Eric
Margolis, 15/08/2015
O
governador Jeb Bush repetiu uma das grandes mentiras de nossa época durante o
recente debate dos candidatos à presidência: “fomos mal conduzidos (na Guerra
do Iraque) por inteligência errada.”
A
inteligência dos EUA não foi “mal conduzida”. Ela foi organizada pelo
presidente verdadeiro, de fato, Dick Cheney, para fornecer desculpas para uma
guerra de agressão contra o Iraque de Saddam Hussein.
O
Primeiro Ministro Tony Blair obrigou os serviços de inteligência britânicos a “reforçar”
os relatórios de que o Iraque dispunha de armas nucleares; ele afastou do
governo da respeitável BBC os jornalistas que falharam em amplificar as
mentiras de Blair. Bush e Blair discutiram abertamente pintar aviões da Força
Aérea americana com as cores da ONU e sobrevoar as baterias antiaéreas
iraquianas na esperança de que os iraquianos atirassem contra eles. Bush disse
a Blair que após conquistar o Iraque, ele pretendia invadir o Irã, Síria, Líbia
e Paquistão.
De
fato, o Iraque não tinha “armas de destruição em massa”, salvo alguns barris de
gás mostarda que foram fornecidos pelos EUA e Grã-Bretanha para uso contra o
Irã. Revelei essa notícia em Bagdá no início dos anos 1990.
Tyler
Drumheller, que morreu semana passada, foi o antigo chefe da divisão europeia da
CIA. Ele era o funcionário de inteligência mais graduado a ir a público e
acusar a administração Bush de fabricar evidência para justificar a guerra
contra o Iraque.
Drumheller
foi particularmente rigoroso ao denunciar o desertor chamado “bola curvada”,
cujas afirmações fantasiosas sobre os laboratórios móveis de armas
bacteriológicas do Iraque foram anunciados diante das Nações Unidas pelo
ex-Secretário de Estado Colin Powell. As denúncias de “Bola Curvada” era
mentiras descaradas e Powell, cuja carreira estava arruinada por promover essas
alegações absurdas, deveria saber melhor. “Bola Curvada” era um “agente
provocador” claramente enviado por um vizinho do Iraque para ajudar a promover
um ataque americano àquela nação. Se esse vizinho era o Kuweit, Arábia Saudita
ou Israel, ainda não sabemos. Todos os três fabricaram “evidência” contra o
Iraque e a transmitiram a Washington. Foi aqui que a inteligência americana foi
de fato mal conduzida. Mas esta é a
menor parte da história.
Uma
trupe de neocons pró-Israel em Washington, magnatas do petróleo e imperialistas
do velho estilo uniram-se para promover a invasão ilegal do Iraque rico em
petróleo. Um de seus líderes, o antigo funcionário do Pentágono Paul Wolfowitz,
admitiu que armas de destruição em massa foram escolhidas porque eram
convenientes e tinham um pretexto emotivo para a guerra. Ordens saíram da CIA e
NSA para achar informação ligando o Iraque ao 11/09 e armas de destruição em
massa.
Algumas
das torturas mais cruéis aplicadas a suspeitos sequestrados pelas tropas de
elite da CIA foram feitas para obrigá-los a admitir uma ligação entre os
atentados de 11/09 e Saddam Hussein. É claro que não havia nenhuma. Mas funcionários
da administração, como a infame Condoleeza Rice, manteve a mentira de uma
ameaça nuclear à América.
Antes
da invasão de 2003 do Iraque, pesquisas mostravam uma maioria de amoricanos
acreditando que o Iraque ameaçava os EUA com um ataque nuclear e estava por
trás do 11/09. Surpreendentemente, uma pesquisa feita por cristãos evangélicos
um pouco antes de os EUA atacarem o Iraque mostrou que mais de 80% apoiavam uma
guerra contra o Iraque. Muito para dar a outra face.
A
maioria da mídia americana, notavelmente o New York Times, Washington Post e o
Wall Street Journal, apoiou as mentiras da administração Bush. As redes de TV
receberam ordens de nunca mostrar as baixas americanas ou civis mortos.
Aqueles, como este autor que vos escreve, que questionaram a razão por trás da
guerra, ou que não seguiram a linha do partido, foram excluídos de falar na TV
ou escrever sobre o assunto. Por exemplo, eu fui imediatamente afastado de uma
grande rede de TV após dizer que Israel apoiou a Guerra do Iraque de 2003 e se
beneficiaria com ela. Fui afastado de outra grande rede de TV americana sob
ordem direta da Casa rança por repetir insistentemente que o Iraque não possuía
capacidade nuclear.
Pouquíssimos
analistas, jornalistas ou políticos pararam para pensar: mesmo que o Iraque
tivesse armas nucleares, como elas poderiam ser colocadas na América do Norte?
O Iraque não tinha bombardeiros de longo alcance ou mísseis com alcance maior
do que 100 km. Talvez por SEDEX? Ninguém perguntou, por que o Iraque criaria um
suicídio nacional ao tentar atingir os EUA com uma arma nuclear?
A
resposta mais original veio de George W. Bush: cargueiros iraquianos nefastos transportavam
“drones da morte” no Atlântico Norte enquanto a América dormia. Esta loucura
foi baseada em um relatório simples que os atrapalhados iraquianos estavam
trabalhando num aeromodelo que, no final, quebrou e nunca voou. O que inspirou
tal bizarrice? Muita bebida alcoólica, LSD ou ordens intempestivas de Dick
Cheney para encontrar uma maldita desculpa para invadir o Iraque.
Para
Cheney e seus amigos magnatas do petróleo, conquistar o Iraque garantiria as
maiores reservas de petróleo do mundo árabe para o Tio Sam e ofereceria uma
base militar central na região. Para os sanguinários neocons de Washington,
arrasar o Iraque removeria um dos inimigos mais obstinados de Israel, esmagar a
única nação árabe que deafiava o poder nuclear de Israel e não teria nenhum
custo a Israel. Invadir o Iraque produziu a desintegração lenta do Oriente
Médio há muito tempo vendida pelos militantes sionistas.
Tudo
funcionou brilhantemente, pelo menos do ponto de vista de Isael. Nada, contudo,
do ponto de vista americano. A invasão de Bush aniquilou o Iraque, conduziu à
Al-Qaeda e ao EI (Estado Islâmico) e deixou Washington com uma conta de U$ 1
trilhão ao invés dos U$ 60 milhões estimados por Wolfowitz. O Oriente Médio é
um barril de pólvora, os palestinos estão totalmente isolados e o Egito, a
principal nação da região, é governada por uma ditadura militar fascista.
Tyler
Drumheller foi o único funcionário experiente da CIA a erguer-se e dizer aos
americanos que eles estavam sendo conduzidos a uma guerra desnecessária e
ilegal. Hoje, temos um Iraque à deriva, resultado das mentiras fabricadas, e os
vendedores do terror trabalhando em regime de hora-extra para promover uma
guerra contra o Irã.
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Um comentário:
Os americanos adoram inventar pretextos emocionais para suas guerras. Lembra da primeira guerra do golfo, em 1991, fizeram circular a história de que os iraquianos tinham roubado incubadoras dos hospitais do Kuwait, largando os bebês para morrer? Hoje se sabe que a história foi fabricada, que a moça conhecida como "Nayrah" que contou isso num depoimento dramático no Congresso americano era filha de um diplomata do Kuwait, recebeu aulas para 'representar' o depoimento, e não estava no país na época da ocupação.
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