Elizabeth
Wiskemann
History
Today, Vol. 14, Nº 6, junho 1964
Em
30 de janeiro de 1933, Franz Von Papen e o general Von Blomberg convenceram o
presidente Hindenburg a aceitar Adolf Hitler como Chanceler, com Papen como seu
vice, mas com somente dois colegas nazistas.
Os
líderes do Reichswehr estavam divididos, mas eles e Papen e seus outros amigos
do Herrenklub acreditavam que
poderiam manobrar os líderes nazistas enquanto faturavam em cima de seu apoio
popular: alguns deles esperavam em breve restaurar a monarquia.
Hitler,
porém, não pretendia ser usado, mas usá-los, como ele manipulou o incêndio do
Reichstag um mês mais tarde, e qualquer outra oportunidade, para ficar com o
poder para si. Ele pretendia assumir o comando para voltar seiscentos anos
atrás, como ele disse no Mein Kampf,
e restaurar a colonização alemã da Europa Oriental.
Ele
estava preocupado em preparar tal ação e, consequentemente, para a guerra.
Isto, e eliminar os judeus, eram seus principais interesses. Ele não tinha
nenhuma simpatia pelo socialismo, exceto quando os capitalistas eram judeus,
apesar de ter feito uso hábil uso do sentimento popular socialista quando ele
se dirigia às grandes massas. Após um ano como Chanceler, ele deu grandes
passos para atingir o poder absoluto.
Ele
suprimiu toda crítica aberta e todos os outros partidos, exceto o nazista; todo
aparato policial estava sob seu comando, inicialmente através da indicação de
Göring como ministro prussiano do interior, e depois por meio da acumulação do
controle policial e de outras forças paramilitares (Länder) nas mãos de Heinrich Himmler, o Reichsführer da SS.
Havia,
contudo, certos empecilhos na situação como Hitler a encarava. O julgamento em
Leipzig de Marinus van der Lubbe e dos búlgaros pelo incêndio do Reichstag
mostrou que o sistema judiciário ainda não estava totalmente nazificado; Göring
fez estardalhaço à toa na Corte para que os búlgaros fossem condenados. Além
disso, tanto a Igreja Protestante quanto a Católica não estavam totalmente
submissas.
Ademais,
após a absorção de corpos como os “Capacetes de Aço” (Stahlhelm), havia agora mais de 4 milhões de tropas paramilitares
cujos líderes exigiam a conflagração da tão sonhada revolução social e do
Estado SA (Sturmabteilungen, ou tropa
de assalto). Isto, Hitler estava determinado a prevenir a qualquer custo. Para
as tropas de assalto, a revolução social deveria incluir a absorção do
Reichswehr e a dominação do Estado por esta massa armada permanente.
Isto
envolveria atrasos e riscos que Hitler não pretendia enfrentar; ele desejava
recrutar o expertise do Reichswehr
para remilitarizar a Alemanha e tornar a guerra o mais rápido possível; quando
isto estivesse feito, seria hora de encerrar sua dependência invisível, porém
necessária, da Reichswehr e humilhar e degradar seus líderes como ele fez em
1938.
Vindo
da “Divisão de Defesa” (Wehrverbände)
que ele controlava, Ernst Rohm forneceu originalmente a Hitler a S.A. em cuja
intimidação da mente popular Hitler havia baseado seu poder. Agora, se Rohm
seguia seu próprio caminho, ele, o Chefe de Estafe da S.A., dominaria o novo
exército e, através do Exército, o Estado.
Rohm
esperava suceder Blomberg como Ministro da Defesa Nacional, mas Hitler temia,
de maneira correta, que, se os planos de Rohm fossem colocados em prática, a
S.A. colocaria na sombra o Partido Nacional Socialista e o Chefe de Estafe da
S.A. eclipsaria o Führer do partido. Rohm não compreendia o quão perigoso era
ser alguém no qual Hitler uma vez havia dependido e que poderia depender
novamente se ele, Rohm, fosse bem sucedido.
Esta
criatura áspera e viciosa era menos servil a Hitler do que os outros líderes
nazistas; de fato, ele tentou honestamente converter Hitler ao seu próprio
credo e, falhando, não abandonou sua agenda, mas buscou abertamente outros
aliados.
Ele
não aprovava o clamor de Hitler pela tirania total, condenando por exemplo a
destruição dos sindicatos; pela mesma razão, ele se aproximou de Gregor
Strasser – afastado de Hitler porque ele não havia rejeitado os avanços de
Schleicher – e manteve contato com ele.
Várias
vezes Rohm entreteve o embaixador italiano naquele inverno, e viu o francês no
final de fevereiro: ele não hesitou em explicar a François-Poncet que a S.A.
não constituía nenhuma violação do Tratado de Versalhes.
Durante
aquele mês, contudo, Hitler e Blomberg raramente poderiam ser vistos – apesar
de que como muitas outras coisas, estava longe de estar claro para as pessoas
na época – conseguindo uma barganha. Em 2 de fevereiro, o Reichswehr excluiu
seus oficiais judeus utilizando os mesmos expedientes adotados pelo Serviço
Público, e a suástica tornou-se parte de sua insígnia. Em 28 de fevereiro, veio
a resposta de Hitler.
Em
um encontro no Departamento de Guerra, na Bendlerstrasse em Berlim, entre os
líderes do Reichswehr e da S.A., ele declarou que o novo exército popular
deveria ser baseado no Reichswehr, que no futuro deveria supervisionar todas as
atividades da S.A.; o Reichswehr teria, então, o monopólio de portar armas na
Alemanha. Blomberg e o maior admirador de Hitler entre os generais, Reichenau,
podem muito bem ter acordado antes da sucessão de Hitler a Hindenburg.
Não
há realmente evidência autêntica; mas após 28 de fevereiro, Rohm foi
supostamente ouvido dizer por testemunhas que Hitler era um asno, e que a S.A.
ignoraria sua decisão. Uma das testemunhas era Viktor Lutze, um líder da S.A.
que odiava Rohm; Hitler, entretanto, disse a Lutze que as coisas deveriam se
acalmar. Assim, em 5 de junho, Hitler teve uma longa conversa com Rohm que o
deixou “satisfeito” – Hitler assim o viu.
O
desgosto evidente de Hitler pelo programa da S.A., que foi chamado por seus
oponentes de revolução permanente, encorajou alguns dos mais conservadores
escrupulosos a preparar um protesto contra os métodos da S.A. que Hitler também
havia condenado.
Hindenburg
estava agora em seu octogésimo sétimo aniversário e no início de maio ele ficou
doente, partindo para Neudeck em 4 de junho, no caso de uma última vez. Sua
morte era esperada a qualquer momento, e isto forneceria a oportunidade para a
restauração monárquica; um dos netos do Kaiser era visto como possível
sucessor.
Junto
com a monarquia, a supressão do terrorismo, um judiciário independente e
certamente uma liberdade de expressão tal como existia antes de 1914 poderiam
ser assegurados.
Muitos
jovens, assim como a geração mais velha, condenaram o liberalismo do período
Weimar, mas sem nenhuma intenção de abandonar o Estado de Direito (Rechsstaaf), e muita opinião educada em
relação ao lado “nacional” das coisas foi genuinamente constrangida pelo
terrorismo da S.A. – a SS, sendo até o momento uma subsidiária da S.A., não
atraíra muita atenção.
Vários
representantes destes conservadores sensatos – alguns dos quais sobreviveram em
1934, mas foram executados após o atentado contra Hitler em julho de 1944 –
trabalharam na vice-chancelaria de Papen, notavelmente um jovem escritor
protestante chamado Edgar Jung e um católico, Herbert Von Bose. Jung certamente
tinha inteligência e eloquência. Ele esboçou um discurso, que Papen então
proferiu na Universidade de Marburg no domingo, em 17 de junho.
O
discurso foi interrompido com a necessária ovação a Hitler; mas ele francamente
deplorava a condição sufocada da imprensa alemã, a qual, ele manteve, deveria
existir para informar e criticar.
“O Estadista ou político,” continuou
Papen, “pode reformar o Estado, mas não a
vida... O Estado pode favorecer uma interpretação da história, mas não pode
sujeitá-la, já que a história depende de pesquisa precisa que não pode ser desprezada...
Estamos ameaçados por permanente revolução...
Assim, me parece que o Estado alemão deveria logo
ser governado por um chefe de estado que está acima da batalha política... A
ditadura de um único partido... parece-me uma condição transitória somente
justificável tanto quanto o novo regime exigir e até que novos compromissos
estejam em operação.”
Papen
continuou com o lamento pela retirada da Alemanha da comunidade dos outros
países cristãos da Europa.
“Não devemos nos fechar intelectualmente dentro de
nossas fronteiras e nos aposentar em nosso próprio gueto... Inteligência
inferior ou primitiva não justifica uma batalha contra o intelectualismo. E se
resmungamos contra os nacionais socialistas radicais, estamos pensando naqueles
que, sem raízes próprias, desejam privar os intelectuais do mundo conhecido dos
meios de existência porque os intelectuais não são membros do partido... E não
deixe ninguém discordar que intelectuais são desprovidos de vitalidade... para
confundir vitalidade com brutalidade é curvar-se à força de uma maneira
perigosa...”
É
impossível estar certo se Papen compreendeu o discurso que Jung redigiu para
ele; mas ele o leu completamente. Aqueles presentes mal podiam acreditar em
seus ouvidos. A edição seguinte do Frankfurter
Zeitung publicou o texto; mas após isso, Goebbels tratou de suprimi-lo
completamente na Alemanha.
A
imprensa do jornal católico Germania imprimiu o texto e distribuiu algumas
cópias; e o discurso foi espalhado através de rumores com a ajuda no sul de um
bom resumo que apareceu no Neue Freie
Presse de Viena em 19 de junho. Quando, em 24 de junho, Papen apareceu em
Hamburgo para um encontro sobre raça, pessoas de todos os lugares e o saudaram
com um Heil Marburg!
Jung
e Bose deviam estar esperando que esta situação encorajasse opinião moderada no
Reichswehr – ainda a mais poderosa instituição na Alemanha – para decidir-se em
favor da restauração da monarquia. Um punhado de homens resolutos e
implacáveis, contudo, estavam preparando um caminho diferente, e o discurso em
Marburg e as notícias de Neudeck mostraram-lhes que eles não tinham mais tempo
a perder.
O
melhor aliado nesta conjuntura era o próprio Papen. Jung e Bose induziram-no a
fazer o discurso em Marburg; mas eles não puderam persuadi-lo a viver de acordo
com ele. Quando ele foi a Hitler para protestar contra sua supressão e
demitir-se da posição de vice-chanceler, Hitler foi capaz de mudar sua cabeça.
O Führer tinha, de fato, acabado de voltar de seu primeiro encontro com
Mussolini em Veneza em 15 e 15 de junho, um encontro que Papen ajudou a
acontecer.
Hitler,
que deveria reportar-se ao presidente sobre sua visita à Itália em Neudeck em
21 de junho, sugeriu primeiramente que Papen deveria ir com ele. Ao ler as
memórias de Papen, ficamos surpreendidos no modo no qual ele permitiu a Hitler
jogar areia em seus olhos. Pelo fato do Führer em visitar Hindenburg sozinho e
Papen ter-se permitido permanecer afastado.
Em
21 de junho, Hitler não tinha dúvidas que Hindenburg estava acabado – ele
ostentou uma vez antes que, sendo quarenta anos mais novo, ele poderia dar-se
ao luxo de esperar – e poderia ser isolado de outros “reacionários”; a partir
de agora, Papen era informado que Hindenburg estava muito doente para vê-lo,
apesar dele estar bem o suficiente para aprovar o que Hitler fazia.
Agora,
desde que foi decretado por Hitler com a aprovação de Rohm que a S.A. deveria
ser entrar em um mês de férias a partir do domingo, 1º de julho, as últimas
medidas para organizar e justificar a destruição de seus líderes deve ser
tomada.
Parece
claro que virtualmente toda evidência direta em relação aos dias que conduzem a
30 de junho foi sistematicamente destruída; isto por si só tende a lançar
suspeita sobre aqueles que estavam no topo. Por outro lado, há somente indicações
deste ponto na mesma direção.
Em
abril de 1934 o chefe da Polícia Secreta do Estado da Prússia (Gestapo), Diels,
sob o comando de Göring, foi substituído por Himmler; assim, o controle deste
último sobre toda maquinaria da polícia foi completa: seu mão direita era
Reinhard Heydrich, o chefe do S.D. (Sicherheitsdienst ou serviço de
segurança do NSDAP), que sucedeu Göring como chefe da Gestapo em Berlim.
Todos
os relatórios enviados a Hitler e ao Reichswehr seriam avaliados, portanto, por
Himmler e Heydrich, e todas as atividades de Rohm eram retratadas como
perigosas. Mais surpreendente foi o comportamento do general Von Reichenau,
chefe do Wehrmachtsamt e a força
propulsora por trás do Ministério da Guerra.
Por
que era necessário a Reichenau ter uma série de encontros com o novo chefe da
Polícia Secreta e pelo menos um com Lutze? De onde os boatos de que a S.A. planejava
um golpe vieram? Muitos membros da força podem ter dito coisas precipitadas,
entre eles o próprio Ernst Rohm. Mesmo assim, nenhuma evidência de quaisquer
preparações sérias jamais foi encontrada, apesar de ser útil a Hitler e a
Himmler fornecê-la. Em 27 ou 28 de junho, Sepp Dietrich, chefe da guarda
pessoal de Hitler, pediu ao Reichswehr ajuda para fornecer armas para uma
tarefa secreta e importante de Hitler, e produziu simultaneamente uma lista
supostamente compilada pela S.A. de pessoas que seriam provavelmente executadas
pelos membros da força; no topo da lista estavam os nomes dos generais Fritsch
e Beck, para os quais Sepp Dietrich estava respondendo.
Logo
após isso, o chefe da S.A. na Silésia, Heines, foi capaz de convencer o
comandante do Reichswehr da área, general Von Kleist, que ele, Heines, não
sabia de nenhum plano de golpe, mas tinha informação de que o Reichswehr estava
planejando uma ação contra a S.A. Kleist, portanto, voou para Berlim em 29 de
junho para relatar a Fritsch e Beck, significando, quando ele o fez, o que era
praticamente certo, que uma terceira parte – a SS, de fato – estava jogando o
Reichwehr e a S.A. um contra o outro. Reichenau foi chamado.
Três
dias antes ele teria dito que era o momento; mas em 29 de junho, ele lembrou que
o que Kleist tinha dito estava tudo bem, mas agora era tarde demais. Naquela
noite, Hitler, já a caminho, partiu para a ação. Caracteristicamente, após o
que pareceu aos outros como um período de incerteza, mas na realidade uma de
gestação, ele repentinamente compreendeu o massacre de todos aqueles que lhes
pareciam obstrutivos ou irritantes.
No
sentido de desviar a atenção, Hitler fez algumas visitas na Renânia em 28 de
junho. O plano para combater o desemprego (Arbeitsbeschaffung) ainda não
dera seus primeiros passos e, quando Hitler viu Krupp em Essen naquele dia, o
último enfatizou a necessidade da ditadura econômica para evitar o caos – este foi
sem dúvida um encorajamento bem vindo.
Na
mesma noite, Hitler havia, de fato, telefonado para Rohm; e eles concordaram
que uma reunião dos líderes da S.A., para a qual Hitler iria, seria realizada
em Wiessee, próximo de Munique, onde Rohm estava de férias desde 7 de junho.
Rohm
parecia contente com este acordo, que concentraria seus comandados em um local
bem remoto à mercê de Hitler. Após semanas das injúrias de Goebbels contra os “censuradores
e críticos” e o fluxo fresco de boatos desde o discurso de Papen em Margburg, e
então no último dia ou próximo a ele a respeito das preparações do Reichswehr,
um punhado de líderes da S.A. organizaram marchas e discursos em Munique por
sua própria conta, ou mais provavelmente em resposta a ordens falsificadas por
Heydrich.
Hitler
chegou em Munique por avião às 4 horas da manhã de 30 de junho; e, enquanto ele
rodava a cidade, sua raiva foi alimentada pela visão de alguns grupos
remanescentes da S.A. na rua, que foram citados como representando a intenção da
rebelião das Tropas de Assalto.
Cruzando
com um par de oficiais da S.A. que vieram encontrá-lo, Hitler, com seu habitual
charme barato, lembrou a dois oficiais da Reichswehr que este era o seu dia
mais negro na vida, e que somente a lealdade de seu chefe, o general Von Blomberg,
o sustentava naquela crise. Ele imediatamente prendeu e humilhou dois líderes
proeminentes da S.A., Schneid-Huber e Schmid – isto aconteceu no Ministério do
Interior da Baviera.
Hitler,
então, rapidamente se dirigiu a Wiessee, onde Sepp Dietrich e seus homens
haviam chegado com a ajuda do transporte do Reichswehr e se reuniram a membros
da SS do campo de concentração de Dachau próximo. Às 6:45 da manhã, Rohm e
aqueles que o acompanhavam foram retirados de suas camas e levados à prisão de
Stadelheim nos arredores de Munique: aqui, muitos líderes da S.A., presos quando
chegaram à estação de Munique para a conferência de Wiessee, se juntaram a
eles.
No
final da manhã, Hitler pronunciou um discurso furioso na Casa Marrom contra os
vícios perigosos de Rohm e seus associados; nunca houve segredo sobre a
homossexualidade de Rohm, mas de repente ela se tornou um crime. Havia aqueles
que, nas próximas semanas, refletiram que, na SS triunfante, os homossexuais
não eram de forma alguma desconhecidos. Após sua preleção, Hitler voou para
Berlim.
Aqui,
às 10 horas da manhã, Goebbels é conhecido por ter dado o “sinal” para Göring
ir adiante. Uma reconciliação vazia entre Goebbels e Papen foi armada para o
benefício dos jornalistas estrangeiros em 21 de junho; mas em 26 de junho,
Edgard Jung, como eles iriam descobrir rapidamente, foi preso pela Gestapo.
Na
manhã de 30 de junho, Papen foi proibido de deixar sua casa, enquanto que seu
escritório foi vasculhado. Lá, Bose e três outros em seu estafe foram presos; e
Bose e Jung foram fuzilados no mesmo dia. Entre outros assassinatos em Berlim
estavam os de Gregor Strasser, de Klausener, uma figura de liderança da Ação Católica
e um alto funcionário do Ministério dos Transportes, que foi morto em seu
escritório, e do general Kurt Von Bredow, um amigo de Schleicher.
Vários
dias na quinzena anterior, como uma testemunha mais tarde informou, um carro
marrom-avermelhado conduziu seis homens, provavelmente com idades entre 25 e 30
anos, para a Pensão Lippmann, uma casa próxima da de Schleicher em
Neubabelsberg, próximo a Postdam.
Ao
meio-dia e meia de 30 de junho, o carro apareceu novamente; e dois de seus
ocupantes – eles jamais foram identificados – abriram caminho pelo cozinheiro,
que involuntariamente abriu a porta, em direção da sala onde Schleicher estava
sentado numa cadeira, lendo: eles o executaram lá. Sua esposa estava repousando
em uma sala adjacente, mas evidentemente tentou alcançá-lo e também foi
executada. O carro marrom-avermelhado fugiu rapidamente.
A
governanta dos Schleicher, Ottilie, deve então ter telefonado para alguns
primos em Postdam, que enviaram a polícia. A Sra. Schleicher ainda estava viva
quando a polícia chegou, e foi levada ao hospital, onde morreu. Um funcionário
da justiça, o Dr. Grützner, chegou às 13:50 e examinou algumas testemunhas,
incluindo o cozinheiro dos Schleicher. Indiscretamente, Grützner telefonou a um
superior às 15:00 que o general Von Schleicher foi assassinado por motivos
políticos.
Após
isto, Himmler bloqueou quaisquer passos legais adicionais, reclamando que um
advogado novamente havia interferido com a SS. Às 23:30, uma equipe da Gestapo,
liderada por Freissler e Dohnanvi, visitou Grützner e obteve dele segredo.
Seis
dos líderes da S.A. na prisão de Stadelheim foram executados na manhã de 30 de
junho. Um número de outras pessoas foram mortas em Munique nos dias seguintes,
a maioria por um grupo de membros da Legião Austríaca, liderada por um homem do
S.D.; eles pareciam ter recebido ordens precisas da Gestapo em Berlim, isto é,
de Heydrich.
Algumas
das vítimas foram mortas em Dachau, ou no caminho até lá; e algumas, por
nenhuma razão aparente, foram levadas a Berlim e fuziladas na escola de Cadetes
no subúrbio de Lichterfelde, onde os executores de Göring estavam trabalhando.
Gustav
Von Kahr, que, na visão de Hitler, o traiu em novembro de 1923, ouviu os
rumores do fuzilamento dos primeiros seis líderes da S.A. e expressou
satisfação, como muitos outros, já que a ordem havia sido restaurada.
Entretanto, quase ao mesmo tempo, ele próprio foi preso e levado a Dachau, onde
dois membros da SS se aproximaram dele e o lembraram de sua “traição” e o
mataram.
Não
foi até as 18:00 do domingo, 1º de julho, que Rohm, tendo recusado a se
suicidar, teve a distinção de ser fuzilado em sua cela pelos dois chefes de
Dachau, Lippert e Eicke, com Eicke lembrando “Camaradas importantes que
arriscam suas cabeças têm que ser executados por camaradas importantes.”
Após
alguns assassinatos na Silésia, que não foram autorizados por Hitler, o Führer
declarou o fim da operação no início da manhã de segunda-feira, 2 de julho de
1934. Agora era possível rastrear os nomes das 83 pessoas mortas durante o
final de semana, um número curiosamente próximo das 74 vítimas admitidas por
Hitler diante do Reichstag em 13 de julho.
Na
época, aqueles que não foram afetados, notaram com interesse que Goebbels ainda
estava vivo; ele tinha sido, após tudo, um dos maiores detratores dos
reacionários do reichswehr. Olhando para trás, é fácil ver por que Goebbels não
estava em perigo. Ele havia subido ao poder às expensas de Gregor Strasser e
não tinha boa relação com Rohm.
Mais
tarde, ele tornou-se indispensável a Hitler e, embora não sem o espírito,
estava pronto para toda bajulação do Führer. Talvez, também, ele melhor do que
ninguém entendeu que a concentração de poder que estava acontecendo e estava
satisfeito em se identificar com ela.
Na
terça, 3 de julho, a edição setentrional do Völkischer
Beobachter publicou uma declaração, escrita por Reichenau, de acordo com a
qual Rohm e Schleicher conspiraram juntos e com um Estado estrangeiro, e
Schleicher foi morto porque havia resistido à prisão.
É
claro que o ódio eterno de Hitler estava direcionado contra Schleicher, que
havia concebido a ideia de cooperação entre o Reichswehr, os sindicatos e os
nazistas moderados liderados por Gregor Strasser, uma ideia que ele,
Schleicher, foi incapaz de realizar. Desde que Hitler o sucedeu como Chanceler,
Schleicher foi altamente indiscreto, enquanto que sua reputação para a intriga
tinha, de qualquer forma, encorajado a Gestapo a ficar de olho nele.
Mas
eles não tinham nenhuma evidência de qualquer tipo de cooperação entre
Schleicher e Rohm; de fato, eles estavam provavelmente cientes de que Rohm
condenava as atividades “reacionárias” de Schleicher. Apesar de ambos terem
visitado o embaixador francês, não havia nada a respeito de seus encontros que
pudesse ser classificado como “conspiração”. Quanto ao assassinato de
Schleicher, vimos que ele foi deliberado.
Assim,
ao escrever o anúncio no Völkischer
Beobachter, Reichenau tornou a si mesmo e ao Reichswehr responsáveis, não
somente pelo fornecimento das armas, barracas e transporte para os assassinos
de 30 de junho, mas também por falsificar a justificação para seus crimes.
Reichenau pensava que isso valia a pena no sentido de ter o monopólio militar
para o Reichswehr, como Hitler havia antecipado em 28 de fevereiro.
Na
mesma terça-feira, 3 de julho, cerca de duzentos homens que conduziram os
assassinatos foram homenageados na presença de Himmler em Berlim, agradecidos
por seus serviços, presenteados com adagas gravadas com o nome de Himmler e com
juramento de segredo (sob a pena de morte) mesmo entre eles; aqueles que
pertenciam ao SD foram promovidos. Himmler tinha todos os motivos para celebrar
a ocasião.
“A
Noite das Longas Facas” garantiu o controle complete da SS sobre todos os órgãos
policiais na Alemanha; a rivalidade da S.A. foi eliminada; quanto a Lutze, que
sucedeu Rohm, estava preparado para pegar um lugar secundário e obedecer
Himmler. A SS agora estabeleceu seu próprio Estado dentro do Estado. Além
disso, apesar de sua promessa ao Reichswehr, Hitler permitiu a formação de uma
divisão armada da SS obediente a Himmler, não a Blomberg: este foi o início da
Waffen SS.
O
mais significativo de tudo, talvez, tenha sido o decreto publicado no mesmo dia
por Hitler e seus ministros, de acordo com o qual “as medidas tomadas para
suprimir os atos traiçoeiros e sediciosos em 30 de junho e 1º e 2 de julho de
1934, tornam-se leis para a defesa do Estado em uma emergência.”
Quando
Hindenburg morreu em 2 de agosto, o Führer automaticamente tornou-se presidente
do Reich, assim como seu Chanceler, e cada membro do Reichswehr fez um
juramento de lealdade pessoal a ele. Além do assassinato de dois generais, ato
impensável na Alemanha, Hitler quebrou sua promessa de que o Exército manteria
o monopólio militar.
As
tropas de assalto foram as ferramentas que ele precisava para chegar ao poder.
Em 1934, ele usou a destruição de seu poder para enganar e domesticar o
Reichswehr, enquanto ao mesmo tempo a SS tomava todo controle político,
fornecendo os meios para a tirania total de Hitler.
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