Matt
Carr
Em
15 de novembro de 1864, 60.000 soldados da União sob o comando do general
William T. Sherman abandonaram a cidade em chamas de Atlanta e marcharam em
direção da Georgia central para iniciar uma das mais celebradas campanhas da
Guerra Civil Americana. Somente dois meses atrás ele se tornara o herói do
Norte quando seu poderoso exército de 100.000 homens tomou Atlanta após uma
campanha de verão sangrenta, efetivamente salvando o incumbente presidente
Abraham Lincoln da derrota nas eleições presidenciais do outono. Foi uma ação
que surpreendeu seus contemporâneos. Tendo conquistado “A Entrada para o Sul”,
a maioria dos observadores presumiu que Sherman equiparia Atlanta com uma
guarnição e se dirigiria para o norte em direção de Virginia, onde os exércitos
orientais da União, sob o comando de seu grande amigo Ulysses S. Grant, estava
preso em um beco sem saída com o Exército da Virgínia do Norte em torno da
capital confederada, Richmond.
Ao
tomar Atlanta, Sherman atordoou a Confederação ao ordenar a evacuação de toda a
população civil da cidade, aparentemente por motivos puramente militares. Ele
então procedeu em transformar a cidade num amontoado de ruínas. Desobedecendo a
sabedoria convencional que um exército em avanço deve manter contato com suas
linhas de comunicação, ele reduziu o tamanho de sua força quase pela metade e
ordenou que seus oficiais destruíssem todas as lojas, fábricas e armazéns que
pudessem ser utilizados com fins militares, incluindo a Estrada de Ferro
Ocidental e Atlântica, que tinha mantido seus homens abastecidos ao longo do
verão.
O
destino final de Sherman era a cidade de Savannah, 500 km a leste da costa
atlântica, onde ele esperava ser reabastecido pela marinha da União, antes de
continuar para o norte em direção da Virgínia. Até então, seu exército ficaria
largamente dependente para sua sobrevivência do que pudesse tomar da população
local. O plano foi parcialmente planejado para ajudar Grant na Virginia
cortando o fluxo de suprimentos para os exércitos confederados e interromper
sua comunicação, mas ele tinha também um “objetivo psicológico nebuloso”. Após
mais de três anos de conflito violento e aparentemente interminável, Sherman
decidiu levar o conflito além do campo de batalha e sujeitar a Georgia a um
nível de devastação que poderia fazer sua população perceber que “guerra e
ruína são sinônimos”. Ao fazer os civis pagarem o preço por apoiar a guerra,
Sherman esperava quebrar a força de vontade da Confederação e demonstrar que
sua liderança não tinha mais a habilidade para proteger a população do Sul
mesmo em suas próprias casas.
Esta
estratégia marcou uma guinada dramática na política da União em relação ao Sul.
Quando a guerra começou em abril de 1961, o presidente Abraham Lincoln ordenou
que os exércitos da União não confiscassem ou destruíssem propriedade sulista
na crença de que os sulistas poderiam ainda voltar à União. Na época em que o
exército de Sherman marchou para Atlanta, tal restrição já havia sido
abandonada há muito tempo. No verão de 1862, incapaz de transformar as vitórias
no campo de batalha em resultados estratégicos e abalado pela popularidade da
causa separatista, Lincoln autorizou os exércitos da União a adotar medidas
gradativamente duras em uma tentativa de abalar a resistência sulista.
Lei
marcial, requisições forçadas e expedições de “forrageamento”, que retirou de
comunidades inteiras comida, deportações de cidadãos desleais, ataques
destrutivos objetivando destruir os recursos de guerra da Confederação, atos de
punição coletiva em resposta a ataques de guerrilha e emancipação de escravos –
foram todas inovações da política de “guerra brutal” da União. Poucos generais
aplicaram-na de forma implacável quanto Sherman. Um ex-gerente de banco,
advogado e superintendente escolar, ele já havia mostrado seu desejo de
estender a “mão dura da guerra” aos civis sulistas como governador militar de
Memphis, Tennessee em junho de 1862; na destruição de Jackson e Meridian durante
as operações de Grant no Mississipi no verão de 1863; e nas represálias contra
as guerrilhas confederadas durante a invasão do norte da Georgia em maio de
1864. Sua evacuação de Atlanta o transformou numa figura odiada na imprensa
sulista.
A
reputação de Sherman como o arqui-inimigo do Sul foi confirmada por sua
campanha na Georgia , quando seu exército invadiu o “celeiro do Sul”, atacando
fazendas, apreendendo produtos, abatendo ou confiscando gado e demolindo e
queimando propriedade. Alvejando a ferrovia da Georgia, eles arrancaram e
derreteram os trilhos antes de transformá-los em “gravatas de Sherman” e
queimar e demolir estações e armazéns, deixando uma trilha de caos com uma
extensão de 80 km. “Ninguém, sem estar lá, pode formar uma ideia apropriada da
devastação que será encontrada em nosso caminho,” escreveu um capelão da União:
“Milhares de famílias terão suas casas transformadas em cinzas e eles próprios
serão transformados em mendigos nas ruas. Levamos literalmente fogo e espada
para esta outrora terra orgulhosa e desafiadora.”
A
velocidade com a qual os soldados de Sherman atravessaram a Georgia foi em
parte devido à ausência de qualquer resistência confederada, assim como sua
tática hábil. Ao reduzir as provisões do exército a um mínimo e marchando seus
soldados em duas “asas” paralelas cerca de 30 km distantes, os defensores
confederados esparsos espalhados pelo Estado foram incapazes de prever o
destino de seus oponentes e concentrar suas forças contra eles. Ao invés de
atacar cidades bem defendidas, Sherman simplesmente contornou-as para manter a
velocidade de avanço de seu exército altamente motivado. Apesar de enfrentar
provavelmente a melhor força armada do mundo na época, o presidente
confederado, Jefferson Davis, clamou à população para copiar a guerra partisan
russa contra Napoleão e transformar a campanha da Georgia na “retirada de
Moscou” de Sherman. Foi uma aspiração que jamais se tornou realidade.
Em
21 de dezembro, o exército de Sherman capturou Savannah em triunfante conclusão
à “Marcha para o Mar”. As notícias foram comemoradas com exultante aclamação no
Norte. Em fevereiro seguinte, ele marchou com seus homens em direção do norte
rumo às terras baixas pantanosas da Carolina do Sul, onde ele utilizou as
mesmas táticas. Aqui, a destruição foi mais extensiva e mais explicitamente
punitiva, quando seus soldados queimaram e pilharam tudo em seu caminho através
do Estado já que eles tinham essa terra como o lar espiritual da rebelião e o
coração da “aristocracia” escravocrata sulista. “Toda casa, celeiro, cerca e
campo de algodão recebe o calor de uma tocha,” observou um sargento de Ohio,
“este resultado é revoltante, mas a guerra é um jogo militar e não pode ser
civilizado.”
Esta
era a visão de muitos soldados da União, que apelidaram a campanha de “marcha
da fumaça”. Ela atingiu o máximo em 17 de fevereiro de 1865, após a rendição da
capital do estado, Columbia. Apesar do fato de que seus defensores tenham
abandonado a cidade, muito de Columbia foi reduzida a pó aquela noite por uma
horda de bêbados. Apesar de Sherman ter culpado subsequentemente a cavalaria
confederada por provocar os incêndios ao queimar pedaços de algodão, numerosas
testemunhas viram seus soldados atear deliberadamente fogo nas casas
particulares. Há pouca dúvida que muitos soldados da União, influenciados pelo
álcool fornecido pela população local numa tentativa errada de aplacá-los,
estavam determinados a queimar a cidade. Se Sherman não ordenou a destruição, ele
fez pouco para preveni-la, mesmo que ele estivesse perfeitamente ciente do
comportamento de seus homens. De qualquer forma, a “queima de Columbia” serviu
aos seus objetivos estratégicos e subsequentemente ele deixou claro que não
tinha nenhum remorso. Em 7 de março de 1865, o exército de Sherman entrou na
Carolina do Norte, o último estado a se separar. Apesar dos exércitos da União
continuarem a destruir fábricas, siderúrgicas e redes ferroviárias, o dano foi
mais limitado do que na Carolina do Sul, já que tornou-se claro que a guerra
estava chegando ao fim.
Pelo
fim de março, os exércitos da União estavam rasgando a Confederação de todos os
lados e sua posição tornou-se insustentável. Em 3 de abril, Richmond caiu
diante das tropas de Grant à medida que o exército da Virgínia do Norte de Lee
recuava para o oeste. Seis dias depois, Lee rendeu-se a Grant em Appomattox. No
dia 13, as tropas de Sherman entraram na capital do Estado, Raleigh, e no dia
seguinte ele emitiu a Ordem Especial de Campo, Nº 55, que exigia que seus
soldados interrompessem “destruição adicional de ferrovias, moinhos, produção
de algodão” e garantissem que “os habitantes sejam tratados gentilmente,
buscando uma nova reconciliação.” Mesmo após o assassinato de Abraham Lincoln
em 15 de abril de 1865, estas ordens continuaram a ser obedecidas. Em 16 de
abril, Sherman aceitou de seu grande adversário, o general Joseph E. Johnston,
a rendição de 90.000 soldados confederados na Fazenda Bennett próximo a
Raleigh, assim retirando o último grande exército confederado da Guerra Civil.
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