sábado, 2 de junho de 2012

[SGM] Infâmia Mal Distribuída

Srdja Trifkovic

Chronicles Magazine, 7/12/2008

Nos últimos 67 anos, a América tem relembrado os 2.400 marinheiros, soldados e pilotos que foram mortos no ataque japonês de Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941. Todo aniversário deste tipo nos lembra que toda a História é, de alguma forma, uma continuação da história contemporânea: quase sete décadas após o evento, o mito da bondade e grandeza de FDR (Franklin D. Roosevelt) - revivida para objetivos políticos atuais durante e após a campanha eleitoral deste ano - torna menos "apropriado" do que nunca perguntar se ele sabia do ataque; e, mais importante, se ele o desejava. Esta data "viverá na infâmia," por umas poucas décadas a mais pelo menos, até que sucumba pela amnésia coletiva deste país. Podemos estar correndo contra o tempo para colocar esta infâmia de forma mais correta.

O presidente Franklin D. Roosevelt estava ansioso para entrar na Guerra na Europa. Ele queria muito isto após a queda da França (junho de 1940) – quando ele chegou a acreditar que sem a intervenção americana os nazistas logo conquistariam o Velho Continente – e desesperadamente após a Alemanha atacar a União Soviética um ano depois. No seu desejo, ele foi apoiado pela velha elite da costa leste, que era tradicionalmente anglófila, pelo influente lobby judeu, e – depois de 22 de junho de 1941 – pelos simpatizantes de Moscou em sua equipe e no país como um todo.

Após encontrar o presidente na Conferência do Atlântico (14 de agosto de 1941) Churchill notou a “profundidade incrível do desejo intenso de Roosevelt pela guerra.” Mas havia um problema: FDR não poderia passar por cima da resistência isolacionista para uma “guerra europeia” sentida pela maioria dos americanos e pelos seus congressistas. O clima do país era anti-guerra e, de acordo com a afirmação dos revisionistas, Roosevelt provocou os japoneses para atacar os Estados Unidos – enquanto que seu alvo principal era Hitler. Foi mais tarde alegado que, mesmo que Roosevelt estivesse ciente de como impedir o ataque a Pearl Harbor, ele deixou acontecer, e sentiu-se aliviado quando aconteceu.

A evidência da manobra de FDR para jogar o Japão na guerra, disponível por décadas, foi semi-definitivamente apresentada no livro “O Dia da Fraude” (1999), de Robert Stinnett. A evidência de seu conhecimento antecipado do ataque aparece igualmente de forma convincente em três aspectos: negligência da inteligência da Marinha; má condução de seus comandantes, nas duas semanas anteriores antes do ataque, fazendo crer que as negociações com o Japão estavam em andamento; e mantendo-os mal informados sobre o local da frota de porta-aviões japoneses.

Cronologicamente, os elementos importantes do cenário agiram como segue:

Em 27 de setembro de 1940, o Pacto Tripartite – o tratado de assistência mútua entre Alemanha, Itália e Japão – foi assinado em Berlim. Ele implicou na possibilidade de que a Alemanha declarasse guera contra a América se esta entrasse em guerra contra o Japão, o qual impactou grandemente na política de FDR sobre o Japão a partir de então.

Em 7 de outubro de 1940, somente uma semana após assinar o Pacto Tripartite, o tenente-comandante Arthur McCollum, um oficial da Marinha americana no Escritório de Inteligência Naval (ONI), sugeriu uma estratégia para provocar o Japão a atacar os EUA, iniciando as provisões assistenciais mútuas do Pacto Tripartite, e levando a América para a Segunda Guerra Mundial. Resumido no memorando de McCollum, a proposta da ONI sugeria por passos específicos na provocação ao Japão. Seu núcleo central era manter o grosso da frota americana baseada no Havaí como uma isca para o ataque japonês, e impor um embargo de petróleo americano ao Japão. “Se, por estes meios, o Japão puder ser conduzido a cometer um ato de guerra, melhor para nós,” concluiu o memorando.

Igualmente, em outubro de 1940, o comandante da frota do Pacífico, Almirante J. O. Richardson, protestou contra a decisão do presidente Roosevelt em mover a frota das águas protegidas da costa oeste para a base vulnerável no Havaí. Richardson foi dispensado de seu comando quatro meses após seu encontro com FDR e foi substituído pelo contra-almirante Kimmel.

Em 23 de junho de 1941 – um dia após o ataque de Hitler contra a URSS – o secretário do interior e também consultor de FDR, Harold Ickes, escreveu um memorando para o presidente no qual observa que

Haveria de desenvolver de um embargo de petróleo ao Japão tal situação que seria não somente possível, mas fácil de conseguir entrar nessa guerra de maneira efetiva. E se pudéssemos assim indiretamente ser conduzidos para ela, poderíamos evitar a crítica de que nos aliamos à Rússia Comunista.

Em 22 de julho, o almirante Richmond Turner declarou em um relatório,

Acredita-se comumente que cortando o suprimento americano de petróleo conduzirá imediatamente à invasão das Índias Orientais Holandesas. Parece certo que (o Japão) também incluiria ação militar contra as ilhas filipinas, o que nos envolveria imediatamente numa guerra no Pacífico.

Em 24 de julho, Roosevelt disse ao Comitê de participação Voluntária, “Se tivéssemos cortado o petróleo, eles provavelmente teriam ido para as Índias Orientais Holandesas um ano atrás, e vocês teriam tido a guerra.”

Em 25 de julho, Roosevelt congelou todos os ativos japoneses nos Estados Unidos e impôs um embargo de petróleo. A partir daquele momento, o Japão enfrentou uma ameaça existencial dos Estados Unidos, uma ameaça que não poderia ser evitada por meios pacíficos, exceto abdicar de sua posição de grande potência e visivelmente perder poder – uma impossibilidade total.

Em 24 de setembro, Washington decifrou uma mensagem do Quartel-General de Inteligência Naval em Tóquio para o consulado geral do Japão em Honolulu, requisitando as posições exatas dos navios da Marinha americana no porto. Os comandantes no Havaí não foram alertados. A inteligência naval americana havia quebrado os códigos navais japoneses um ano antes, permitindo que FDR recebesse traduções de todas as mensagens principais.

Em 18 de outubro, Harold Ickes anotou em seu diário: “por um longo tempo, acreditei que nossa melhor entrada na guerra seria através do Japão.” Ainda que o Japão tivesse que atirar primeiro: em 22 de outubro, pesquisas de opinião revelavam que 74% dos americanos se opunham a uma guerra contra o Japão, e somente 13% a apoiavam.

Em 25 de novembro de 1941, o Secretário da Guerra, Stimson, escreveu em seu diário que FDR disse que um ataque estava para acontecer em dias, e pensou “como podemos manobrá-los na posição de dar o primeiro tiro sem muito perigo para nós”:

Apesar do risco envolvido, entretanto, ao deixar os japoneses atirar primeiro, percebemos que, no sentido de ter total apoio do povo americano, é desejável estar certo que os japoneses sejam os responsáveis por isso, de modo que não fique nenhuma dúvida na cabeça de qualquer um de quem é o agressor.

Em 26 de novembro, o Secretário de Estado Hull emitiu uma nota escrita provocativa – um ultimato, realmente – exigindo a completa retirada de todas as tropas japonesas não somente da Indochina Francesa, mas também da China. De acordo com o relatório do Escritório de Investigação do Exército em Pearl Harbor (1945), o embaixador dos EUA no Japão, Grew, chamou isto de “o documento que apertou o botão que iniciou a guerra.” Os japoneses reagiram de imediato: em 1 de dezembro, a autorização final foi dada pelo imperador, após uma maioria de líderes japoneses o terem aconselhado que a nota de Hull poderia “destruir os frutos do incidente na China, colocar em perigo Machukuo e corroer o controle japonês da Coréia.”

Igualmente, em 26 de novembro, Washington ordenou que os dois porta-aviões americanos, o Enterprise e o Lexington, saíssem de Pearl Harbor “tão logo seja possível.” Esta ordem resultou em deixar Pearl Harbor sem 50 aviões, ou 40% de sua já precária proteção aérea. No mesmo dia, Cordell Hull, emitiu um ultimato exigindo a retirada total japonesa da Indochina e toda China.

Em 1 de dezembro, o Escritório de Inteligência Naval, ONI, 12º. Distrito Naval em São Francisco, descobriu a frota japonesa ao relacionar relatórios de quatro serviços de notícias sem fio e de várias companhias cargueiras que estavam obtendo sinais a oeste do Havaí. Como sabemos, os navios da frota japonesa de porta-aviões comunicava-se diariamente por rádio com o alto-comando no Japão, com os comandos militares no pacífico Central, e entre si – como Robert Stinnett conclusivamente estabeleceu ao ler as interceptações de rádio das transmissões japonesas pela inteligência naval. A Marinha Americana não “perdeu” os porta-aviões.

Em 5 de dezembro, FDR escreveu ao Primeiro-Ministro australiano que “nos próximos quatro ou cinco dias decidiremos o assunto” com o Japão. Mais tarde, no mesmo dia, no encontro do gabinete, o Secretário da Marinha, Frank Knox, disse, “Bem, o senhor sabe, presidente, sabemos onde a frota japonesa está?” “Sim, eu sei... Bem, diga-lhes qual é Frank,” respondeu Roosevelt. Quando Knox estava para falar, Roosevelt teve um segundo pensamento eo interrompeu, dizendo: “Não tivemos nada além da informação perfeita de seu destino.” (Toland, p. 294).”

Em 6 de dezembro de 1941, em um jantar na Casa Branca, Roosevelt recebeu as primeiras treze partes de um total de quinze da declaração de guerra decodificada da diplomacia japonesa e disse “Isto quer dizer guerra!” para Harry Hopkins, mas não interrompeu a refeição.

Não menos revelador é o comportamento de Roosevelt no dia do ataque e durante as suas consequências.

Harry Hopkins, que estava sozinho com FDR quando ele recebeu as notícias, escreveu que o presidente não estava surpreso e expressou “grande alívio.” Mais tarde, Hopkins escreveu que a conferência do gabinete de guerra “reuniu-se numa atmosfera não muito pesada porque acho que todos nós acreditávamos, em última análise, que o inimigo era Hitler... e que o Japão apenas nos deu a oportunidade.”

Naquela mesma noite, FDR disse ao seu gabinete, “temos razão para crer que os alemães disseram aos japoneses que se o Japão declarasse guerra, eles também o fariam. Em outras palavras, uma declaração de guerra pelo Japão automaticamente leva...” – neste momento, ele é interrompido, mas suas expectativas estão perfeitamente claras.

O jornalista da CBS, Edward R. Murrow, encontrou-se com FDR à meia-noite e ficou surpreso com sua reação tranquila. Na manhã seguinte, Roosevelt afirmou para seu porta-voz Rosenman que “Hitler ainda era o alvo principal, mas ele temia que uma grande parte dos americanos insistiria que fizéssemos a guerra no Pacífico igualmente importante como a guerra com Hitler.” Jonathan Daniels, assistente administrativo e secretário de imprensa de FDR, mais tarde disse que “o golpe foi mais pesado do que ele esperava... mas os riscos valeram a pena, até mesmo a perda valeu o preço.”

Roosevelt confirmou isto a Stalin em Teerã em 30 de novembro de 1943, ao dizer que “se os japoneses não tivessem atacado os EUA, duvido muito que seria possível enviar qualquer tropa americana para a Europa.”

O historiador John Toland concluiu em seu livro Infâmia: Pearl Harbor e suas Consequências,

Era possível imaginar um presidente que disse, “Isto quer dizer guerra,” após ler a mensagem (de 6 de dezembro), não de imediato convocando para a Casa Branca os comandantes do Exército e da Marinha, assim como seus secretários da Guerra e da Marinha?... Stimson, Marshall, Stark e Harry Hopkins gastaram a maior parte da noite de 6 de dezembro na Casa Branca com o presidente. Todos estavam esperando o que eles sabiam que viria: um ataque em Pearl Harbor. A comédia de erros no sexto e sétimo parece incrível*. Somente faz sentido se isso fosse uma charada, e Roosevelt e seu círculo interno já sabiam sobre o ataque.

N. do T.: quem viu o filme “Tora!Tora!Tora!” percebeu que os americanos estavam perdidos com as ordens e contra-ordens na véspera do ataque. Como o autor salienta, tratava-se de uma charada, algo para desviar a atenção dos níveis inferiores militares.

Churchill mais tarde escreveu que FDR e seus altos conselheiros “sabiam por completo do objetivo imediato de seu inimigo”:

Um ataque japonês contra os EUA era uma vasta simplificação de seus problemas e de seu dever. Como podemos imaginar que eles lembravam a forma real do ataque, ou mesmo sua escala, como incomparavelmente menos importante do que o fato de que a nação inteira americana estaria unida?

O alvo principal, Adolf Hitler, declarou guerra aos Estados Unidos em 10 de dezembro de 1941, assim garantindo a derrota alemã. O resto, como se diz, é história.

Diz-se que o falecido Murray Rothbard argumentava que, longe de ser uma evidência de uma característica “paranoica” na mente americana, a crença em conspirações como um fator na história americana não era geralmente levada longe o bastante. A verdade por trás da maioria das conspirações, ele alegou, era muito mais hedionda e diabólica do que até mesmo o mais teórico obstinado conspiracionista poderia imaginar. Os eventos que levaram ao Dia da Infâmia em 1941 provou que ele estava certo, não menos do que aqueles que levaram às guerras dos EUA contra o México, contra a Confederação Sulista, Espanha (1898), Sérvia (1999) ou Iraque (2003). Em todos estes casos, a diplomacia não “falhou” porque ela não foi usada para evitar a guerra, mas para garantir que ela ocorreria.


http://www.chroniclesmagazine.org/2008/12/07/misallocated-infamy/

Nenhum comentário: