. Se, ele insinuou em uma
ocasião, o capitalismo recusar-se a reconhecer que os nacional-socialistas são
a última esperança da propriedade privada, se o capital impedir sua luta, a
Alemanha pode ser obrigada a jogar-se nos braços da barulhenta Rússia
Soviética. Mas ele está determinado a não permitir que o bolchevismo se
estabeleça na Alemanha.
Ele
respondeu cautelosamente no passado às investidas do Chanceler Bruening e
outros que desejavam formar uma frente política unida. É improvável que agora,
no aumento do poder eleitoral dos nacional-socialistas, Hitler estará disposto
a se comprometer com qualquer princípio fundamental com outros partidos.
“As
combinações políticas sobre as quais uma frente única depende,” Hitler lembrou,
“são muito instáveis. Elas praticamente tornam impossível uma política clara. Vejo
em todos os lugares esse vaivém de compromissos e concessões. Nossas forças
construtivas são comprovadas pela tirania dos números. Cometemos o erro de
aplicar a aritmética e mecânica do mundo econômico ao Estado vivo. Somos
ameaçados por números sempre crescentes e redução constante de ideais. Números
per si só são irrelevantes.”
“Mas
suponha que a França retalie novamente contra o senhor invadindo seu
território. Ela já invadiu o Rhur antes. Ela pode invadi-lo novamente.”
“Não
importa,” respondeu Hitler de forma exaltada, “quantos quilômetros quadrados o
inimigo pode ocupar se o espírito nacional resistir? Dez milhões de alemães
livres, prontos para morrer de modo que seu país possa viver, são mais potentes
que 50 milhões cujo desejo político está paralisado e cuja consciência racial
está infeccionada por estrangeiros.”
“Queremos
uma Grande Alemanha unindo todas as tribos germânicas. Mas nossa salvação pode começar numa pequena região. Mesmo se
tivéssemos somente 10 acres de terra e estivéssemos determinados a defendê-la com
nossas vidas, os 10 acres tornar-se-iam o foco da regeneração. Nossos
trabalhadores têm dois espíritos: um é alemão, o outro é marxista. Devemos erguer o espírito alemão. Devemos eliminar o
câncer do marxismo. Marxismo e Germanismo são antíteses.”
“No
meu plano de estado alemão, não haverá espaço para estrangeiros, nenhuma
utilidade para vagabundos, para agiotas e especuladores, ou qualquer um que
seja incapaz de trabalho produtivo.”
O
cabelo na testa de Hitler balançou ameaçadoramente. Sua voz encheu o ambiente. Houve um ruído na porta.
Seus seguidores, que sempre permanecem atentos, como guarda-costas, lembraram o
líder de sua obrigação de comparecer a um encontro.
Hitler bebeu seu chá e foi
embora.
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