Bruno Vaiano
Se você pudesse passar hoje pelos depósitos da Força Aérea dos Estados
Unidos, ia ser fácil descobrir quem manda. Não é uma pessoa, mas tem nome curto
e grosso: MOAB. É, na verdade, uma sigla que, em inglês, tem dois
significados possíveis. Um, o sério e oficial, é Massive Ordnance Air Blast – que, em português, é algo como
“explosão aérea de imenso poder de fogo”. O outro, engraçadinho, é Mother of all Bombs: a mãe de todas as bombas. Com dez
toneladas de peso e quase dez metros de comprimento (só um pouco menor e mais
leve que um ônibus urbano), ela é o mais poderoso artefato explosivo
não-nuclear do mundo – capaz de devastar uma área de algumas centenas de
metros em torno do local do impacto.
A GBU-43 – designação técnica da bomba – foi
projetada e produzida a toque de caixa durante a invasão norte-americana no
Iraque em 2003. Na época, foram efetuados dois testes, mas ela não chegou a ser
usada em uma operação militar real. Bem, isso até 12 de abril de 2017. O
noticiário internacional foi pego de surpresa quando uma Moab foi
lançada às 19h32 no horário local (2h32 desta quinta, no horário de
Brasília) sobre uma rede de túneis da “sucursal” afegã do Estado Islâmico
(ISIS), no distrito de Achin, província de Nangarhar.
Ainda não foram divulgadas informações sobre a eficiência do
ataque e o número total de mortos e feridos, e o secretário de imprensa de
Donald Trump, Sean Spicer, não revelou se o presidente ordenou o ataque
pessoalmente ou se foi o Pentágono o responsável pela escolha da arma. Em uma coletiva de imprensa, o topete
mais polêmico do mundo se limitou a enfatizar a autonomia das forças
armadas. “Todo mundo sabe exatamente o que aconteceu (…) Nós temos as maiores
forças armadas do mundo e eles fizeram seu trabalho como costumam fazer.
Eu dei autonomia total a eles, e é isso que eles vem fazendo. E,
francamente, é por isso que eles andam tendo tanto sucesso ultimamente.”,
cravou o presidente americano.
Uma coisa é certa: essa imensa bomba não é
eficiente só pelo dano físico, mas também pelo terror psicológico – e seu
impacto midiático é adequado a retórica adotada por Trump desde o início de sua
campanha. “A coisa mais incrível na Moab não é que ela é a bomba mais poderosa
do mundo. Mas que ela faz seu trabalho – deter o inimigo – simplesmente porque
ele sabe da existência dela”, afirmou em 2008 Robert
Hammack, um dos responsáveis pelo projeto.
Essa mãe de pavio curto não quer saber de ir
pendurada debaixo da asa de um avião – afinal, isso é lugar de filhote. Ela é
montada sobre trilhos no porão adaptado de um avião de carga C-130, o
famoso Hércules. Quando a aeronave está sobre o alvo, sua porta traseira se
abre em pleno voo, e a Moab é lançada. Para a garantir a precisão – afinal,
você não tem duas chances – ela é guiada por GPS durante a queda, e é auxiliada
por um paraquedas no início do processo. No vídeo abaixo, de 2003, é possível
acompanhar o passo a passo do lançamento e a explosão subsequente. Também dá
para ter uma noção prática do tamanho do artefato: basta ter em mente que o
avião tem 30 metros de comprimento.
De suas mais de 10 toneladas, 8,4 são recheio. No caso, o explosivo H6, uma mistura de TNT, alumínio e RDX (conhecido
na química como ciclotrimetilenotrinitramina). Algumas bombas
são feitas para causar dano físico direto a seus alvos – espalhando fragmentos
de metal em alta velocidade. Já a Moab explode uma fração de segundo antes de atingir o chão,
a 1,8 m de distância do solo. A ideia é arrasar uma área de cerca de
um quilômetro em torno do epicentro da explosão com fortíssimas ondas de
choque – uma técnica ideal para, à exemplo do que foi feito no Afeganistão,
demolir complexos subterrâneos.
A bomba é só mais uma na árvore genealógica da destruição. A Moab é mãe, mas já existiu uma avó. Antes dela, foi usada na Guerra do
Vietnã a “Daisy Cutter” (BLU-82), uma gigante de 6,8 toneladas famosa por
transformar qualquer trecho de floresta em um área de pouso segura para um
helicóptero. Instantaneamente, é claro.
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