terça-feira, 15 de setembro de 2015

Como os Neocons desestabilizaram a Europa

Robert Perry


O caos dos refugiados que agora está pressionando a Europa – dramatizado pelas fotos do afogamento do garoto sírio Aylan Kurdi, cujo corpo foi encontrado em uma praia na Turquia – começou com as ambições cavalheirescas dos neocons americanos[1] e seus colegas liberais-intervencionistas que planejaram refazer o Oriente Médio e outras partes do mundo através da “mudança de regime”.

Ao invés das maravilhas prometidas de “promoção da democracia” e “direitos humanos”, o que estes “antirrealistas” conseguiram foi espalhar a morte, destruição e desestabilização através do Oriente Médio e partes da África e agora na Ucrânia e no coração da Europa. Mesmo assim, desde que essas forças neocon ainda controlam a Narrativa Oficial, suas explicações alcançam alto valor – já que não tem sido suficiente a “mudança de regime”.

Por exemplo, o editor neocon do Washington Post, Fred Hiatt, na segunda-feira culpou os “realistas” pela evolução das catástrofes. Hiatt castigou-os e ao presidente Barack Obama por não intervir mais agressivamente na Síria para depor o presidente Bashar AL-Assad, um alvo neocon de longa data para “mudança de regime”.

Mas a verdade é que esta aceleração da difusão do sofrimento humano pode ser identificada diretamente à influência cega dos neocons e de seus amigos turistas liberais que possuem resistência a comprometimento político e, no caso da Síria, bloquearam quaisquer esforços realistas para encontrar um acordo justo entre Assad e seus adversários políticos, aqueles que não são terroristas.

No início de 2014, os neocons e os gaviões liberais sabotaram as conversas de paz sírias em Genova ao bloquear a participação do Irã e transformando a conferência de paz em um jogo de um time só onde os líderes oposicionistas financiados pelos EUA agrediram verbalmente os representantes de Assad, que voltaram para casa. Durante todo o tempo, os editores do Post e seus amigos continuaram martelando na cabeça de Obama para iniciar um bombardeio às forças de Assad.

A loucura desta visão neocon cresceu mais claramente no verão de 2014, quando o Estado Islâmico, uma cria da Al-Qaeda que tem massacrado os simpatizantes do governo de Assad, expandiu sua campanha sanguinária ao interior do Iraque, onde seu movimento ultrabrutal surgiu originariamente como “Al-Qaeda no Iraque” em resposta à invasão americana de 2003.

Deveria estar claro por meados de 2014 que se os neocons tivessem sucesso e Obama conduzisse um ataque maciço para devastar as forças de Assad, a bandeira negra do terrorismo sunita poderia estar muito bem tremulando na capital síria Damasco enquanto as ruas estariam banhadas de sangue.

Mas agora, um ano depois, os parceiros de Hiatt ainda não absorveram a lição – e o caos difundido das estratégias neocons está desestabilizando a Europa. Tão chocante quanto perturbador quanto possa parecer, nada disso deveria ser surpresa, já que os neocons sempre levaram caos e desorganização em seu rastro.

Quando encontrei os neocons pela primeira vez nos anos 1980, eles estavam brincando com a América Central. O presidente Ronald Reagan credenciou muitos deles, levando ao governo americano iluminados neocons como Elliott Abrams e Robert Kagan. Mas Reagan em geral manteve-os longe dos reinos principais: o Oriente Médio e a Europa.

Estas áreas estratégicas foram para os “adultos”, pessoas como James Baker, George Schultz, Philip Habib e Brent Scowcroft. Os pobres latino americanos, enquanto tentavam livrar gerações de repressão e atraso imposto por oligarquias de extrema direita, enfrentaram os ideólogos neocons americanos que criaram esquadrões da morte e mesmo genocídio contra camponeses, estudantes e trabalhadores.
O resultado – sem surpreender – foi uma fuga de refugiados, especialmente de El Salvador e Guatemala, em direção dos Estados Unidos. O “sucesso” neocon nos anos 1980, esmagando movimentos sociais progressistas e reforçando controles oligárquicos, deixou a maioria dos países da América Central nas mãos de regimes corruptos e sindicatos do crime, periodicamente levando mais ondas do que Reagan chamou de “andarilhos” através do México em direção do sul da fronteira americana.

Bagunçando o Oriente Médio

Porém, os neocons não ficaram satisfeitos brincando como crianças. Mesmo durante a administração Reagan, eles tentaram se infiltrar entre os “adultos” e possuir coisa de gente grande. Por exemplo, neocons como Robert McFarlane e Paul Wolfowitz forçaram as políticas amigáveis de Israel em relação ao Irã, na época visto como um contrapeso ao Iraque. Esta estratégia conduziu eventualmente ao Caso Irã-Contras, o pior escândalo da administração Reagan[2].

Contudo, a mídia principal de direita dos EUA jamais gostou da história Irã-Contras e, assim, a exposição dos muitos níveis da criminalidade do escândalo foi evitada. Os democratas também preferiram o diálogo ao invés do confronto. Logo, a maior parte das figuras neocons sobreviveu ao escândalo, deixando seus postos firmemente no lugar para a próxima fase de sua ascensão ao poder.

Nos anos 1990, os neocons construíram uma infraestrutura bem organizada de pensamento e presença midiática, beneficiando-se tanto de doações de grandes indústrias militares quanto de operações de financiamento público como Legado Nacional para a Democracia (NED), liderada pelo neocon Carl Gershman.

Os neocons ganharam mais impulso político das forças armadas americanas durante a Guerra do Golfo de 1990-91. Muitos americanos começaram a ver a guerra como diversão, quase como um vídeo game no qual as forças “inimigas” são esmagadas sem piedade. Nos noticiários de TV, filósofos beligerantes destilavam seus discursos de ódio.

Combinado com o colapso da União Soviética em 1991, a noção de que a supremacia militar americana era incomparável e incontestável deu nascimento às teorias neocon sobre transformar “diplomacia” em nada menos que ultimato dos EUA. No Oriente Médio, esta era uma visão compartilhada por israelenses linha-dura, que se cansaram de negociar com árabes e palestinos.

Ao invés de conversar, haveria “mudança de regime” para qualquer governo que não entrasse na linha. Esta estratégia foi articulada em 1996, quando um grupo de neocons americanos, incluindo Richard Perle e Douglas Feith começaram a trabalhar na campanha de Benjamin Netanyahu em Israel e escreveram um artigo estratégico chamado “Um rompimento claro: Uma Nova Estratégia para garantir o Reino”.

O Iraque foi o primeiro alvo da lista neocon, mas em seguida vinham Síria e Irã. A ideia geral era a de que uma vez que os regimes que ajudavam os palestinos e o Hezbollah fossem removidos ou neutralizados, então Israel poderia ditar os termos da paz para os palestinos que não teriam outra opção a não ser aceitar o que estava sendo oferecido.

Em 1998, o Projeto neocon para O Novo Século Americano, criado pelos neocons Robert Kagan e William Kristol, clamava por uma invasão do Iraque, mas o presidente Bill Clinton recusou-se a tal extremismo. A situação mudou, contudo, quando o presidente George W. Bush assumiu a presidência e os ataques do 11/09 aterrorizaram e enfureceram o público americano.

De repente, os neocons tinham um comandante-em-chefe que concordava com a necessidade de eliminar Saddam Hussein – e os americanos foram facilmente persuadidos apesar de o Iraque e nem Hussein terem nada a ver com o 11/09.

A Morte do “Realismo”

A invasão de 2003 do Iraque pareceu o canto de morte para a política externa “realista” em Washington. Obsoletas ou mortas, as velhas vozes foram silenciadas ou ignoradas. Do Congresso e Poder Executivo aos intelectuais e mídia jornalística, quase todos os “formadores de opinião” eram neocons e muitos liberais caíram na conversa de Bush no caso da guerra.

E, mesmo que o “grupo criador” da Guerra do Iraque estivesse quase todo errado, tanto em relação às armas de destruição em massa quanto à ingenuidade em reformatar o Iraque, quase ninguém que promoveu o fiasco sofreu qualquer punição tanto pela ilegalidade da invasão quanto pela ausência de bom senso em promover tal esquema desatinado.

Ao invés das repercussões negativas, os planejadores da Guerra do Iraque – os neocons e seus parceiros gaviões liberais – essencialmente fortaleceram seu controle sobre a política externa americana e sobre os principais meios jornalísticos. Do New York Times e Washington Post até a Instituição Brooking e o Instituto da Empresa Americana, a agenda da “mudança de regime” continuou a ser apoiada.

Nada mudou mesmo quando a guerra sectária libertada no Iraque ceifou a vida de centenas de milhares, deslocou milhões e deu nascimento ao parceiro impiedoso da Al-Qaeda. Nem mesmo a eleição em 2008 de Barack Obama, um oponente da Guerra do Iraque, mudou esta dinâmica geral.

Ao invés de se opor ao establishment da nova política externa, Obama curvou-se a ele, mantendo figuras-chaves da equipe de segurança nacional do presidente Bush, como o Secretário da Defesa Robert Gates e o General David Petraeus, e unindo-se a gaviões democratas como a senadora Hillary Clinton, que tornou-se Secretária de Estado, e Samantha Power no Conselho de Segurança Nacional.

Assim, o culto à “mudança de regime” não apenas sobreviveu ao desastre iraquiano; ele cresceu. Onde quer que um problema estrangeiro surgisse, a solução ainda era a “mudança de regime”, acompanhada pela usual demonização de um líder alvejado, apoio à “oposição democrática” e clamor pela intervenção militar. O Presidente Obama, indiscutivelmente um “realista”, encontrou-se como um chefe arrastado pela multidão já que ele foi conduzido para a cruzada da “mudança de regime”, uma após a outra.

Em 2011, por exemplo, a Secretária de Estado Clinton e a assessora do Conselho de Segurança Nacional Power convenceram Obama a se juntar a uma guerra com os líderes europeus que pretendiam uma “mudança de regime” na Líbia, onde Muammar Gaddafi investiu contra grupos no leste do país que se identificavam como terroristas islâmicos.

Mas Clinton e Power viam o caso como um teste para suas teorias de “guerra humanitária” – ou “mudança de regime” para remover um “bandido” como Gaddafi do poder. Obama logo consentiu e, com as forças armadas fornecendo apoio tecnológico crucial, uma campanha devastadora de bombardeio destruiu o exército de Gaddafi, removeu-o de Trípoli e no final levou ao seu assassinato por tortura.

“Viemos, vimos, ele morreu”

A Secretária Clinton se apressou em garantir o crédito para esta “mudança de regime”. De acordo com um email de agosto de 2011, seu amigo e conselheiro pessoal de longa data Sidney Blumenthal elogiou a campanha de bombardeio para destruir o exército de Gaddafi e saudou a expulsão do ditador.

“Em primeiro lugar, bravo! Este é um momento histórico e você receberá os créditos por ter feito isso,” escreveu Blumenthal em 22 de agosto de 2011. “Quando Qaddafi for finalmente retirado do poder, você poderá é claro fazer uma declaração pública diante das câmeras onde quer que você esteja, mesmo no conforto de seu lar... Você deve ir à câmera. Você deve se incluir no registro histórico deste momento... A frase mais importante é: estratégia bem sucedida.”

Clinton encaminhou o conselho de Blumenthal para Jack Sullivan, um assessor próximo do Departamento de Estado. “Galera, leiam abaixo,” escreveu ela. “Sid deu boas dicas sobre o que devo falar, mas só depois que Q (Qaddafi) partir, o que vai deixar mais dramático. Esta é minha hesitação já que não estou certa de quantas chances terei.”

Sullivan respondeu, dizendo “faria mais sentido para você fazer um editorial para ser publicado após ele cair, realçando este ponto... Você pode reforçar o editorial em todas as suas aparições, mas tem mais sentido criar algo definitivo, quase como uma Doutrina Clinton.”

Contudo, Gaddafi abandonou Trípoli aquele dia, e o presidente Obama aproveitou o momento para fazer um anúncio triunfante. A oportunidade de Clinton para anunciar sua felicidade com a “mudança de regime” líbio tevve que esperar até 20 de outubro de 2011, quando Gaddafi foi capturado, torturado e morto.

Em uma entrevista para a TV, Clinton celebrou as notícias quando elas surgiram em seu celular e parafraseou a famosa declaração de Júlio César após as forças romanas conseguirem uma vitória espetacular em 46 a.C., “veni, vidi, vici” – “vim, vi e venci”. A cópia da declaração de César foi: “Viemos, vimos, ele morreu.” Ela então gargalhou e bateu palmas.

Presumivelmente, a “Doutrina Clinton” teria sido uma política de “intervencionismo liberal” para alcançar “mudança de regime” em países onde há alguma crise na qual o líder procura eliminar uma ameaça de segurança interna e onde os Estados Unidos se opõem a tal ação.

Mas o problema com a declaração bombástica de Clinton sobre sua doutrina era que a aventura líbia logo se tornou um pesadelo com os terroristas islâmicos, sobre os quais Gaddafi havia alertado, tomando grandes porções de território e transformando-as em terras de sangue como no Iraque.

Em 11 de setembro de 2012, esta realidade atingiu o país quando o consulado americano em Bangazi foi tomado e o embaixador americano Christopher Stevens e três outros adidos diplomáticos foram assassinados. Ficou claro que Gaddafi não estava totalmente errado sobre a natureza de sua oposição.

Eventualmente, a violência extremista na Líbia cresceu tanto e fora de controle que os Estados Unidos e os países europeus abandonaram suas embaixadas em Trípoli. Desde então, os terroristas do Estado Islâmico começaram a decapitar cristãos cópticos nas praias líbias e massacrar outros “hereges”. Além da anarquia, a Líbia tornou-se uma rota de fuga para migrantes desesperados buscando uma passagem pelo Mediterrâneo em direção da Europa.

Uma Guerra contra Assad

Paralelamente à “mudança de regime” na Líbia foi o empreendimento semelhante na Síria na qual os neocons e os intervencionistas liberais pressionam pela queda do presidente Bashar AL-Assad, cujo governo em 2011 desmanchou no que rapidamente tornou-se uma rebelião violenta liderada por elementos extremistas, apesar de a propaganda ocidental retratá-los como “moderados” e “pacifistas”.

Para os primeiros anos da guerra civil síria, a versão era de que estes rebeldes “moderados” estavam enfrentando repressão injustificada e a única resposta possível seria a “mudança de regime” em Damasco. A afirmação de Assad que a oposição incluía muitos extremistas islâmicos foi largamente ignorada como também o foram os alertas de Gaddafi.

Em 21 de agosto de 2013, um ataque de gás sarin nos arredores de Damasco matou centenas de civis e o Departamento de Estado dos EUA e a mídia jornalística imediatamente culparam as forças de Assad exigindo uma retaliação contra o exército sírio.

Apesar das dúvidas dentro da comunidade de inteligência dos EUA sobre a responsabilidade de Assad pelo ataque de sarin, que alguns analistas viram como uma provocação por parte dos terroristas anti-Assad, o clamor dos neocon e dos liberais intervencionistas em Washington pela guerra foi intenso e quaisquer dúvidas sobre o caso foram deixadas de lado.

Mas o presidente Obama, ciente da incerteza da comunidade de inteligência americana, segurou uma resposta militar e eventualmente trabalhou um acordo, apoiado pelo presidente russo Vladimir Putin, no qual Assad concordava em entregar todo seu arsenal de armas químicas enquanto ainda negava qualquer responsabilidade pelo ataque de sarin.

Apesar de o caso do ataque de sarin acabou tirando a culpa do governo sírio – com evidência apontando para uma “operação de engano” conduzida por radicais sunitas para enganar os EUA de modo que este intervisse do seu lado – o “grupo intelectual” em Washington se recusou a reconsiderar o julgamento inicial errado. Na coluna da segunda-feira, Hiatt ainda se referia à “selvageria das armas químicas” de Assad.

Qualquer sugestão de que a única opção realista na Síria é um compromisso de divisão de poder que incluiria Assad – que é visto como protetor das minorias cristã, Xiita e Alauita na Síria – é rejeitada de cara com o slogan “Assad deve partir!”

Os neocons criaram uma sabedoria convencional que difunde que a crise síria seria prevenida somente se Obama tivesse seguido a receita de 2011 dos neocons de outra intervenção americana para forçar uma “mudança de regime”. Entretanto, o resultado mais provável teria sido outrra ocupação militar americana indefinida e sanguinária da Síria ou então a bandeira negra do terrorismo islâmico tremulando sobre Damasco.

Para cima de Putin

Outro vilão que surgiu a partir da falha em bombardear a Síria em 2013 foi o presidente russo Putin, que enfureceu os neocons com o seu trabalho com Obama na entrega do arsenal de armas químicas da Síria e que mais tarde aborreceu os neocons ao ajudar os iranianos a negociar seriamente uma restrição ao seu programa nuclear. Apesar dos desastres de “mudança de regime” no Iraque e na Líbia, os neocons queriam propagar sua agenda novamente em direção da Síria e do Irã.

Putin obteve sua resposta quando os neocons americanos, incluindo o presidente do NED Carl Gershman e a Secretária Assistente de Estado para Assuntos Europeus, Victoria Nuland (esposa de Robert Kagan), ajudou a orquestrar uma “mudança de regime” na Ucrânia em 22 de fevereiro de 2014, derrubando o presidente eleito Viktor Yanukovych e instalando um regime antirrusso na fronteira russa.

Tão emocionados quanto os neocons estavam com sua “vitória” em Kiev e seu sucesso em demonizar Putin junto à mídia jornalística dos EUA, a Ucrânia seguiu o previsível roteiro da “mudança de regime” e caiu em uma guerra civil perniciosa. Os ucranianos ocidentais promoveram uma “operação antiterrorista” brutal contra russos étnicos no leste que resistiram ao golpe de estado patrocinado pelos EUA.

Milhares de ucranianos morreram e milhões foram deslocados à medida que a economia ucraniana caminhava para o colapso. Contudo, os neocons e seus parceiros gaviões liberais novamente mostraram suas habilidades propagandísticas ao colocar a responsabilidade pela “agressão russa” a Putin.

Apesar de Obama aparentemente ter sido pego de surpresa pela “mudança de regime” ucraniana, ele logo se juntou ao coro ao denunciar Putin e a Rússia. A União Europeia também foi atrás dos EUA e exigiu sansões contra a Rússia apesar de estas sansões poderem abalar a economia da Europa. A estabilidade europeia está agora em risco em virtude do fluxo de refugiados das zonas de guerra do Oriente Médio.

Uma Dúzia de Anos de Caos

Assim, podemos olhar nas consequências e custos dos últimos 12 anos sob o reinado das estratégias de “mudança de regime” dos neocons/gaviões liberais. De acordo com muitas estimativas, as estatísticas de mortes no Iraque, Síria e Líbia já ultrapassaram um milhão, com muitos milhões a mais de refugiados fugindo  - e esgotando os recursos – de países frágeis do Oriente Médio.

Centenas de milhares de outros refugiados e migrantes partiram para a Europa, colocando mais desafios às estruturas sociais do continente já pressionadas pela recessão severa que se seguiu ao crash de 2008 de Wall Street. Mesmo sem a crise de refugiados, a Grécia e outros países europeus meridionais estão lutando para manter as necessidades se seus cidadãos.

Parando por um instante e pensando no impacto global das políticas neoconservadoras, podemos nos surpreender no quanto elas espalharam o caos numa grande região do globo. Quem poderia imaginar que os neocons conseguiriam desestabilizar não somente o Oriente Médio, mas também a Europa?

E, enquanto a Europa luta, os mercados de exportação da China são abalados, espalhando a instabilidade econômica para aquela economia crucial e, com seus choques de mercado, as reverberações atingindo os Estados Unidos também.

A única esperança é que muitos americanos não sejam mais iludidos desta vez e que o “realismo” abandonado retorne às estratégias geopolíticas dos EUA buscando compromissos reais para restaurar a ordem política em lugares como a Síria, Líbia e Ucrânia. Ao invés de mais confrontos de machões, talvez surjam esforços sérios para reconciliação.

                      
Notas:

[1] Neoconservadorismo (ou neocon) é uma corrente da filosofia política que surgiu nos Estados Unidos a partir da rejeição do liberalismo social, relativismo moral e da contracultura da Nova Esquerda dos anos sessenta.

O neoconservadorismo influenciou os governos de Ronald Reagan e George W. Bush, representando um realinhamento da política estadunidense e a conversão de alguns membros da esquerda para a direita no espectro político.

O neoconservadorismo estadunidense enfatiza a política externa como aspecto mais importante nas responsabilidades de um governo, com o fim de manter o papel dos Estados Unidos como única superpotência, condição indispensável para a manutenção da ordem mundial. O primeiro neoconservador declarado foi Irving Kristol, que explicitou sua condição em um artigo de 1979, intitulado "Confessions of a True, Self-Confessed 'Neoconservative.'"

A acusação de que neoconservadorismo está relacionada com o leninismo foi feita também por Francis Fukuyama que identificou neoconservadorismo com o leninismo em 2006:

... Acreditavam que a história poderia ser empurrado com a correta aplicação do poder e da vontade. O Leninismo foi uma tragédia em sua versão bolchevique, e voltou como farsa quando praticada pelos Estados Unidos. Neoconservadorismo, tanto como um símbolo político como um corpo de pensamento, evoluiu para algo que não pode mais ter apoio.

[2] O Caso Irã-Contras foi um escândalo político nos Estados Unidos revelado pela mídia em novembro de 1986, durante o segundo mandato do presidente Ronald Reagan, no qual figuras chave da CIA facilitaram o tráfico de armas para o Irã, que estava sujeito a um embargo internacional de armamento, para assegurar a libertação de reféns e para financiar os Contras-nicaraguenses.

A operação começou como uma tentativa de melhorar as relações entre Estados Unidos e Irã, através da mediação de Israel, que iria enviar armas para um grupo politicamente influente de iranianos; os Estados Unidos iriam então fornecer mais armas para Israel e receber o pagamento feito pelos iranianos aos israelenses. Os destinatários iranianos prometeram fazer o possível para conseguir a libertação de seis estadunidenses que eram mantidos reféns pelo grupo islâmico xiita libanês Hezbollah, que era ligado ao Exército dos Guardiões da Revolução Islâmica.

O plano acabou virando um esquema de "armas por reféns", no qual os membros do Poder Executivo dos Estados Unidos vendiam armas para o Irã em troca da libertação de reféns estadunidenses.



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