terça-feira, 22 de setembro de 2015

[POL] A Aposta de Hitler

Adam Tooze

History Today, Vol. 56, Nº 11, Novembro 2006



Às 6 horas de uma manhã fria de março em 1939, Adolf Hitler destruiu a frágil paz europeia quebrada seis meses antes na Conferência de Munique ao enviar a Wehrmacht através da fronteira do que restou da Tchecoslováquia. Este ato de agressão iniciou uma escalada internacional dramática, que levou diretamente ao início da guerra em setembro de 1939. Após semanas de ocupação de Praga, Grã-Bretanha e França lançaram garantias formais de segurança da Polônia, Romênia e Grécia. Ao mesmo tempo, Londres entrou em conversas sem precedentes com Moscou em busca de uma aliança militar. A Alemanha foi confrontada com uma possível ressurreição da aliança Entente da Primeira Guerra Mundial e Hitler e Goebbels responderam elevando a propaganda de guerra a novo nível. Em 1º. de abril de 1939, durante o lançamento do encouraçado Tirpitz em Wilhelmshaven, Hitler discursou para uma enorme plateia sobre os horrores do bloqueio e da perfídia de Albion[1]. Enquanto isso, diplomatas alemães trabalharam duro para persuadir a Itália e o Japão para forjar uma ameaça tripla real ao Império Britânico. No final, nenhum lado estava capaz d alcançar sua desejada coalizão. O Japão se recusou a ser arrastado a uma aliança ofensiva contra a Grã-Bretanha. Stalin desconfiava de Chamberlain. Assim, em agosto, em uma extraordinária reviravolta, Molotov e Ribbentrop concluíram o Pacto Nazi-Soviético. Hitler lançou suas tropas contra a Polônia em 1º. de setembro, tranquilo em saber que a União Soviética receberia seu quinhão da conquista. Dois dias depois, obedecendo suas declarações de seis meses antes, França e Grã-Bretanha declararam guerra à Alemanha.

Com relação a essa descrição básica não há desacordo entre os historiadores. Mas por que Hitler escalou a tensão internacional até este ponto permanece uma questão controversa. Há aqueles historiadores – notavelmente Richard Overy e Ian Kershaw – que continuam a manter que Hitler não pretendia de fato provocar uma guerra geral com a Polônia no outono de 1939. Eles citam o discurso fanfarrão de Hitler de 22 de agosto de 1939 para os militares alemães, no qual ele afirmava que “os homens de Munique” encolheriam diante de uma guerra contra a Polônia. Ian Kershaw fala de um “erro de cálculo”. Mas isto não é universalmente aceito. Entre os historiadores britânicos era uma visão mais oposta de forma amarga pelo falecido Tim Mason, que nas páginas de Passado e Presente em 1989 se envolveu em uma disputa furiosa com Overy na questão de se Hitler havia sido ou não direcionado a uma guerra devido a uma crise econômica inevitável. Em um tom mais comedido mas não menos determinado, a tese de uma “guerra não pretendida” foi consistentemente rejeitada por Gerhard Weinberg, a maior autoridade americana na política externa de Hitler. É claro que ninguém questiona que Hitler teria preferido ocupar a Polônia sem se envolver com as potências ocidentais. E isto era claramente um desejo fervorosamente compartilhado pela maioria dos líderes militares alemães. Entretanto, como Weinberg e outros argumentam, desde o início da crise dos Sudetos em maio de 1938 em diante, Hitler sabia que ele eventualmente confrontaria as potências ocidentais. E em outono de 1939 ele atacou a Polônia porque ele decidiu que estava disposto a arriscar uma guerra maior mais cedo do que tarde.

Mas o que empurrou Hitler nesta agressão implacável e, no final, autodestrutiva? O principal biógrafo alemão de Hitler, Joachim Fest, argumenta que foi o crescente senso de mortalidade do Führer que o convenceu que ele não tinha tempo a perder. O caso Weinberg-Mason, pelo contrário, está fundamentado em considerações de balanço de poder num sentido mais amplo. Albert Speer mais tarde lembrou que no outono de 1939 Hitler estava assombrado pela ideia de que ele poderia perder uma oportunidade estratégica crucial. Ele tinha que atacar mais cedo ao invés de depois porque ele sabia que a vantagem militar que a Alemanha na época desfrutava sobre seus inimigos estava desvanecendo. E ele deixou claro isto explicitamente na correspondência com Mussolini na primavera de 1940. Da primavera de 1939 em diante, os “círculos decisivos no governo britânico” haviam se posicionado para a “eliminação” dos “estados totalitários”. A introdução sem precedentes do alistamento obrigatório por Chamberlain e a aceleração de gastos com a RAF (Força Aérea Real) tinham implicações diretas para os planos estratégicos de Hitler. “Tão longe quanto a Wehrmacht estava preocupada,” escreveu Hitler, “em virtude do rearmamento forçado da Inglaterra, um desvio significativo no balanço de forças a nosso favor era mal concebível. E em direção do leste a situação poderia somente se deteriorar.” É claro, para Overy isto cheira a racionalização ex post. Nesta visão, Hitler estava certamente preparando a Alemanha para guerra contra Grã-Bretanha e França, mas em uma época tão longe quanto 1942. A Polônia não seria uma confrontação, mas uma “ação política”.

Desde a troca de farpas entre Overy e Mason no final dos anos 1980, as posições permaneceram quase as mesmas. Enquanto outras áreas da historiografia do Terceiro Reich moveram-se adiante nas últimas duas décadas, um clima de tédio estabeleceu-se em torno da questão da guerra e do estado da economia de armamentos no final dos anos 1930. Como romper esse atoleiro intelectual? À luz da natureza contraditória das elocuções de Hitler ao longo de 1938 e 1939, o dogmatismo claramente não é convocado. Contudo, referência a nova evidência documental pode ser capaz de romper o equilíbrio das probabilidades, permitindo um esforço novo para relacionar hipóteses sobre a política externa de Hitler para nossa compreensão da história mais ampla de seu regime. Em particular, precisamos explorar as conexões entre a outra principal obsessão de Hitler – a “guerra racial” – e sua avaliação da situação estratégica da Alemanha em 1939.

O arquivo diplomático do Terceiro Reich foi extensamente estudado. Mas o mesmo não se pode dizer do material pertencente aos aspectos econômicos e industriais do rearmamento. Se seguirmos o curso do rearmamento alemão no final dos anos 1930 através dos olhos de seus administradores militares, torna-se claro que Hitler não estava com conversa fiada quando ele se referiu a 1939 como uma janela de oportunidade estratégica. Documentos previamente negligenciados sobre o esforço do gerenciamento dos armamentos alemães mostram precisamente isso. Na primeira metade de 1939, no momento que Grã-Bretanha e França estavam acelerando seus esforços de rearmamento, o muito alardeado rearmamento do Terceiro Reich estava em problemas sérios.

Em 19 de junho de 1939, o general Walther Von Brauchitsch, comandante-em-chefe do Exército alemão, enviou cartas desesperadas a Hitler e seu colega Wilhelm Keitel, chefe do Alto Comando da Wehrmacht. A carta a Keitel começava:

Caro Keitel

A provisão atual de matéria-prima para o Exército... está insuportável... O chefe do Departamento de Armas do Exército reportou-me a perspectiva do impacto em matéria de contratos. Olhando como um todo, significa uma total liquidação do esforço de armamento do Exército... se as reduções em rações anunciadas pelo estafe econômico militar da Wehrmacht fossem implantados, uma grande parte da indústria de armamentos do Exército entraria, num período curto de tempo, em total colapso... Estas preocupações sérias levaram-me a direcionar minha carta pessoal ao Führer em 19 de junho de 1939, uma cópia da qual foi enviada a você.

Brauchitsch não estava simplesmente tentando obter concessões para o Exército exagerando o drama da situação. Teria sido extremamente perigoso fazer isso. Após seus confrontos com a liderança do exército em relação à crise dos Sudetos em 1938, Hitler proibiu os oficiais de estafe de bombardeá-lo com previsões pessimistas da situação do armamento. Quando, umas poucas semanas após a carta de Brauchitsch, Hitler solicitou uma avaliação atualizada da produção de munição e seu desenvolvimento possível nos próximos dezoito meses, o oficial responsável pessoalmente checou duas vezes os cálculos para garantir que eles não haviam sido embelezados pelo pessimismo de conveniência. O número apresentado a Hitler mostrou uma linha reta, que pelo verão de 1940 era 70% abaixo da capacidade ótima considerando um complemento real de cobre e aço.

Nem os problemas estavam confinados ao Exército. A indústria aeronáutica estava sofrendo dos mesmos cortes severos nas alocações de matérias-primas. O rápido aumento na produção do novo bombardeiro de médio alcance Junkers 88, a peça central do planejamento da Luftwaffe no final dos anos 1930, foi somente preservado cortando a produção planejada de todas as outras aeronaves, incluindo o famoso bombardeiro de mergulho Stuka – Ju 87. Em virtude dos cortes severos na alocação de cobre e alumínio, a Luftwaffe foi obrigada a adotar um programa de aquisição ainda mais arriscado, trocando modelos de combate testados por aviões que apenas tinham passado no teste de qualificação de voo.

A causa deste revés perigoso na produção de armamentos na primeira metade de 1939 foi o problema que ele assombrava os gestores da economia alemã desde o início dos anos 1930 – o equilíbrio entre a necessidade por alimentos e matérias-primas importadas do país e sua habilidade em vender bens manufaturados como exportação.

As exportações alemãs no período entre-guerras não foram da mesma magnitude que tinham sido antes de 1914, ou que se tornariam após 1945. Ao longo do período entre-guerras, o Reichsmark estava cronicamente sobrevalorizado, tornando as exportações não competitivas e os produtos importados desproporcionalmente baratos. O problema foi agravado após a ascensão de Hitler ao poder pela reação internacional ao tratamento dispensado à população judaica[2] e a moratória forçada da Alemanha do pagamento das dívidas internacionais. Para ficar ainda pior, a partir de 1934, o Reichsbank praticamente estava sem reservas com as quais poderia fornecer cobertura temporária para qualquer escassez nas exportações. Em 1939, mesmo permitindo que grandes quantidades de ouro e moedas estrangeiras tomadas na Áustria e Tchecoslováquia, o Terceiro Reich conseguiu com moeda estrangeira reservas de menos de um sétimo daquelas disponíveis no Banco da Inglaterra. Não é coincidência que o conhecido Reinhardt Heyndrich tenha provado ele mesmo a Göring – o homem que mais tarde deu-lhe a ordem para a execução da Solução Final – como chefe de uma unidade policial especial encarregada de rastrear as últimas reservas pessoais de ouro e moeda estrangeira na Alemanha, tanto de proprietários arianos quanto de judeus.

Três vezes entre 1933 e 1939, o regime de Hitler acelerou dramaticamente o passo da recuperação econômica e rearmamento somente para descobrir que poderia enfrentar uma potencialmente perigosa escassez de moeda estrangeira. Em 1934, 1936-37 e 1939, ele flertou com a crise. Toda vez a crise era resolvida, mas às custas de corte de um ou outro aspecto da expansão econômica. A famosa citação de Göring entre “canhões ou manteiga” não foi feita em 1936, na época do anúncio do Plano Quadrienal, mas dois anos antes durante a crise de moeda estrangeira de 1934, que forneceu o pano de fundo para os eventos conhecidos como “A Noite das Longas Facas”. Assim que a liderança da SA foi eliminada para garantir o controle do Exército sobre o programa de rearmamento, as prioridades dos militares também foram brutalmente asseguradas na esfera econômica. A escolha posterior não era entre canhões e manteiga. No início de 1937 e novamente no início de 1939 era o programa de armamentos que suportou o peso dos esforços do regime nazista para conviver com a restrição do balanço de pagamentos. A produção de armamentos foi cortada, primeiramente para reduzir as demandas por matérias-primas importadas, mais notavelmente cobre e aço, e ao mesmo tempo liberar capacidade industrial, trabalho e matérias-primas para a produção de bens exportáveis. Na sua forma mais crua, o trade-off envolveu exportar armas planejadas para a Wehrmacht ou máquinas-ferramentas necessárias para produzi-las, para pagar a importação de alimentos e matérias-primas.

Ninguém deve pensar que o Führer estava desligado desses assuntos supostamente “técnicos”. Hitler era o produto de seu tempo. Sua consciência política foi formada na economia oprimida pelo bloqueio da Primeira Guerra Mundial, quando os problemas de moeda estrangeira e importação de matérias-primas eram a bola da vez nas discussões políticas. Após ele tomar o poder em 1933, ele foi diretamente envolvido na decisão da moratória da dívida externa alemã. Durante o auge da crise financeira de 1934, ele pessoalmente autorizou a decisão do Ministro da Economia Hjalmar Schacht de cortar gastos na importação de bens através do chamado “Novo Plano”. Dois anos depois, foi Hitler que tomou a decisão final sobre a resolução dos problemas cambiais renovados e lançar o Plano Quadrienal de Göring. Mais importante, do outono de 1937 e possivelmente antes, nenhuma realocação de aço e racionamento de matérias-primas seria executada sem a aprovação do Führer. Em 1939, como vimos, ele estava bem informado das dificuldades experimentadas pelo Exército e Força Aérea como resultado do racionamento de matérias-primas. De fato, Hitler escolheu um de seus discursos mais significativos de toda sua carreira, o discurso celebrando o sexto ano da tomada de poder pelos nazistas em 30 de janeiro de 1939 para alertar os problemas financeiros do país.

O discurso de 30 de janeiro de Hitler é hoje extensamente conhecido como o momento decisivo na história do seu regime, pois ao longo de duas horas e meia ele fez um dos pronunciamentos públicos mais enfáticos sobre a “Questão Judaica”. “Se,” ele declarou, “a judiaria financeira internacional dentro e fora da Europa estiver mais uma vez decidida a instigar uma guerra mundial, então o resultado será não a vitória dos judeus, mas a destruição da raça judaica na Europa.” O termo-chave aqui é “guerra mundial”, que fornece uma pista para quem o discurso foi direcionado. Poucas semanas antes, em 4 de janeiro, em seu Discurso sobre o Estado da União, o presidente Roosevelt desafiou Hitler diretamente. Após o Anschluss, a crise dos Sudetos e a Noite dos Cristais, Roosevelt declarou que qualquer nação que não respeitasse a religião, democracia ou a “boa-fé internacional” apresentar-se-ia como uma ameaça à segurança dos Estados Unidos. Era a Roosevelt que Hitler estava respondendo em 30 de janeiro. A estrutura principal do discurso de Hitler deixa isso claro, com longas e inexplicáveis passagens sobre o financiamento das igrejas na Alemanha, projetadas para desarmar o ataque de Roosevelt contra a irreligiosidade nazista. E isto é crucial porque aponta para um desvio altamente significativo na visão de mundo de Hitler ao longo de 1938. Como resultado da resposta americana à perseguição antissemita que se seguiram ao Anschluss (que culminou no esforço falho de Roosevelt na Conferência Evian para buscar uma solução internacional para o problema dos refugiados judeus), seguido de outro ultraje público em consequência da Noite dos Cristais, Hitler e a liderança da SS convenceram-se que o centro da conspiração judaica mundial deslocou-se pelo Atlântico em direção de Washington e Wall Street. Isto, por sua vez, refletia na situação da Europa, pois da América, os tentáculos da “conspiração” se estendiam para a política externa da Grã-Bretanha e França. Para Berlim, era Roosevelt que estava por trás da crescente hostilidade de Londres e Paris em relação à Alemanha. De fato, dada a insistência de Hitler desde os tempos do Mein Kampf de que a Grã-Bretanha era o parceiro natural do expansionismo alemão, o único modo de explicar o enrijecimento “antinatural” da determinação britânica era pela ação dos belicistas judeus americanos e seus marionetes, particularmente Winston Churchill.

Entretanto, a guerra total foi o último recurso do polvo judaico. Seu principal meio de influência contra a Alemanha era econômico. E é aqui que as duas vertentes desta reinterpretação da estratégia de Hitler em 1939 se reconectam. Poucos historiadores leram o discurso de 30 de janeiro de cabo a rabo. Isto é compreensível. Repleto de grande parte do clichê hitlerista de costume, foi um desempenho desgastante mesmo para seus padrões. Porém, uma inspeção casual do texto é o suficiente para revelar que uma grande parte, até a famosa ameaça à judiaria europeia, foi feita com uma discussão dos problemas econômicos da Alemanha, oferecendo uma justificativa tácita da decisão de Hitler dez dias antes de sacar Hjalmar Schacht, o chefe altamente respeitado do Reichsbank, e substituí-lo por Walther Funk, um bajulador nazista. Esta ação para garantir comando unificado pelo Partido, e consequentemente pelo próprio Führer, foi necessário, de acordo com Hitler, devido à situação delicada em que a Alemanha se encontrava. Após a exaustão da herança austríaca ao longo de 1938, as reservas cambiais da Alemanha estavam novamente em perigo de completa exaustão, um ponto conhecido por Göring ainda em novembro de 1938. Em resposta a essa situação, Hitler exigiu que todo alemão direcionasse suas energias em direção de uma nova motivação que garantiria ao Terceiro Reichfazer a quadratura do círculo: continuar o programa de armamentos e garantir as exportações necessárias. A Alemanha, declarou Hitler, enfrentava uma dura escolha “entre viver – isto é, exportar – ou morrer.” O Führer não tinha falado em tal tom pessimista sobre a situação econômica em qualquer momento desde sua ascensão ao poder, nem em 1934 nem em 1936. E quem eram os principais culpados por esta situação de emergência econômica? Os inimigos da Alemanha no Ocidente, que apoiados pelos seus apoiadores judeus estavam fechando as portas de seus países aos produtos alemães e, por meio da pressão política e econômica, conseguiram negar acesso à Alemanha aos lucrativos mercados da América Latina.

Neste momento crucial do regime de Hitler, foi a ideologia racial que forneceu a ponte entre sua avaliação estratégica e sua compreensão das dificuldades econômicas alemãs. Avaliar os impulsos ideológicos em relação à política externa de Hitler em 1939 pode parecer paradoxal à luz do fato de que Hitler terminou indo à guerra contra a Grã-Bretanha em aliança com a União Soviética, o oposto da aliança que ele havia conclamado no Mein Kampf. Contudo, o núcleo de sua ideologia não era um esquema particular de aliança, mas uma visão de mundo baseada na ideia de uma luta racial implacável. Em 1938, o centro da conspiração antialemã pareceu ter atravessado o Atlântico e tinha acrescentado, por sua vez, uma ameaça ao precário equilíbrio da corrida armamentista e aos problemas crônicos da balança de pagamentos internacionais da Alemanha. Os alemães estavam cientes de que no inverno de 1938-39, militares franceses foram à América inspecionar os bombardeiros da Boeing de última geração. Não era segredo que Roosevelt estava ansioso em conseguir que o Congresso modificasse a legislação restritiva de exportação de armas para as democracias amigas. Por outro lado, as relações econômicas entre os EUA e a Alemanha, antes no topo durante a República de Weimar, estavam em baixa. Elas foram reduzidas ainda mais  em 18 de março de 1939, quando em resposta à ocupação de Praga Roosevelt impôs tarifas proibitivas sobre os produtos importados da Alemanha.

Foi o alinhamento progressivo óbvio da América com as democracias ocidentais, um alinhamento que era mais ideológico do que prático neste ponto, que deu extrema urgência à questão da corrida armamentista. Em maio de 1939, o especialista econômico da Wehrmacht compilou uma avaliação do esforço armamentista geral das principais potências globais que mostravam que com os EUA gastando apenas 2% de seu PIB em armamentos, as “três democracias” estariam superando a Alemanha e Itália juntas. Para qualquer entendido em estratégia convencional este tipo de cálculo sugeriria que qualquer guerra em larga escala seria uma proposta de derrota para a Alemanha. Mas a reação de Hitler às dificuldades econômicas de 1939 não podem ser entendidas em tais termos. Ele via a situação através das lentes de sua ideologia racial. E isto ditou que o conflito era inevitável. Ele poderia ter desejado, como ele sugeriu no famoso memorando Hossbach de novembro de 1937, lutar uma “grande guerra” contra a Grã-Bretanha e França em um momento de sua escolha em algum ponto no começo dos anos 1940, mas no início de 1939 os passos dos eventos tornaram tais planos de longo prazo inviáveis. Com a América, França e Grã-Bretanha aparecendo como aliadas, não havia tempo a perder. Se os inimigos convictos de Hitler estavam improvisando, assim faria ele. Era tempo de, como ele explicou para Göring em agosto de 1939, de colocar tudo em risco, apostar tudo. Do contrário, confrontado por uma coalizão global organizada por seus inimigos judeus implacáveis, a Alemanha enfrentaria a ruína.                                               

       
Notas:

[1] Albion é o nome celta ou pré-céltico da Grã-Bretanha. Atualmente é ainda usado, na linguagem poética, para designar a ilha ou a Inglaterra em particular.

[2] Como é bem conhecido, a comunidade judaica americana organizou um boicote econômico contra a Alemanha Nazista em virtude das medidas antissemitas de Hitler, pedindo para que o público não comprasse produtos alemães. O resultado político foi o “Acordo de Transferência”, quando então o Terceiro Reich fez um acordo com as lideranças sionistas alemãs e permitiu a migração de dezenas de milhares de judeus alemães para a Palestina. Até 1941, 60.000 judeus foram transferidos para a região, levando consigo, a preços de hoje, cerca de U$ 1 bilhão.



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