Adam
Tooze
History
Today, Vol. 56, Nº 11, Novembro 2006
Às
6 horas de uma manhã fria de março em 1939, Adolf Hitler destruiu a frágil paz
europeia quebrada seis meses antes na Conferência de Munique ao enviar a
Wehrmacht através da fronteira do que restou da Tchecoslováquia. Este ato de
agressão iniciou uma escalada internacional dramática, que levou diretamente ao
início da guerra em setembro de 1939. Após semanas de ocupação de Praga,
Grã-Bretanha e França lançaram garantias formais de segurança da Polônia,
Romênia e Grécia. Ao mesmo tempo, Londres entrou em conversas sem precedentes
com Moscou em busca de uma aliança militar. A Alemanha foi confrontada com uma
possível ressurreição da aliança Entente da Primeira Guerra Mundial e Hitler e
Goebbels responderam elevando a propaganda de guerra a novo nível. Em 1º. de
abril de 1939, durante o lançamento do encouraçado Tirpitz em Wilhelmshaven,
Hitler discursou para uma enorme plateia sobre os horrores do bloqueio e da
perfídia de Albion[1]. Enquanto isso, diplomatas alemães trabalharam duro para
persuadir a Itália e o Japão para forjar uma ameaça tripla real ao Império
Britânico. No final, nenhum lado estava capaz d alcançar sua desejada coalizão.
O Japão se recusou a ser arrastado a uma aliança ofensiva contra a
Grã-Bretanha. Stalin desconfiava de Chamberlain. Assim, em agosto, em uma
extraordinária reviravolta, Molotov e Ribbentrop concluíram o Pacto
Nazi-Soviético. Hitler lançou suas tropas contra a Polônia em 1º. de setembro,
tranquilo em saber que a União Soviética receberia seu quinhão da conquista.
Dois dias depois, obedecendo suas declarações de seis meses antes, França e
Grã-Bretanha declararam guerra à Alemanha.
Com
relação a essa descrição básica não há desacordo entre os historiadores. Mas
por que Hitler escalou a tensão internacional até este ponto permanece uma
questão controversa. Há aqueles historiadores – notavelmente Richard Overy e
Ian Kershaw – que continuam a manter que Hitler não pretendia de fato provocar
uma guerra geral com a Polônia no outono de 1939. Eles citam o discurso
fanfarrão de Hitler de 22 de agosto de 1939 para os militares alemães, no qual
ele afirmava que “os homens de Munique” encolheriam diante de uma guerra contra
a Polônia. Ian Kershaw fala de um “erro de cálculo”. Mas isto não é
universalmente aceito. Entre os historiadores britânicos era uma visão mais
oposta de forma amarga pelo falecido Tim Mason, que nas páginas de Passado e
Presente em 1989 se envolveu em uma disputa furiosa com Overy na questão de se
Hitler havia sido ou não direcionado a uma guerra devido a uma crise econômica
inevitável. Em um tom mais comedido mas não menos determinado, a tese de uma
“guerra não pretendida” foi consistentemente rejeitada por Gerhard Weinberg, a
maior autoridade americana na política externa de Hitler. É claro que ninguém
questiona que Hitler teria preferido ocupar a Polônia sem se envolver com as
potências ocidentais. E isto era claramente um desejo fervorosamente
compartilhado pela maioria dos líderes militares alemães. Entretanto, como
Weinberg e outros argumentam, desde o início da crise dos Sudetos em maio de
1938 em diante, Hitler sabia que ele eventualmente confrontaria as potências
ocidentais. E em outono de 1939 ele atacou a Polônia porque ele decidiu que
estava disposto a arriscar uma guerra maior mais cedo do que tarde.
Mas
o que empurrou Hitler nesta agressão implacável e, no final, autodestrutiva? O
principal biógrafo alemão de Hitler, Joachim Fest, argumenta que foi o
crescente senso de mortalidade do Führer que o convenceu que ele não tinha
tempo a perder. O caso Weinberg-Mason, pelo contrário, está fundamentado em
considerações de balanço de poder num sentido mais amplo. Albert Speer mais
tarde lembrou que no outono de 1939 Hitler estava assombrado pela ideia de que
ele poderia perder uma oportunidade estratégica crucial. Ele tinha que atacar
mais cedo ao invés de depois porque ele sabia que a vantagem militar que a
Alemanha na época desfrutava sobre seus inimigos estava desvanecendo. E ele
deixou claro isto explicitamente na correspondência com Mussolini na primavera
de 1940. Da primavera de 1939 em diante, os “círculos decisivos no governo
britânico” haviam se posicionado para a “eliminação” dos “estados
totalitários”. A introdução sem precedentes do alistamento obrigatório por
Chamberlain e a aceleração de gastos com a RAF (Força Aérea Real) tinham
implicações diretas para os planos estratégicos de Hitler. “Tão longe quanto a
Wehrmacht estava preocupada,” escreveu Hitler, “em virtude do rearmamento
forçado da Inglaterra, um desvio significativo no balanço de forças a nosso
favor era mal concebível. E em direção do leste a situação poderia somente se
deteriorar.” É claro, para Overy isto cheira a racionalização ex post. Nesta visão, Hitler estava certamente
preparando a Alemanha para guerra contra Grã-Bretanha e França, mas em uma
época tão longe quanto 1942. A Polônia não seria uma confrontação, mas uma
“ação política”.
Desde
a troca de farpas entre Overy e Mason no final dos anos 1980, as posições permaneceram
quase as mesmas. Enquanto outras áreas da historiografia do Terceiro Reich
moveram-se adiante nas últimas duas décadas, um clima de tédio estabeleceu-se
em torno da questão da guerra e do estado da economia de armamentos no final
dos anos 1930. Como romper esse atoleiro intelectual? À luz da natureza
contraditória das elocuções de Hitler ao longo de 1938 e 1939, o dogmatismo
claramente não é convocado. Contudo, referência a nova evidência documental
pode ser capaz de romper o equilíbrio das probabilidades, permitindo um esforço
novo para relacionar hipóteses sobre a política externa de Hitler para nossa
compreensão da história mais ampla de seu regime. Em particular, precisamos
explorar as conexões entre a outra principal obsessão de Hitler – a “guerra
racial” – e sua avaliação da situação estratégica da Alemanha em 1939.
O
arquivo diplomático do Terceiro Reich foi extensamente estudado. Mas o mesmo
não se pode dizer do material pertencente aos aspectos econômicos e industriais
do rearmamento. Se seguirmos o curso do rearmamento alemão no final dos anos
1930 através dos olhos de seus administradores militares, torna-se claro que
Hitler não estava com conversa fiada quando ele se referiu a 1939 como uma
janela de oportunidade estratégica. Documentos previamente negligenciados sobre
o esforço do gerenciamento dos armamentos alemães mostram precisamente isso. Na
primeira metade de 1939, no momento que Grã-Bretanha e França estavam
acelerando seus esforços de rearmamento, o muito alardeado rearmamento do
Terceiro Reich estava em problemas sérios.
Em
19 de junho de 1939, o general Walther Von Brauchitsch, comandante-em-chefe do
Exército alemão, enviou cartas desesperadas a Hitler e seu colega Wilhelm
Keitel, chefe do Alto Comando da Wehrmacht. A carta a Keitel começava:
Caro Keitel
A provisão atual de matéria-prima para o
Exército... está insuportável... O chefe do Departamento de Armas do Exército
reportou-me a perspectiva do impacto em matéria de contratos. Olhando como um
todo, significa uma total liquidação do esforço de armamento do Exército... se
as reduções em rações anunciadas pelo estafe econômico militar da Wehrmacht
fossem implantados, uma grande parte da indústria de armamentos do Exército
entraria, num período curto de tempo, em total colapso... Estas preocupações
sérias levaram-me a direcionar minha carta pessoal ao Führer em 19 de junho de
1939, uma cópia da qual foi enviada a você.
Brauchitsch
não estava simplesmente tentando obter concessões para o Exército exagerando o
drama da situação. Teria sido extremamente perigoso fazer isso. Após seus
confrontos com a liderança do exército em relação à crise dos Sudetos em 1938,
Hitler proibiu os oficiais de estafe de bombardeá-lo com previsões pessimistas
da situação do armamento. Quando, umas poucas semanas após a carta de
Brauchitsch, Hitler solicitou uma avaliação atualizada da produção de munição e
seu desenvolvimento possível nos próximos dezoito meses, o oficial responsável
pessoalmente checou duas vezes os cálculos para garantir que eles não haviam
sido embelezados pelo pessimismo de conveniência. O número apresentado a Hitler
mostrou uma linha reta, que pelo verão de 1940 era 70% abaixo da capacidade
ótima considerando um complemento real de cobre e aço.
Nem
os problemas estavam confinados ao Exército. A indústria aeronáutica estava
sofrendo dos mesmos cortes severos nas alocações de matérias-primas. O rápido
aumento na produção do novo bombardeiro de médio alcance Junkers 88, a peça
central do planejamento da Luftwaffe no final dos anos 1930, foi somente
preservado cortando a produção planejada de todas as outras aeronaves,
incluindo o famoso bombardeiro de mergulho Stuka – Ju 87. Em virtude dos cortes
severos na alocação de cobre e alumínio, a Luftwaffe foi obrigada a adotar um
programa de aquisição ainda mais arriscado, trocando modelos de combate
testados por aviões que apenas tinham passado no teste de qualificação de voo.
A
causa deste revés perigoso na produção de armamentos na primeira metade de 1939
foi o problema que ele assombrava os gestores da economia alemã desde o início
dos anos 1930 – o equilíbrio entre a necessidade por alimentos e
matérias-primas importadas do país e sua habilidade em vender bens manufaturados
como exportação.
As
exportações alemãs no período entre-guerras não foram da mesma magnitude que
tinham sido antes de 1914, ou que se tornariam após 1945. Ao longo do período
entre-guerras, o Reichsmark estava cronicamente sobrevalorizado, tornando as
exportações não competitivas e os produtos importados desproporcionalmente
baratos. O problema foi agravado após a ascensão de Hitler ao poder pela reação
internacional ao tratamento dispensado à população judaica[2] e a moratória
forçada da Alemanha do pagamento das dívidas internacionais. Para ficar ainda
pior, a partir de 1934, o Reichsbank praticamente estava sem reservas com as
quais poderia fornecer cobertura temporária para qualquer escassez nas
exportações. Em 1939, mesmo permitindo que grandes quantidades de ouro e moedas
estrangeiras tomadas na Áustria e Tchecoslováquia, o Terceiro Reich conseguiu
com moeda estrangeira reservas de menos de um sétimo daquelas disponíveis no
Banco da Inglaterra. Não é coincidência que o conhecido Reinhardt Heyndrich
tenha provado ele mesmo a Göring – o homem que mais tarde deu-lhe a ordem para
a execução da Solução Final – como chefe de uma unidade policial especial
encarregada de rastrear as últimas reservas pessoais de ouro e moeda
estrangeira na Alemanha, tanto de proprietários arianos quanto de judeus.
Três
vezes entre 1933 e 1939, o regime de Hitler acelerou dramaticamente o passo da
recuperação econômica e rearmamento somente para descobrir que poderia
enfrentar uma potencialmente perigosa escassez de moeda estrangeira. Em 1934,
1936-37 e 1939, ele flertou com a crise. Toda vez a crise era resolvida, mas às
custas de corte de um ou outro aspecto da expansão econômica. A famosa citação
de Göring entre “canhões ou manteiga” não foi feita em 1936, na época do
anúncio do Plano Quadrienal, mas dois anos antes durante a crise de moeda
estrangeira de 1934, que forneceu o pano de fundo para os eventos conhecidos
como “A Noite das Longas Facas”. Assim que a liderança da SA foi eliminada para
garantir o controle do Exército sobre o programa de rearmamento, as prioridades
dos militares também foram brutalmente asseguradas na esfera econômica. A
escolha posterior não era entre canhões e manteiga. No início de 1937 e
novamente no início de 1939 era o programa de armamentos que suportou o peso
dos esforços do regime nazista para conviver com a restrição do balanço de
pagamentos. A produção de armamentos foi cortada, primeiramente para reduzir as
demandas por matérias-primas importadas, mais notavelmente cobre e aço, e ao
mesmo tempo liberar capacidade industrial, trabalho e matérias-primas para a produção
de bens exportáveis. Na sua forma mais crua, o trade-off envolveu exportar armas planejadas para a Wehrmacht ou
máquinas-ferramentas necessárias para produzi-las, para pagar a importação de
alimentos e matérias-primas.
Ninguém
deve pensar que o Führer estava desligado desses assuntos supostamente “técnicos”.
Hitler era o produto de seu tempo. Sua consciência política foi formada na
economia oprimida pelo bloqueio da Primeira Guerra Mundial, quando os problemas
de moeda estrangeira e importação de matérias-primas eram a bola da vez nas
discussões políticas. Após ele tomar o poder em 1933, ele foi diretamente
envolvido na decisão da moratória da dívida externa alemã. Durante o auge da crise
financeira de 1934, ele pessoalmente autorizou a decisão do Ministro da
Economia Hjalmar Schacht de cortar gastos na importação de bens através do
chamado “Novo Plano”. Dois anos depois, foi Hitler que tomou a decisão final
sobre a resolução dos problemas cambiais renovados e lançar o Plano Quadrienal
de Göring. Mais importante, do outono de 1937 e possivelmente antes, nenhuma
realocação de aço e racionamento de matérias-primas seria executada sem a
aprovação do Führer. Em 1939, como vimos, ele estava bem informado das
dificuldades experimentadas pelo Exército e Força Aérea como resultado do
racionamento de matérias-primas. De fato, Hitler escolheu um de seus discursos
mais significativos de toda sua carreira, o discurso celebrando o sexto ano da
tomada de poder pelos nazistas em 30 de janeiro de 1939 para alertar os
problemas financeiros do país.
O
discurso de 30 de janeiro de Hitler é hoje extensamente conhecido como o
momento decisivo na história do seu regime, pois ao longo de duas horas e meia
ele fez um dos pronunciamentos públicos mais enfáticos sobre a “Questão Judaica”.
“Se,” ele declarou, “a judiaria financeira internacional dentro e fora da
Europa estiver mais uma vez decidida a instigar uma guerra mundial, então o
resultado será não a vitória dos judeus, mas a destruição da raça judaica na
Europa.” O termo-chave aqui é “guerra mundial”, que fornece uma pista para quem
o discurso foi direcionado. Poucas semanas antes, em 4 de janeiro, em seu
Discurso sobre o Estado da União, o presidente Roosevelt desafiou Hitler
diretamente. Após o Anschluss, a crise dos Sudetos e a Noite dos Cristais,
Roosevelt declarou que qualquer nação que não respeitasse a religião,
democracia ou a “boa-fé internacional” apresentar-se-ia como uma ameaça à
segurança dos Estados Unidos. Era a Roosevelt que Hitler estava respondendo em
30 de janeiro. A estrutura principal do discurso de Hitler deixa isso claro,
com longas e inexplicáveis passagens sobre o financiamento das igrejas na
Alemanha, projetadas para desarmar o ataque de Roosevelt contra a
irreligiosidade nazista. E isto é crucial porque aponta para um desvio
altamente significativo na visão de mundo de Hitler ao longo de 1938. Como
resultado da resposta americana à perseguição antissemita que se seguiram ao
Anschluss (que culminou no esforço falho de Roosevelt na Conferência Evian para
buscar uma solução internacional para o problema dos refugiados judeus),
seguido de outro ultraje público em consequência da Noite dos Cristais, Hitler
e a liderança da SS convenceram-se que o centro da conspiração judaica mundial
deslocou-se pelo Atlântico em direção de Washington e Wall Street. Isto, por
sua vez, refletia na situação da Europa, pois da América, os tentáculos da “conspiração”
se estendiam para a política externa da Grã-Bretanha e França. Para Berlim, era
Roosevelt que estava por trás da crescente hostilidade de Londres e Paris em
relação à Alemanha. De fato, dada a insistência de Hitler desde os tempos do Mein Kampf de que a Grã-Bretanha era o
parceiro natural do expansionismo alemão, o único modo de explicar o
enrijecimento “antinatural” da determinação britânica era pela ação dos
belicistas judeus americanos e seus marionetes, particularmente Winston
Churchill.
Entretanto,
a guerra total foi o último recurso do polvo judaico. Seu principal meio de
influência contra a Alemanha era econômico. E é aqui que as duas vertentes
desta reinterpretação da estratégia de Hitler em 1939 se reconectam. Poucos historiadores
leram o discurso de 30 de janeiro de cabo a rabo. Isto é compreensível. Repleto
de grande parte do clichê hitlerista de costume, foi um desempenho desgastante
mesmo para seus padrões. Porém, uma inspeção casual do texto é o suficiente
para revelar que uma grande parte, até a famosa ameaça à judiaria europeia, foi
feita com uma discussão dos problemas econômicos da Alemanha, oferecendo uma
justificativa tácita da decisão de Hitler dez dias antes de sacar Hjalmar
Schacht, o chefe altamente respeitado do Reichsbank, e substituí-lo por Walther
Funk, um bajulador nazista. Esta ação para garantir comando unificado pelo
Partido, e consequentemente pelo próprio Führer, foi necessário, de acordo com
Hitler, devido à situação delicada em que a Alemanha se encontrava. Após a
exaustão da herança austríaca ao longo de 1938, as reservas cambiais da
Alemanha estavam novamente em perigo de completa exaustão, um ponto conhecido
por Göring ainda em novembro de 1938. Em resposta a essa situação, Hitler
exigiu que todo alemão direcionasse suas energias em direção de uma nova
motivação que garantiria ao Terceiro Reichfazer a quadratura do círculo:
continuar o programa de armamentos e garantir as exportações necessárias. A
Alemanha, declarou Hitler, enfrentava uma dura escolha “entre viver – isto é,
exportar – ou morrer.” O Führer não tinha falado em tal tom pessimista sobre a
situação econômica em qualquer momento desde sua ascensão ao poder, nem em 1934
nem em 1936. E quem eram os principais culpados por esta situação de emergência
econômica? Os inimigos da Alemanha no Ocidente, que apoiados pelos seus
apoiadores judeus estavam fechando as portas de seus países aos produtos
alemães e, por meio da pressão política e econômica, conseguiram negar acesso à
Alemanha aos lucrativos mercados da América Latina.
Neste
momento crucial do regime de Hitler, foi a ideologia racial que forneceu a
ponte entre sua avaliação estratégica e sua compreensão das dificuldades
econômicas alemãs. Avaliar os impulsos ideológicos em relação à política
externa de Hitler em 1939 pode parecer paradoxal à luz do fato de que Hitler
terminou indo à guerra contra a Grã-Bretanha em aliança com a União Soviética,
o oposto da aliança que ele havia conclamado no Mein Kampf. Contudo, o núcleo de sua ideologia não era um esquema
particular de aliança, mas uma visão de mundo baseada na ideia de uma luta racial
implacável. Em 1938, o centro da conspiração antialemã pareceu ter atravessado
o Atlântico e tinha acrescentado, por sua vez, uma ameaça ao precário
equilíbrio da corrida armamentista e aos problemas crônicos da balança de
pagamentos internacionais da Alemanha. Os alemães estavam cientes de que no
inverno de 1938-39, militares franceses foram à América inspecionar os
bombardeiros da Boeing de última geração. Não era segredo que Roosevelt estava
ansioso em conseguir que o Congresso modificasse a legislação restritiva de
exportação de armas para as democracias amigas. Por outro lado, as relações
econômicas entre os EUA e a Alemanha, antes no topo durante a República de
Weimar, estavam em baixa. Elas foram reduzidas ainda mais em 18 de março de 1939, quando em resposta à
ocupação de Praga Roosevelt impôs tarifas proibitivas sobre os produtos
importados da Alemanha.
Foi
o alinhamento progressivo óbvio da América com as democracias ocidentais, um
alinhamento que era mais ideológico do que prático neste ponto, que deu extrema
urgência à questão da corrida armamentista. Em maio de 1939, o especialista
econômico da Wehrmacht compilou uma avaliação do esforço armamentista geral das
principais potências globais que mostravam que com os EUA gastando apenas 2% de
seu PIB em armamentos, as “três democracias” estariam superando a Alemanha e
Itália juntas. Para qualquer entendido em estratégia convencional este tipo de
cálculo sugeriria que qualquer guerra em larga escala seria uma proposta de
derrota para a Alemanha. Mas a reação de Hitler às dificuldades econômicas de 1939
não podem ser entendidas em tais termos. Ele via a situação através das lentes
de sua ideologia racial. E isto ditou que o conflito era inevitável. Ele
poderia ter desejado, como ele sugeriu no famoso memorando Hossbach de novembro
de 1937, lutar uma “grande guerra” contra a Grã-Bretanha e França em um momento
de sua escolha em algum ponto no começo dos anos 1940, mas no início de 1939 os
passos dos eventos tornaram tais planos de longo prazo inviáveis. Com a
América, França e Grã-Bretanha aparecendo como aliadas, não havia tempo a
perder. Se os inimigos convictos de Hitler estavam improvisando, assim faria
ele. Era tempo de, como ele explicou para Göring em agosto de 1939, de colocar
tudo em risco, apostar tudo. Do contrário, confrontado por uma coalizão global organizada
por seus inimigos judeus implacáveis, a Alemanha enfrentaria a ruína.
Notas:
[1]
Albion é o nome celta ou
pré-céltico da Grã-Bretanha. Atualmente é ainda usado, na linguagem poética, para
designar a ilha ou a Inglaterra em particular.
[2] Como é bem
conhecido, a comunidade judaica americana organizou um boicote econômico contra
a Alemanha Nazista em virtude das medidas antissemitas de Hitler, pedindo para
que o público não comprasse produtos alemães. O resultado político foi o “Acordo
de Transferência”, quando então o Terceiro Reich fez um acordo com as
lideranças sionistas alemãs e permitiu a migração de dezenas de milhares de
judeus alemães para a Palestina. Até 1941, 60.000 judeus foram transferidos
para a região, levando consigo, a preços de hoje, cerca de U$ 1 bilhão.
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