History
Today, Vol. 32, Nº 7, julho de 1982
Primeiro
o fato, como qualquer um que alguma vez tenha investigado a vida de um
personagem histórico saberá, isto não significa necessariamente algo fácil de
se estabelecer. Drácula de fato existiu, mas quem era ele e como ele adquiriu
sua reputação?
Na história
atual romena, ele é melhor lembrado como um líder na luta medieval contra os
turcos. De 1456 a 1462 e novamente por um período curto em 1476, o governante
do principado daubiano da Valáquia era Vlad Tepes, isto é, Vlad o Empalador, ou
Drácula. Seis anos após a queda de Constantinopla em 1459, este príncipe
valente se recusou a pagar tributo ao Aduaneiro Otomano, e dois anos depois ele
liderou um exército através do Danúbio para lutar contra o inimigo,
supostamente tendo matado 24.000 turcos e liberando parte do território
recentemente ocupado por eles. Mas então, em 1462, o Sultão Mohammed II o
Conquistador em pessoa liderou uma campanha de retaliação contra Valáquia. Vlad
ergueu uma resistência patriota, e finalmente foi derrotado, não no campo de
batalha, mas pela duplicidade do rei da Hungria, Matthias Corvinus (1140 –
1490), para quem ele tinha apelado por apoio mas por quem ele agora estava
preso. Em 1476, ele conseguiu escapar para tomar parte em uma luta contra a
invasão otomana na Bósnia e para reocupar o trono de Valáquia. Entretanto, no
mesmo ano, como o relato romeno coloca, “este combatente corajoso pela
liberdade de seu povo foi morto em uma campanha contra os turcos.”
A visão
romena, dificilmente surpreendente, não foi compartilhada pelos outros na
Europa Oriental; os húngaros, para tomar o exemplo mais óbvio, não lembram de
Matthias Corvinus como um vira-casaca. Pelo contrário, mais importante, eles
veem a Transilvânia, o local de nascimento de Drácula, como sendo parte de um único
país junto com Valáquia, a terra que ele governou, persistindo até hoje em sua
crença que a Transilvânia deveria fazer parte da Hungria. Os alemães têm
tendido a seguir a visão de seus antepassados do século XV no Sacro Império
Romano, que condecorou o pai de Drácula com a Ordem do Dragão hereditária
somente para se arrepender, acreditando que a família tão honrada provou ser,
graças ao filho, indigna de tal título cavalheiresco. O nome “Drácula” poderia
significar tanto “filho do dragão” quanto “filho do mal”, e aos olhos alemães,
a última interpretação rapidamente predominou. Enquanto isso, na Rússia
ortodoxa, em 1490 uma versão de sua carreira foi escrita em manuscrito segundo
a qual Drácula foi condenado por sua aceitação apostática do catolicismo romano
durante seus anos de aprisionamento na Hungria, mas também para ser aprovado
por suas políticas cruéis, porém justas. Sem entrar na controvérsia histórica,
o estudioso russo Ian Lurye deu, talvez, a melhor descrição do fato.
Poucos
anos após sua morte, então, o legado de Drácula foi divulgado, o qual já era
desvirtuado e contribuiu para a lenda que deveria o levar para a ficção. Outros
componentes da lenda eram muitas histórias, uma das quais, muito recorrente,
dizia que uma visita ao príncipe por alguns embaixadores que entraram sem tirar
seus chapéus, dando a explicação que isso era costume entre eles. Drácula
ordenou então que seus chapéus fossem pregados em suas cabeças, com a
explicação que isto fortaleceria seu costume e, em algumas versões, que seus
governantes aprenderiam que na Valáquia era melhor se comportar como
valaquianos. Outro conto recorrente fala sobre a perpetração de canibalismo
forçado, algumas vezes os ciganos obrigados a comer uns aos outros, em outra
ocasião mães são obrigadas a assar seus bebês e então devorá-los. O assunto
mais frequente da lenda de Drácula, contudo, está ligado com seu apelido
alternativo “Vlad o Empalador”. Por exemplo, uma pessoa reclamando sobre o
fedor emanando de um número de corpos já empalados é ela própria empalada em um
lugar onde o ar é melhor. Muito da transfixação parece ser sem nenhum motivo
claro. Se há uma dispensa da justiça, é áspero ao extremo, e a impressão que
fica é de um sadismo gratuito aliviado, se for isso, por um senso de humor
sarcástico. Se a lenda reflete isso, a época deve ter sido muito difícil para os
habitantes do século XV de Valáquia e outros principados vizinhos.
O estilo
de vida da criação ficcional mais famosa é totalmente descolado da lenda. As
características distintas do monstro de Bram Stoker poderiam resultar em parte
da circunstância que as palavras “demônio” e “vampiro” são intercambiáveis em
diversas línguas, enquanto que a crença nos vampiros tem sido muito espalhada e
ainda existe na pátria de Dráculae outras partes da Europa Oriental, sem mencionar
no mundo inteiro. Mais diretamente, Bram Stocker supostamente recebeu sua
versão da vida e morte de seu “herói” do, entre outras fontes, professor Arminius
Vambery, um especialista bem viajado da Hungria, com quem ele jantou no Clube
do Bife em Londres em 1890. Provavelmente, no curso da conversa, as proezas de
Vlad o Empalador foram mencionadas, e sendo assim, dada as características do
ambiente característico transilveniano, mas é possível que a conexão entre o
professor e Drácula foi feita na mente de Stoker e outros pela justaposição em
muitas enciclopédias de “Vambery” e “vampiro”.
Certamente,
não houve atalho de influências no romance que apareceu em 1897. Nascido
cinquenta anos antes em Dublin, e formado na Faculdade Trindade (Trinity College), Bram Stoker mudou da
rotina de um emprego público (sua primeira publicação trazendo o pouco
sugestivo nome de “Tarefas de Escriturários de Pequenas Sessões na Irlanda”)
para uma atividade literária parcial e críticas dramáticas da gestão de palco
para o ator Sir henry Irving, combinado com o desenvolvimento de sua própria
perseguição da profissão de letras. Ele recebeu atenção considerável com Carmilla, um romance vampiresco pelo seu
compatriota Joseph Sheridan Le Fanu, e seu próprio primeiro trabalho de ficção
contendo um personagem chamado “o fantasma do demônio”.
O século
XIX não foi, é claro, estranho a vampiros e demônios de muitas variedades. Mary
Wollstonecraft Shelley levou o romance gótico a um novo nível de realismo com
seu Frankenstein (1818). Byron,
Goethe e Alexandre Dumas Sr. foram apenas alguns de escritores mais famosos a
mostrar um interesse no consumo póstumo de sangue. E entre as muitas pessoas
interessantes que Stoker encontrou no curso de uma vida agitada foi Sir Richard
Burton, o famoso viajante e tradutor, de quem ele soube dos vampiros árabes e
indianos e que também o impressionou com a proeminência de seus dentes caninos.
Então, na névoa do outono de 1888 nas ruas de Londres, a realidade superou a
lenda e ficção na forma de Jack o Estripador, que surgiu na imprensa popular
através de todos os tipos de imagem de criaturas sugadoras de sangue da “Idade
das Trevas” e deu combustível adicional à imaginação fértil de Stoker. Dois
anos mais tarde, veio o encontro com o professor Vambery, acrescido pela
pesquisa na Sala de Leitura do Museu Britânico, que tinha recentemente adquirido
um panfleto alemão impresso em 1491 e relatando algumas histórias horríveis
sobre Drácula.
Hipóteses
adicionais relacionadas às fontes da obra de Stoker variam do passado turvo e
distante até o presente mais imediato e pessoal. Durante sua infância na
Irlanda, o autor ouviu muitos contos de mistério e imaginação celtas,
enriquecidos pelas memórias pessoais de sua mãe de alguns dos aspectos macabros
da epidemia de cólera de 1832. Em 1894, Stoker fez a primeira de muitas visitas
de férias à vila pesqueira escocesa de Cruden Bay, onde ele foi capaz de
absorver mais folclore celta de natureza tanto genuína quanto artificial. É
possível que ele tenha tomado conhecimento de “Vampiro: Pássaro das Ilhas”,
publicado em Londres em 1822 e passado na Ilha Ocidental de Staffa. E uma
autoridade local, James Drummond, escreveu não somente da associação de Stoker
com a peça de Cruden, mas também de uma influência palpável de outra peça
escocesa, que atores supersticiosos ainda contraem-se ao falar seu título.
Drummond revela muitos paralelos entre MacBeth e Drácula, culminando nos
respectivos resultados:
Os exércitos da virtude ultrajada fecham-se
para varrer as forças do mal e para exigir retribuição.
A Cruz de Santo Jorge e o Crucifixo, o crescimento verde fresco de Birnam Wood e a pura
e afiada estaca de sorva. E finalmente, o ritual antigo catártico celta das
cabeças cortadas liberta o mundo a partir do reino do mal. “Eis onde está a
cabeça amaldiçoada do usurpador!” lamenta Macduff, “O tempo é livre!” E Morris
respeitosamente ecoa, “Veja a neve não é mais brilhante do que a testa dela. A maldição foi embora!”
Tão longe
quanto as conexões escocesas permitem, pode ser útil acrescentar que parte dos
contos ouvidos por Stoker na Baía de Cruden (uma de cujas derivações sugeridas significa
apropriadamente "sangue dos dinamarqueses”) poderia bem ter sido semelhante a outras
contadas nas montanhas cárpatas, na vizinhança das quais os povos celtas
supostamente tiveram suas origens bem antes do nascimento de Vlad o Empalador
na Transilvânia. Além disso, críticas recentes do livro sobre Robert
Seton-Watson por seus dois filhos, tem apontado como a simpatia de um grande
homem pelos povos da Transilvânia e outras regiões cárpatas podem bem ter vindo
de sua própria origem escocesa, uma afinidade que poderia ter permeado uma
geração ou antes tanto quanto o autor de Drácula. Certamente, Stoker escreveu
de suas pesquisas: “Li que toda superstição conhecida no mundo é reunida na
ferradura dos Cárpatos, como se fosse o centro de um tipo de redemoinho
imaginativo.”
Finalmente, uma fonte mais íntima da inspiração de Stoker
foi debatido por Penelope Shuttle e Peter Redgrove em “A ferida Sábia:
Menstruação e Mulher”. No capítulo 7, que eles chamaram de “O Espelho de
Drácula”, eles escrevem:
Stoker era
casado com a atraente Florence Balcome, que era muito admirada por Oscar Wilde,
e que era também, de acordo com autoridades, frígida como uma estátua. É
possível que uma mulher com uma vida sexual insatisfatória tenha também
distúrbios menstruais ruins. Foi uma imagem destas que deu à mente subliminar
de Stoker a dica que formulou um mito de poder formidável, fora da ferocidade
de uma mulher frustrada sangrando, crepitando com
energia e sexualidade não
reconhecida?
Das
neblinas da antiguidade celta até o estilo de seus problemas maritais é
provavelmente um longo caminho em direção de um entendimento completo da imaginação
de Stoker, neste caso há ainda uns poucos comentários adicionais a serem feitos
no conteúdo da própria obra. Agora, nos movemos a um concurso de história
local, Cruden Bay versus o porto de North Yorkshire em Whitby. Bram Stoker
tirou suas férias de verão de 1890 em Whitby apenas uns poucos meses após seu
encontro com o professor Vambery e, de acordo com a lenda local, derivou a
ideia de seu livro de um pesadelo após Stoker jantar uma sopa de camarão.
Drácula, está bem documentado, começou de fato alguns anos depois em Cruden
Bay, mas a chegada do Conde na Inglaterra é explicitamente estabelecida em
Whitby, com Stoker passando alguns de suas férias lá ao mesmo tempo copiando
certos detalhes do local mais imediato. O Mosteiro de Whitby pode bem ter
surgido em sua mente com o Castelo Slains cravado em um monte próximo a Cruden
Bay como ele veio a descrever a residência de drácula. Descrevendo os recintos
de Whitby, ele fala de “pistas estreitas, como eles são chamados na Escócia.” E
algumas das palavras que ele coloca na boca dos pescadores de North Yorkshire são
tiradas do dialeto buchan do nordeste da Escócia: “to skeer an scunner hafflins”,
por exemplo, que significa “assustar e desapontar os jovens rapazes.” Que
Stoker descobriu Cruden Bay o lugar mais simpático para a atividade literária é
indicado pelo fato de que ele escreveu dois romances quase completamente localizados
lá ou próximos dele, The Watter´s Mou
e O Mistério do Mar. Por outro lado,
a tempestade anunciando a chegada do Conde Drácula nas praias da Inglaterra,
uma das passagens descritivas mais poderosas em seu famoso trabalho, foi
definitivamente esboçado em grande parte a partir das experiências vividas
pelos pescadores de Whitby na época das férias de Bram Stoker naquele porto.
Quando de
sua publicação em 1897, Drácula foi bem recebido pelos críticos, o Daily Mail,
por exemplo, o considerou “ainda mais terrível em seu fascínio sombrio” do que
trabalhos como Frankenstein, Wuthering Heights e The Fall of the House of Usher. Entretanto, o livro não tornou-se
um sucesso, enquanto que sua primeira apresentação teatral, apressadamente
juntos para proteger os direitos do autor, foi considerada assustadora, em
nenhum sentido lisonjeiro, por ninguém menos que o próprio Sir Henry Irving.
Mesmo assim, foi através de uma apresentação mais tarde em palco que Drácula
atingiu a fama que ele desfruta hoje. Estreando em Derby em 1924, a nova peça
mais tarde transferiu-se para uma temporada de sucesso no final do ano. Então,
na Broadway, o papel principal foi interpretado pelo húngaro bela Lugosi, que usou
seu autêntico sotaque europeu do leste na primeira versão filmada de 1931. Esta
alcançou sucesso estrondoso e desde então tem havido muitas refilmagens e
variações do tema drácula – mais de 400, de acordo com um cálculo. O nome assustador
tem sido aplicado em todos os tipos de direções, o mais patético talvez em uma
propaganda de picolé como “O Segredo Mortal do Conde Drácula – Chupe um antes
do nascer do Sol!” Sem dúvidas, um lugar de destaque nos
países ocidentais, até mesmo na consciência geral do mundo, foi ganho pela criação de Bram Stoker.
Por isso
é que, mais do que uma figura histórica, que todos agora conhecemos e tememos.
Verdade, versões da velha lenda, elas próprias talvez agora removidas da vida
autêntica de Vlad Tepes, ainda são contadas por camponeses romenos, e pode não
ter desaparecido do folclore pré-industrial alhures. Mas a força de Drácula
parece estar mais firmemente estabelecida pelo romance emgraças às ansiedades sofisticadas
dos moradores da cidade, o
anonimato solitário e distúrbio
psicológico, a repressão sexual e
frustração particularmente. De um modo ou de
outro, o monstro afundou seus dentes em todo mundo.
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