Richard
Cavendish
History
Today, Vol. 58, nº 3, março de 2008
Quando
os bolchevistas tomaram o poder na Rússia na Revolução de 1917, o país ainda
estava envolvido na Primeira Guerra Mundial, aliada à Grã-Bretanha, França e
Estados Unidos contra as Potências Centrais da Alemanha e Áustria-Hungria com
seu aliado Império Otomano. O exército russo estava se desintegrando e os
alemães tinham avançado para dentro do país e agora ocupavam a Polônia russa e
a Lituânia. Uma prioridade urgente para o novo regime era sair fora do
conflito. A trégua foi acordada às pressas e foi seguida por uma conferência de
paz, resultando no fim da participação russa na guerra. Lênin estava mais
interessado em acabar com a oposição interna do lutar contra os alemães. Ele
tinha sido, afinal, infiltrado na Rússia pelo governo alemão na esperança de
atrapalhar o esforço de guerra russo e a tática agora seria agora cobrada.
Realizada
na cidade de Brest-Litvosky na polônia (agora na Bielorússia), onde o exército
alemão montou seu quartel-general, a conferência foi iniciada em dezembro.
Trotsky, o ministro do exterior, chefiou a delegação russa. As delegações alemã
e austríaca foram chefiadas por seus secretários do exterior, Richard Von Kühlmann
e Ottakar Czernin, mas uma figura influente para os alemães era o general Max
Hoffman, chefe de estafe dos exércitos alemães na frente oriental. Talat Pasha
representou o Império Otomano.
Trostky
tentou habilmente enrolar as discussões na esperança de uma revolução comunista
na Alemanha e na Áustria que poderia salvar o pescoço da Rússia. Tal fato não
ocorreu e em fevereiro Trotsky anunciou para a estupefação dos delegados das
Potências Centrais “nem guerra nem paz”, significando que a Rússia não retornaria
à luta, mas não concordava em ceder território ou pagar indenização. Ele achou
que o exército alemão estava exausto, mas estava errado. As Potências Centrais
simplesmente encerraram o armistício e voltaram à sua invasão, varrendo o que
havia sobrado do exército russo, enquanto uma frota alemã começou a ameaçar o
Báltico em direção de Petrogrado (a antiga São Petersburgo).
Os
revolucionários socialistas de esquerda, que formavam parte do governo, tiveram
um papel importante na revolução de 1917 e que comandavam mais apoio popular
aos bolchevistas, queriam apelar ao povo russo para lutar uma guerra irregular
(guerrilha) contra os invasores. Eles lembravam isto como o melhor meio de
inspirar uma revolução comunista no Ocidente, mas Lênin temia que se o avanço
alemão continuasse, o regime seria derrubado. Ele insistiu que os termos do
inimigo fossem aceitos.
Eles
eram extremamente duros. A Rússia abriria mão de quase metade de seu território
europeu. A Polônia russa, Lituânia e parte da Letônia foram cedidas à Alemanha
e Áustria. A Ucrânia, Finlândia, Estônia e o resto da Letônia foram
transformados em estados independentes sob a proteção alemã. A Bessarábia
tornava-se a Romênia e os otomanos tomaram as áreas armênias no Cáucaso. Toda
propaganda bolchevista nas áreas cedidas deveria cessar (uma medida que o
regime bolchevista logo conseguiria burlar). A Rússia perdeu grandes áreas de
terra agriculturável, 80% de suas minas de carvão e metade de suas outras
indústrias. Um acordo posterior em agosto obrigou o país a pagar seis bilhões
de marcos em indenizações.
Trotsky
não pôde enfrentar a humilhação de assinar o tratado e um subordinado seu
assinou pelo regime. Houve tumultos na Rússia. O jornal Petrogradskoe Ekho, por exemplo, relatou que trabalhadores na
fábrica de armamentos considerou o tratado um ato de traição que era “destrutivo
para o movimento proletário internacional e prejudicava profundamente os
interesses dos trabalhadores russos, a revolução e a economia russa em geral.”
Se trabalhadores comuns usaram tais termos parece ser improvável, mas
certamente muitos russos lembraram o tratado como uma traição abominável ao seu
país. Brest-Litvosky teve um papel no início da guerra entre Brancos e
Vermelhos. De fato, os revolucionários socialistas de esquerda abandonaram o
governo e o deixaram inteiramente nas mãos dos bolchevistas, e alguns deles
tomaram o lado Branco na guerra civil.
Enquanto
isso, as potências aliadas intervieram. A marinha francesa chegou a Odessa e as
tropas britânicas em Murmansk, enquanto os japoneses enviaram soldados para a
região oriental da Rússia. Havia também a possibilidade dos alemães decidirem
renunciar ao tratado e voltar com a invasão da Rússia. Lênin disse ao Comitê Executivo
Central em abril: “Sim, a paz a que chegamos é instável no seu mais alto grau;
o fôlego adicional obtido por nós pode ser quebrado a qualquer hora...”
Felizmente
para o regime russo, as potências aliadas ganharam a guerra mais tarde naquele
ano e o tratado foi abolido, o que salvou a Rússia pelo menos de algumas de
suas piores consequências, apesar de a Polônia, os estados bálticos e a
Finlândia não terem sido recuperados nas conversações de paz em Versalhes em
1919.
Tópico Relacionado
Varsóvia,
1920
Nenhum comentário:
Postar um comentário