Alex
Seiz-Wald
Esta
semana, as pessoas ficaram chocadas quando a Agência de Notícias Drudge
publicou uma foto gigante de Hitler sobre um título especulando que a Casa
Branca emitirá medida provisória para limitar o acesso a armas de fogo. As
medidas propostas são extremamente dóceis, mas a reação da Drudge é, na
verdade, uma resposta conservadora comum a qualquer evocação ao controle de
armas.
A
NRA (Associação Nacional do Rifle), a Fox News, Alex Jones, correntes de
emails, Joe “o encanador” Wurzelbacher, Proprietários de Armas da América,
etc., todos concordam que o controle de armas foi crítico à ascensão de Hitler
ao poder. Judeus para a Preservação da Posse de Armas (“o defensor mais
agressivo da posse de armas da América”) foi criada quase que exclusivamente em
torno desta noção, popularizando pôsteres de Hitler dando uma saudação próxima
ao texto: “Todos a favor do controle de armas ergam sua mão direita.”
Em
um livro de 1994, o chefe da NRA, Wayne LaPierre, alertou numa imagem de Hitler
escrevendo: “Na Alemanha, o extermínio de judeus começou com a Lei de Armas
nazista de 1938, assinada por Adolf Hitler.”
Num
certo sentido, ele estava com a razão: se você está para impor um regime
autoritário brutal sobre a população, é melhor desarmá-la primeiro de modo que
ela não possa reagir.
Infelizmente
para LaPierre e outros, a noção de que Hitler confiscou as armas de todos é, na
maioria dos casos, falácia. E qualquer argumento auxiliar de que os judeus
teriam impedido o Holocausto com mais armas não tem nenhum sentido se você
pensar por pelo menos um minuto.
O
professor de Direito da Universidade de Chicago, Bernard Harcourt, explorou
esse mito em profundidade em um artigo de 2004 publicado na Revista Jurídica
Fordham. Como se vê, a República de Weimar, o governo alemão que imediatamente
precedeu o de Hitler, na verdade tinha leis mais duras do que as do regime
nazista. Após sua derrota na Primeira Guerra Mundial, e concordando com os
termos duros estabelecidos no Tratado de Versalhes, a legislatura alemã de 1919
aprovou uma lei que efetivamente bania todas as posses privadas de armas de
fogo, levando o governo a confiscar as armas já em circulação. Em 1928, o
Reichstag relaxou o regulamento um pouco, mas colocou em regime restrito de
registro exigia que os cidadãos adquirissem permissões separadas para ter a posse
de armas, vendê-las ou transportá-las.
Em
1938, uma lei assinada por Hitler, que LaPierre menciona em seu livro,
basicamente faz o oposto o que ele diz que ela fez. “As revisões de 1938
desregularam completamente a aquisição e transferência de rifles e armas
portáteis, assim como munição,” escreveu Harcourt. Enquanto isso, muito mais
categorias de pessoas, incluindo membros do partido nazista, foram excluídos
dos regulamentos de posse de armas, enquanto que a idade legal para comprar foi
reduzida de 20 para 18 anos, e permitia a renovação de um para três anos.
A
lei proibia que judeus e outras classes perseguidas possuíssem armas privadas,
mas isto não pode ser considerado um controle geral. O fato dos nazistas
forçarem os judeus a morar em guetos horrorosos indica um planejamento urbano? Deveríamos
eliminar toda força policial porque os nazistas usaram a polícia para oprimir e
matar judeus? E sobre o serviço social – Hitler amava programas de inclusão
social? É claro que não. Estes são apenas implementos que podem ser usados para
o bem ou para o mal, parecido com os defensores da posse de armas gostam de
argumentar sobre as próprias armas. Se armas não matam pessoas, então controle
de armas não causa genocídio (regimes genocidas causam genocídio).
Além
disso, Omer Bartov, um historiador na Universidade Brown que estuda o Terceiro
Reich, nota que os judeus provavelmente não teriam muito sucesso combatendo. “Apenas
imagine os judeus da Alemanha exercendo o direito de carregar armas e lutar
contra a SA, SS e a Wehrmacht. O Exército Vermelho perdeu 7 milhões de homens
lutando contra a Wehrmacht, apesar de seus tanques, aviões e artilharia. Os
judeus com pistolas e carabinas teriam se saído melhor?”, disse ele ao Salon.
Proponentes
da teoria algumas vezes mencionam o Levante do Gueto de Varsóvia[1] como
evidência que, como o juiz Andrew Napolitano da Fox News colocou, “aqueles
capazes de manter suas armas e seu direito básico de autodefesa foram muito
mais bem sucedidos em resistir ao genocídio nazista.” Mas como Michael Moynihan
do Tablet argumenta, a história de Napolitano (curiosamente baseada numa
citação do negador do Holocausto Robert Faurisson) é totalmente descabida. Na
realidade, somente 20 alemães foram mortos, enquanto que cerca de 13.000 judeus
foram massacrados. Os remanescentes 50.000 que sobreviveram foram imediatamente
enviados a campos de concentração.
Robert
Spitzer, um cientista político que estuda políticas de armamento e trabalha no
Departamento de Ciências Políticas na Universidade
Estadual de Nova York, disse a Gavin Aronsen do Mother Jones que a proibição da
posse armas pelos judeus foi simplesmente um sintoma, e não o próprio problema.
“Não foi o momento decisivo que marcou o começo do fim da judiaria na Alemanha.
Foi porque eles foram perseguidos, alijados de todos os seus direitos e eles
eram um grupo minoritário,” explicou ele.
Enquanto
isso, muito do mito Hitler é baseado em uma citação infame falsa atribuída ao
Führer, que exalta o controle de armas:
Este ano entrará na História! Pela primeira vez,
uma nação civilizada tem o controle absoluto do registro! Nossas ruas estarão
mais seguras, nossa polícia mais eficiente e o mundo seguirá nosso exemplo em
direção do futuro!
[2]
A
citação tem sido extensamente reproduzida em posts em blogs e colunas de
jornais sobre controle de armas, mas é “provavelmente uma fraude e jamais foi
mencionada,” de acordo com harcourt. “Esta citação, frequentemente vista sem
qualquer data ou fonte, sofre de vários problemas de credibilidade, a mais
significativa das quais é que a data frequentemente dada (1935) não tem nenhuma
correlação com qualquer esforço legislativo pelos nazistas para o registro de
armas, nem haveria nenhuma necessidade para os nazistas aprovarem tal lei, já
que as leis de controle de armas aprovadas no governo de Weimar ainda eram
válidas,” notaram pesquisadores do website GunCite.
“Quanto
a Stalin,” continuou Bartov, “a ideia tanto de controle de armas quanto de
posse privada teria sido absurda para ele. Seu regime usava violência em vasta
escala, fornecia armas a assaltantes de todos os tipos e retirava não as armas
mas qualquer imagem humana daqueles que se declarassem ser inimigos. E então,
quando precisou delas, como na Segunda Guerra Mundial, ele retirou milhões de
homens dos gulags, os treinou e armou e os enviou para lutar contra Hitler,
somente para enviar de volta aos campos os poucos sobreviventes que tivessem
criticado o regime.”
Bartov
acrescentou que esta má leitura da História não é somente desonestidade
intelectual, mas também perigosa. “Acontece que fui soldado e oficial nas
Forças de defesa de Israel e sei o que estes fuzis de assalto podem fazer,”
disse em um email.
Ele
continuou: “Sua afirmação que eles precisam destas armas para se protegerem do
governo – como supostamente os judeus o teriam feito contra o regime de Hitler –
significa que não somente eles são inocentes de qualquer conhecimento e
compreensão do passado, mas também que eles estão conscientemente ou não imbuídos
com o tipo de pensamento fascista ou bolchevista que eles podem se voltar
contra um governo eleito democraticamente, de fato voltando suas armas contra
ele, apenas porque eles não gostam de suas políticas, sua ideologia, ou cor,
raça e origem de seus líderes.”
Notas:
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