Resenha
do livro Varsóvia
1920: A Conquista da Europa por Lênin que falhou, de Adam Zamoyski
Lênin achava que grandes números
de soldados que ele pudesse reunir seriam suficientes para assustar os
poloneses. Exércitos de cavalaria gigantes partiram em direção de Varsóvia. Os
russos inventaram uma nova arma – uma metralhadora montada sobre um carrinho
puxado por cavalos. Estes atravessavam os campos de batalha com efeito
devastador. Mas as linhas de comunicação aumentavam mais e mais, e os poloneses
foram capazes de cortá-las e esmagar os vários exércitos vermelhos.
Esta guerra olhou para frente e
para trás. Notável para a mobilidade das formações de tropas em um teatro de
grande extensão, ela antecipou a estratégia de ataques em profundidade e
batalhas de cerco que seriam travadas pelos tanques na Segunda Guerra Mundial.
A batalha de Czesniki, por outro lado, foi um resquício da era napoleônica. Ela
foi, diz Zamoyski, “uma luta épica de um tipo não presenciado na Europa por
mais de um século, e o maior envolvimento de cavalarias na história do
continente.”
O subtítulo de Zamoyski é
importante. Poucos têm consciência de que Lênin desejava conquistar a Polônia
para criar uma revolução na Alemanha; menos gente ainda compreende que ele
escreveu para Stalin, o comissário-chefe político ligado ao Exército Vermelho
na Ucrânia, sugerindo um ataque simultâneo à Romênia, Tchecoslováquia e
Hungria, para provocar revolução na Itália. Stalin respondeu que “seria uma
pena” não tentar.
Pilsudski,
o chefe de estado e comandante-em-chefe polonês, em seus cinquenta anos, não
era especialista em estratégia militar. Ele foi torturado pela dúvida, mesmo
assim provando a si mesmo ser um mestre das circunstâncias. Sua contraparte, Tukhachevsky[1],
tinha somente 27 anos, um nobre que se imaginava um Napoleão no estilo de ser e
um niilista que odiava judeus, cristãos, capitalistas e socialistas. Ele mais
tarde foi fuzilado nos expurgos de Stalin, assim como todos os comandantes
superiores do Exército Vermelho que falharam em tomar Varsóvia em 1920.
O
exército polonês foi apressadamente montado com soldados que haviam servido em
forças estrangeiras. Um observador descrevendo os seis regimentos da Primeira
Cavalaria, disse que eles eram “como muitas crianças nascidas de uma única mãe,
mas concebidas por pais diferentes.”
Mesmo
assim, a cavalaria polonesa estava bem treinada e equipada. A cavalaria do
Exército Vermelho estava equipada de forma diferente e frequentemente
uniformizada de forma excêntrica – um cavaleio foi visto usando um chapéu-coco –
mas atuou inicialmente como a horda cruel mongol. Em contraste com a
disciplinada infantaria polonesa, os infantes do Exército Vermelho estavam
descalços e sustentavam sua moral através de uma política de estupros e
pilhagem.
A
Guerra Polonesa-Soviética foi suja, brutal e curta. Começando com um ataque
preventivo pela Polônia contra as forças soviéticas na Ucrânia no final de
abril de 1920, que resultou na vitória soviética, foi encerrada em meados de
outubro, quando então o exército polonês expulsou os russos e exigiu boa parte
da Bielorrússia e Ucrânia.
Com
o Exército Vermelho no Vístula, nos arredores da capital polonesa, o contrataque
decisivo de Pilsudski foi o envio de cinco divisões do sul, para dividir os
exércitos russos ao longo da linha do front norte-sul. Nas palavras de
Zamoyski, era “como lançar um forcado sobre os exércitos russos lateralmente:
tendo sido o impulso suficientemente forte,o pânico e o caos preveniu sua
reunião novamente.”
Foi
isto o que aconteceu, e tudo porque, nas palavras de um jovem conselheiro
francês, Charles de Gaulle, “o soldado polonês é um soldado de extraordinária
resistência.”
Os
poloneses também quebraram todos os códigos russos e foram capazes de escutar
sua comunicação. O treino provou ser vital duas décadas depois quando
criptologistas e a resistência poloneses capturaram a máquina codificadora
Enigma da Wehrmacht e a repassaram para Londres, de modo que esta ficou sabendo
dos planos de guerra alemães.
As
perdas russas (mortos, feridos, capturados e presos) foram acima de 200.000.
Seu exército de cavalaria do norte, o Konkorpus, foi esmagado; sua contraparte
no sul escapou como uma sombra de si mesmo.
A
qualidade de um grande historiador militar não é somente fazer descrições do
campo de batalha e explicar suas táticas, mas dar o contexto político e trazer
as pessoas dos comandantes de volta à vida. Zamoyski consegue tudo isso em um
relato conciso e eletrizante de uma guerra esquecida e argumenta que, longe de
ser irrelevante, a vitória polonesa trouxe “duas décadas de liberdade”.
Nota:
[1]
Mikhail Nikolayevich Tukhachevsky (16/02/1893 — 12/06/1937) foi um comandante militar soviético e chefe do Exército
Vermelho. Foi um dos vários comandantes do Exército Vermelho acusado de
colaborar com os nazistas durante o Grande Expurgo, sendo condenado e executado
pelos Processos de Moscou.
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