terça-feira, 4 de setembro de 2012

[SGM] O “Lawrence da Arábia” Alemão

Haaretz, 24/02/12

Franz Wimmer-Lamquet amava seu passado. Ele dava entrevistas a jornalistas e escrevia memórias sobre suas atividades em nome do Terceiro Reich e encontrou seu sucesso nos círculos neo-nazistas. Se ele ainda estivesse vivo, ele poderia ter sentido grande satisfação esta semana, quando tornou-se público que mesmo os britânicos o apelidaram o “ Lawrence da Arábia Alemão.” O arquivo Franz Wimmer-Lamquet está entre os materiais que a agência de segurança britânica MI5 tornou público esta semana a estudiosos nos Arquivos Nacionais Britânicos. E dele qualquer um vê pelo menos uma característica que este homem compartilhou com o lendário Lawrence da Arábia: ele tinha uma grande tendência de aumentar as coisas.

Qualquer um que já tenha conduzido pesquisa histórica está familiarizado com a dificuldade de decidir o que é mais ambíguo: relatórios biográficos que estão enterrados em arquivos secretos de agências de inteligência, ou autobiografias que as pessoas escrevem sobre si próprias. Entrevistas autobiográficas que as pessoas dão a jornais são muito freqüentemente ambíguas.




Wimmer-Lamquet provavelmente nasceu em 1919, e já era um jovem de 15 anos quando ele se alistou ao exército do Terceiro Reich. Tanto quanto se pode inferir do arquivo do MI5 e das próprias memórias de Franz Wimmer-Lamquet, ele estava envolvido na organização do levante pró-nazista de Rashid Ali AL-Gaylani que aconteceu no Iraque entre abril e maio de 1941. Um pouco depois desse evento, ele propôs aos seus superiores que ele ficasse encarregado de organizar uma unidade de elite de soldados árabes, a serem deslocados para a África do Norte.

De acordo com uma versão dos fatos, sua missão era de reunir inteligência: tentar descobrir quando as forças Aliadas desembarcariam na Europa. De acordo com sua própria estória, seus soldados vestiram uniformes americanos e britânicos, fazendo amizade com os sheiks locais, e então, a um certo ponto, voltar-se-iam contra eles, assassiná-los, violentar suas filhas e desaparecer. O objetivo era incitar a população contra os americanos e britânicos, antes que eles desembarcassem lá, e disseminar o ódio contra eles. Num certo estágio a lenda nasceu de modo que Wimmer-Lamquet havia liderado 3.000 guerreiros árabes na África do Norte – por isso seu apelido.

Os documentos nos arquivos do MI5 atestam que o serviço de segurança britânico se interessou por ele em janeiro de 1945, quando ainda havia alguma importância na informação que o pessoal do MI5 escutava e anotava. Aparentemente, um homem com o nome de Abu Ali deu ao Coronel Wimmer-Lamquet o nome de um contato em uma das vilas árabes na Palestina. Contudo, parece que o habilidoso coronel não conseguiu nada aqui: no final da guerra ele foi feito prisioneiro dos soviéticos; seus anos subseqüentes foram gastos em campos de internamento na URSS. Em 1955 ele foi libertado e permitido a voltar para casa.

Como outros nazistas proeminentes, Franz Wimmer-Lamquet provou ser um tremendo fofoqueiro, e ele encontrou gente ávida para ouvir suas estórias. A popularidade de algumas pessoas da SS e de suas estórias está entre as marcas da cultura européia nos anos 1950. Poucos encontraram um mercado também para as memórias que eles escreveram. A de Wimmer-Lamquet apareceu somente a sete anos atrás. Entre outras coisas, soubemos que o próprio Adolf Hitler ordenou que Wimmer-Lamquet casasse com a filha do sultão da Mauritânia, para tornar mais fácil a entrada mo mundo árabe.

Ele obedeceu, é claro, mas na época ele ainda era virgem e nunca havia visto uma mulher nua em sua vida. Então, ele escreve, o Führer ordenou que ele tivesse aulas em sexo básico. De acordo com Wimmer-Lamquet, um de seus soldados árabes, Mohammed Said, que mais tarde tornou-se ministro no governo algeriano, deu as dicas. Evidentemente, conexões deste tipo eram úteis para aumentar sua rede de negócios após a guerra.

O arquivo do MI5 que foi tornado público esta semana mostra que o serviço de segurança britânico continuou seu interesse em Wimmer-Lamquet nos anos 1950. Ele também chamou a atenção de outros serviços secretos. O serviço de segurança espanhol, que ainda operava sob o comando de Franco, suspeitava por alguma razão que Wimmer-Lamquet era um perigoso espião comunista. Londres ignorou a suspeita espanhola: “Eles descreverão qualquer um como um agente soviético perigoso que seja atrevido o suficiente para carregar uma cópia do The New Statesman,” escreveu um agente do MI5, e acrescentou: “Parece provável que Wimmer-Lamquet é um contrabandista de armas e provocador provavelmente trabalhando para os egípcios.”

Em 1956, o MI5 escreveu um relatório que apareceu no jornal Empire News, de acordo com o qual Israel, assim como muitos países árabes, haviam se aproximado do antigo coronel da SS Wimmer-Lamquet com uma oferta de trabalho para eles. Desnecessário dizer, o próprio Wimmer-Lamquet foi a fonte do tal relatório; ele conversou com o jornalista Antony Terry, que se especializou em entrevistas com criminosos de guerra. Wimmer-lamquet tinha contemplado a oferta. Naturalmente, ele não trabalharia para os judeus, ele disse. Acima de tudo, ele era e permanecia leal a Hitler.

http://www.haaretz.com/weekend/week-s-end/the-german-lawrence-of-arabia-1.414592

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