quarta-feira, 31 de outubro de 2012

[SGM] Londres e Berlim planejaram um segundo “Acordo de Munique”

Yuri Nikiforov


Enquanto tentam identificar o culpado pela Segunda Guerra Mundial, os historiadores sempre prestaram atenção nos financistas e políticos anglo-saxões já que suas políticas haviam buscado o apaziguamento de Adolf Hitler, mas somente encorajaram a Alemanha fascista em continuar sua expansão.

Após invadir a Tchecoslováquia na primavera de 1939, Hitler demonstrou que ele não precisava mais de aprovação de Chamberlain e Daladier para suas políticas agressivas. Os países europeus temiam a agressão crescente nazista e mostravam menos confiança na Inglaterra e França após estes países falharem em garantir a segurança européia. Assim, Londres e Paris enfrentavam riscos de perder influência no continente.

Como regra, a maioria dos historiadores que lidam com os eventos de 1939, foca nos contatos diplomáticos anglo-franco-soviético ou teuto-soviético. Entretanto, o estudo seria incompleto sem a análise das relações anglo-germânicas, que não foram cortadas após Hitler ter anexado a Tchecoslováquia. Além disso, há muitos motivos para acreditar que, na primavera de 1939, a idéia de apaziguamento – para alcançar um acordo com a Alemanha baseado na divisão de esferas de influência – ainda era apoiada por muitos na Grã-Bretanha.

A posição do governo britânico era a seguinte: por um lado, o ultimato de Hitler para a ocupação de Danzig (ele a fez ao governo polonês em 21 de março), causou séria preocupação em Londres. O Primeiro-Ministro Chamberlain disse que se a Alemanha tomasse os recursos da Polônia, isso afetaria os interesses britânicos. Por outro lado, Londres estava ciente de que ela deveria evitar um confronto com os países do Eixo. Por este motivo, o plano era continuar com a política de apaziguamento e, simultaneamente, demonstrar uma habilidade para usar a força quando necessário. Londres concordou que a Alemanha poderia anexar Danzig (também conhecido como “Corredor Polonês”), mas não aprovava os planos de Hitler de ocupar a Polônia inteira. Em 31 de março, o governo britânico deu garantias de independência a Varsóvia.

É extraordinário que tal tipo de garantia dada à Polônia e a alguns outros países europeus não os tenha ajudado a preservar sua integridade territorial, o que significa que suas fronteiras nacionais poderiam mudar a qualquer instante. Analogamente, as garantias não poderiam ser vistas como uma preparação da Grã-Bretanha para uma guerra contra a Alemanha. Aquelas eram apenas medidas para demonstrar uma posição firme, as quais eram, por sua vez, guiadas pela política de apaziguamento. Inglaterra e França não discutiram se eles teriam capacidade de cumprir as garantias.

Entretanto, o plano falhou: as garantias dadas à Polônia não impressionaram Berlim. Em 1º. de maio de 1939, Ribbentrop disse que a Inglaterra trairia a Polônia em caso de um conflito armado. Os nazistas continuariam a se preparar para a guerra.

Esta opinião era compartilhada por alguns outros políticos. Por exemplo, o embaixador sueco na Grã-Bretanha, B. Prutz, também chegou à conclusão no final de junho de 1939 que “em caso de deterioração das relações entre Alemanha e Polônia, a Inglaterra e a França não interferirão.”

E isto era uma conclusão totalmente razoável. Apesar da cooperação ativa com a União Soviética, a liderança britânica preferiu manter relações estáveis com a Alemanha. Em 3 de maio, Chamberlain convocou o governo para retomar as conversas econômicas anglo-germânicas. Nos seus arquivos, o Departamento do Exterior tem um documento datado de 5 de maio: “Memorando para Lorde Halifax”, uma espécie de instrução para os diplomatas britânicos: “De modo algum recusar a ajudar outros países em caso de sua soberania ser violada pela Alemanha, mas a Grã-Bretanha deve fazer todos os esforços para satisfazer quaisquer exigências consistentes de Berlim e prevenir o isolamento econômico da Alemanha.”

Em completa concordância com esta instrução, o Secretário para Assuntos Estrangeiros da Grã-Bretanha, Edward Halifax, durante as consultas anglo-francesas em Paris por uma solução para Danzig em favor da Alemanha. Uns poucos dias depois, Chamberlain informou seu Gabinete sobre planos “para discutir todas as questões não resolvidas com a Alemanha”. No início de julho, Halifax disse ao parlamento que estava preparando uma declaração aprovando “alguma revisão dos já atingidos acordos sobre Danzig.”

Isto significa que a integridade territorial da Polônia poderia ter facilmente se tornado vítima da idéia da política de apaziguamento, que foi primeiro declarada por Chamberlain e Daladier em Munique no outono de 1938. O memorando supracitado lê: “Nosso país (Grã-Bretanha) não pode permitir que as exigências infundadas da Polônia nos conduza a uma guerra.” Na margem da folha, Lorde Halifax escreveu: “É claro que não!”

Até que ponto a coalizão anglo-franco-soviética é considerada, Chamberlain e sua equipe haviam mais de uma vez expressado sua desaprovação de tratar a União Soviética como um aliado confiável. “Sou tão cético sobre a ajuda russa que penso que poderíamos fazê-lo sem ela”, disse o Primeiro-Ministro. No verão de 1939, o governo britânico concordou em fazer parte na negociação tripartite em Moscou, mas de nenhum modo se comprometeu a assinar quaisquer acordos que pudessem impor quaisquer obrigações a Londres. Dirigindo-se aos participantes de um conselho militar, Halifax disse que as conversas com a União Soviética não eram cruciais e seu objetivo era apenas prevenir que Moscou “ficasse do lado alemão”.

Julgando pela correspondência, podemos dizer que os líderes britânicos sentiram mesmo uma espécie de nojo em relação à Rússia e seu povo. O sub-Secretário de Estado Britânico para Assuntos Estrangeiros, Alexander Cadogan, uma vez chamou os diplomatas russos de “coletores de lixo”. E Vyacheslav Molotov, Comissário do Povo para Assuntos estrangeiros, era caracterizado como “um homem ignorante e suspeito, um camponês”, cuja posição linha dura nas discussões mereciam críticas de Halifax, que chamava Molotov de “insano”.

Quando falamos sobre a cooperação anglo-germânica no final dos anos 1930, devemos mencionar os nomes dos assistentes mais próximos de Chamberlain: H. Wilson e R. Hudson. Em junho e julho de 1939, Wilson manteve muitos encontros em Londres com G. Wohltat, um dos funcionários alemães da alta hierarquia, responsável pela implantação de um plano econômico quadrienal. Então, Wilson repetiu o que foi dito por Halifax: fazer tudo para evitar conflito armado com Hitler e manter a cooperação anglo-germânica.

Em julho, Hudson sugeriu um plano de cooperação econômica teuto-britânico e desenvolvimento colonial, incluindo um empréstimo britânico para a Alemanha em troca de uma política externa pacífica. A informação vazou para os meios de comunicação, e Chamberlain teve que esclarecer o assunto no parlamento, onde ele admitiu que Hudson e Wilson encontraram-se com Wohltat por algumas vezes, mas aquilo foi algo de suas próprias iniciativas. O anúncio provocou um escândalo entre os membros da coalizão “anti-Munique” e assim tornou mais difícil para Chamberlain alcançar um compromisso com Berlim.

Moscou não levou as desculpas de Chamberlain seriamente. Mesmo se assumirmos que o Primeiro-Ministro britânico disse a verdade, é muito claro que ele não estava a par das conseqüências das conversas anglo-franco-soviéticas. De outra forma, ele teria pedido a Hudson para demitir-se.

Entretanto, sabemos da opinião verdadeira de Chamberlain a partir de sua correspondência particular. Ele escreveu que as “idéias econômicas” que Hudson discutiu com Wohltat na época haviam sido discutidas no governo por quase um ano. Chamberlain acreditava que Hitler compreenderia que a Grã-Bretanha mostrara intenções sérias e que isso o preveniria de lançar uma guerra.

O historiador M. Carley diz que Chamberlain estava aborrecido com o incidente por causa do vazamento da informação. Em uma de suas cartas para sua irmã, o primeiro-ministro comentou da iniciativa de Hudson: “Atualmente, não temos mais canais confiáveis através dos quais podemos continuar nossa cooperação com a Alemanha... meus críticos pensam que para alcançar um compromisso com Berlim sem verificar suas reais intenções seria uma catástrofe... mas discordo. Deixe-nos convencê-los que suas chances de ganhar a guerra e evitar as graves conseqüências para sua economia são muito poucas. Mas a Alemanha poderia ganhar nossa confiança e respeito com seus interesses se ela abandonasse a idéia de políticas linha-dura...”

Falando sobre os “novos canais” de Chamberlain, provavelmente significava o empresário E. Tennant, que serviu como secretário da Sociedade Anglo-Germânica e em julho de 1939 foi autorizado pelo Primeiro-Ministro a ter uns poucos encontros com Ribbentrop, e Lorde Kemsley, diretor do “Notícias Aliadas”. Kemsley visitou a Alemanha e em 27 de julho foi permitido a encontrar-se com Hitler. Em sua chegada a Londres, Kemsley reportou-se ao primeiro-ministro. Ele disse que, em sua conversa com o Führer, ele notou que o governo britânico via o Tratado de Munique como um guia para a cooperação anglo-germânica e que Sir Chamberlain gostaria de encontrar-se pessoalmente com Hitler. Então, o Führer respondeu que ele preferia trocar opiniões de forma escrita. Mas quando no início de agosto Chamberlain e Halifax pediram a Berlim uma resposta, Hitler desmentiu o que ele disse a Lorde Kemsley e disse que não havia necessidade de organizar as conversações. O parlamento britânico também entrou em contato com Hering através do empresário sueco B. Dalerous, proprietário da “Bollinders Fabric A/B”. Ele era um outro canal que Londres usava para conhecer as posições da Alemanha.

Tendo conhecido sobre os planos britânicos para alcançar um compromisso com Berlim e predizer todas as concessões que Londres poderia fazer, Hitler pensou na guerra já que ele não estava mais interessado na revisão das fronteiras polonesas, acordos econômicos e desenvolvimento colonial. Mais tarde, Ribbentrop diria que Hitler acreditava que a cooperação com a Inglaterra não lhe traria nenhuma vantagem, e se a Inglaterra quisesse a Guerra era melhor iniciá-la sem hesitação.

Na verdade, a Grã-Bretanha concentrou-se no acordo com a Alemanha somente porque ela falhou em chegar a um termo com a União Soviética e porque as conversas anglo-franco-soviéticas sobre assuntos militares não alcançaram nenhum progresso. E, desde que a Inglaterra não queria tratar a União Soviética como um parceiro de mesmo nível dentro de uma possível coalizão contra agressores em potencial, em agosto de 1939 Moscou decidiu estabelecer cooperação com a Alemanha.

http://en.fondsk.ru/article.php?id=2394

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