terça-feira, 3 de março de 2015

[PGM] O Tratado de Brest-Litvosky

Richard Cavendish

History Today, Vol. 58, nº 3, março de 2008



Quando os bolchevistas tomaram o poder na Rússia na Revolução de 1917, o país ainda estava envolvido na Primeira Guerra Mundial, aliada à Grã-Bretanha, França e Estados Unidos contra as Potências Centrais da Alemanha e Áustria-Hungria com seu aliado Império Otomano. O exército russo estava se desintegrando e os alemães tinham avançado para dentro do país e agora ocupavam a Polônia russa e a Lituânia. Uma prioridade urgente para o novo regime era sair fora do conflito. A trégua foi acordada às pressas e foi seguida por uma conferência de paz, resultando no fim da participação russa na guerra. Lênin estava mais interessado em acabar com a oposição interna do lutar contra os alemães. Ele tinha sido, afinal, infiltrado na Rússia pelo governo alemão na esperança de atrapalhar o esforço de guerra russo e a tática agora seria agora cobrada.

Realizada na cidade de Brest-Litvosky na polônia (agora na Bielorússia), onde o exército alemão montou seu quartel-general, a conferência foi iniciada em dezembro. Trotsky, o ministro do exterior, chefiou a delegação russa. As delegações alemã e austríaca foram chefiadas por seus secretários do exterior, Richard Von Kühlmann e Ottakar Czernin, mas uma figura influente para os alemães era o general Max Hoffman, chefe de estafe dos exércitos alemães na frente oriental. Talat Pasha representou o Império Otomano.

Trostky tentou habilmente enrolar as discussões na esperança de uma revolução comunista na Alemanha e na Áustria que poderia salvar o pescoço da Rússia. Tal fato não ocorreu e em fevereiro Trotsky anunciou para a estupefação dos delegados das Potências Centrais “nem guerra nem paz”, significando que a Rússia não retornaria à luta, mas não concordava em ceder território ou pagar indenização. Ele achou que o exército alemão estava exausto, mas estava errado. As Potências Centrais simplesmente encerraram o armistício e voltaram à sua invasão, varrendo o que havia sobrado do exército russo, enquanto uma frota alemã começou a ameaçar o Báltico em direção de Petrogrado (a antiga São Petersburgo).

Os revolucionários socialistas de esquerda, que formavam parte do governo, tiveram um papel importante na revolução de 1917 e que comandavam mais apoio popular aos bolchevistas, queriam apelar ao povo russo para lutar uma guerra irregular (guerrilha) contra os invasores. Eles lembravam isto como o melhor meio de inspirar uma revolução comunista no Ocidente, mas Lênin temia que se o avanço alemão continuasse, o regime seria derrubado. Ele insistiu que os termos do inimigo fossem aceitos.

Eles eram extremamente duros. A Rússia abriria mão de quase metade de seu território europeu. A Polônia russa, Lituânia e parte da Letônia foram cedidas à Alemanha e Áustria. A Ucrânia, Finlândia, Estônia e o resto da Letônia foram transformados em estados independentes sob a proteção alemã. A Bessarábia tornava-se a Romênia e os otomanos tomaram as áreas armênias no Cáucaso. Toda propaganda bolchevista nas áreas cedidas deveria cessar (uma medida que o regime bolchevista logo conseguiria burlar). A Rússia perdeu grandes áreas de terra agriculturável, 80% de suas minas de carvão e metade de suas outras indústrias. Um acordo posterior em agosto obrigou o país a pagar seis bilhões de marcos em indenizações.

Trotsky não pôde enfrentar a humilhação de assinar o tratado e um subordinado seu assinou pelo regime. Houve tumultos na Rússia. O jornal Petrogradskoe Ekho, por exemplo, relatou que trabalhadores na fábrica de armamentos considerou o tratado um ato de traição que era “destrutivo para o movimento proletário internacional e prejudicava profundamente os interesses dos trabalhadores russos, a revolução e a economia russa em geral.” Se trabalhadores comuns usaram tais termos parece ser improvável, mas certamente muitos russos lembraram o tratado como uma traição abominável ao seu país. Brest-Litvosky teve um papel no início da guerra entre Brancos e Vermelhos. De fato, os revolucionários socialistas de esquerda abandonaram o governo e o deixaram inteiramente nas mãos dos bolchevistas, e alguns deles tomaram o lado Branco na guerra civil.

Enquanto isso, as potências aliadas intervieram. A marinha francesa chegou a Odessa e as tropas britânicas em Murmansk, enquanto os japoneses enviaram soldados para a região oriental da Rússia. Havia também a possibilidade dos alemães decidirem renunciar ao tratado e voltar com a invasão da Rússia. Lênin disse ao Comitê Executivo Central em abril: “Sim, a paz a que chegamos é instável no seu mais alto grau; o fôlego adicional obtido por nós pode ser quebrado a qualquer hora...”

Felizmente para o regime russo, as potências aliadas ganharam a guerra mais tarde naquele ano e o tratado foi abolido, o que salvou a Rússia pelo menos de algumas de suas piores consequências, apesar de a Polônia, os estados bálticos e a Finlândia não terem sido recuperados nas conversações de paz em Versalhes em 1919.  
       

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