History Today, Vol. 56, Nº
7, julho de 2006
Pode não ter sido santo ou romano ou um império, como Voltaire
lembrou, mas o que quer que fosse, sobreviveu por mais de mil anos desde a
coroação de Carlos Magno no ano 800. Um aglomerado de reinos mais ou menos
independentes, baseado em principados eclesiásticos e cidades livres, foi
finalmente destruído por Napoleão Bonaparte e os franceses.
O processo começou quando os territórios alemães no lado oeste do
Reno foram anexados pela França em 1801 sob o Tratado de Lunéville, que o
imperador Habsburgo, Francis II, não teve escolha exceto aceitar as vitórias
francesas em Marengo e Hohenlinden no ano anterior. O tratado estabeleceu para
os governantes alemães que perderam território a oeste do Reno serem
compensados em outro lugar no império às custas dos estados eclesiásticos.
A leste do rio, isto permitiu a Napoleão estabelecer uma
reorganização, ostensivamente conduzida por um comitê de príncipes imperiais,
que redesenharam o mapa da Alemanha, drasticamente reduzindo o número de
mini-estados, secularizando ou destruíndo os eclesiásticos e abolindo a maioria
das cidades livres. A intenção francesa era criar um arranjo de estados-satélites
além do Reno, organizados de um modo mais racional e controlável, e o efeito
foi cortar o número de estados imperiais de mais de 300 para menos de 100 e
severamente diminuindo a autoridade dos Habsburgos.
Os estados alemães maiores não ficaram de modo algum descontentes
em absorver seus vizinhos menores. Tanto a Áustria quanto a Prússia adquiriram
territórios extras na reorganização de 1803, mas Napoleão garantiu que os
maiores ganhos fossem para estados como Bavária, Württemberg e Baden, que não
eram grandes o bastante para oferecer qualquer ameaça à França.
Em 1805, a Áustria se uniu a outra coalizão de potências européias
contra a França e no final do ano Napoleão esmagou os exércitos austríaco e
russo na Batalha de Austerlitz. Ele continuou a organizar a Confederação do
Reno, que surgiu formalmente em julho seguinte sob sua proteção e em aliança
militar com a França. Seu líder ostensivo era Karl Theodor, Freiherr von
Dalberg, que era tanto arcebispo de Mainz e grão-duque de Frankfurt. Dezesseis
estados alemães uniram-se à Confederação,
que ia desde o Elba até os Alpes. Era um estado vassalo francês e Napoleão
anunciou que o Sacro Império Romano da Nação Alemã não existia mais. Os estados
confederados proclamaram formalmente sua secessão do império em 1º de agosto e
no dia 6 o imperador Francis saudou o inevitável, renunciou à coroa imperial,
que seus antecessores usaram em uma sucessão praticamente contínua por quase
quatro séculos desde Alberto II em 1438 e recusou ser imperador hereditário da Áustria.
O diplomata francês Talleyrand recomendou uma aliança franco-austríaca
que poderia dominar a Europa, mas Napoleão não estava interessado. Mais tarde,
em 1806, ele derrotou os prussianos em Jena e tomou Berlim, onde ele decretou
um bloqueio ao comércio britânico. A Saxônia viu a luz e juntou-se à Confederação
do Reno. O insaciável Bonaparte criou o novo reino da Westfália para seu irmão
Jerome e persuadiu todos os estados alemães, exceto a Áustria e a Prússia a se
unir à Confederação, onde eles encontraram um mestre mais implacável do que
eles jamais conheceram. Napoleão sarcasticamente lembrou que a Alemanha era
sempre "um tornar-se, não um ser", mas ao longo do tempo,
ironicamente, a consequência de suas políticas resultou no estímulo do
nacionalismo alemão e na emergência de uma Alemanha unida, que enfrentaria os
franceses em duas guerras mundiais.
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