quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O Fim do Sacro Império Romano

Richard Cavendish

History Today, Vol. 56, Nº 7, julho de 2006



Pode não ter sido santo ou romano ou um império, como Voltaire lembrou, mas o que quer que fosse, sobreviveu por mais de mil anos desde a coroação de Carlos Magno no ano 800. Um aglomerado de reinos mais ou menos independentes, baseado em principados eclesiásticos e cidades livres, foi finalmente destruído por Napoleão Bonaparte e os franceses.

O processo começou quando os territórios alemães no lado oeste do Reno foram anexados pela França em 1801 sob o Tratado de Lunéville, que o imperador Habsburgo, Francis II, não teve escolha exceto aceitar as vitórias francesas em Marengo e Hohenlinden no ano anterior. O tratado estabeleceu para os governantes alemães que perderam território a oeste do Reno serem compensados em outro lugar no império às custas dos estados eclesiásticos.

A leste do rio, isto permitiu a Napoleão estabelecer uma reorganização, ostensivamente conduzida por um comitê de príncipes imperiais, que redesenharam o mapa da Alemanha, drasticamente reduzindo o número de mini-estados, secularizando ou destruíndo os eclesiásticos e abolindo a maioria das cidades livres. A intenção francesa era criar um arranjo de estados-satélites além do Reno, organizados de um modo mais racional e controlável, e o efeito foi cortar o número de estados imperiais de mais de 300 para menos de 100 e severamente diminuindo a autoridade dos Habsburgos.

Os estados alemães maiores não ficaram de modo algum descontentes em absorver seus vizinhos menores. Tanto a Áustria quanto a Prússia adquiriram territórios extras na reorganização de 1803, mas Napoleão garantiu que os maiores ganhos fossem para estados como Bavária, Württemberg e Baden, que não eram grandes o bastante para oferecer qualquer ameaça à França.

Em 1805, a Áustria se uniu a outra coalizão de potências européias contra a França e no final do ano Napoleão esmagou os exércitos austríaco e russo na Batalha de Austerlitz. Ele continuou a organizar a Confederação do Reno, que surgiu formalmente em julho seguinte sob sua proteção e em aliança militar com a França. Seu líder ostensivo era Karl Theodor, Freiherr von Dalberg, que era tanto arcebispo de Mainz e grão-duque de Frankfurt. Dezesseis estados alemães  uniram-se à Confederação, que ia desde o Elba até os Alpes. Era um estado vassalo francês e Napoleão anunciou que o Sacro Império Romano da Nação Alemã não existia mais. Os estados confederados proclamaram formalmente sua secessão do império em 1º de agosto e no dia 6 o imperador Francis saudou o inevitável, renunciou à coroa imperial, que seus antecessores usaram em uma sucessão praticamente contínua por quase quatro séculos desde Alberto II em 1438 e recusou ser imperador hereditário da Áustria.

O diplomata francês Talleyrand recomendou uma aliança franco-austríaca que poderia dominar a Europa, mas Napoleão não estava interessado. Mais tarde, em 1806, ele derrotou os prussianos em Jena e tomou Berlim, onde ele decretou um bloqueio ao comércio britânico. A Saxônia viu a luz e juntou-se à Confederação do Reno. O insaciável Bonaparte criou o novo reino da Westfália para seu irmão Jerome e persuadiu todos os estados alemães, exceto a Áustria e a Prússia a se unir à Confederação, onde eles encontraram um mestre mais implacável do que eles jamais conheceram. Napoleão sarcasticamente lembrou que a Alemanha era sempre "um tornar-se, não um ser", mas ao longo do tempo, ironicamente, a consequência de suas políticas resultou no estímulo do nacionalismo alemão e na emergência de uma Alemanha unida, que enfrentaria os franceses em duas guerras mundiais.

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