domingo, 6 de abril de 2014

[POL] De que lado Deus está?

Patrick Buchanan, 04/04/2014


Em sua defesa no Kremlin da anexação da Criméia pela Rússia, Vladimir Putin, mesmo antes de começar a listar as batalhas onde sangue russo foi derramado em solo da Criméia, falou de uma conexão mais antiga e profunda.

A Criméia, disse Putin, “é o local dos antigos khersons, onde o príncipe Vladimir foi batizado. Sua opção espiritual de adotar a Ortodoxia predeterminou toda a base cultural, civilizatória e de valores humanos que uniram os povos da Rússia, Ucrânia e Belorússia.”

A Rússia é um país cristão, estava dizendo Putin.

Este discurso lembra o último discurso em dezembro onde o antigo chefe da KGB falou da Rússia como uma resistência ao decadente Ocidente.

“Muitos países euro-atlânticos se afastaram de suas raízes, incluindo os valores cristãos. As políticas estão sendo feitas colocando a família tradicional e a união homossexual no mesmo nível, uma fé em Deus e uma crença em Satã. Este é o caminho para a decadência.”

Alguém ouviu algum líder ocidental, por exemplo, Barack Obama, falar desta forma ultimamente?

Culpando os “bolchevistas”, que cederam a Criméia à Ucrânia, Putin declarou, “Deus os julgará.”

Afinal, o que está acontecendo?

Com o Marxismo-Leninismo morto, Putin está dizendo que a nova batalha ideológica é entre um Ocidente em decadência liderado pelos EUA e um mundo tradicionalista que a Rússia estaria orgulhosa de liderar.

Na nova guerra de crenças, Putin está dizendo que Deus está do lado da Rússia. O Ocidente é Gomorra.

Os líderes ocidentais, que comparam a anexação da Criméia por Putin ao Anschluss de Hitler com a Áustria, que o consideram um assassino da KGB, que o chamam de “ladrão, mentiroso e assassino que governa a Rússia,” como o Wall Street Journal fez, acreditam que a afirmação de Putin em estar num terreno moral mais elevado é além de blasfemo.

Mas Vladimir Putin sabe exatamente o que está fazendo, e sua nova reivindicação tem uma linhagem venerável. O ex-comunista Whittaker Chambers, que denunciou Alger Hiss como espião soviético, estava, na época de sua morte em 1964, escrevendo um livro sobre “A Terceira Roma”.

A primeira Roma foi a Cidade Santa e o berço da Cristandade que caiu diante de Odoacer e seus bárbaros em 476. A segunda Roma foi Constantinopla, Bizâncio (hoje Istambul), que caiu diante dos turcos em 1453. A cidade sucessora de Bizâncio, a Terceira Roma, a última Roma para os crentes antigos, era Moscou.

Putin está dizendo que Moscou é a atual Cidade Sagrada e posto de comando da contra-reforma contra o novo paganismo.

Putin está se conectando a algumas nas correntes mais poderosas do mundo moderno.

Não somente em seu desafio do que o mundo vê como uma manobra arrogante da América para a hegemonia global. Não somente em sua defesa tribal dos russos perdidos deixados para trás quando a URSS desintegrou.

Ele também está aderindo à rebelião e resistência mundiais ao crescimento de uma revolução social e hedonista secular que está engolindo o Ocidente.

Na guerra cultural pelo futuro da humanidade, Putin está plantando firmemente a bandeira da Rússia ao lado da Cristandade tradicional. Seus discursos recentes fazem eco ao Papa João Paulo II, cuja encíclica Evangelium Vitae em 1995 acusou o Ocidente de abraçar uma “cultura da morte.”

O que o Papa João Paulo quis dizer com crimes morais?

A capitulação do Ocidente à revolução sexual do divórcio fácil, da promiscuidade alarmante, pornografia, homossexualismo, feminismo, aborto, casamento gay, eutanásia, suicídio assistido – a substituição dos valores cristãos pelos valores de Hollywood.

A colunista Anne Applebaum escreve que ela ficou impressionada em Tbilisi ao escutar de um advogado da Georgia declarar a respeito do antigo regime pró-ocidente de Mikhail Saakashvili, “Eles eram do LGTB.”

“Foi um momento de reflexão,” escreveu Applebaum. O medo e a repulsa pela pandemia de casamento gay tornaram-se globais. Em Paris, um milhão de franceses marcharam em um protesto raivoso.

O autor Masha Gessen, que escreveu um livro sobre Putin, diz de seus últimos dois anos, “A Rússia está se auto-designando como líder de um mundo antiocidental.”

Mas a guerra a ser travada contra o Ocidente não com o uso de foguetes. É uma guerra cultural, social, moral onde o papel da Rússia, nas palavras de Putin, é “prevenir as idas e vindas em direção de uma escuridão caótica e um retorno ao estado primitivo.”

Seria a “escuridão caótica” e o “estado primitivo” da humanidade antes que a Luz viesse ao mundo?

Este autor ficou perplexo ao ler no jornal bimestral de janeiro-fevereiro do Conselho Mundial das Famílias em Rockford, Illinóis, que dos “dez melhores acontecimentos” no mundo em 2013, o número um era “Rússia emerge como líder pró-família.”

Em 2013, o Kremlin impôs o banimento da propaganda homossexual, uma proibição da propaganda de aborto, a criminalização do aborto após 12 semanas e a criminalização contra insultos sacrílegos contra crentes religiosos.

“Enquanto as outras superpotências marcham em direção do paganismo,” escreve Allan Carlson do CMF, “a Rússia está defendendo os valores judaico-cristãos. Durante a era soviética, os comunistas ocidentais corriam para Moscou. Este ano, o Congresso Mundial das Famílias VII será realizado em Moscou, 10 a 12 de setembro.” Vladimir Putin dará o tom no encontro?

Na nova Guerra Fria ideológica, de que lado ficará Deus?   


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Um comentário:

Ivan disse...

Essa foi boa. Os comunistas sempre foram associados com ateismo, anarquia. Teve uma epoca q ate tinha gays entre soldados russos.

Agora vem esse Puttin pagar de cristao "exemplar". Mistura cristianismo + comunismo.

Isso prova q ateismo nao tem haver com comunismo.