Robert
Perry
O
caos dos refugiados que agora está pressionando a Europa – dramatizado pelas
fotos do afogamento do garoto sírio Aylan Kurdi, cujo corpo foi encontrado em
uma praia na Turquia – começou com as ambições cavalheirescas dos neocons
americanos[1] e seus colegas liberais-intervencionistas que planejaram refazer
o Oriente Médio e outras partes do mundo através da “mudança de regime”.
Ao
invés das maravilhas prometidas de “promoção da democracia” e “direitos
humanos”, o que estes “antirrealistas” conseguiram foi espalhar a morte,
destruição e desestabilização através do Oriente Médio e partes da África e
agora na Ucrânia e no coração da Europa. Mesmo assim, desde que essas forças
neocon ainda controlam a Narrativa Oficial, suas explicações alcançam alto
valor – já que não tem sido suficiente a “mudança de regime”.
Por
exemplo, o editor neocon do Washington Post, Fred Hiatt, na segunda-feira
culpou os “realistas” pela evolução das catástrofes. Hiatt castigou-os e ao
presidente Barack Obama por não intervir mais agressivamente na Síria para
depor o presidente Bashar AL-Assad, um alvo neocon de longa data para “mudança
de regime”.
Mas
a verdade é que esta aceleração da difusão do sofrimento humano pode ser identificada
diretamente à influência cega dos neocons e de seus amigos turistas liberais
que possuem resistência a comprometimento político e, no caso da Síria,
bloquearam quaisquer esforços realistas para encontrar um acordo justo entre
Assad e seus adversários políticos, aqueles que não são terroristas.
No
início de 2014, os neocons e os gaviões liberais sabotaram as conversas de paz
sírias em Genova ao bloquear a participação do Irã e transformando a
conferência de paz em um jogo de um time só onde os líderes oposicionistas
financiados pelos EUA agrediram verbalmente os representantes de Assad, que
voltaram para casa. Durante todo o tempo, os editores do Post e seus amigos
continuaram martelando na cabeça de Obama para iniciar um bombardeio às forças de
Assad.
A
loucura desta visão neocon cresceu mais claramente no verão de 2014, quando o
Estado Islâmico, uma cria da Al-Qaeda que tem massacrado os simpatizantes do
governo de Assad, expandiu sua campanha sanguinária ao interior do Iraque, onde
seu movimento ultrabrutal surgiu originariamente como “Al-Qaeda no Iraque” em
resposta à invasão americana de 2003.
Deveria
estar claro por meados de 2014 que se os neocons tivessem sucesso e Obama
conduzisse um ataque maciço para devastar as forças de Assad, a bandeira negra
do terrorismo sunita poderia estar muito bem tremulando na capital síria
Damasco enquanto as ruas estariam banhadas de sangue.
Mas
agora, um ano depois, os parceiros de Hiatt ainda não absorveram a lição – e o
caos difundido das estratégias neocons está desestabilizando a Europa. Tão
chocante quanto perturbador quanto possa parecer, nada disso deveria ser
surpresa, já que os neocons sempre levaram caos e desorganização em seu rastro.
Quando
encontrei os neocons pela primeira vez nos anos 1980, eles estavam brincando
com a América Central. O presidente Ronald Reagan credenciou muitos deles,
levando ao governo americano iluminados neocons como Elliott Abrams e Robert
Kagan. Mas Reagan em geral manteve-os longe dos reinos principais: o Oriente Médio
e a Europa.
Estas
áreas estratégicas foram para os “adultos”, pessoas como James Baker, George
Schultz, Philip Habib e Brent Scowcroft. Os pobres latino americanos, enquanto
tentavam livrar gerações de repressão e atraso imposto por oligarquias de extrema
direita, enfrentaram os ideólogos neocons americanos que criaram esquadrões da
morte e mesmo genocídio contra camponeses, estudantes e trabalhadores.
O
resultado – sem surpreender – foi uma fuga de refugiados, especialmente de El
Salvador e Guatemala, em direção dos Estados Unidos. O “sucesso” neocon nos
anos 1980, esmagando movimentos sociais progressistas e reforçando controles
oligárquicos, deixou a maioria dos países da América Central nas mãos de
regimes corruptos e sindicatos do crime, periodicamente levando mais ondas do
que Reagan chamou de “andarilhos” através do México em direção do sul da
fronteira americana.
Bagunçando o Oriente Médio
Porém,
os neocons não ficaram satisfeitos brincando como crianças. Mesmo durante a
administração Reagan, eles tentaram se infiltrar entre os “adultos” e possuir
coisa de gente grande. Por exemplo, neocons como Robert McFarlane e Paul
Wolfowitz forçaram as políticas amigáveis de Israel em relação ao Irã, na época
visto como um contrapeso ao Iraque. Esta estratégia conduziu eventualmente ao
Caso Irã-Contras, o pior escândalo da administração Reagan[2].
Contudo,
a mídia principal de direita dos EUA jamais gostou da história Irã-Contras e,
assim, a exposição dos muitos níveis da criminalidade do escândalo foi evitada.
Os democratas também preferiram o diálogo ao invés do confronto. Logo, a maior
parte das figuras neocons sobreviveu ao escândalo, deixando seus postos
firmemente no lugar para a próxima fase de sua ascensão ao poder.
Nos
anos 1990, os neocons construíram uma infraestrutura bem organizada de
pensamento e presença midiática, beneficiando-se tanto de doações de grandes
indústrias militares quanto de operações de financiamento público como Legado
Nacional para a Democracia (NED), liderada pelo neocon Carl Gershman.
Os
neocons ganharam mais impulso político das forças armadas americanas durante a
Guerra do Golfo de 1990-91. Muitos americanos começaram a ver a guerra como
diversão, quase como um vídeo game no qual as forças “inimigas” são esmagadas
sem piedade. Nos noticiários de TV, filósofos beligerantes destilavam seus
discursos de ódio.
Combinado
com o colapso da União Soviética em 1991, a noção de que a supremacia militar
americana era incomparável e incontestável deu nascimento às teorias neocon
sobre transformar “diplomacia” em nada menos que ultimato dos EUA. No Oriente
Médio, esta era uma visão compartilhada por israelenses linha-dura, que se
cansaram de negociar com árabes e palestinos.
Ao
invés de conversar, haveria “mudança de regime” para qualquer governo que não
entrasse na linha. Esta estratégia foi articulada em 1996, quando um grupo de
neocons americanos, incluindo Richard Perle e Douglas Feith começaram a
trabalhar na campanha de Benjamin Netanyahu em Israel e escreveram um artigo
estratégico chamado “Um rompimento claro: Uma Nova Estratégia para garantir o
Reino”.
O
Iraque foi o primeiro alvo da lista neocon, mas em seguida vinham Síria e Irã.
A ideia geral era a de que uma vez que os regimes que ajudavam os palestinos e
o Hezbollah fossem removidos ou neutralizados, então Israel poderia ditar os
termos da paz para os palestinos que não teriam outra opção a não ser aceitar o
que estava sendo oferecido.
Em
1998, o Projeto neocon para O Novo Século Americano, criado pelos neocons
Robert Kagan e William Kristol, clamava por uma invasão do Iraque, mas o
presidente Bill Clinton recusou-se a tal extremismo. A situação mudou, contudo,
quando o presidente George W. Bush assumiu a presidência e os ataques do 11/09
aterrorizaram e enfureceram o público americano.
De
repente, os neocons tinham um comandante-em-chefe que concordava com a necessidade
de eliminar Saddam Hussein – e os americanos foram facilmente persuadidos
apesar de o Iraque e nem Hussein terem nada a ver com o 11/09.
A Morte do “Realismo”
A
invasão de 2003 do Iraque pareceu o canto de morte para a política externa “realista”
em Washington. Obsoletas ou mortas, as velhas vozes foram silenciadas ou
ignoradas. Do Congresso e Poder Executivo aos intelectuais e mídia
jornalística, quase todos os “formadores de opinião” eram neocons e muitos
liberais caíram na conversa de Bush no caso da guerra.
E,
mesmo que o “grupo criador” da Guerra do Iraque estivesse quase todo errado,
tanto em relação às armas de destruição em massa quanto à ingenuidade em
reformatar o Iraque, quase ninguém que promoveu o fiasco sofreu qualquer
punição tanto pela ilegalidade da invasão quanto pela ausência de bom senso em
promover tal esquema desatinado.
Ao
invés das repercussões negativas, os planejadores da Guerra do Iraque – os neocons
e seus parceiros gaviões liberais – essencialmente fortaleceram seu controle
sobre a política externa americana e sobre os principais meios jornalísticos.
Do New York Times e Washington Post até a Instituição Brooking e o Instituto da
Empresa Americana, a agenda da “mudança de regime” continuou a ser apoiada.
Nada
mudou mesmo quando a guerra sectária libertada no Iraque ceifou a vida de
centenas de milhares, deslocou milhões e deu nascimento ao parceiro impiedoso
da Al-Qaeda. Nem mesmo a eleição em 2008 de Barack Obama, um oponente da Guerra
do Iraque, mudou esta dinâmica geral.
Ao
invés de se opor ao establishment da
nova política externa, Obama curvou-se a ele, mantendo figuras-chaves da equipe
de segurança nacional do presidente Bush, como o Secretário da Defesa Robert
Gates e o General David Petraeus, e unindo-se a gaviões democratas como a
senadora Hillary Clinton, que tornou-se Secretária de Estado, e Samantha Power
no Conselho de Segurança Nacional.
Assim,
o culto à “mudança de regime” não apenas sobreviveu ao desastre iraquiano; ele
cresceu. Onde quer que um problema estrangeiro surgisse, a solução ainda era a “mudança
de regime”, acompanhada pela usual demonização de um líder alvejado, apoio à “oposição
democrática” e clamor pela intervenção militar. O Presidente Obama,
indiscutivelmente um “realista”, encontrou-se como um chefe arrastado pela
multidão já que ele foi conduzido para a cruzada da “mudança de regime”, uma
após a outra.
Em
2011, por exemplo, a Secretária de Estado Clinton e a assessora do Conselho de
Segurança Nacional Power convenceram Obama a se juntar a uma guerra com os
líderes europeus que pretendiam uma “mudança de regime” na Líbia, onde Muammar
Gaddafi investiu contra grupos no leste do país que se identificavam como
terroristas islâmicos.
Mas
Clinton e Power viam o caso como um teste para suas teorias de “guerra
humanitária” – ou “mudança de regime” para remover um “bandido” como Gaddafi do
poder. Obama logo consentiu e, com as forças armadas fornecendo apoio
tecnológico crucial, uma campanha devastadora de bombardeio destruiu o exército
de Gaddafi, removeu-o de Trípoli e no final levou ao seu assassinato por
tortura.
“Viemos, vimos, ele morreu”
A
Secretária Clinton se apressou em garantir o crédito para esta “mudança de
regime”. De acordo com um email de agosto de 2011, seu amigo e conselheiro
pessoal de longa data Sidney Blumenthal elogiou a campanha de bombardeio para
destruir o exército de Gaddafi e saudou a expulsão do ditador.
“Em
primeiro lugar, bravo! Este é um momento histórico e você receberá os créditos
por ter feito isso,” escreveu Blumenthal em 22 de agosto de 2011. “Quando
Qaddafi for finalmente retirado do poder, você poderá é claro fazer uma
declaração pública diante das câmeras onde quer que você esteja, mesmo no
conforto de seu lar... Você deve ir à câmera. Você deve se incluir no registro
histórico deste momento... A frase mais importante é: estratégia bem sucedida.”
Clinton
encaminhou o conselho de Blumenthal para Jack Sullivan, um assessor próximo do
Departamento de Estado. “Galera, leiam abaixo,” escreveu ela. “Sid deu boas
dicas sobre o que devo falar, mas só depois que Q (Qaddafi) partir, o que vai
deixar mais dramático. Esta é minha hesitação já que não estou certa de quantas
chances terei.”
Sullivan
respondeu, dizendo “faria mais sentido para você fazer um editorial para ser
publicado após ele cair, realçando este ponto... Você pode reforçar o editorial
em todas as suas aparições, mas tem mais sentido criar algo definitivo, quase
como uma Doutrina Clinton.”
Contudo,
Gaddafi abandonou Trípoli aquele dia, e o presidente Obama aproveitou o momento
para fazer um anúncio triunfante. A oportunidade de Clinton para anunciar sua
felicidade com a “mudança de regime” líbio tevve que esperar até 20 de outubro
de 2011, quando Gaddafi foi capturado, torturado e morto.
Em
uma entrevista para a TV, Clinton celebrou as notícias quando elas surgiram em
seu celular e parafraseou a famosa declaração de Júlio César após as forças
romanas conseguirem uma vitória espetacular em 46 a.C., “veni, vidi, vici” – “vim,
vi e venci”. A cópia da declaração de César foi: “Viemos, vimos, ele morreu.”
Ela então gargalhou e bateu palmas.
Presumivelmente,
a “Doutrina Clinton” teria sido uma política de “intervencionismo liberal” para
alcançar “mudança de regime” em países onde há alguma crise na qual o líder
procura eliminar uma ameaça de segurança interna e onde os Estados Unidos se
opõem a tal ação.
Mas
o problema com a declaração bombástica de Clinton sobre sua doutrina era que a
aventura líbia logo se tornou um pesadelo com os terroristas islâmicos, sobre
os quais Gaddafi havia alertado, tomando grandes porções de território e
transformando-as em terras de sangue como no Iraque.
Em
11 de setembro de 2012, esta realidade atingiu o país quando o consulado
americano em Bangazi foi tomado e o embaixador americano Christopher Stevens e
três outros adidos diplomáticos foram assassinados. Ficou claro que Gaddafi não
estava totalmente errado sobre a natureza de sua oposição.
Eventualmente,
a violência extremista na Líbia cresceu tanto e fora de controle que os Estados
Unidos e os países europeus abandonaram suas embaixadas em Trípoli. Desde
então, os terroristas do Estado Islâmico começaram a decapitar cristãos cópticos
nas praias líbias e massacrar outros “hereges”. Além da anarquia, a Líbia
tornou-se uma rota de fuga para migrantes desesperados buscando uma passagem
pelo Mediterrâneo em direção da Europa.
Uma Guerra contra Assad
Paralelamente
à “mudança de regime” na Líbia foi o empreendimento semelhante na Síria na qual
os neocons e os intervencionistas liberais pressionam pela queda do presidente
Bashar AL-Assad, cujo governo em 2011 desmanchou no que rapidamente tornou-se
uma rebelião violenta liderada por elementos extremistas, apesar de a
propaganda ocidental retratá-los como “moderados” e “pacifistas”.
Para
os primeiros anos da guerra civil síria, a versão era de que estes rebeldes “moderados”
estavam enfrentando repressão injustificada e a única resposta possível seria a
“mudança de regime” em Damasco. A afirmação de Assad que a oposição incluía
muitos extremistas islâmicos foi largamente ignorada como também o foram os
alertas de Gaddafi.
Em
21 de agosto de 2013, um ataque de gás sarin nos arredores de Damasco matou
centenas de civis e o Departamento de Estado dos EUA e a mídia jornalística
imediatamente culparam as forças de Assad exigindo uma retaliação contra o
exército sírio.
Apesar
das dúvidas dentro da comunidade de inteligência dos EUA sobre a
responsabilidade de Assad pelo ataque de sarin, que alguns analistas viram como
uma provocação por parte dos terroristas anti-Assad, o clamor dos neocon e dos
liberais intervencionistas em Washington pela guerra foi intenso e quaisquer
dúvidas sobre o caso foram deixadas de lado.
Mas
o presidente Obama, ciente da incerteza da comunidade de inteligência americana,
segurou uma resposta militar e eventualmente trabalhou um acordo, apoiado pelo
presidente russo Vladimir Putin, no qual Assad concordava em entregar todo seu
arsenal de armas químicas enquanto ainda negava qualquer responsabilidade pelo
ataque de sarin.
Apesar
de o caso do ataque de sarin acabou tirando a culpa do governo sírio – com evidência
apontando para uma “operação de engano” conduzida por radicais sunitas para
enganar os EUA de modo que este intervisse do seu lado – o “grupo intelectual”
em Washington se recusou a reconsiderar o julgamento inicial errado. Na coluna
da segunda-feira, Hiatt ainda se referia à “selvageria das armas químicas” de
Assad.
Qualquer
sugestão de que a única opção realista na Síria é um compromisso de divisão de
poder que incluiria Assad – que é visto como protetor das minorias cristã,
Xiita e Alauita na Síria – é rejeitada de cara com o slogan “Assad deve partir!”
Os
neocons criaram uma sabedoria convencional que difunde que a crise síria seria
prevenida somente se Obama tivesse seguido a receita de 2011 dos neocons de
outra intervenção americana para forçar uma “mudança de regime”. Entretanto, o
resultado mais provável teria sido outrra ocupação militar americana indefinida
e sanguinária da Síria ou então a bandeira negra do terrorismo islâmico
tremulando sobre Damasco.
Para cima de Putin
Outro
vilão que surgiu a partir da falha em bombardear a Síria em 2013 foi o
presidente russo Putin, que enfureceu os neocons com o seu trabalho com Obama
na entrega do arsenal de armas químicas da Síria e que mais tarde aborreceu os
neocons ao ajudar os iranianos a negociar seriamente uma restrição ao seu
programa nuclear. Apesar dos desastres de “mudança de regime” no Iraque e na
Líbia, os neocons queriam propagar sua agenda novamente em direção da Síria e
do Irã.
Putin
obteve sua resposta quando os neocons americanos, incluindo o presidente do NED
Carl Gershman e a Secretária Assistente de Estado para Assuntos Europeus,
Victoria Nuland (esposa de Robert Kagan), ajudou a orquestrar uma “mudança de
regime” na Ucrânia em 22 de fevereiro de 2014, derrubando o presidente eleito
Viktor Yanukovych e instalando um regime antirrusso na fronteira russa.
Tão
emocionados quanto os neocons estavam com sua “vitória” em Kiev e seu sucesso
em demonizar Putin junto à mídia jornalística dos EUA, a Ucrânia seguiu o
previsível roteiro da “mudança de regime” e caiu em uma guerra civil
perniciosa. Os ucranianos ocidentais promoveram uma “operação antiterrorista”
brutal contra russos étnicos no leste que resistiram ao golpe de estado patrocinado
pelos EUA.
Milhares
de ucranianos morreram e milhões foram deslocados à medida que a economia
ucraniana caminhava para o colapso. Contudo, os neocons e seus parceiros
gaviões liberais novamente mostraram suas habilidades propagandísticas ao
colocar a responsabilidade pela “agressão russa” a Putin.
Apesar
de Obama aparentemente ter sido pego de surpresa pela “mudança de regime”
ucraniana, ele logo se juntou ao coro ao denunciar Putin e a Rússia. A União
Europeia também foi atrás dos EUA e exigiu sansões contra a Rússia apesar de
estas sansões poderem abalar a economia da Europa. A estabilidade europeia está
agora em risco em virtude do fluxo de refugiados das zonas de guerra do Oriente
Médio.
Uma Dúzia de Anos de Caos
Assim,
podemos olhar nas consequências e custos dos últimos 12 anos sob o reinado das
estratégias de “mudança de regime” dos neocons/gaviões liberais. De acordo com
muitas estimativas, as estatísticas de mortes no Iraque, Síria e Líbia já
ultrapassaram um milhão, com muitos milhões a mais de refugiados fugindo - e esgotando os recursos – de países frágeis
do Oriente Médio.
Centenas
de milhares de outros refugiados e migrantes partiram para a Europa, colocando
mais desafios às estruturas sociais do continente já pressionadas pela recessão
severa que se seguiu ao crash de 2008
de Wall Street. Mesmo sem a crise de refugiados, a Grécia e outros países
europeus meridionais estão lutando para manter as necessidades se seus
cidadãos.
Parando
por um instante e pensando no impacto global das políticas neoconservadoras,
podemos nos surpreender no quanto elas espalharam o caos numa grande região do
globo. Quem poderia imaginar que os neocons conseguiriam desestabilizar não
somente o Oriente Médio, mas também a Europa?
E,
enquanto a Europa luta, os mercados de exportação da China são abalados,
espalhando a instabilidade econômica para aquela economia crucial e, com seus
choques de mercado, as reverberações atingindo os Estados Unidos também.
A
única esperança é que muitos americanos não sejam mais iludidos desta vez e que
o “realismo” abandonado retorne às estratégias geopolíticas dos EUA buscando
compromissos reais para restaurar a ordem política em lugares como a Síria,
Líbia e Ucrânia. Ao invés de mais confrontos de machões, talvez surjam esforços
sérios para reconciliação.
Notas:
[1] Neoconservadorismo (ou neocon)
é uma corrente da filosofia política que surgiu nos Estados Unidos a partir da rejeição do liberalismo social, relativismo moral e da contracultura da Nova
Esquerda dos anos sessenta.
O neoconservadorismo influenciou os governos de Ronald Reagan e George
W. Bush, representando um realinhamento da política estadunidense e a conversão de alguns membros da esquerda para a direita no espectro político.
O neoconservadorismo estadunidense enfatiza a política externa como aspecto mais importante nas
responsabilidades de um governo, com o fim de manter o papel dos Estados Unidos
como única superpotência,
condição indispensável para a manutenção da ordem mundial. O primeiro neoconservador declarado
foi Irving Kristol, que
explicitou sua condição em um artigo de 1979,
intitulado "Confessions
of a True, Self-Confessed 'Neoconservative.'"
A acusação de que neoconservadorismo está relacionada com
o leninismo foi feita também por Francis Fukuyama que identificou neoconservadorismo com
o leninismo em 2006:
... Acreditavam que a história
poderia ser empurrado com a correta aplicação do poder e da vontade. O
Leninismo foi uma tragédia em sua versão bolchevique, e voltou como farsa
quando praticada pelos Estados Unidos. Neoconservadorismo, tanto como um
símbolo político como um corpo de pensamento, evoluiu para algo que não pode
mais ter apoio.
[2] O Caso
Irã-Contras foi um escândalo político nos Estados Unidos revelado pela mídia em novembro de
1986, durante o segundo mandato do presidente Ronald
Reagan, no qual figuras chave da CIA facilitaram o tráfico de armas para o Irã, que estava sujeito a um embargo
internacional de armamento, para assegurar a libertação de reféns e para
financiar os Contras-nicaraguenses.
A operação começou como uma tentativa de melhorar as
relações entre Estados Unidos e Irã, através da mediação de Israel, que iria enviar armas para um
grupo politicamente influente de iranianos; os Estados Unidos iriam então
fornecer mais armas para Israel e receber o pagamento feito pelos iranianos aos
israelenses. Os destinatários iranianos prometeram fazer o possível para
conseguir a libertação de seis estadunidenses que eram mantidos reféns pelo
grupo islâmico xiita libanês Hezbollah, que era ligado ao Exército
dos Guardiões da Revolução Islâmica.
O plano acabou virando um esquema de "armas por
reféns", no qual os membros do Poder Executivo dos Estados Unidos vendiam
armas para o Irã em troca da libertação de reféns estadunidenses.
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